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September 2012

Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos VI] Cinemorph e Outros Filtros.

September 10, 2012

Não pude falar dele antes porque não tinha testado direito. Passei algumas horas da noite de ontem fazendo apenas isso, e comparando, entre lentes Canon e M42. Acho que cometi alguns deslizes nessas comparações, mas dá pra sobreviver. Para colaborar no efeito, cortei todas as fotos como se fossem anamórficas Cinemascope.

O filtro é basicamente um CPL, sem a parte polarizadora, só um UV que gira, com uma forma ovalada cortada em vinil preto e colada sobre ele, e um fio bem fino passando pelo meio. Esse que tenho aqui é 77mm, mas existe também uma versão de 58mm, para lentes menores. Não me é necessária, por causa daquela pilha de adaptadores. Algumas informações extras você pode achar no site do povo que fabrica, a Vid-Atlantic.

E porque esse treco estranho funcionaria como um simulador anamórfico? O corte oval modela a abertura da lente, tornando o bokeh ovalado, e o fio tem como único objetivo criar flares horizontais longos. Até que funciona bem, devo admitir, mas tem seus problemas. Um deles, é a rotação. O anel do CPL não é lá uma coisa muito firme, então qualquer esbarrão mais forte nele pode desalinhar a forma, e você ter bokehs diagonais, e flares tortos. Uma grande vantagem é que você continua com a facilidade natural das suas lentes para foco próximo, e pode fazer passagens de foco sem problemas. A desvantagem é que, devido ao contorno preto, você acaba perdendo 2 stops de luz.

Testando na 5D3, ele não funciona nada bem com lentes zoom. A 24-70mm tem vinheta SEMPRE (em 70mm é bem sutil) e a 70-200mm também (em 200mm é bem sutil). E qualquer coisa abaixo de 85mm também tem vinheta. Numa APS-C isso se reflete em distâncias focais acima de 50mm. Aproveitei que tava com lentes de distâncias focais iguais e incorporei isso ao teste, fazendo fotos o mais parecidas possível com as mesmas distâncias focais. Fiz besteira no teste da 200mm, mas dá pra sobreviver. Temos aqui, 200mm f/4 M42, 70-200mm f/2.8 Canon, 135mm f/2.8 M42, 100mm f/2.8 Canon, 85mm f/1.8 Canon e 85mm f/2 M42

Todas as compensações de variação de exposição sofridas pela iris ou filtro foram feitas com ajustes na ISO, seja para mais, seja para menos.

85mm




Na ordem, primeiro a 85mm Canon, com f/2 e f/4 com o filtro, depois f/2 e f/4 sem o filtro. Em seguida, a Jupiter 9, f/2 e f/4 com o filtro, e f/2 e f/4 sem o filtro. Dá pra sentir um bocadinho de vinheta na Canon, e também é fácil de ver que ela é MUITO mais contrastada e definida que a Jupiter. Quando reparei nessa diferença na câmera, quase não acreditei. Parece muito que foi aplicado um filtro nela pra aumentar o contraste.

100mm


Como não tenho equivalente da 100mm Canon no encaixe M42, ficamos só com ela mesmo pela rodada. Na ordem, primeiro f/2.8 e f/5.6 com o filtro – dá pra sentir um pouco de vinheta, e quando você vai fechando a lente, dá pra ver mais. Depois, já que é uma MACRO, resolvi testar até onde dava pra encostar e fazer foco, e foi bem assustador. Eu já ficaria bastante satisfeito se a foto 5 fosse o foco mínimo, mas não! Dá pra quase entrar no olho do Woody, e ainda ter foco. A definição dessa lente, por sinal, é uma coisa de louco, porque nenhuma outra das que tenho aqui consegue um foco tão incrível como ela.

135mm


Agora a 135mm, Tair-11, com f/2.8 e f/5.6 com o filtro, depois f/2.8 e f/5.6 sem o filtro. Até abrir aqui no computador, jurava que tinha feito essas fotos com a 135mm da Canon, mas algo sobrenatural desapareceu completamente com elas. A definição e contraste dela são maiores que os da Tair, assim como também ganha no foco mínimo (0,9m vs 1,2m) e abertura máxima (f/2 vs f/2.8), mas custa 5x o preço da M42…

200mm



Testei a 200mm logo depois da Macro, então ainda tava bem perto da mesa. Comecei pela Canon, em f/4 e f/5.6 com o filtro, depois recuei bem um metro e meio para conseguir foco com a Orestegor 200mm. Aí repeti as fotos, f/4 e f/5.6, com filtro e depois sem filtro. Mas a diferença de distância continua, por estupidez minha. Em todo caso, dá pra ver as vinhetas nas laterais da 200mm Canon, enquanto a M42 passa muito bem sem essa interferência.

Mesmo em uma situação favorável, com mil fontes de luz e as lentes apontadas direto para elas, senti falta de flares mais enfáticos. No máximo uma linhazinha aqui, outra ali, tudo muito sutil – mas ainda assim elegante. Além disso, é fácil de ver o fio no meio do filtro projetado no bokeh. Todos eles têm uma linha no meio. Ok, acho que isso passaria batido no meio de um filme, mas já que esse é um teste a sangue frio, o objetivo é pegar nos detalhes.

Por fim, o giro do anel permite que você mude o formato do bokeh, e é uma coisa que eu tinha dito que era um problema no começo, mas pode acabar sendo uma vantagem se você quiser usar de forma “não realista” e assumir que não tá usando uma lente anamórfica. O efeito é visível nessas duas fotos abaixo.

Uma grande questão envolvendo esse filtro é que existem muitos tutoriais na net de como fazer isso de forma barata. Tanto o bokeh como os flares. Testei alguns e não tive resultados decentes, mas, claro, sempre posso estar fazendo alguma coisa errada. O dos flares eu acho que funciona – tenta essa técnica – e que a intensidade dos mesmos depende completamente do diâmetro do fio utilizado. Peguei um muito fino – o único que tinha em casa, e o efeito foi bem pobre, mas acho que com um fio mais largo, fica legal que nem os testes do carinha.

Claro, se você for um flare-lover, com dinheiro pra gastar, você também pode ir atrás desse outro filtro – Flare/Streak Filter -, também da Vid-Atlantic, só com o rolê dos flares, e sem perder luminosidade porque ele não modela o bokeh. Os vídeos-teste são bem bonitinhos.

Não vou prometer nada pro post de amanhã porque ainda não sei se vou ter tempo de fazer qualquer coisa, peguei um job insano e hei de me empenhar nele até o dia 30. Pelo menos, há de financiar novas explorações e experiências!

Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos V] Lista de Compras e Alfândega.

September 9, 2012

Considerando que os últimos posts saíram terrivelmente tarde, tô tentando mudar a situação com esse aqui. Mas antes mesmo de começar a falar das coisas velhas, vou aproveitar o ensejo pra trazer coisas novas. Lentes novas, pra ser exato.

Neste momento, em Amsterdã, tá rolando a IBC (sigla cujo significado não consegui encontrar em lugar nenhum), que é uma das maiores conferências mundiais sobre filme, vídeo e mídia em geral. E, assim como na NAB (que acontece em Las Vegas), muitas grandes companhias aproveitam essas ocasiões para anunciar novos produtos e apresentá-los ao público na forma de protótipos, mas já funcionais. Em Dezembro do ano passado, a Zeiss anunciou que estava voltando a desenvolver lentes anamórficas, e durante a IBC, ela colocou as preciosidades à mostra, já para o mercado.

Ok, são lentes de cinema, PL, ridiculamente caras e luminosas, mas vale a pena prestar atenção em alguns detalhes, como o squeeze, de 2x e o mecanismo de foco, que é um projeto totalmente novo, visando economizar tempo no set. Não temos como ter uma em casa, mas é sempre bom saber que elas não vão parar de existir, não é?

Além delas, atualmente as anamórficas de cinema profissional são as Hawks, lentes alemãs, com squeeze de 1.33x. Nesse vídeo, um dos engenheiros apresentar melhor a série V.Lite. Em São Paulo, você pode encontrar Hawks para locação na RentalCine, se não me engano. Tô pensando em dar uma passada lá, pra matar a curiosidade e fazer uns testes, se alguém se interessar.

Em paralelo, voltando às coisas velhas, os tais de Alan e Tony Wilson, conhecidos pelo RedStan – o das Clamps – têm trabalhado em um projeto peculiar, de reestruturação de Iscoramas a partir de elementos de diversos Iscos em housings – qual a tradução disso? – totalmente novas. Isso não é tão novo quanto o anúncio da Zeiss, e não tivemos muitas novidades de seus avanços desde julho do ano passado, com esse post do Andrew Reid sobre os Cine-Iscoramas.


