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October 2013

Anamorphic Day-to-Day Tudo AV

No Meio da Noite

October 20, 2013

Como apresentado em meados de Fevereiro ou Março, nesse post, foi mais um extra que a gente fez lá pela USP, por nossa conta mesmo, equipe mínima, tudo em uma diária, e por aí vai, procedimento padrão de quem não tem dinheiro.

Admito que ficou pronto até “rápido”, só seis meses, bem menos do que o tradicional “um ano” que tem aparecido por aqui!

Em um resumo breve, é um roteiro da Carol, no mesmo esquema do 20h20, dois atores, uma locação – ok, foram duas – alguns diálogos, e pronto.

A parte mais complicada desse filme todo foi fazer o caixão caber dentro do carro – um Nissan March – para transportar ele de um teatro no centro da cidade até a USP, e depois de volta. Nesse filme, o pobre do March revelou seu valor, transportando gente, caixão, mesa, o diabo todo que eu nunca imaginei que coubesse lá dentro e muito mais.

Mas sim, voltando ao assunto do filme, fotografei esse também com lentes anamórficas, majoritariamente o Century, close ups diversos (para conseguir foco em situações não usuais) e as lentes russas (37mm, 58mm e 85mm). O Pedro Fernandes me deu uma grande força nesse processo, correndo pra lá e pra cá com filtros e lentes, e nossos únicos refletores – emprestados – de 100w e 300w. Tem até um flare fetichista no finzinho, coisa fina!

Foi um filme muito divertido de fazer – inclusive porque todo mundo era um pouco “produção”, além de sua função original, pra dar uma mão pro Victor, que tava sozinho responsável pelo circo todo!

Anamorphic Day-to-Day

[Título Provisório]

October 14, 2013

Ontem teve set. Set daqueles que não tinha há muito tempo. Ficção. Nada de empresários, depoimentos, vinhetas, etc. Ficção pura, com atores e equipe pequena. Foi tanta coisa nova em teste no filme, que não sei nem por onde começar. A parada começou pra uma das optativas livres que tô fazendo nesse semestre, e que tem a turma mais aleatória de todas – cada um veio de um canto da USP, procurando coisas bem diferentes. A maioria sem nenhuma experiência em set.

Peguei toda minha vontade recente de fazer qualquer coisa e concentrei nesse projeto. É pós-apocalíptico, inspirado por acontecimentos recentes em São Paulo, anamórfico, raw, e com um bocado de pós-produção. Ah, é uma série, e não um curta. Se vai ficar bom, já são outros quinhentos, mas até agora foi bem bacana de fazer. O roteiro é de minha autoria – depois de duzentos anos só escrevendo nesse blog e na OLD – assim como a direção de fotografia e a direção geral – essa contava com opiniões de todos os envolvidos.

Enfim, ontem chegamos cedo ao Paço, nossa locação favorita, e começamos a rodar de fato perto das 9h. A câmera deu pau trocentas vezes ao longo do dia, mas nada definitivo. Era só reiniciar, tirar bateria e cartão, e continuar a brincadeira. Na sexta-feira eu saí correndo atrás de cartões e baterias extras – os meus não eram nem perto de suficientes – e pude contar com a ajuda do Nicko e do Plínio nesses itens.

Usamos a LOMO Foton-A, num rig de ombro que passava fácil de 8kg, que carreguei o dia inteiro, subindo e descendo escada, entrando e saindo da água, fazendo tudo que uma câmera tem direito. Foi um ambiente hostil, nesse aspecto. Com medo de lotar os cartões antes da hora, acabei que só tirei três (!) fotos durante o dia todo, e elas já estão logo aqui embaixo.



Na equipe, a Victoria Segovia comandava nossos horários, continuidade, todas as anotações possíveis e imagináveis, e dava uma mão com os atores e a arte. Paulo Chou foi o camarada do som, e que vai montar a parada – e sofrer horrores pra sincronizar o que é útil. André Rosa, expert em fogueiras e montador da abertura do primeiro episódio. André Akel, que tava controlando as baterias e cartões, e passando um olho no processo de logar o material, Alexandre Amêndola, que deu uma grande força com a parte de foto, passando foco em vários planos e ajudando em tudo que aparecia. Luciana Parelho, comandando a Arte, com figurinos e maquiagem sensacionais. A Lucia Marques foi nossa produtora, trazendo a comida, resgatando figurinos e vigiando a base – a gente quase se mudou pro Paço, de tanta tralha que tinha lá! Sr. Antônio tava com sua câmera por lá também, fazendo making of das nossas maluquices, e até a Ana Catarina apareceu de manhã pra passar o olho no que tava rolando.

