As you might not know, porque eu não escrevo aqui tem muito tempo, algumas semanas atrás embarquei num carro com o Vi, Mari, Gabi e Ryan para fotografar um videoclipe em Itanhaém. Toda a história por trás desse processo é meio complexa e longa, portanto não vou entrar em detalhes. Ryan Stotland é um canadense que está fazendo intercâmbio no Brasil, numa das parcerias da USP. No Canadá, ele estuda economia, portanto, aqui ele veio parar na FEA. Que é vizinha da ECA, onde fica nosso querido Departamento de Cinema, Rádio e TV (vulgo CTR). E o Ryan apareceu por lá, procurando alguém que soubesse fazer videoclipes. Encontrou com o Vi, e assim começa a história.
Mas, para quê um canadense estudante de economia quer fazer um videoclipe? Ahá! No Canadá, o Ryan é parte de uma banda formada só de seus colegas de curso. Eles tocam um gênero muito específico popularmente(?) conhecido como “financial folk”, ou seja, músicas que tratam de temas relacionados a economia! E assim, eles lançaram um albúm inteiro só com faixas sobre a crise econômica de 2008. Aparentemente é um sucesso. Para o aniversário de 3 anos da crise, Ryan e sua banda queriam um clipe de uma das canções, para ser lançado no dia 12 de Setembro – data exata do aniversário, e aí vamos nós para Itanhaém, filmar um clipe para “Our Love Is An Illiquid Asset”.
Roteiro da Mari Brecht, direção e som do Victor Dias, Gabi Torrezani como nossa atriz e o próprio Ryan como ator, e eu como fotógrafo, montador e finalizador. Isso sim é “equipe reduzida”. Saí de casa antes das 6h da manhã e saímos de São Paulo perto de 7h30, com o carro sobrecarregado do Vi. Chegamos por lá às 9h, já atrasados na ordem do dia que previa 29 planos e mais de doze horas de diária. Entre a sobrecarga de filmar tudo em um dia, ou dividir em dois e dormir por lá, o que escolher? Todos votaram pela sobrecarga, ainda mais porque era uma Quinta.
Gabi e Ryan!
Rodamos tudo em 7D, no shoulder, com umas lentes pesadas, e ocasionalmente um monitor para facilitar a vida. Foco totalmente freestyle! O problema é o estado dos braços quando acaba o dia. Dia nublado, feio que só ele, mas combinando com o clima do clipe. A primeira parte foi logo na rua em frente à casa da Mari. Tivemos sérios problemas para quebrar uma garrafa vagabunda de vinho vagabundo. Depois de ser arremessada no chão umas três vezes, ela se recusava a quebrar!
Depois, tomamos o rumo de um quiosque na praia, para mais alguns planos. Falseamos tudo, misturando coisas dentro do quiosque com coisas praticamente no meio da praia, e tivemos direito também à grande atuação do Vi, como barman pessimista. Hora do almoço, o restaurante planejado estava fechado, e tivemos que improvisar num outro. Até que foi bem bom! Saímos correndo de novo para casa, para filmar na sala que a Mari arrumou enquanto a gente estava fora. Coisa simples, plano e contraplano, e o plano supercomplexo de abertura, com giros e afastamentos. O monitor foi absolutamente fundamental aqui. Única cena do clipe com diálogos e som direto.
Olha o nível de pobreza desse pessoal.
Ê! Praia! De novo. Agora com direito a entrar na água e fazer muitos planos loucos de giros e corridas. Senti o sangue do Cinema Novo correndo nas minhas veias enquanto eu rezava pra não cair no mar gelado e girava ao redor da Gabi, que interpretava uma bêbada muito louca. Depois, corrida lado a lado com o Ryan, com a câmera na mão, apontada para o lado, as fast as we could. Outro plano que eu não esperava que funcionasse, mas que até rolou e entrou no corte final!
Pensem no frio: dia nublado, praia, inverno, vento, roupas molhadas até o joelho, fim de tarde. Tenso. A Mari logo apareceu de novo para nos resgatar e voltamos para a casa – onde arrumei roupas secas, aleluia! -, para filmar o Ryan tocando e cantando algumas vezes, só com luz artificial e uma seqüência de memória, totalmente iluminada por velas e luzinhas de Natal – sério, luzinhas de Natal são divertidas. Como a sala era toda branca, precisávamos criar algum destaque para o Ryan, senão ia ficar uma coisa muito tosca essa parte dele tocando e cantando. O que tínhamos à mão? Soquetes de lâmpadas, algumas incandescentes de 60W, extensões e caixas de papelão. E foi isso que usamos para fazer nosso “refletor” de contraluz! Um buraco na caixa para o soquete, a lâmpada por dentro, no fundo, penduramos num cabo de vassoura, amarramos numa cadeira e apontamos para o rapaz. Funcionou, mas me recuso a chamá-lo de refletor sem as aspas!
O “refletor”.
Depois, acendemos umas cinquenta velas e espalhamos pela sala, numa cena totalmente referência a “A Dama e o Vagabundo”, afinal, fotografar com velas é muito estiloso – e trabalhoso. Na semana seguinte, descobrimos em aula que se usássemos as velas dentro de panelas teríamos um efeito até melhor que o do “refletor”… Ok, vivendo e aprendendo.
Saímos de lá perto das 21h, nos perdemos na estrada, fomos parar em Cubatão, o GPS estava sacaneando todo mundo, a CET fechava as ruas por onde queríamos passar, e São Paulo tinha um trânsito incomum para a uma hora da manhã. Fomos deixando as pessoas em casa, e por fim, fui chegar na minha cama de volta às 2h, com aula na manhã seguinte. E foi uma boa aula!
Assim que o clipe estiver pronto, coloco ele por aqui, como de costume.
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