Cine-Iscorama, o bicho é bonitinho, vai.

Por fim, pra fechar esse assunto e irmos ao tema real do post, uma última curiosidade. Dia 31 de Março, apareceu em muitos lugares um anúncio de uma empresa chamada Robinson Hope Creative, sobre uma nova lente anamórfica, super-grande-angular, desenvolvida especialmente para as DSLR Canon. Era a RH-1. Saca só.

Tipo um sonho né? Por US$600 ainda por cima. Mas não passava de uma pegadinha de primeiro de Abril, que pegou muita gente – inclusive gente atrasada, como eu, que só comecei a investigar o assunto em Julho!

Bom, agora vamos para as prateleiras do eBay, ver o que dá pra encontrar por lá – em variados graus de dificuldade – e quanto se paga por cada coisa, além de suas particularidades.

Abaixo temos os nomes e modelos de lentes mais comuns e adequadas ao trabalho, e suas vantagens e desvantagens que considerei mais importantes, sim? As dimensões frontais e traseiras de cada lente são levadas em conta para a escolha de Clamps, e a distância focal indicada no aspecto “Vignette-Free” é sempre relativa a uma câmera Full Frame. Para calcular a situação numa APS-C ou MFT – Micro Four-Thirds, famoso pela Panasonic GH2 – é só dividir essa distância focal por 1.6 e 1.8, respectivamente

Kowa 8-Z (ou 16-H)
Stretch: 2x
Elemento traseiro: 50mm ou 52mm
Elemento frontal: 84mm
Foco mínimo: 1.5m
Peso: 530g
Vignette-free: >85mm
Preço médio: US$350-400 nos leilões, US$600-900 em buy-it-now

O Kowa 8-Z é tido como uma das melhores lentes anamórficas, depois dos Iscoramas, por ter um foco mínimo bem próximo para esses padrões e ter excelente definição até mesmo com grandes aberturas. Deve ser focada em conjunto com a lente base. Para que a imagem no sensor esteja em foco, é preciso que tanto a lente base como o Kowa estejam com o foco na mesma distãncia.

A Kowa era uma fábrica japonesa que fabricava adaptadores para diversas marcas – isso também acontece com a Sankor, abaixo, que atende por muitos nomes – e diversas faixas de preço. Em meio a seus clientes, havia uma empresa americana de equipamentos de ponta para projeção de cinema, chamada Bell & Howell. A Bell & Howell exigia a maior qualidade óptica possível possível, mesmo que isso significasse um aumento de preço. A Kowa obedecia, e, atualmente, as lentes nascidas dessa parceria são um tanto superiores às Kowa tradicionais, além de um pouco maiores, e totalmente pretas, ao invés do visual zebrado. É uma dessas que eu tenho por aqui.

Sankor (ou Singer) 16-D
Stretch: 2x
Elemento traseiro: 49mm
Elemento frontal: 80mm
Foco mínimo: 1.5m
Peso: 700g
Vignette-free: >85mm
Preço médio: US$300-350 em leilões e buy-it-now.

Depois do Kowa 8-Z, é a melhor opção. Mais barato, um pouco menor, não tem uma imagem com tanta definição, mas também tem um foco mínimo relativamente próximo. Também precisa que as duas lentes estejam focadas no mesmo ponto para formar uma imagem em foco no sensor. Uma alternativa menor (e mais barata), é o 16-C, que sai por volta dos US$250.

Você deve estar se perguntando porque os números 16 e 8 são tão recorrentes nos nomes dessas lentes. O motivo é que elas eram lentes de projeção, de 8mm e 16mm, e daí a numeração! As letras indicam o tamanho da lente, mas isso não segue um padrão, porque algumas letras maiores são lentes menores, e vice versa. Depende do fabricante. O fato de serem lentes de projeção também explica as dificuldades com foco próximo, não é mesmo? Afinal, pra que diabos você vai projetar algo a 1m de distância?

Hypergonar Hi-Fi 2
Stretch: 2x
Elemento traseiro: 74mm
Elemento frontal: 81mm
Foco mínimo: 4.5m
Peso: 1.8kg
Vignette-free: >135mm
Preço médio: US$200-350 em leilões.

Não tão comum de ser encontrada, a Hypergonar Hi-Fi 2 ficou famosa entre as anamórficas por conta do teste-curta “Lost in Hong Kong”, feito por Edwin Lee, que eu coloquei por aqui, no primeiro post a série. O foco mínimo dela é muito longe, e close-ups são fundamentais. O problema é que a rosca de filtro tem um tamanho bizarro, como 81mm, e nada gruda nela, só personalizados. Já expliquei como resolvi, e vou repetir uma última vez, porque achei bem esperto da minha parte – a modéstia manda lembrança. Colei um step down 95-86mm, permitindo assim usar aqueles dióptros Series 9 que eu tanto falo.

Como o elemento traseiro também é gigante, você precisa de uma Clamp maior que o comum. O grande problema é que essa Clamp não é lá das melhores coisas. Ainda tô elaborando um jeito de tornar ela mais firme, e ao mesmo tempo, maleável para arrumar o alinhamento sem deixar a lente tombar. Pra deixar ela firme, sem arrancar sua lente do mount da câmera, a idéia é usar aquele SPT-1, e um lens collar. O da 70-200mm Canon é do tamanho exato de uma parte fixa da lente, então, vale a pena pegar uma versão chinesa dele no eBay, por menos de US$15. Aí a estrutura fica firme. Aqui um exemplo, do próprio Edwin Lee.

Iscoramas 36, 42 e 54
Stretch: 1.5x
Elemento traseiro: 36mm (rosca 49mm), 42mm (62mm) e 54mm (77mm)
Elemento frontal: 72mm, 82mm e 95mm
Foco mínimo: 2m
Peso: 400g, 650g e 1000g
Vignette-free: >70mm
Preço médio: US$2500-3500 em leilões.

As pedras preciosas da coleção anamórfica, existem em várias versões. Essas três são as mais famosas, e dentre elas, o Isco36, porque é leve, rosca de 72mm para filtros, single-coated, e seus flares são absurdamente bonitos. Existem versões do Isco54 também single-coated, mas são bem raras. Já o Isco42 é sempre multi-coated.

Além dessas versões que são só o bloco anamórfico, existem outras, anteriores, com diversos mounts (Nikon F, M42, Exakta e Minolta SR) e duas partes separáveis. Depois, no começo da década de 1990, foram lançados os Iscos série 2000 (2001-2005), cada um com um encaixe diferente de câmera, e lentes unidas num único bloco, impossível de separar a base do elemento anamórfico. Não são muito populares, mas ainda atingem altos preços – abaixo dos Iscos tradicionais, entretanto, ficando na média dos US$2000.

A diferença principal dos Iscoramas pras outras anamórficas é que eles já foram projetados para sua função de encaixar numa câmera fotográfica. Um único anel de foco, a lente base focada no infinito, algo muito mais fácil de trabalhar que as lentes de projeção adaptadas.

LOMOs Squarefront
Stretch: 2x
Elemento traseiro: 62mm ou inexistente.
Elemento frontal: É quadrado, muito diferente!
Foco mínimo: 2m
Peso: Variável
Vignette-free: >85mm (variável)
Preço médio: US$600-2500 por lente, em leilões e vendas fora do eBay.

LOMOs são as nossas amigas russas. Nessa primeira parte, vou falar das Squarefronts, primeira geração de anamórficas. Originalmente feitas com o encaixe OCT-18, e em dois blocos separáveis (unidos pelo sistema de foco), você só precisa focar o elemento anamórfico, que a lente base segue o giro, funcionam bem como um bloco só em câmeras mirrorless com o uso de adaptadores, mas até agora não foram adaptados com sucesso para Canon EF, então, deixamos de lado a lente base e usamos só o bloco anamórfico. Como sempre foram lentes de cinema, têm uma textura diferente das demais e foco confiável. Dessa primeira geração, é difícil achar lentes em bom estado de conservação.

Mais ou menos na mesma época que a alemã Arri lançou seu bocal PL, a LOMO lançou seu novo encaixe, o OCT-19, que é terrivelmente parecido com o da Arri. As conversões entre os dois são bastante comuns atualmente, e as lentes funcionam como um bloco só, sem o elemento anamórfico destacável. Esse encaixe pode ser adaptado para Canon de duas formas, uma delas, permanente, trocando o encaixe da câmera e arrancando fora o espelho, pelo Cinemods, um grupo australiano que faz diversas alterações de mounts em diversas câmeras, entre elas as nossas EOS, ou então através do uso de um adaptador EF-OCT-19.

