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April 2013

Day-to-Day

Ultrapassagem VI.

April 8, 2013

Nesse mês, finalmente consegui escrever sobre um treco que já tava há algum tempo elaborando, que é a fotografia usando filtros infravermelhos. Não consegui a foto que queria para ilustrar o artigo, mas dá pra ter uma noção da coisa!

Day-to-Day

New York – Play Time!

April 5, 2013

Ao longo desses três anos completos em AV, trabalhei em trocentos projetos, sendo que na maioria deles, fiz parte da equipe de foto. Não vi muitas câmeras diferentes de DSLRs, e vi ainda menos rigs e equipamentos de suporte para melhorar a qualidade de movimentos, transporte, proteção, passagens de foco, eliminação de flares, monitoração e por aí vai.

À exceção de UMA vez, todas as ocasiões onde usei um shoulder com a câmera em cima, foi o MESMO shoulder, que a gente usou no Paraguaio. E o mesmo follow focus, nem sempre presente. Follow focus é uma parada que simplifica muito marcações e passagens de foco durante os planos. Um bom follow focus faz uma grande diferença entre acertar e errar o plano, além de facilitar infinitamente a vida do assistente de câmera.

Um monitor para acompanhar a ação sem se acotovelar atrás da câmera, vi uma única vez também, num set que tinha uma graninha legal, de resto, era sempre um monte de gente tentando ver o quadro por cima do ombro do operador de câmera. O clima fica mais calmo e espaçado quando existem monitores no set, sério.

Então, nessa pegada de eBay e compra de equipamento usado no exterior, resolvi arriscar alto. Indo ao site da Redrock Micro, anotei todas as peças necessárias pra montar um shoulder excelente, um módulo bem pequeno com follow focus e uma estrutura para tripé, à lá cinema, onde a câmera é a menor parte da estrutura. Com essa lista completa, fui à caça e sem pressa. Toda vez que aparecia uma pecinha usada por um preço bacana, ia lá e dava um lance, ou comprava. Consegui montar o rig todo por menos de um terço do preço de um novo. E fui entregando tudo na casa da Kimi, explorando a menina, coitada.

Em algumas viagens, as peças foram vindo de lá pra cá, e com minha ida a NY, peguei o que tava faltando – em resumo, o mais pesado e trambolhoso. Achei que tinha bem mais coisa lá, mas no processo, descobri que faltava pegar uma sacola na casa dela aqui em SP. Fiz isso ontem, à meia noite e meia.

Acho que nem todo mundo é assim, mas é muito difícil de me controlar quando tenho um presente novo que envolve “montar coisas”. Quando eu ganhava um lego, podia estar caindo de sono, só dormia depois de montar e brincar um tanto. Computador é a mesma coisa. Quando a última peça chega, não há quem me demova de montá-lo imediatamente. Pois bem, o rig foi assim também. Cheguei de volta em casa e espalhei tudo na mesa da sala.

Fui dormir duas horas mais tarde, com os dedos todos roxos de apertar e folgar parafusos. O processo foi meio confuso, afinal, eram muitas peças (são quarenta) e só tinha a imagem do site – em baixa resolução – pra me orientar. Dei por terminado quando fiz uma estrutura menor, para tripé, e um shoulder, mais leve. Deixei os dois em cima da mesa para retomar o trabalho quando acordasse, dali a seis horas.

Agora de manhã, fui mais concentrado em montar um bloco só, com todas as funções e fácil de fazer alterações. Deu certo, em parte. As alterações não são tão fáceis, mas é uma coisa só, com shoulder, mattebox, follow focus, EVF e monitor pendurados. Já tenho uma boa motivação pra começar a malhar. O brinquedo pesa MUITO – pelo menos, muito mais do que só a câmera, como estou acostumado!


Não sou eu quem vai estrear o conjunto, e sim o Lucas Theodoro, num clipe dirigido pelo Manfrim. Espero que eles se divirtam, e que a parafernália tenha o máximo de utilidade! Quando a LOMO chegar, já vou colocar ela aí, com follow focus e follow zoom, que é pra dar uma de Tarantino em Django, com aqueles zooms incríveis no meio dos planos!