Domingo que vem a gente roda a segunda parte – o trecho noturno do segundo episódio – e tô animado pro que vem. Já tá fazendo o semestre valer a pena, além das outras aulas divertidas, que me obrigam a sair de casa e pensar no que fotografar.

Em termos técnicos, sem a parte de luz, tô pondo em prática tudo aquilo que tá escrito no meu TCC, e que pretendo levar a cabo nos outros projetos, em Dezembro, mas que dependem bastante da duração dessa greve. Já passamos o workflow todo, testemunhei os pepinos de set, entendi como contorná-los, e por aí vai.

Day-to-Day

UP10 – Lentes Catadióptricas

October 12, 2013

Super-teles são lentes que trazem para pertinho coisas que estão acontecendo a uma distância consideravelmente grande. Fotografar buracos na Lua ou animais em seu habitat natural são a especialidade dessas lentes a partir de 300mm. Imagine você na selva, camuflado, acompanhado da sua humilde 800mm, 4.5kg e uns 50cm de comprimento – com ela, seus olhos estão cinquenta vezes mais perto de objetos distantes. Chuva incessante por três dias e você ali, encharcado até os ossos, à espera de uma chance para fotografar o raríssimo Columbina talpacoti – não existe pressa usando uma super-tele. Finalmente, o pássaro pousa à sua frente. Você faz o enquadramento e se prepara para o clique, nisso a criatura resolve se aproximar. Saltitando chega mais perto. E mais perto. Está a três metros. Girando lentamente o anel de foco para ter a imagem perfeita, você se desespera e percebe que perdeu a foto: o foco mínimo dessa lente é a partir de seis metros. Não adianta perder a paciência e querer quebrar a lente porque ela é mais cara que um carro popular!

Por conta do longo alcance, é fácil traçar similaridades entre essas lentes e… telescópios! Na verdade, elas têm semelhança com os primeiros telescópios baseados no princípio da refração da luz. Ambos, lentes e telescópios, utilizam uma série de elementos ópticos especiais internos que acarretam grande tamanho e peso, além de um alto custo de produção – convenhamos, é um desafio.

Em meados de 1810, os problemas chegam ao fim com W. F. Hamilton e sua patente de uma geringonça que combina espelhos e lentes corretivas numa estrutura incrivelmente mais leve e precisa que os telescópios da época. Surgia ali o que viria a ser chamado de “sistema catadióptrico”, um telescópio baseado não na refração da luz, como os convencionais, mas na reflexão da mesma, com espelhos curvos e reflexos internos. E já que um telescópio nada mais é que uma super-tele, não tardaram a aparecer lentes catadióptricas para câmeras convencionais.

Sua produção é incrivelmente barata – uma 800mm catadióptrica custa, literalmente, um centésimo do valor de uma 800mm convencional – e repleta de vantagens. A lente fica mais curtinha, com 15cm, e pesa menos de um quilo. Graças ao seu sistema de espelhos, aqui são quase nulas as aberrações comuns às fotos feitas com super-teles tradicionais.

O visual de uma catadióptrica é inconfundível: ela é mais gordinha que uma lente normal e tem um círculo preto, saltado pra fora, no meio do elemento frontal. A luz entra e bate no espelho localizado no fundo da lente. De lá, ela é refletida para um espelho menor, que fica atrás da bolinha preta do elemento frontal. Desse segundo espelho ela é lançada para dentro da câmera fotográfica, passando enfim pelos elementos corretivos convencionais, para que a imagem seja projetada sobre o sensor.

Note que pulei um elemento essencial às lentes: a íris, ou abertura. Nas catadióptricas a abertura é fixa. A quantidade de luz que chega ao sensor, é regulada pela relação entre seu diâmetro dianteiro e traseiro. Diferente de uma super-tele tradicional, onde é ajustável a abertura da íris.

Como reconhecer uma foto feita com uma lente catadióptrica? Seria inacreditável se aquele ponto preto no MEIO da lente não mudasse nada, certo? Certo: ele influencia nas áreas de desfoque. Diferente das lentes convencionais, onde o desfoque é redondinho, nessas lentes as luzes desfocadas assumem a forma de “O”, com um espaço “vazio” no centro. Viu isso numa foto? Não tenha dúvida, foi feita usando uma lente dessas! Atente para o o desfoque do céu e das árvores na imagem ao lado.

Agora vamos a uma característica comum entre super-teles tradicionais e catadióptricas. Seu ângulo de visão é bem estreito (menor que dez graus), portanto, é preciso muita estabilidade na hora de fazer a foto. Prender a respiração pode até adiantar num dia muito ensolarado, mas, se não for esse o caso, melhor colocar a câmera num tripé e fazer as coisas devagar.