Devido a essa simplicidade de conversão entre OCT-19 e PL, essas LOMOs são muito mais valorizadas no mercado, porque podem ser usadas diretamente em câmeras mais profissionais – RED, Alexa, a lista segue – sem a necessidade de tantas adaptações como venho descrevendo aqui, para DSLRs. Cada uma delas tem sua distância focal, seu anel de abertura e um único anel de foco, como uma lente normal. Como as Zeiss e Hawks que falei lá no começo do post.

LOMOs Roundfront
Stretch: 2x
Elemento traseiro: OCT-19
Elemento frontal: É quadrado, muito diferente!
Foco mínimo: 2m
Peso: Variável
Vignette-free: Lente completa, não vinheta!
Preço médio: US$3500-6000 por lente, em leilões e vendas fora do eBay.

Com as Squarefronts sendo o projeto inicial, a LOMO avançou na tecnologia e passou a produzir as Roundfronts, com qualidade muito superior, também lentes completas, sem elemento destacável, de encaixe OCT-19

A única diferença entre essas meninas e as Zeiss e Hawks é que elas pararam de ser fabricadas há mais de 20 anos. Mas continuam por aí, funcionando com uma lente bem projetada deve funcionar: para sempre. Só pra esse pedaço não ficar muito curto, e eu reforçar esse aspecto profissional das Roundfronts, tem aqui um videozinho misturando elas com Hawks. Se você tem uma dessas e tá usando com DSLR, é por opção, e não por falta de grana. Vira e mexe você vê alguém vendendo um lote delas num fórum como o DVXuser, ou REDuser por US$30.000,

Panasonic AG LA7200
Stretch: 1.33x
Elemento traseiro: 105mm
Elemento frontal: 72mm
Foco mínimo: Focus-through
Peso: 450g
Vignette-free: >28mm
Preço médio: US$850-900 em leilões, US$1150-1350 em buy-it-now.

Maior e mais famoso dos focus-through, não dá nem para dizer que teve uma queda de preço considerável, porque a DVX100 é relativamente próxima da 5D, e o adaptador foi lançado em 2007, por aproximadamente US$1000. A maior dificuldade é encontrar um dióptro grande o suficiente para torná-lo mais trabalhável, uma vez que close ups de 105mm são bem raros e caros, saindo na faixa dos US$300.

Descobri por acaso que esse adaptador existe em duas versões, uma com uma espécie de mini-parasol, e outra sem. A versão com parasol pode ser usada com filtros de 105mm sem dificuldade através dessa técnica de “emperrar” os filtros lá dentro. Já a versão sem parasol requer algumas modificações. Estamos trabalhando nisso.

Century Optics (ou Optex, Soligor, Cambron, etc) Anamorphic Adapter
Stretch: 1.33x
Elemento traseiro: 52mm ou 58mm
Elemento frontal: 62mm (sem rosca)
Foco mínimo: Focus-through
Peso: 200g
Vignette-free: >35mm
Preço médio: US$700-1000 em leilões e buy-it-now.

É uma versão menor do LA7200, voltado para câmeras menores. De menor qualidade também. Juro que não entendo o preço descaradamente alto, mas têm vendido bastante, e rápido. O Optex que comprei, só comprei porque de vez em quando aparecem uns perdidos que não olham o mercado e anunciam muito barato. Paguei US$300. Como não possui rosca para filtro no elemento frontal, é necessária uma Front Clamp para trabalhar com dióptros, aberturas maiores e foco mais próximo.

Como muitos desses foram fabricados para câmeras Sony como a VX2000, e a Sony sendo do jeito que é, utilizava uma baioneta especial e não filtros de rosca. Esses modelos ainda precisam dessa adaptação para encaixar numa lente base de DSLR. Alguns anos atrás, um sujeito chamado Amit Sitapara projetou e vendeu grande quantidade de adaptadores conversores de Sony Bayo – nome da baioneta, bastante criativo, devo admitir – para filtros 52mm e 58mm. Mas o sujeito sumiu e é praticamente impossível encontrar esses adaptadores à venda. Se eu acabar comprando um anamórfico desses de baioneta, vou projetar um novo e executá-lo, mas, enquanto isso, já temos adaptações suficientes acontecendo, e essa vai esperar um pouco.


Amit Bayo rings

Um pequeno aviso sobre que tipo de lente evitar, porque pode ser útil, né? Quando você busca “anamorphic lens” no eBay, aparece um bocado de coisa. E especialmente umas lentes coloridas, vermelhas, douradas, e incrivelmente grandes. Tudo que tiver no nome “projection” ou “projector”, evite. A maioria delas tem um foco mínimo ridiculamente grande – 8m, 10m – e vinheta com muita facilidade. Sem falar na complexidade de anexar um trambolho pesado e enorme desses na frente de uma lente tão frágil como as nossas queridas lentes base. O preço de algumas pode parecer tentador, mas fique esperto: é roubada!

Saindo agora do campo das lentes, temos os anéis adaptadores, que você consegue por preços muito baixos, além de frete grátis e definitiva isenção da alfândega comprando com vendedores chineses. Escolha sempre os que tem maior pontuação, e encomendas registradas – geralmente eles têm um produto à venda chamado Registered Mail, ou similar – porque você pode acompanhar o progresso da entrega, e garantir que os Correios não vão surrupiar seu pacote. Nunca aconteceu comigo, mas já ouvi diversas histórias do tipo, e acredito completamente nelas.

Clamps, já falei um bocado, serei breve, temos dois fabricantes de qualidade – RedStan e Vid-Atlantic -, e outras coisas bem vagabundas. Recomendo evitar o eBay, e lidar diretamente com esses dois. Na verdade, eles também possuem conta no eBay, e anunciam muitos dos produtos por lá. Na minha experiência, as Clamps do RedStan são de maior qualidade, mas a Vid-Atlantic tem versões específicas – e beeem mais baratas – para os Sankor, por exemplo, e uma Clamp gigante para lentes desproporcionais, como a Hypergonar Hi-Fi 2.


RedStan clamps!

Agora os close ups são verdadeiras caçadas. O ideal é ter valores baixos, menores que +1, para você ter um maior campo de foco e não ter que fazer praticamente só macro-shots. Já me bati com dióptros +0.3, +0.4, +0.5 e +0.67, que são valores bem interessantes para foco-próximo-mas-não-tão-próximo. Dando uma olhada nas Front Clamps é possível ver uma tendência para a rosca de 72mm, o que é bom. Não são muitas as lentes maiores que 72mm (LOMOs, Isco42 e Isco54, LA7200), mas encontrar algo maior que isso é um desafio. De vez em quando aparece, mas os preços são sempre salgados. Um tal de woodchukwood tem aparecido com vários nas últimas semanas. Comprei o meu 105mm com ele, e foi um rolê pra conseguir mandar desviando da alfândega.

Os próprios filtros Series 9 são bem raros, mas algo aconteceu, e um vendedor aleatório começou a vendê-los zerados, por preços bem mais em conta que os usados. Não deixemos de aproveitar essa chance, não é? E eles são 86mm. Com os anéis certos, dá pra se virar no Isco54 e até no LA7200.

Se o seu objetivo é usar sempre achromatics, com duas camadas de vidro para maior qualidade de imagem, se prepare pra gastar mais uma grana, porque eles são ainda mais raros. Sei que os close-ups da Canon (500D e 250D) são achromatics, mas eles são bastante fortinhos. Os números no nome indicam a distância máxima de foco para cada um, o que resulta que o 500D é um dióptro +2 e o 250D é um +4.

As LOMOs Squarefront têm uma cara completamente diferente de uma lente normal, e a menos que você adapte algo nela com rosca – como estou planejando -, os dióptros disponíveis são muuuito difíceis de achar. E quando aparecem no eBay, os preços vão lá em cima, passando facilmente dos US$500. Além de não terem indicação clara de sua potência…

Comprar no eBay tem suas vantagens, como preços baixos, PayPal, diversidade e vendedores do mundo todo. Mas também tem um grande problema: vendedores do mundo todo. Como isso pode ser uma vantagem e uma desvantagem ao mesmo tempo? A vantagem é clara, porque você não precisa visitar trocentos mil sites de vendas em idiomas completamente nebulosos atrás de alguma coisa, basta ir num só, em inglês, e tá tudo certo. A desvantagem é a importação, ainda mais nesse momento político de protecionismo.

Algumas notas sobre a alfândega brasileira. Quando você viaja para fora do país e volta trazendo equipamento, você deve declarar seu valor. Cada um tem uma cota de US$500, sobre os quais não são aplicados impostos. Quando sua conta ultrapassa esse valor, o excesso é taxado em 50%. Sobre um produto de US$800, você paga 50% de imposto em US$300, o que dá aproximadamente R$600. Só pra entrar com ele no país. Se você estiver corajoso e resolver passar sem declarar, pode entrar sem pagar nada. Mas se for parado, e exceder a cota, paga 100% de multa sobre o valor. Eu acho isso tudo um roubo, mas não vou entrar nessa discussão.