Day-to-Day

Resolvendo na Pós – O Retorno.

April 4, 2013

Ok, escrever sobre o que torna o atual método de montagem ultrapassado foi interessante, vamos então para a maior muleta do cinema universitário! Resolver coisas na pós. No fim do primeiro semestre de curso, escrevi um post longo sobre o assunto, entrando em detalhes e já começando a arriscar a linha que quero seguir nesse aqui: como o conhecimento de pós-produção pode acelerar o rendimento no set e facilitar o trabalho de várias equipes, inclusive performance dos atores, qualidade do som, erros de continuidade, refletores em quadro, e por aí vai. Vale ressaltar que o primeiro texto foi escrito no primeiro ano, quando eu ainda não tava tão contaminado pelos vícios do CTR, e o segundo texto está aqui, no último ano, quando estou criando consciência desses vícios (e retomando parte da criatividade original para beneficiar os resultados) para não seguir os processos à risca.

Se você se deu ao trabalho de clicar no link e ler o post original, vai perceber que eu falo bastante de máscaras. Elas são o grande truque, onde você utiliza um trecho positivo de informação para substituir um trecho ruim.

Vou começar pela utilização mais comum, que também é citada no outro post: tirar microfone de quadro. Do fim desse primeiro semestre, até hoje, já vi muitos takes excelentes serem descartados porque uma pontinha de microfone entrou. Não é preciso muito raciocínio pra entender que com o microfone mais próximo, a qualidade da captação de som melhora. E daí que entrou? Se não passou na frente de ninguém, ou foi uma parte parada do plano, tirar o microfone fora é a coisa mais fácil do mundo. Já perdi a conta de quantos planos rodei com o microfonista totalmente em quadro, pra melhorar a qualidade de captação, e em seguida gravamos um plano vazio, sem ninguém, pra usar na pós e sumir com o/a camarada.

No Cândido Carmim, que fotografei com o Luke, a seqüência final se passava no breu quase total, com iluminação feita por uma lanterna e iPhones no rosto dos personagens. Um desses planos era mais aberto, e tinha uma fala bem importante. O que a gente fez foi indicar pra May e Stefan, que faziam o som, colocarem o boom NO MEIO do plano mesmo, pra cobrir aquela fala. Com a correção de cor, e um plate (nome oficial do plano vazio, só de cobertura) vagabundo, ele sumiu e ninguém nem lembra que ele tava lá. Antes disso, mostrando o material bruto em aula – tanto de foto, como som e montagem – os professores disseram que tinha sido um erro grave e que aquele plano NUNCA entraria no filme. Senhores, vamos nos atualizar, por gentileza!


Plano original, com o microfone em quadro.

Desafio alguém a enxergar o microfone.

No mesmo esquema de sumir com coisas, dá pra beneficiar os atores, colocando alguém que não deveria aparecer em quadro para facilitar a interpretação de quem está aparecendo de fato e, posteriormente (nada como um jogo de palavras), apagar o “intruso” com uma máscara. Dá pra mudar as cores de uma locação que não era exatamente o que se tinha pensado, mas foi tudo que conseguimos arranjar, dá pra colocar informação numa janela que antes era ruim, dá pra combinar a exposição de áreas com luminosidades muito diferentes, e por aí vai.


Hmm, tá meio colorido demais pro clima do filme.

Se as cortinas forem menos azuis, já melhora muito!

Nenhum desses ajustes é complexo quando levado em consideração desde a concepção do filme. Na verdade, a maioria deles não leva nem cinco minutos no After Effects. No tal do Luz Violácea, que falei no post de montagem, tive que inverter a ordem de dois planos em relação à sequência que eles foram elaborados, então a lanterna na cabeça da protagonista aparecia primeiro acesa, depois apagada, depois acesa de novo. Botei uns vinte minutinhos de trabalho porque ela se movia bastante e “acendi” a lanterna digitalmente, criando halos de luz imaginária e flares pra esse errinho de continuidade desaparecer do mapa. Mesmo que você preste atenção, e veja o plano PROCURANDO o ajuste, ele é totalmente imperceptível.


Plano original, lanterna apagada.

Plano final, lanterna acesa!