Ah, quase esqueci de falar: as catadióptricas conseguem fazer foco em objetos bem próximos do fotógrafo. Lembra do Columbina talpacoti? Com uma catadióptrica você teria sua foto.


Coluna Ultrapassagem, Publicada originalmente na Revista OLD #24, em Agosto/2013

Day-to-Day

UP09 – Slow Shutter

October 5, 2013

Fotografia: um momento eternizado num piscar de olhos. Essa é uma definição comum. Mas, há muito além daí. O objetivo da coluna deste mês é sugerir justamente o contrário: como eternizar, numa única foto, um grande intervalo de tempo. Falaremos aqui da fotografia em baixa velocidade e suas características mui peculiares.

Um bom exemplo desse estilo fotográfico são imagens de rastros de estrelas, nas quais o que se vê são desenhos circulares concêntricos no céu noturno (algo inatingível para nossos olhos nus). Provavelmente você já viu fotos de paisagens onde a água parece macia, “sedosa”, enquanto o resto da imagem aparenta estar normal, ou, então, fotos de grandes ruas ou avenidas desertas em plena luz do dia –onde seria impossível bloquear o acesso de carros ou pedestres para uma fotografia.

Para entender como isso acontece, precisamos primeiro compreender como o filme ou sensor captura as imagens. Ambos são compostos de pequenos pontos sensíveis à luz – chips fotossensíveis no sensor digital, e grãos de sal de prata na película fotográfica – que são excitados de acordo com a intensidade luminosa que incide sobre eles. Se não há nenhuma luz, a imagem é completamente preta. Se não há luz suficiente – seja por fatores controláveis (ISO ou abertura) ou fatores externos (luz disponível) – a imagem fica subexposta, com áreas sem informação. Mas e se houver pequenas fontes de luz e essas fontes se moverem?

Em condições normais, onde o obturador fica aberto por frações de segundo, elas teriam seu movimento congelado, correto? E se prolongarmos esse tempo de ação do obturador? Digamos que, ao invés de abrir e fechar mais rápido que um piscar de olhos, ele fique aberto por vários segundos, minutos, ou mesmo horas, permitindo a passagem de luz pela lente até o sensor. O que acontece então?

Para responder, vamos incialmente investigar o caso dos rastros estelares. Tomemos o céu noturno como preto e as estrelas como pequenas fontes luminosas. O elemento chave a se levar em consideração é o que ocorre durante o tempo de exposição. Move-se a Terra – onde você está, com sua câmera! –, mas, para nossa percepção, o que se move é o Céu com suas estrelas. O sensor exposto por dois ou três segundos já consegue captar e nos mostrar o que nossos olhos não conseguiriam perceber: as estrelas ‘andando’ pelo céu.

Lentes grande angulares atingem os melhores resultados justamente por mostrarem uma ampla paisagem, imóvel durante longo tempo de exposição, combinada ao céu cheio de linhas desenhadas pela luz. O raciocínio é mais ou menos igual para as imagens de água “sedosa”: enquanto o rio corre veloz, as pedras, árvores e plantas que o cercam praticamente não se movem, ficando congeladas na imagem, mas a água em movimento vira um grande borrão macio e agradável aos olhos.

No exemplo de lugares muito movimentados que aparecem desertos em fotos, usa-se a desvantagem desse grande trânsito como uma vantagem na hora de fazer a exposição: o único elemento realmente estático na cena é o ambiente – a rua, postes, prédios e placas. Se você configura a câmera para deixar passar pouca luz pela lente – através da abertura ou de filtros – e define um intervalo longo de exposição, tudo que se move vai ser registrado praticamente invisível ou transparente, justamente por não ter luz suficiente para ativar os chips no sensor. Só o que está parado, durante o tempo de exposição, é que vai refletir luz suficiente para excitar os chips do sensor, ou grãos do filme, e ficar perfeitamente registrado na fotografia.

Importante ressaltar que também a câmera deve ficar completamente imóvel durante o tempo de captura. Um tripé de verdade, ou apoio equivalente, é fundamental para a produção de imagens desse tipo. Qualquer tremidinha, por menor que seja, vai borrar os elementos da cena que deveriam estar estáticos.

Caso resolva experimentar a fotografia em baixa velocidade, lembre-se de fazer testes de curta duração e gradualmente ouse aumentar o tempo de exposição a partir de seus resultados. Não é recomendável começar com grandes intervalos de tempo, pois há muitas variáveis em jogo e você precisará de tempo para aprender a ajustar cada uma delas.

Fotografia é usar a luz para contar histórias. Às vezes rápidas, como um piscar de olhos, às vezes longas, como mil e uma noites.


Coluna Ultrapassagem, Publicada originalmente na Revista OLD #23, em Julho/2013