Quando seu produto vem por serviço postal, o esquema é diferente. O sujeito que envia a encomenda coloca na embalagem uma declaração de valor do produto, que ao entrar no país, é avaliada pela fiscalização alfandegária, que pode acreditar ou não naquela declaração. Geralmente eles acreditam, mas existem exceções. Compras abaixo de US$50 não são taxadas, e são entregues direto na sua casa. Compras entre US$50 e US$500 são taxadas com 60% de impostos, aplicados inclusive sobre o valor da postagem. Você então recebe um aviso na sua casa, dizendo que tem que ir numa determinada agência dos Correios – geralmente próxima – pagar a taxa para retirar a encomenda. Ah, esse processo tende a levar de 20 a 30 dias.

Sobre esse aviso: antes era bem comum receber encomendas acima de US$50 sem impostos, mas de Março para cá a Receita Federal começou a operação Maré Vermelha, com objetivo de tributar tudo o que puder. Para melhor precisão sobre os impostos, quando a encomenda vinha com um nome diferente do seu nome completo (no caso, sou Tito Guimarães Ferradans, e todas as minhas encomendas vieram como Tito Ferradans), você tinha que, além de pagar a taxa nos Correios, levar também uma cópia de RG e CPF, comprovante de residência e um documento que comprovasse a venda/seu valor. Esse esquema das cópias foi implantado no meio de Agosto e deu tanta dor de cabeça que em menos de duas semanas eles cancelaram tudo isso, e só exigem mesmo a cópia do RG e CPF

Agora a parte realmente salgada: encomendas acima de US$500. Essas devem passar pelo Importa Fácil, serviço dos Correios que custa R$150 por encomenda, ou por um Despachante Aduaneiro, que custa os olhos da cara. Além dos 60% de imposto, você paga 60% sobre o valor total (encomenda + impostos), de ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – uma vez que os Correios entregam o pacote direto na sua casa. Convenhamos: não é um bom negócio. Não precisa nem parar pra fazer as contas pra perceber que 60% de ICMS em cima de 60% de imposto de importação dá 96% de impostos sobre o valor original. Se isso não é roubo, eu não sei como é o nome. Colaborando à sensação de prejuízo, essas encomendas levam em média 60 dias para passar por todo esse rolê.

Bom, alguém pode até tentar justificar que é para defender a produção interna. Mas, produção interna de lentes e equipamento fotográfico? Qual mesmo? Pois é, e deixar a situação ainda mais engraçada, você pára e pensa: “ok, vou comprar um produto usado, que já pagou seus impostos, e pronto!”, mas não. Porque a importação de produtos usados é PROIBIDA. Qual o sentido disso? Se alguém tiver uma explicação, por favor, deixa nos comentários, porque eu quero muito saber.

Nos últimos parágrafos, apresentei uma série de formas de transformar suas compras salgadas em verdadeiras bombas de hipertensão. Como aliviar os encargos? É só conversar com os vendedores antes de despachar a mercadoria. Na China eles fazem isso sem você pedir, mas com os americanos é preciso um pouco de conversa. A idéia é pedir para o valor declarado ser sempre inferior a US$50. Como eu disse antes, geralmente funciona. Mas a Receita encrenca com QUALQUER coisa que venha dos EUA, e tributa independente do valor. Quem me falou isso foi uma atendente dos Correios, quando fui buscar um filtro que custou US$30, e foi tributado como US$50. Quando a encomenda vem de partes mais estranhas do mundo, o golpe funciona. As M42 russas custaram US$400. Não paguei um centavo de imposto, porque além de não-declaradas, vieram numa caixa de laranjas, enroladas em tanto jornal que cheguei a considerar que não estivessem lá!

Se você for como eu, que faz trocentas compras ao mesmo tempo, pode ser bem desesperador tentar acompanhar todas elas em sites de correios diferentes do mundo todo. Para isso, brasileiro que é brasileiro já tem até um esquema. É o Muambator. Sim, isso é sério, e tem até App para iPhone! Você cadastra nele todos os seus números de rastreio, e ele vai acompanhando, indicando o status da encomenda a cada atualização. Ele inclusive te avisa quando seu produto foi taxado pela alfândega! Recomendo infinitamente, porque funciona mesmo.

Falei de muitas lentes, e mesmo assim, ainda ficou uma porrada de fora. Não consegui fontes suficientes, testes e comentários para escrever algo por minha conta, então vou ficar devendo até ter algo palpável, ou uma delas vir parar na minha mão!

Acho que esse post ficou excessivamente grande, e passei a tarde inteira escrevendo, mas tem MUITA dica aí, tanto pras anamórficas, como de compras no exterior de maneira geral. Espero que ajude alguém. A partir do próximo post, vou começar a testar mais a fundo cada uma das lentes que estão aqui, e explicar as modificações/adaptações feitas a elas, para o trabalho ser mais possível.

Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos IV] O Arsenal.

September 9, 2012

O post de hoje tardou mas chegou. Vou dar uma passada por toda a tralha que andei comprando no eBay para conseguir transformar essas belezinhas em lentes operacionais. Não foi pouca coisa, mas grande parte foi muito barata – viva China! Dá uma olhada aí no quadro geral.

Tirando as duas câmeras no canto inferior esquerdo – T2i e 5D3 – todo o resto chegou por aqui ao longo de Agosto. Vamos começar pelo mais barato e ir subindo pras coisas mais sofisticadas. E os primeiros da lista são os anéis adaptadores.

Essa pilhazinha da foto é só metade de todos os anéis que estão no armário. E já dá quase a altura da 24-70. Ok, posso ter exagerado um pouco na quantidade, mas são raros os anéis duplicados. Nessa brincadeira de a a rosca da lente base ser de um tamanho e o encaixe da anamórfica ser de outro, comprei anéis para cobrir de uma vez TODAS as possibilidades de combinação entre todas as lentes e todas as Clamps. Eles são chamados de step-up, quando você vai de um diâmetro menor para um maior (72-77mm, por exemplo), e step down quando é o contrário. No nome do anel, o número que vem na frente é sempre o da rosca macho, que encaixa na lente base. No caso, um 49-62mm é um anel que permite encaixar um filtro de 62mm numa lente com rosca 49mm. Não tem muito o que explicar na verdade, só tinha que justificar a quantidade imensa. Foi um desses que eu usei para adaptar uma rosca de filtro na Hypergonar Hi-Fi 2, e até colei o anel de foco da lente. Aí arranquei e colei um maior, que deu até mais versatilidade pra menina.

Além dos step ups e downs, peguei também uns filtros UV vagabundos – para desmontar mesmo, e encaixar na Panasonic, e uns Circular Polarizers (CPLs), para facilitar o alinhamento das anamórficas, como é o caso da LOMO – temporariamente. Meu critério de escolha aqui foi: qual o mais barato que eu consigo encontrar? Porque o vidro não tinha nenhuma importância. Quando eles chegaram, com uma chave de fenda fina, desparafusei a rosca que segura o filtro no lugar – os filtros de qualidade não são desrosqueáveis dessa maneira – e arranquei fora o vidro, para usar só o anel. 72mm, 77mm e 86mm foram os tamanhos usados.

Ah, não tá nessa foto dos anéis, mas comprei também um bocadinho de lens caps, de tamanhos variados, tanto para tampar as anamórficas com clamps, como para as M42, que tem caps bem estranhos. Além dos tradicionais caps de pressão – esses que estamos acostumados – como muitas anamórficas tem um encaixe traseiro de rosca, descobri a existência de caps screw-on, rosqueáveis, para proteção desses casos. Originalmente, são vendidos como protetores para filtros. Nunca nem soube que existia, até precisar procurar.

Em seguida, temos os encaixes dos filtros Series 9. Originalmente, tinha comprado só um, 86mm, seguindo a linha de raciocínio de adaptar todas as lentes para o maior diâmetro possível, mas aí percebi que o acumulo de adaptadores atrapalhava o manuseio, e cacei encaixes usados de 72mm e 77mm, que também permitem usar os dióptros em quase todas as minhas outras lentes que não as anamórficas. Portabilidade é tudo. O único detalhe aqui é que o anel que segura o filtro no lugar – retaining ring – é vendido separadamente, e por enquanto só tenho um. Tá difícil de achar eles à venda, usados. Os novos custam os olhos da cara.


Anéis para filtros Series 9.

Nosso próximo item, na verdade são dois, e são um treco meio nebuloso ainda, porque não consegui usar a combinação direito. Um é um lens collar, esse breguetinho que segura lentes muito pesadas, como a 70-200mm, e o outro é um sistema de suporte para lentes longas, chamado SPT-1, de marca Velbon.