Essa pós em questão é a mais simples, de planos fixos, mas o processo ainda vale bastante para planos com pouco movimento/câmera na mão, ou até para coisas mais agitadas, desde que tenhamos alguma paciência com os keyframes (como o caso do Luz Violácea). Quando isso é pensado desde o começo do projeto, evitam-se takes desnecessários, cansaço dos atores e da equipe, e o processo de captação fica menos repetitivo e mais dinâmico. Nessa pegada de incorporar a pós às filmagens, já fizemos três filminhos de mais de quarenta planos em uma diária (ou menos!) cada, e os resultados são bem acima dos exercícios curriculares onde tá todo mundo surtando com sua função, e seguindo o sistema que enfiaram na nossa cabeça, gastando uma grana.

Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos XIV] Fix’em Up!

April 4, 2013

Como falei no começo dos posts da série, essas lentes não são mais fabricadas atualmente. A última leva, de stretch 1.33x para o mercado de vídeo digital foi encerrada em meados de 2006. Antes delas, a grande maioria vem do período 1960-1980, seja para projetores, ou câmeras 8mm ou 16mm. Por despertarem tanta curiosidade, e por suas complicações para trabalhar, todas acabam tendo uma rotatividade muito grande, mudando de mãos em intervalos curtos desde o começo da febre, em 2008. Sem falar nas que ficaram guardadas esse tempo todo, em condições adversas e sofreram por quase meio século com umidade, calor, mofo, e por aí vai.

Uma lente pode ter muitos problemas. Os mais comuns são os arranhões e fungos (decorrentes da umidade), mas também temos separação (onde o material que une dois blocos de vidro juntos começa a perder força e esses blocos vão se separando, é relativamente comum nos Iscos), marcas de limpeza, que são arranhões bem pequenos, mas em grande quantidade arruinam o contraste da lente, a pasta que garante a fluidez do foco pode endurecer ou solidificar, os anéis podem perder a rosca ou amassar, parafusos se perdem, coisas plásticas se quebram, óleo vaza, e a lista segue.

Até recentemente, não tinha feito manutenção em nenhuma das minhas lentes. Já tinha aberto algumas delas e limpado por dentro, mas polir, colimar e reaplicar o coating nunca estiveram em pauta. Até que comprei aquela LOMO e já que tinha que fazer modificações sérias, aproveitei pra fazer a manutenção completa. O escolhido foi Olexandr Kalynychenko, especialista em lentes de cinema russas, localizado na Ucrânia. Comecei minha conversa com ele antes mesmo de comprar a lente, e, conforme as coisas vão progredindo, continuamos nossa troca de email. O camarada é muito bom mesmo, e bem claro nas coisas que fala e propõe, sempre anexando fotos e explicando cada coisa, o custo do processo e se vale a pena ou não.

Por exemplo, tivemos uma nossa longa discussão sobre a melhor forma de fazer uma adaptação de suporte para tubos de 15mm (padrão para rigs leves), que se resolveu muito bem e ele acabou decidindo por fazer um suporte desses para ele mesmo e oferecer entre os serviços para futuros clientes. Ontem ele me mandou duas imagens da 37-140mm toda aberta, indicando uma pecinha de plástico rachada. Disse que a lente continuaria funcionando com ela rachada, mas, claro, poderia terminar de quebrar a qualquer momento. Ofereceu uma opção de fazer uma nova, e o custo. Preferi não arriscar a peça velha e pedi pra ele substituir mesmo. As fotos que ele mandou estão logo abaixo.


Se algum dia futuro eu tiver qualquer problema com LOMOs, ou for indicar pra alguém, Olex é minha escolha certa.

Continuando, nos posts de New York, falei que tinha despachado três lentes num dia só. Duas foram vendidas, e a terceira era o Iscorama M42, que, depois de uma indicação confiável no fórum do EOSHD, despachei para John Van Stelten, no Colorado. John é o responsável pela Focal Point Lens, e antes da ISCO fechar as portas, era a assistência técnica oficial da marca nos Estados Unidos.

