
Fui ver O Hobbit no IMAX pouco antes de vir pra Salvador, com a May, e achei o filme sensacional. Desisti de todas as minhas críticas sobre o livro curto ter sido dividido em três filmes e gostei muito do clima, do 3D, do som e da forma que a história foi contada. Minha maior ansiedade em relação a ele, porém, não foi resolvida: e os 48fps que Peter Jackson tanto alardeou, que seria uma revolução no cinema? Só quando a sessão começou, que não senti diferença, é que percebi que minha versão era de 24fps.
Na vibe Tolkien, reassisti a trilogia do Senhor dos Anéis, versões extendidas, e me diverti a valer. Foram mais horas de filme do que eu tinha de aulas por semana nesse último semestre. Pra completar a festa, anteontem fui ver o tal do Hobbit HFR (high-frame-rate).
Não vou falar do 3D, que é um dos melhores que já vi, mas esse HFR não me desce. Também não vou me alongar explicando tecnicalidades e vou me restringir a dizer que o padrão cinematográfico é de 24 quadros por segundo. Na TV são 30. Na cabeça de Peter Jackson, O Hobbit em 48fps só traz vantagens. Há mais foco, menos borrão de movimento, mais sensação de realidade e imersão no filme. Dessas quatro, três são verdadeiras, mas a última é redondamente oposta.
Durante os primeiros quarenta minutos, me senti vendo um making of onde os equipamentos estavam escondidos, e TUDO ACELERADO. As ações todas parecem acontecer estupidamente mais rápidas que na realidade, só que isso é uma mera ilusão, porque o som não sai de sincronia. Realmente, tem foco pra cacete, e detalhe até o infinito, mas isso prejudica o filme. É possível desconfiar dos objetos de cena, eles parecem falsos, e não pareciam quando a qualidade da imagem não era tão grande.
Enfim, depois desses 40 minutos, consegui convencer minha mente que aquilo não era um making of. O próximo cenário que ela escolheu pra processar aquilo foi na frente de uma loja de eletrodomésticos, com uma tela particularmente enorme. Não sei se vocês já pararam pra observar como, de relance, as imagens dessas TVs de loja parecem incrivelmente mais detalhadas e bonitas que a que você tem na memória sobre o filme, depois de sair do cinema. De fato, elas são diferentes. Esse post do Stu Maschwitz explica isso em detalhe, e também como DESFAZER esse erro crasso dos fabricantes de TVs. Basicamente, eles aumentam o contraste, pintam tudo de azul, aumentam a clareza (sharpness) e geram novos frames artificialmente, para dar mais “naturalidade” aos movimentos”.
Não sei na cabeça de quem isso dá mais naturalidade. Pra mim só fica mais artificial, e com cara de vídeo. Cara de algo que eu vejo na rua, ou numa fita VHS. Mas eu não vejo hobbits, magos, anões e orcs nas ruas. Então aquilo ali só pode ser falso, e é aí que tudo vai pro brejo, porque quando uma coisa é artificial, mas tenta se passar por real, ela fica tosca. Numa analogia estranha, quando o sujeito é feio, mas age como se fosse bonito, não dá pra não achar engraçado ou ter pena. E nessa hora que a coisa fica tosca, você, espectador, é jogado pra fora do filme mais rápido que uma flecha de Legolas (em 24fps, por favor). Incontáveis vezes eu me perdi num diálogo por estar observando os pelinhos da barba de um orc no contraluz, ou os entalhes confusos do cajado de Gandalf, ou até a reflexão estranha da luz que bate nas pedras da montanha onde a Companhia se protege, na cena da tempestade e da batalha dos gigantes de pedra.