Velbon SPT-1, Lens Support.

Mas, pra que diabos você quer um suporte para lentes, se você já tem o tal do lens collar? E se a minha lente for muito pesada, e a câmera for muito pesada, e entre elas, a conexão for frágil? Ahá! Esse é o esquema para usar a Hypergonar Hi-Fi 2, a maior e mais pesada lente que tá aqui, e claro, a mais difícil de trabalhar. Na parte vertical, você prende a câmera. Aquele parafuso ali deixa você variar a altura que ela vai ficar. Na parte horizontal, você prende a base do collar, sustentando a lente mais distante, e isso tudo você prende num tripé, ou shoulder, ou grip, ou qualquer que seja seu esquema de sustentação principal.

Tava vendo também que esse SPT-1 é útil para trabalhar com as LOMOs, porque o suporte delas é maior que o habitual, então ele prende nas laterais dessa estrutura, impedindo assim a lente de ir pra frente e para trás. Dá pra entender direito nesse vídeo do Edwin Lee. Mas como a minha LOMO ainda não tem nem essa base – estamos projetando! -, ainda vai demorar um pouquinho para colocar em prática.

Temos então as Clamps. No momento, tô com três aqui, duas RedStan – uma frontal e uma traseira – pro Kowa, e uma XL, da Vid-Atlantic, para a Hypergonar. O grande propósito dela é que ela prende lentes grandes, com elemento traseiro de até 76mm, e tem um encaixe de 72mm. Essa XL é bem fuleira, na verdade, e estou procurando soluções para tornar o trabalho dela mais eficiente, porque como a Hypergonar é absurdamente pesada, a sustentação fica prejudicada e o alinhamento é um verdadeiro desafio. Já na RedStan, alinhar é a coisa mais fácil do mundo, porque ela tem um anel do diâmetro exato da rosca do Kowa, fazendo com que a Clamp não solte a lente, mas ao mesmo tempo permita que você a gire para alinhar adequadamente.

Já falei antes, mas só pra garantir que tá todo mundo na mesma página, alinhar a anamórfica significa posicionar a lente de forma que o squeeze ocorra na direção correta, não deformando a imagem.

Enquanto isso, tô esperando chegar mais uma RedStan pro Iscorama M42 – que também vai chegar – e considero comprar uma Front Clamp para o Optex.

Dióptros! Tenho a impressão que não passo um parágrafo sem falar deles. Não tem nem muito o que explicar, temos três, um gigante, de 105mm +0.3, e dois “menores”, Series 9, aproximadamente 86mm, Schneider, +0.5 e +1, que não foram exatamente baratos, mas como peguei várias coisas com o vendedor, acabei conseguindo um desconto legal. Considero comprar um +2, mais adiante. Um lembrete sobre close-ups, que esqueci de falar antes, é que todos esses são compostos por um único elemento. Existem, por sua vez, os compostos por dois elementos, chamados achromatics, que melhoram consideravelmente a definição da imagem e diminuem aberrações cromáticas. Mas, assim como são melhores, são estratosfericamente caros, e raros. Até agora só me deparei com um desses, Tokina, 72mm, +0.4, incrivelmente caro.

Tô querendo testar também, especialmente em termos de qualidade, esses close ups vagabundos feitos na China, que são vendidos em kits +1, +2, +4 e +10. Vi uns testes, pra fotos macro, há muito tempo, usando esses, e tinha bastante aberração cromática, mas o conjunto tá em média US$20, então, mesmo que tenha seus problemas, não é um prejuíííízo gigante. Se alguém tiver um desses em casa, me avisa, que eu quero dar uma olhada, por favor! Juro que devolvo inteiro e intacto!

Estamos chegando ao topo da lista, e aqui vêm as M42 russas. Pesquisei um bocado antes de escolher cada modelo e dei bastante sorte de conseguir tudo com um vendedor só. Por que M42? Porque é facilmente adaptável para o encaixe EF da Canon, com um adaptador que não custa nem R$5 (US$1.45). Curioso procurar esses adaptadores no MercadoLivre e ver que não tem nenhum que saia por menos de R$40. É a facada brasileira, aplicada indiscriminadamente a tudo que tem relação com fotografia!

Para escolher as lentes, meu principal critério foi: single-coating. Quero ver flares e personalidade nessas coisas. Se eu quiser uma imagem limpa, clínica, pego as Canon que estão sobrando por aqui, oras. Foram as escolhidas: Mir-1B 37mm f/2.8, Helios 44-2 58mm f/2, Jupiter 9 85mm f/2, Tair-11 135mm f/2.8 e Orestegor 200mm f/4. Nesse processo, descobri que a Helios e a Jupiter têm várias versões, e muitas delas multi-coated. O truque para identificar quais são single e quais são multi, sem ter a lente na mão, comprando pela net, é prestar atenção no anel de foco. As versões multi-coated têm anéis redondos, lisos, enquanto as versões single-coated têm indentações para os dedos. Convenhamos que, além de tudo, é muito mais bonito que um anel liso!

Só ressaltando, M42 não é o único encaixe adaptável, mas foi minha escolha porque tem a maior diversidade de lentes de qualidade, com o menor preço – cada tanto a Helios 44-2 como a Mir-1B saíram por menos de US$60, e a mais cara foi a Tair-11, que é uma exceLENTE, e custou US$200. Futuramente pretendo experimentar outros encaixes, como o Kiev-60 e o Pentax-K, mas só quando me recapitalizar.

Chegamos enfim às anamórficas. Pretendo fazer um post dedicado a cada uma delas, mas vamos aproveitar a ocasião para um breve resumo de cada, começando pela Hypergonar Hi-Fi 2. É tão complicado de lidar com ela que não tenho nem fotos decentes para ilustrar ela montada na câmera…

Essa lente é monstruosa. Gigante, pesada que só a desgraça, vinheta em qualquer coisa mais curta que 135mm numa Full Frame e tem um foco mínimo que se não muito me engano, é algo entre 3 e 6 metros. Bem difícil de trabalhar. Pra melhorar, não tinha lens caps na frente nem atrás, e a rosca de filtro era de algo em torno de 83mm, então nada encaixava direito. Fui adaptar um daqueles UVs desmontados, que falei lá atrás, com superbonder, nesse encaixe de 83mm e não percebi que para focar, a lente girava o elemento frontal, mas não as suas laterais de metal. Qual não foi o meu susto ao tentar fazer foco e a lente não girar? E eu forçar, e ela ainda assim não girar? Levei vários minutos até concluir que tinha sido a adaptação, e arrancar o filtro com uma chave de fenda. Então, parti para uma abordagem mais violenta e colei um step down 95-86mm, evitando dessa vez o anel de foco. Rolou superbem e agora consigo colocar os dióptros e até um lens cap para proteção.

A próxima lente é o Kowa, que já cansou de aparecer nas fotos aqui – é aquele com a Clamp vermelha. Atualmente ele é o meu anamórfico favorito, porque tem excelente definição até mesmo em grandes aberturas. As Clamps tornam fácil encaixar ele em qualquer coisa, alinhar e colocar filtros. O problema mesmo é o foco duplo, porque, já que não é um Iscorama, é preciso focar a lente base e o Kowa à mesma distância para se obter uma imagem decente. Vinheta abaixo de 70mm.

Se você achava que a Hypergonar era a mais complicada, é porque não enfatizei o suficiente a situação da LOMO. Foi a primeira anamórfica a chegar, e vai ser a última que vou conseguir trabalhar. Até pouco tempo – duas semanas? – o único jeito de usá-la era simplesmente segurá-la na frente da lente base, e fazer algum malabarismo para focar, não bater o elemento traseiro da LOMO no elemento frontal da lente base, e apertar o botão de disparo, mais ou menos ao mesmo tempo que todo o resto.




Ela é uma lente completa, que dispensaria uma lente base, porque já veio com uma. É uma 50mm f/2, de encaixe OCT-18. O grande problema é que esse encaixe é incompatível com o encaixe EF, porque a distância entre o elemento traseiro da lente e o sensor é menor do que a distância possível de ser obtida, devido ao espelho dentro da câmera. Vou me encontrar com o Scavone – “cientista louco”, diriam alguns, “gênio” diriam outros, “chato” diriam mais outros – pra ver se encontramos uma solução para isso, afinal, seria MUITO mais legal usar essa anamórfica completinha, ao invés de só o elemento frontal em combinação com outras lentes, como tenho feito.