A comunicação foi ele foi bem rápida, trocamos alguns emails e mostrei o problema da lente com algumas fotos – exemplo logo abaixo. Ele me disse qual a teoria dele sobre os danos, me passou instruções de como verificar se não era muito grave, e disse um valor estimado para o polimento da superfície externa e o recoating, mas que só poderia confirmar quando a lente chegasse de fato nas mãos dele. Não deu outra, e o problema era esse mesmo que ele imaginava. Felizmente não seria necessário polir a superfície interna do elemento. Na mensagem de análise do estado da lente ele fez alguns outros comentários sobre problemas encontrados – que eu já tinha consciência – e que não tinha como resolvê-los, como um arranhão mais grave no elemento traseiro e os stops de foco que não funcionam. Eles não prejudicam tanto quanto as marcas visíveis no elemento frontal.

Nos dois casos – da LOMO e do Isco – o conserto não foi uma mixaria, mas certamente foi mais barato do que eu esperava que fosse. Cheguei a considerar vender o Isco pra comprar um outro em bom estado, de tanto medo que eu tinha do custo de consertar! Então, minha dica, se você tem uma lente problemática, e ela custou caro, é que vale a pena procurar um conserto ao invés de perder as esperanças!

Pra ficar mais fácil, vou listar aqui alguns serviços de reparo bem conceituados, e contatos, pra quem precisar. Ressalto que só tive experiências pessoais com Olex e John, mas os outros são indicações de membros do fórum EOSHD, que já tiveram suas lentes consertadas!

ANAMÓRFICAS EM GERAL

Super 16, Inc (New York, EUA) – Bernie O’Doherty conserta e colima lentes anamórficas. De acordo com ele, “um deslize de 1/64 a 1/32 de grau no ajuste pode significar a diferença entre uma imagem perfeita e uma que precisa fechar a iris até f/4-5.6 para um resultado aceitável. E os clientes aceitam essa baixa qualidade de imagem, quando a discussão é sobre anamórficas. Claro, algumas lentes têm imperfeições de design que impossibilitam imagens perfeitas, mas a grande maioria das lentes, inclusive anamórficas são beneficiadas por um reparo bem feito”. Tony Wilson/Alan Doyle, ou Redstan fala maravilhas de Bernie, e diz que ele conserta lentes desde os anos 70.

Contato: bernie@super16inc.com

ISCORAMAS

Focal Point Lens (Colorado, EUA) – John Van Stelten era o serviço oficial de reparos da Isco nos EUA até que a companhia foi comprada pela Schneider. John já trabalhou em muitos Iscoramas. Ele é um dos poucos técnicos de lentes que oferece serviços de polimento e recoating. Não é algo barato e pode ser arriscado, mas em muitos casos é capaz de eliminar qualquer vestígio de arranhão, desgastes no coating e fungos num elemento óptico. Ele também utiliza um autocolimador, que é essencial para recalibrar lentes depois que elas foram desmontadas.

Contato: john@focalpoinlens.com

LOMOS

Olex Camera Services (Ucrânia) – Olex é incrível, seus emails mostram que ele conhece muito das lentes e do que as pessoas precisam que seja feito com elas. Se você tem alguma dúvida, é só mandar um email. Infelizmente, ele não aceita PayPal, só Western Union, e isso complica um pouco o processo, mas vale a pena. O inglês dele é um pouco confuso, mas isso não atrapalha, só é curioso!

Contato: olex.camera@gmail.com

RafCamera (Bielorrúsia) – Rafael é um sujeito mais comercial. Quando as LOMOs estouraram no mercado das DSLRs e nas posteriores adaptações, ele foi o primeiro a segurar essa bomba e vender muitas lentes e acessórios. Atualmente ele vende alguns acessórios e fabrica uns outros tantos. É um usuário bem cotado no eBay, e pode te dar sugestões de onde encontrar coisas mais exóticas para suas lentes. Já comprei coisas com ele e consegui um desconto legal. Em termos de modificações e reparos, ele instala outros mounts em LOMOs.

