E então recomeçam os Cines/EQS! Para abrir com chave de ouro, Pedro Morreu, roteiro da Piera e do Vitor Coroa, que já teve, até o momento, três diferentes títulos (Se Fizesse Sentido, Incompreensível e, por fim, Pedro Morreu). Como dá pra adivinhar, tem um Pedro no filme, e ele está morto. Pedro, era Paulo, esse rapaz sorridente da foto abaixo, mas, o filme não teria muitos acontecimentos se ele aparecesse morto mesmo, não é?

Interagindo com esse fantasma/memória/coisa parecida, há Alice, já conhecida pelas bandas desse blog como Mari Rattes, que, com a gente, no ano passado fez o Arco Íris, Pedro e a Cigana e o Final Feliz.

A direção ficou por conta da Bia Pomar e Felipe Mafasoli, que colocaram toda a história num número mínimo de planos (16, estou errado?), mas quase todos de grande complexidade, trazendo desafios para toda a equipe e, claro, também para os atores. “Perfeccionismo” é pouco pra descrever o funcionamento da dupla de diretores. Exemplo especial para o tavelling out com zoom out, com passagem de foco e entrada de personagem em quadro, além de diálogos e saída num único plano, e um “morto” em cima da mesa (perdoe-me, Régis, por diminuir sua função, colocando-a entre aspas!).


Já que os planos eram tão poucos e complexos, as diárias tinham (claro) poucos planos. Na primeira, eram quatro ou cinco, na segunda, dez, e na terceira, apenas três. Dilson era o dono do set, controlando o tempo de cada um deles, e sempre apertando a equipe de foto para cumprir os horários. A gente sempre atrasava, mas o plano era feito. Pedro (não o que morreu), era o fotógrafo, e cumpriu muito bem sua missão, com quadros espetacularmente belos.

Por conta das aulas, não pude participar ativamente da primeira diária, e o Manfrim tava por lá, pra fazer as correções de foco e tomar conta da câmera – o que ficou sob minha responsabilidade nos próximos dois dias. Nessa primeira diária foram rodados os planos da funerária. Ok, mais um pouco de rasgação de seda, dessa vez para o Renato Sircilli, que comandava a direção de arte. Os cenários estavam incrivelmente convincentes e muito cuidadosamente detalhados.

Na segunda diária, eu e a May – que ficou com a função de logger – chegamos na USP às 6h da manhã. Era sábado, então estava tudo deserto, mas a equipe de foto e elétrica e som, já estava praticamente terminando de carregar o caminhão. É dia de externa. Externa é uma coisa terrível, sempre. Você tem que brigar com o sol, brigar com barulho (entenda-se: carros, helicópteros, aviões, caminhões, pessoas, ciclistas, baterias, reatores nucleares – estávamos filmando em frente a um prédio da Física), e torcer para não chover. Tudo ao mesmo tempo.
Pra piorar nossa situação, a Yolanda, que trazia o café da manhã, se perdeu, e a gente tinha que continuar a montar butterflies gigantes, com cuidado para que eles não voassem, enquanto o Marcute puxava energia elétrica de dentro do prédio com pelo menos uma dezena de extensões. Para aquecer (literalmente) e depois quase queimar os atores com 7000w de luz quente nas costas! O ponto é, ficou bem convincente na câmera, durante o dia todo.

Não dá pra dizer que o Sol foi nosso maior inimigo nessa externa. Tínhamos os butterflies montados cobrindo toda a ação. O problema era o som. Carros, caminhões, helicópteros, aviões, rádio (os cabos funcionam como antenas, captando interferência e jogando direto na gravação), tornando a diária um verdadeiro pesadelo para o Vitor e o Mister X (o operador de boom pediu para não ter seu nome mencionado), com direito a motoqueiros radicais parando para assistir, e bandos de ciclistas parando para descansar do lado do set. Lá pro fim do dia, descobriu-se que as mantas de som ajudavam a bloquear a interferência, mas até uma abordagem ao estilo “Sinais” teve chance, embrulhando o zepelim em papel alumínio!
Mister X
O Sol resolveu então ser bondoso, e criar a luz perfeita, para casar com a iluminação falsa do dia inteiro, possibilitando um master-over-ultra-plano geral, que exigiu que tudo fosse retirado e escondido da pracinha onde estávamos rodando. foi uma correria organizada e eficiente, contra a descida da luz natural, onde nossos queridos assistentes de elétrica foram parte fundamental da ação. Todos (Fran, João Pedro, Henrique, Flávio, Ana Laura, Albanit e Matheus) mandaram muito bem ao longo de todas as diárias, e parece que se divertiram no processo, que é o mais importante.
Estou sendo sincero quando digo que foi master-over-ultra-plano geral.
Dilson, o homem do relógio.
A diária terminou exatamente na hora prevista, com descarregamento de caminhão e tudo. Uma das caixas de cabos (aquelas extensões infinitas, mencionadas antes) era tão pesada – sem parecer ser tão pesada – que quando a gente foi tentar pegar, quase caiu no chão. Foram cinco cabeças pra carregar, e o Marcute só dando risada.
Isso nos leva diretamente à terceira diária, com uma chamada um pouco mais tarde. “Equipe reunida às oito. Oi, você é de foto? Ah, sete horas, pra vocês!”. Fiquei deveras surpreso ao conferir com o Dilson e descobrir que tínhamos apenas três planos para rodar. Um no necrotério, aquele, mencionado no segundo parágrafo, com travelling out, zoom out, mudança de foco e entrada de um personagem em quadro. O trilho tava bem complicadinho de não sacodir, mas o resultado ficou bem convincente. Qualquer coisa, é só aprimorar com umas estabilizações de pós produção!

Mari e Paulo cantam, Régis se finge de morto.
Depois desse, saímos correndo para o segundo andar, levando toneladas de equipamento de foto, para isolar a luz do Sol e fazer a que o Pedro tinha planejado. Foi complicado, e demorado, mas deu certo. A melhor forma de definir a estrutura montada é dizer que estávamos brincando de cabaninha, com recursos que as crianças invejariam. Tripés, sarrafos, panos pretos, crepe, janelas, mantas de som, garras jacaré e (muitos) sacos de areia foram muito bem empregados nessa estrutura de fazer inveja a engenheiros – mas que ainda assim desabou na cabeça do Marcute, que xingou todo mundo.

Escrito assim, em um parágrafo, parece que foi coisa rápida, mas a gente levou bem umas duas horas pra montar essa coisa. E éramos cinco trabalhando sem parar. Se foram cinco pra montar, na hora que acabou, eram pelo menos dez pra tirar tudo. TUDO mesmo, e voltar o corredor à condição original. Esse processo todo levou mais algumas horas, e as pessoas foram indo embora aos poucos. Sempre sobra a equipe de foto na desprodução final. Dessa vez, o Vitor e o Mister X ficaram também, ajudando e colaborando com a cota de risadas do dia.
Foto de equipe é fundamental, não?
Claro que fizemos a piada mais repetida ao longo do set, colocando o Pedro (dessa vez o Pedro Pedro mesmo, e não o Paulo Pedro) num caixão. Tem umas cinquenta fotos nessa seqüência, mas essa é de longe a melhor.