T2i + Jupiter 9 f/2 + LOMO 35NAS4-1 2x

A Clamp dessa aqui também ainda está em fase pré-projeto, porque preciso tirar medidas para fazê-la. Antes que alguém pergunte “por que não usar uma Clamp convencional?”, explico: essa lente é malandra, e em seu design, o anel de foco gira toda a parte traseira do elemento anamórfico, então uma Clamp tradicional teria que girar também. Para contornar temporariamente esse problema, tenho usado um daqueles CPLs desmontados. Mas, no projeto original, esse giro é transmitido à lente base, que gira DENTRO DO MOUNT DA CÂMERA (!!!), se aproximando/afastando da película, e dessa forma as duas são focadas simultâneamente. É um rascunho do que os Iscoramas iam fazer.

Pra fechar o post, temos o Panasonic AG LA7200, que é único focus-through por aqui, e funciona muito bem com grandes-angulares devido a seu tamanho desproporcional. Dá até uma cara mais profissional para a câmera! Não vou falar mais nada dele porque já estaria – estou – me repetindo, e isso não é algo que curto muito.

Acabou que não consegui fazer o vídeo-tutorial pra postar hoje – na verdade até fiz o vídeo, mas como foi com a GoPro, o som ficou IMPOSSÍVEL, então eu vou refazer esse som de forma decente antes de postar. Acho que amanhã mesmo consigo colocar ele no ar e atualizo o post. Para o próximo post, um guia de compras, médias de preço, peso, detalhes das melhores lentes para se trabalhar e como funciona o eBay – acredite, não é tão simples quanto parece, ainda mais quando temos a alfândega, e sua operação Maré Vermelha, para levar em conta.

Pra ser elegante, fecho o post com uma das fotos mais legais que fiz nesse processo de testes, durante a Rave do Render – evento a ser explicado em outro post, quem sabe – com o Murilo.


5D3 + Canon 85mm f/3.5 + Kowa Bell & Howell 2X + +0.5 Close-up

Day-to-Day Tudo AV

DemoReel 2

September 8, 2012

Tenho feito um bocado de coisa com animação/motion graphics, e o demoreel do ano passado já tava muito desatualizado. Pois sentei um dia por aqui e fiz uma nova versão, um bocado mais rápida bem mais recheada de coisas. Pra variar, já tem material que ficou de fora, mas, daqui a um ano faço outro! hehehe.

Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos III] Bokeh, Focus Through e Pós-Produção.

September 7, 2012

Retomando nossa conversa anamórfica, os tópicos a serem discutidos aqui são esses do título do post, começando pelo bokeh. Isso, que todo mundo sabe o que é, mas nem todo mundo sabe o nome, são aquelas bolinhas que se formam em luzes desfocadas, e é – pra mim – uma das características mais marcantes de “foco seletivo”. Nos tempos de mini-dv, para fingir foco, já cheguei a fazer trocentas máscaras ao redor das coisas que estariam desfocadas e aplicar um blur digital, e, na época, era o suficiente. Assistindo esse material hoje, não cola. O desfoque criado por uma lente é totalmente diferente do desfoque criado digitalmente, sobre uma imagem já pronta.


Imagem em foco, imagem fora de foco e imagem desfocada digitalmente.
T2i + Helios 44-2 f/2, a 1.5m de distância.

O motivo pelo qual isso acontece depende inteiramente da abertura da lente (o elemento físico, os aneizinhos lá dentro que controlam a entrada de luz). A diferença entre o desfoque gerado pela lente e o gerado por 20px de gaussian blur é indiscutível. Numa imagem verdadeiramente, os pontos de luz desfocados ganham um desenho bem definido, além de aumentarem consideravelmente de tamanho, sem perder sua intensidade. O formato desse desenho varia de lente para lente, especialmente em função da quantidade de lâminas na abertura da mesma. Enfim, essa volta toda só pra dizer: essas luzes desfocadas são o tal bokeh.

Bom, agora já sabemos como é o bokeh de uma lente normal. Mas, qual o fetiche pelo bokeh anamórfico? As imagens podem esplicar melhor.


Imagem em foco e fora de foco, lente anamórfica.
T2i + Helios 44-2 f/2 + Kowa Bell & Howell 2x, a 1.5m de distância.

O lugar onde você mais vê esse desfoque ovalado e gracioso é no cinema. Nos épicos, mais específicamente – afinal, nem todo mundo usa anamórficas em seus filmes. Mas, por que diabos esse negócio fica comprido, se a imagem é esticada na horizontal? Isso também é respondido na hora que você dá uma olhada na lente, no sentido seguido pela luz.


Kowa Bell & Howell – squeeze: 2x

É como se essa forma ovalada modelasse a iris da lente base, fazendo com que ela ganhe essa característica. Esse efeito, por sua vez, pode ser obtido de outras maneiras, através de um filtro na frente de uma lente comum – esse filtro é fabricado pela Vid-Atlantic, e atende pelo nome de Cinemorph – mas que apresenta alguns desafios, como vignette e perda de aproximadamente 2 stops de luz. Tenho esse filtro por aqui também, e num próximo post, faço mais comentários sobre seu funcionamento, porque ainda não tive tempo de testar direito!

Outra saída, que encontrei hoje, é ser hardcore e adaptar esse formato à iris da sua lente, da forma que esse camarada fez com a sua Helios 44-2 nesse vídeo. Ok, não rola de fazer com qualquer lente, mas algumas de projeto mais simples são bem possíveis. Dessa forma, você escapa do problema do vignette, mas passa a ter que lidar com uma abertura fixa. Daqui a umas duas semanas devo estar com uma Helios sobrando por aqui, e admito estar disposto a tentar.

Então tudo que é anamórfico tem esse desfoque especial? Não. É assim que entramos no segundo assunto do post: adaptadores focus-through, como o LA7200. Eles são desprovidos de anel de foco, o que permite passagens de foco, mas não deformam o bokeh. Mais uma vez, isso é compreensível olhando a lente de frente.


Panasonic AG LA7200 – squeeze: 1.33x

Esses adaptadores – tô falando aqui com base em leituras diversas, mas testes apenas com o Panasonic – não lidam bem com grandes aberturas. É muito complicado deixar a imagem em foco quando a lente base está mais aberta que f/4. Eles também não gostam de lentes longas (tele). A partir de 60mm, já rola um desafio no foco, e pra completar os pepinos, eles também não curtem foco próximo. Quando o foco tá no infinito, é tudo lindo e maravilhoso, mas algo mais próximo que dois metros já vai ficando complicado.


Imagem em foco e fora de foco, anamórfico focus-through.
T2i + Helios 44-2 f/4 + Panasonic AG LA7200, a 2.5m de distância.

Que desgraça esses adaptadores hein? É, uma desgraça, e comprei mais um hoje cedo no eBay! Mas, por quêêêê? Porque todos esses problemas podem ser resolvidos numa tacada só. Lembra que falei dos dióptros (close-ups) no post anterior? Então, eles são os salva-vidas desses anamórficos. Mas, também existem complicações nesse campo. De ordem financeira, dessa vez. A maioria dos focus-through que aparecem para venda são o Panasonic. E qual o problema dele? O elemento frontal é imenso. Para cobrir tudo com um dióptro, o close-up tem que ser igual ou maior que 105mm – imagina aí um filtro de 10cm de diâmetro. É uma coisa gigante. A vantagem é que, conforme você vai fechando sua distância focal, boa parte do elemento frontal não importa na imagem formada, então você pode usar dióptros consideravelmente menores sem vignette. No meu caso, uso os Schneider Series 9, que tem mais ou menos 86mm. Ainda estou elaborando – em parceria com o Nicko – uns adaptadores de filtro para rosquear essas coisas na frente do anamórfico com segurança.




Comparação de tamanho, e LA7200 com dióptros 105mm e Series 9, respectivamente.

Segurando o close-up +1, grosseiramente, com a mão, consegui fazer foco no nosso modelo – Woody – a 80cm de distância, com o Panasonic, o que já é uma melhoria considerável. E não era o foco mínimo. Por isso, close-ups de diferentes forças são úteis, para ganhar essas distâncias entre 50cm e 3m com foco aceitável.


T2i + Helios 44-2 f/4 + Panasonic AG LA7200, a 80cm de distância.

Só mais um pedacinho de história, que diz respeito a esse trecho em particular do assunto, depois do início da febre anamórfica em DSLR, o LA7200 não era benquisto por todos. Foi um post de Andrew Reid no EOSHD que mudou essa situação, e causou mais um rush por equipamentos velhos. Ele descobriu que usando um close-up russo, chamado LOMO Foton-A, capaz de cobrir todo o elemento frontal da lente, sua performance melhorava consideravelmente. Recomendo bastante a leitura do referido post. Esse adaptador então desapareceu completamente do mercado – nesses três meses de buscas, não vi sequer um no eBay, e tudo indica que eles não são vendidos por menos que US$900.