Contato: support@westernbid.com

Focus Optics (Califórnia, EUA) – Nunca entrei em contato, mas tá anunciado que eles fazem manutenção em modelos BAS e NAS, ou seja, Round e Squarefronts, e as Kowas de unidade fechada (caríssimas)

Contato: stuart@focusoptics.com

Outros indicados, mas um pouco menos presentes no meio são Matthew Duclos (Duclos Lenses, EUA), que modificou uma LOMO Foton 37-140mm + Foton-A pra um sujeito com quem conversei, e Viktor (SPB Sale, Rússia), que é um sujeito mais voltado para modificações de mount e não reparos de forma geral. Tentei entrar em contato com ele, ao mesmo tempo que Olex, sobre a minha 37-140mm e não tive resposta. Por fim, no Reino Unido tem a True Lens Services, que também faz reparos gerais e modifica encaixes.

Chega de dicas por hoje, já dá pra consertar muita coisa com isso aí! E não adianta ter pressa nesses processos de reparo, porque tudo é muito frágil e os ajustes são muito pequenos. Além do quê, se o sujeito fazendo o reparo é bom mesmo, ele vai ter uma fila de espera, porque o trabalho é constante!

Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos XIII] Modificando Lentes!

April 3, 2013

Tenho lembrança de, um tempo atrás, ter comentado que tava planejando abrir umas lentes para fazer modificações, inspirado por esse vídeo aqui embaixo.

O que esse camarada – chamado Amir Safari – fez foi abrir uma Helios 44, arrancar fora as lâminas da abertura e colocar no lugar um disco de acrílico, cortado a laser, com uma forma oval com proporção de 2:1, equivalente a uma abertura próxima de f/4. Dessa forma, ele evita o maior problema do filtro Cinemorph, que são as bordas pretas, além de eliminar a necessidade de mais uma peça pra carregar pra lá e pra cá.

Ok, arrancar fora as lâminas é uma parada violenta, porque a lente agora só funciona em f/4, mas, é um recurso trabalhável, porque garante um dos efeitos visuais mais notáveis das anamórficas, que é o desfoque ovalado. Além disso, ainda é bem fácil de fazer foco em objetos próximos (até 25 cm, que é um desafio enorme pra uma anamórfica), ou mesmo fazer passagens de foco sem stress.

Desde que vi esse vídeo fiquei um tanto curioso, e levando em conta o preço de uma Helios, resolvi arriscar. Paguei vinte conto em uma e mandei vir da Inglaterra. Demorou pra caramba, mas chegou. Nesse meio tempo, mandei uma mensagem despretensiosa pro Amir, perguntando como ele tinha feito, como desmontar a lente, e pedindo o arquivo utilizado pra fazer o corte a laser. Ele foi super gente boa e respondeu tudo que eu podia imaginar, além de mandar o arquivo.

O próximo passo foi procurar um lugar aqui que fizesse o corte. Não achei nada que fizesse poucas unidades, ou uma chapa pequena, só uns rolês acima de R$100, então voltei pro Amir e perguntei se ele tinha sugestões. Ele disse que dava pra cortar lá, que custava 10 euros, e rendia uns 15 disquinhos. Respondi que era interessante, mas que 15 era um pouco demais, né?

Qual não foi minha surpresa quando o bróder disse que podia mandar uns que tinham sobrado por lá, das experiências dele, de graça, boa vontade em pessoa. Quem sou eu pra recusar? Aproveitei a deixa pra saber se ele já tinha testado o processo em outras lentes e ele me indicou mais três modelos, uma grande angular, uma normal e uma tele. Só consegui encontrar a grande angular, Pentacon 29mm f/2.8. Como tava por 15 euros, aproveitei e comprei também. Essa veio da Áustria.

Antes mesmo dos disquinhos chegarem, já comecei a fazer experiências e desmontei a lente toda. Desmontei tanto que soltei a helicoidal, que é a rosca que controla o foco. Se a lente tem um coração pra funcionar, eu diria que é a helicoidal. Sofri pra conseguir colocar de volta. Dá pra encaixar de uns dez jeitos, e só um deles é o certo. Pra ver se tá certo, você precisa remontar a lente toda e testar. Se não está, desfaz tudo e reencaixa. Foi tenso. Levei uns dois dias nesse processo, mas agora, se precisar fazer qualquer coisa nessa lente, dá pra fazer de olhos fechados, em cinco minutos. O maior erro foi não fazer marcas indicando onde vai o encaixe.