Já que o post do Andrew tem vídeo, eu que não sou besta, tenho um só pra ilustrar meu caso também – em Cinemascope! – do dióptro +1 Series 9 em combinação com o LA7200.

Além dessa solução dos dióptros, focus-through possuem uma vantagem que nenhuma outra anamórfica consegue bater: você pode fazer quadros usando grandes-angulares. No LA7200, consigo abrir até 28mm sem vignette, na 5D. Numa T2i, 18mm rola com tranquilidade.

Puxando uma ponta que deixei solta lá atrás, nem todos os focus-through são o LA7200. Existem outras variações, desenvolvidas pela Century Optics, Soligor e Optex – e outros genéricos -, todos com squeeze de 1.33x, voltados para o mercado mini-dv. Também de fabricação encerrada, e raros na internet. O que eu comprei hoje é um Optex, com bocal de filtro para encaixe na lente base de 52mm. Eles também não foram projetados para aceitar um filtro close-up na frente, então, precisam de front-clamps. As características são bem parecidas com o Panasonic – só vou poder fazer melhores colocações sobre eles quando o Optex chegar – tanto nas vantagens como nas desvantagens.

Chegamos enfim ao último tópico do dia – e também o mais curto: pós-produção anamórfica!

Filmar anamórfico exige uma certa imaginação. A imagem aparece espremida no visor. Existem soluções para isso, como o EVF da Zacuto, que adequa o formato da tela através de configurações no menu, mas convenhamos que não é algo estritamente necessário, além de custar uma grana. Então, depois de filmar tudo apertadinho na tela, os atores e modelos te xingarem porque não dá pra avaliar as fotos/clips, o diretor dizer que aquilo ali é uma bosta, você pega seu cartão e loga o material no computador. Aí, temos dois caminhos possíveis, um pra vídeo, e um para foto. Vamos falar das fotos primeiro, que é mais fácil.

Se você fez suas fotos em RAW, infelizmente o Lightroom não é capaz de esticá-las pra você, e você vai ter que fazer as correções de cor e exposição com a imagem apertada ainda. Aí, você exporta seu JPG e abre no Photoshop, abre a opção de tamanho (ctrl+alt+I no Windows), desativa “Manter Proporções”, e, para facilitar sua vida, altera a medida de Pixels para Porcento. Então, é só colocar o fator de squeeze na horizontal. 133% se você filmou com um focus-through, 150% com um Iscorama, ou 200% se usou um Kowa, Sankor, LOMO, etc. Outra opção é diminuir a porção vertical da imagem (50% para 2x de squeeze, 67% para 1.5x e 75% para 1.33x), o que é uma opção para melhorar a qualidade da imagem – afinal, ao invés de ampliar, você encolhe.

Aí sim, suas fotos vão estar na proporção correta em relação à realidade, e todo e qualquer ser humano deve ser capaz de entendê-las! Você já pode postar no facebook pros seus amigos, no blog, pros seus leitores, enfim. Vale um extra de atenção aqui, porque é bem comum encontrar material na net que não foi adequadamente redimensionado, e ainda tá um tanto espremido.

Para vídeo, no Premiere, importe seus clipes, e clique neles com o botão direito, selecionando então a opção “Interpret Footage”, uma vez nessa janela, você vai no menu indicado abaixo, e escolhe a sua proporção adequada à sua captação – acabei de descobrir que esses dois formatos já existiam por padrão, nunca tinha procurado.


Corrigindo a proporção da tela no Premiere.

Então, usando os clips já reinterpretados, você cria sua seqüência, que vai ficar uma belezura.

No After, esse caminho de alterar o aspect ratio também é possível, acessado pelo mesmo menu. Outra opção é criar uma composition já com o tamanho horizontal final correto – coloquei uma imagem com as dimensões, lá no Vendendo o Peixe, e um link para ela aqui também – 2550px, 2880px ou 3840px, e então ir em Scale dos clips (hotkey S), para alterar a proporção, usando também a porcentagem do fator de stretch, da mesma forma que no Photoshop. Nesse cálculo, você sempre aumenta a imagem, o que nos leva a um dilema: nenhum site de compartilhamento de vídeos toca clips com resolução lateral maior que 1920px. Então, esse ganho de resolução não será perceptível para web.

Como tirar vantagem desse problema? Redimensionar os vídeos verticalmente ao invés de horizontalmente. Você define a largura máxima como 1920px e varia a altura, na mesma proporção do stretch (50% para 2x de squeeze, 67% para 1.5x e 75% para 1.33x), ganhando assim, maior qualidade de imagem.

Pronto! Taí, terminei a terceira parte, demorando muito mais do que esperava, mas também com muito mais clareza que o que veio antes – espero. No próximo capítulo, vou apresentar toda a tralha que tá aqui em casa, e um vídeo-tutorial de como montar/encaixar sua anamórfica na câmera. Até breve!

Só pra dar um preview dessas montagens, dá uma olhada em como a câmera fica com as anamórficas.


T2i + Helios 44-2 f/2 + Kowa Bell & Howell 2x


T2i + Helios 44-2 f/2 + Panasonic AG LA7200 1.33x

Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos II] Fim da Historinha, Dióptros, Flares e Coating.

September 7, 2012

O que o ócio não faz com as pessoas? Cá estou eu de novo pra terminar essa história, já que não tenho nada mais útil pra fazer.

Então estamos em 2009, e todas essas coisas estranhas que eu falei antes podem ser encontradas no eBay por preços ridiculamente baixos. A 5D saiu no ano anterior e já estava revolucionando o mercado de vídeo, e então, não descobri ainda como, nem por quê, alguém resolveu testar essas lentes pitorescas, antiquadas e, no momento, baratas, em combinação com uma DSLR. Não vou arriscar dizer que foi com uma 5D, mas há grandes chances. Também há grandes chances de ter sido com uma Panasonic GH1 ou GH2.

Então, esse cidadão curioso viu que sua idéia estranha formava imagem, e viu mais: essa imagem era sensacionalmente comprida. E em algum fórum – provavelmente no DVXUser – ele postou os resultados dos testes, e mais algumas pessoas ficaram curiosas. Dentre essas, posso citar Andrew Reid – do EOSHD -, Edwin Lee – famoso por ser um dos pioneiros – e um sujeito que atende por Redstan – que era engenheiro e facilmente dominou a técnica por trás dessas lentes. A partir de seus próprios testes e impressões, publicados no vimeo, no próprio EOSHD e nos fóruns, começou o rush pelas anamórficas no exterior. Em menos de um ano, os Iscoramas que saíam por US$200, agora chegavam a US$4000 nos leilões, e outras coisas ganhavam valores absurdos.

Vendo essa ascenção de preços, muitos donos de lentes anamórficas sem uso resolveram vendê-las, aumentando a oferta, e portanto diminuindo os preços. Agora, três anos depois do surto, um Iscorama atinge facilmente a marca dos US$2000, mas não vai muito além disso. O Isco36 virou uma espécie de diamante precioso, por seu tamanho, peso e qualidade óptica, então, ignora essa “regra” dos US$2000, e ainda atinge valores mais altos quando aparece.

LOMOs variam muito de preço, pois muitas delas já têm padrão de lentes de cinema, portanto ultrapassam os US$4000, mas nunca custaram barato mesmo, e foram incorporadas ao mercado DSLR a partir do uso de adaptadores. O Panasonic LA7200 gira entre US$1000 e US$1500, e as demais lentes – Kowa, Hypergonar, Sankor – perto dos US$300 a US$400.

À exceção das LOMOs e dos Iscoramas de um bloco, todas as anamórficas podem ser consideradas como “adaptadores” somados à lente base. Eles são uma coisa que você põe na frente dessa lente, e obtém o resultado espremido, tipo um filtro, só que mais hardcore. Logo que comecei as pesquisas, vi que para trabalhar com segurança, é preciso usar Clamps para prender as duas lentes. Clamps são grandes anéis de metal, que encaixam no fundo da lente anamórfica, são fixados com parafusos, e terminam numa rosca de filtro, que você encaixa na frente da lente base. Isso garante a maior proximidade possível entre os dois dispositivos, portanto, menor perda de luz. Dos vários desafios encontrados em usar lentes anamórficas, a perda de luz é desprezível, menor que 1/3 de stop.


Redstan Clamp for Kowa Bell & Howell, 62mm

Muitas lentes anamórficas já têm roscas em seu elemento traseiro, mas como são muito antigas – pré 1970 – esses tamanhos não são padronizados, e temos muitas medidas quebradas, como 83mm, ou 73mm. Portanto, as Clamps servem para consertar esse problema. Elas também servem para garantir o alinhamento do elemento anamórfico. Você pode soltar os parafusos sem que a lente caia e corrigir o alinhamento, para que o squeeze atue na direção correta. A coisa mais fácil do mundo é você terminar de rosquear a anamórfica na frente da lente base, e a imagem estar totalmente torta no visor. Os exemplos abaixo ilustram bem isso tudo.