Nesse processo, descobri um bom caminho até as lâminas, que não envolvia arrancá-las fora, como fez o Amir. Deixei elas lá, e a lente pode funcionar quase normalmente se assim for necessário. Quando o envelope chegou, imediatamente peguei a lente e joguei uma abertura lá dentro, fechei e fui testar. Quase chorei de emoção quando vi que tinha dado certo. O disco tava desalinhado (a forma oval não estava em pé, como deveria) e muito gordinho – algo perto de 3mm – portanto, criando uma tensão nas roscas internas.

No dia seguinte, fui numa loja de material de construção aqui na esquina e comprei um pedaço de lixa. Quase fiquei sem impressões digitais de tanto que lixei esses discos de acrílico. O sacrifício valeu a pena e ficaram com menos de 1mm. Dois são para a Helios, um com f/2.8 e outro com f/4 (esse é melhor). O terceiro era para a Pentacon, também perto de f/4, mas a lente não tinha chegado ainda.


Uma Helios 44 que parece comum,

Mas tem alma anamórfica!

Aqui um testezinho, superclose da May, feito com essa Helios. Reparem nas luzes ovais desfocadas ao fundo, e no quão próxima a câmera está da modelo, sem problemas de definição ou foco!

Olhando lá dentro, dá pra ver as ranhuras feitas pelo processo de lixar o disco. Também dá pra ver toda a sujeira do mundo nos vidros, e que são poucos elementos, num projeto bastante simples. Diferente do que o Amir me indicou – abrir a lente por trás – consegui achar um caminho fácil pela frente, permitindo que eu encaixasse o fundo na câmera para facilitar o processo de alinhamento da abertura. Se ficar torto tem que abrir tudo de novo e fechar depois do ajuste. É chatinho, e precisou de algumas tentativas.

Algumas semanas depois chegou a Pentacon 29mm e repeti o processo. De novo, fiz a burrada de soltar a helicoidal – essa lente é bem mais complexa, com muitos elementos internos precisam ser removidos no processo – mas algum esperto já tinha feito isso antes e deixou marcas de onde a lente voltava a encaixar direito. Em umas três horas consegui terminar o processo, fazendo uso de uma espátula de bolo para desrosquear o bloco óptico principal, que tava muito bem preso.

Na hora de alcançar a abertura, tava me guiando por um site e ele indicava o uso de uma chave magnetizada, então, segui o conselho. Deu merda e todas as lâminas pularam fora de seus encaixes pra grudar na chave. O jeito foi tirar todas fora, guardar numa caixinha e substituir pelo disco. Se algum dia eu tiver coragem suficiente, tento colocar de volta.


Mais uma que parece comum por fora

e vê 2:1

Essa lente, diferente da Helios, não tem uma qualidade de imagem tão boa, mas é bem útil para closes não tão fechados, e com distorção de grande angular ou muita informação no fundo do plano. É o caso das imagens abaixo, feitas também na mesa da May, onde temos um objeto em foco no primeiro plano (a uns 20cm da câmera) e luzes ovaladas fora de foco ao fundo, com todo o charme anamórfico.


Como sou um sujeito que preza muito pela matemática das coisas, já que os ovais eram de 2:1, cortei as imagens com uma janela de uma lente com 2x de stretch, ficando assim bem compridinha, mas dá pra fazer cortes mais abertos sem qualquer problema. Uma grande possibilidade dessas lentes modificadas, inclusive, é utilizar em conjunto com os focus-through de 1.33x, que produzem belos flares, mas não ovalam a abertura, e assim, obter todas as características de lentes mais caras, em condições bem mais simples de trabalhar!


Na minha pressa em fechar o post, acabei esquecendo de uma das coisas mais importantes que ia colocar aqui: o arquivo com os discos, pra quem quiser baixar e cortar! O link tá logo aqui embaixo, e é para uma chapa de 10x10cm. Esses são da Helios 44, mas abrindo outras lentes e tirando as medidas, é só redimensionar cada disco. A primeira coluna tem aberturas mais próximas de f/2.8. A segunda, f/3.2, depois f/4 e por fim, f/8. Eles têm pequenas variações de tamanho entre si, porque o disco de abertura da Helios também tem essas pequenas variações. O meu tinha 19.8mm, e o disco ficou um pouquinho folgado lá dentro

Abertura Anamórfica – Helios 44 (Illustrator e PDF)

Desejo a todos boa sorte no processo, e que me dêem um retorno, caso levem a idéia adiante! Só tomem cuidado com o tamanho do investimento! Se sua Helios saiu caro, não recomendo abrir, mas se você tá comprando uma só pra isso, divirta-se!

Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos XII] Isco Widescreen 2000.

April 3, 2013

Muitos fatores me levam a acreditar que essa foi a última anamórfica que vou comprar em tempos recentes. Entre esses fatores temos uma enorme subida nos preços – todas as lentes que eu comprei no começo da pesquisa estão escasseando no eBay e os preços já dobraram (ou triplicaram em alguns casos) – e tá difícil achar uma boa barganha, como foi o caso desse Isco 2000, escondido no eBay britânico. Além dessa supervalorização, tem também o fato de que já experimentei com quase tudo que dava pra brincar! Já tive double-focus bom, double-focus ruim, Iscorama barato, Iscorama com problema, focus-through barato e pequeno, focus-through grande, quase todos os stretches possíveis, enfim, a essa altura eu já sei bem o que me interessa e o preço que eles valem.

A única coisa que ainda não passou por aqui foram lentes de 8mm, bem pequenininhas, mas tratadas como pedras preciosas. Temos aí os Iscomorphots (mini-Iscoramas), os Bolex-Mollers, Delramas/Vistascopes e Baby Hypergonars. Os três primeiros têm stretch de 1.5x e são single-focus, double-focus e focus through, respectivamente. As Baby Hypergonars são só 50 no mundo, double-focus e stretch de 1.75x. Um pouco exótico demais pro meu gosto.


Isco Widescreen 2000. Stretch 1.5x

Então, vamos ao que interessa, que é esse Isco 2000. O que é esse treco? Em suma, é um modelo de foco fixo, onde você só precisa focar a lente base, stretch de 1.5x e bem levinho. Esse que eu peguei já veio com um anel 62-67mm colado na frente, para uso de close ups, e uma clamp com rosca de 55mm, faltando um parafuso. Já botei mais um anel na frente, de 67-72mm, pra ficar no tamanho padrão de filtros anamórficos e uma tampinha, pra proteger o menino. Atrás, estou procurando descobrir o tamanho exato do parafuso, pra substituir logo os três. A clamp é de excelente qualidade, bem justinha ao redor da lente, porém um pouco curta – o elemento traseiro fica parcialmente exposto. Resolvi metade do problema colocando um anel 52-55mm, e padronizando também o encaixe e adaptando uma tampinha pra fechar o vidro quando não estiver em uso.

Pelo lado negativo, o elemento traseiro apresenta duas áreas de separação, que dá pra ver nas cores arco-íris da foto abaixo. Elas não afetam a imagem resultante, mas dependendo do ângulo que você olhe, é uma parada bem estranha e chamativa.

Como só peguei a lente ontem, não deu tempo de usar em nenhum projeto, mas fiz alguns testes e tive resultados curiosos. Ele não se deu muito bem com a Jupiter 9 (85mm), nem fechando bastante a abertura, mas ficou incrível quando encaixado com a Helios 44 (58mm), mesmo com a íris toda aberta.

O conjunto fica bem bonitinho, parecendo uma coisa só, sem parafusos saindo, nem diferenças de diâmetro! Além disso, é bem incrível ele funcionar bem com a Helios, uma vez que ela é muito aberta para as outras lentes de 1.5x que passaram por aqui. Vai facilitar bastante as coisas nos próximos docs da OLD!

Não consegui ver os flares ainda, mas parecem promissores, baseado em vídeos-teste no Vimeo. De acordo com pesquisas, ele tem foco fixo em 6m-infinito, então os close ups são bem importantes para conseguir fazer planos próximos decentes, mas close ups é algo que não falta nessa casa! Pra fechar o post, uma foto do setup utilizado pra fazer essas fotos de lentes elegantes, já mostrando duas lentes que vão ser tema de um post próximo, assim como uma foto da May, super-animada porque tem um programa de rádio inteiro pra fazer hoje (do roteiro à finalização)!