Imagem desalinhada esticada (ampliável), imagem alinhada esticada (ampliável), imagem alinhada não esticada, respectivamente.

Aquele Redstan que eu falei antes, é famoso por suas Clamps, especialmente projetadas para cada modelo das anamórfica mais populares. Tenho duas dele, e uma de outro fabricante (Vid-Atlantic), e devo admitir a superioridade da Redstan em todos os aspectos. Para melhor trabalhar com anamórficas, é necessário o uso constante de filtros close-up – explico mais adiante! – e portanto, muitas lentes também precisam de adaptação no elemento frontal, para rosquear os filtros, são as Front Clamps.


Redstan Front Clamp for Kowa Bell & Howell, 72mm

Nessa brincadeira de filtros, roscas, encaixes e etc, comprei trocentos anéis adaptadores no eBay, vindos direto da China/Hong Kong. Aqui, cada um deles chega a custar R$40, lá, saem por menos de US$2, e você encontra (quase) todas as conversões que imaginar. A maioria das minhas lentes aceita filtros de 72mm e 77mm. Só o LA7200 e o imenso Isco54 tem um encaixe traseiro tão grande, portanto, precisei de anéis para adaptar as minhas lentes para tamanhos menores como 52mm e 62mm. O mesmo vale para os filtros que vão ficar na frente das anamórficas. Saí procurando os mais adequados para cada caso, e elaborando jeitos de adaptá-los em cada lente – mais detalhes adiante.


Kowa Bell & Howell + Redstan Clamps – squeeze 2x

É sempre bom lembrar que estamos falando de lentes bem velhas aqui, e nem sempre em bom estado de conservação. É preciso estar atento antes de comprar qualquer coisa para não receber uma lente riscada, ou cheia de fungos. Aproveitando a deixa da idade das meninas, a grande maioria delas foi fabricada antes do desenvolvimento do multi-coating (MC), essa camada de reflexos coloridos que protege nossas lentes modernas de flares, riscos, garante melhor definição e maior rendimento luminoso – que apareceu no mercado em meados de 1970. Elas têm uma tendência de serem single-coated – produzidas a partir de 1950 -, que é uma característica decisiva num dos maiores fetiches anamórficos dos tempos atuais: flares.

“E qual a diferença? Flare é sempre ruim!”. Será? Nosso amigo J.J. Abrams discorda, e gosta tanto de flares anamórficos que, no Star Trek, tinha sempre uma pessoa fora de quadro, apontando uma lanterna para dentro das lentes, com o único objetivo de gerar flares. Flares anamórficos são compridos, e (geralmente) azuis. E diferentes do que a gente tá acostumado a chamar de flare – que não passa de um borrão na imagem. Essas coisas têm personalidade.


Flares do LA7200

Mas o que acontece se a minha lente base for multi-coated? Bom, muita dessa graça dos flares acaba perdida. Foi pensando nesse caso que trouxe também algumas lentes M42, russas (qualidade alta e preço baixo parecem ser uma constante com itens usados vindos de lá), single-coated, e adaptadas para Canon EF. São elas uma Helios 44-2 58mm f/2 (o AK-47 das lentes, produzido em imensas quantidades, a preços ridículos e altamente confiável), uma Jupiter 9 85mm f/2, Tair 11 135mm f/2.8, Mir 1B 37mm f/2.8 e uma Orestegor 200mm f/4. Todas elas já testadas e completamente funcionais na 5D3. É interessante porque a iris dessas belezinhas não é “clicada”, e você pode alterar enquanto grava, sem parar nos stops certinhos, como muitas lentes manuais atuais (que não sejam de cinema!). E não gastei nem R$800 nelas todas.


Jogo de M42 russas e adaptador.

Com essas lentes base mais velhas combinadas com as anamórficas, o vídeo muda completamente de cara. Elas também ajudam porque os anéis de filtro são consideravelmente menores (49mm a 58mm), portanto, mais fáceis de encaixar. Existem outras opções de mount, além da M42, que podem ser adaptadas para Canon EF. Pentax, Olympus OM, Nikon F, e até mesmo PL. É só uma questão de achar o adaptador certo no eBay. Tudo isso é possível porque a distância da flange (grosseiramente, distância entre o mount e o sensor) de todos esses encaixes é MAIOR que no encaixe EF. Quando essa distância é menor, o bicho pega, e a lente é inadaptável.

Tô com uma dessas por aqui também. É uma LOMO OCT-18, base da LOMO anamórfica. Nesses casos, a saída é usar uma câmera sem espelho – como a Sony NEX, ou a Panasonic GH2 – porque elas permitem obter qualquer distância entre o encaixe e o sensor. Eu ainda não desisti dessa, e marquei uma conversa com o Scavone pra ele dar uma olhada, e quem sabe, arrumar uma solução óptica!

Depois de todo esse devaneio sobre lentes base – recomendo bastante experimentações nessa direção – voltamos ao assunto principal, que já foi mencionado antes e ficou para ser explicado “depois”. Bem, agora é “depois”. Por que lentes anamórficas precisam de filtros?

Ok, omiti parte da informação. “Por que lentes anamórficas precisam de filtros close-up (ou dioptros) para seu bom funcionamento?”. Não sei. Ainda não consegui uma resposta, mas é fato que precisam. Na grande maioria das lentes, o foco mínimo é de 2m. Em alguns casos, 1.5m, e convenhamos, 1.5m é uma distância bem grande para fazer um plano próximo decente, usando uma lente que abre sua distância focal (com um squeeze de 2x, uma 85mm vira algo perto de 40mm no eixo horizontal). Além disso, quando você usa aberturas muito grandes (qualquer coisa mais aberta que f/4), há grande chance de o foco se tornar um desafio à parte.


Canon T2i + Helios 44-2 58mm f/2 + Kowa Bell & Howell, em seu foco mínimo, com a íris toda aberta (ampliável)

Então vamos todos nos teletransportar para as aulas de Imagem III, onde o Scavone explica o que é um filtro close-up. Um close-up é a mesma coisa que um óculos de leitura. Ele faz com que o “infinito” da lente, seja aproximado. A distância dessa aproximação é dada pelo inverso de sua força. Um filtro +1 traz o infinito a 1m de distância, um filtro +2 traz o infinito a meio metro, e assim por diante, e, com isso, eles também aumentam a imagem. Tem uma continha por trás disso tudo, mas eu não vou entrar no assunto.

Com isso, perdemos o foco no infinito original das lentes, mas temos a possibilidade de fazer planos próximos e detalhes com foco, e grandes aberturas. Se você ainda tinha alguma esperança de fazer um super-plano-sequência-muito-louco-anamórfico, é melhor desistir. No meu caso, achei que a melhor saída seriam filtros Serie 9, um padrão antigo, onde os filtros medem mais ou menos 86mm, não tem rosca mas são colocados em um adaptador, que por sua vez, encaixa no bocal da lente. Esse adaptador tem vários tamanhos de anel (no meu caso, 72mm, 77mm e 86mm), que são suficientes para encaixar e funcionar com todas as lentes atuais, e me poupa o trabalho – e despesa – de ter um conjunto de filtros diferente para cada anamórfica. Tenho aqui então três close-ups. +0.3, +0.5 e +1. Futuramente considero arrumar um +2, mas preciso me recapitalizar primeiro.


Canon T2i + Helios 44-2 58mm f/2 + Kowa Bell & Howell + Series 9 Close Up +1, em seu foco mínimo, com a íris toda aberta (ampliável)

Queria colocar mais coisas nesse post, mas o título já tava imenso, e vou deixar pro próximo. Além disso, tô caindo de sono, e fiz três posts imensos num dia só, batendo fácil todos os outros posts de 2012. Em breve, uma análise mais cuidadosa de cada uma das lentes que tenho por aqui, e algumas teorias sobre as que não tenho. Tô pensando em fazer também um guia de compras, com detalhes mais técnicos de cada lente, pro caso de alguém querer embarcar na jornada. Ainda falta falar sobre a pós-produção, mais detalhes sobre os focus-through, que tipo de lentes evitar, e testes mais precisos envolvendo flares, foco mínimo e definição em grandes aberturas e lentes variadas. Vou tentar fazer um vídeo-tutorial do processo de “encaixar todas as peças”, porque isso também facilita muito a compreensão das coisas. Pronto, chega. É assunto mais que suficiente pros próximos posts.