Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos III] Bokeh, Focus Through e Pós-Produção.

September 7, 2012

Retomando nossa conversa anamórfica, os tópicos a serem discutidos aqui são esses do título do post, começando pelo bokeh. Isso, que todo mundo sabe o que é, mas nem todo mundo sabe o nome, são aquelas bolinhas que se formam em luzes desfocadas, e é – pra mim – uma das características mais marcantes de “foco seletivo”. Nos tempos de mini-dv, para fingir foco, já cheguei a fazer trocentas máscaras ao redor das coisas que estariam desfocadas e aplicar um blur digital, e, na época, era o suficiente. Assistindo esse material hoje, não cola. O desfoque criado por uma lente é totalmente diferente do desfoque criado digitalmente, sobre uma imagem já pronta.


Imagem em foco, imagem fora de foco e imagem desfocada digitalmente.
T2i + Helios 44-2 f/2, a 1.5m de distância.

O motivo pelo qual isso acontece depende inteiramente da abertura da lente (o elemento físico, os aneizinhos lá dentro que controlam a entrada de luz). A diferença entre o desfoque gerado pela lente e o gerado por 20px de gaussian blur é indiscutível. Numa imagem verdadeiramente, os pontos de luz desfocados ganham um desenho bem definido, além de aumentarem consideravelmente de tamanho, sem perder sua intensidade. O formato desse desenho varia de lente para lente, especialmente em função da quantidade de lâminas na abertura da mesma. Enfim, essa volta toda só pra dizer: essas luzes desfocadas são o tal bokeh.

Bom, agora já sabemos como é o bokeh de uma lente normal. Mas, qual o fetiche pelo bokeh anamórfico? As imagens podem esplicar melhor.


Imagem em foco e fora de foco, lente anamórfica.
T2i + Helios 44-2 f/2 + Kowa Bell & Howell 2x, a 1.5m de distância.

O lugar onde você mais vê esse desfoque ovalado e gracioso é no cinema. Nos épicos, mais específicamente – afinal, nem todo mundo usa anamórficas em seus filmes. Mas, por que diabos esse negócio fica comprido, se a imagem é esticada na horizontal? Isso também é respondido na hora que você dá uma olhada na lente, no sentido seguido pela luz.


Kowa Bell & Howell – squeeze: 2x

É como se essa forma ovalada modelasse a iris da lente base, fazendo com que ela ganhe essa característica. Esse efeito, por sua vez, pode ser obtido de outras maneiras, através de um filtro na frente de uma lente comum – esse filtro é fabricado pela Vid-Atlantic, e atende pelo nome de Cinemorph – mas que apresenta alguns desafios, como vignette e perda de aproximadamente 2 stops de luz. Tenho esse filtro por aqui também, e num próximo post, faço mais comentários sobre seu funcionamento, porque ainda não tive tempo de testar direito!

Outra saída, que encontrei hoje, é ser hardcore e adaptar esse formato à iris da sua lente, da forma que esse camarada fez com a sua Helios 44-2 nesse vídeo. Ok, não rola de fazer com qualquer lente, mas algumas de projeto mais simples são bem possíveis. Dessa forma, você escapa do problema do vignette, mas passa a ter que lidar com uma abertura fixa. Daqui a umas duas semanas devo estar com uma Helios sobrando por aqui, e admito estar disposto a tentar.

Então tudo que é anamórfico tem esse desfoque especial? Não. É assim que entramos no segundo assunto do post: adaptadores focus-through, como o LA7200. Eles são desprovidos de anel de foco, o que permite passagens de foco, mas não deformam o bokeh. Mais uma vez, isso é compreensível olhando a lente de frente.


Panasonic AG LA7200 – squeeze: 1.33x

Esses adaptadores – tô falando aqui com base em leituras diversas, mas testes apenas com o Panasonic – não lidam bem com grandes aberturas. É muito complicado deixar a imagem em foco quando a lente base está mais aberta que f/4. Eles também não gostam de lentes longas (tele). A partir de 60mm, já rola um desafio no foco, e pra completar os pepinos, eles também não curtem foco próximo. Quando o foco tá no infinito, é tudo lindo e maravilhoso, mas algo mais próximo que dois metros já vai ficando complicado.


Imagem em foco e fora de foco, anamórfico focus-through.
T2i + Helios 44-2 f/4 + Panasonic AG LA7200, a 2.5m de distância.

Que desgraça esses adaptadores hein? É, uma desgraça, e comprei mais um hoje cedo no eBay! Mas, por quêêêê? Porque todos esses problemas podem ser resolvidos numa tacada só. Lembra que falei dos dióptros (close-ups) no post anterior? Então, eles são os salva-vidas desses anamórficos. Mas, também existem complicações nesse campo. De ordem financeira, dessa vez. A maioria dos focus-through que aparecem para venda são o Panasonic. E qual o problema dele? O elemento frontal é imenso. Para cobrir tudo com um dióptro, o close-up tem que ser igual ou maior que 105mm – imagina aí um filtro de 10cm de diâmetro. É uma coisa gigante. A vantagem é que, conforme você vai fechando sua distância focal, boa parte do elemento frontal não importa na imagem formada, então você pode usar dióptros consideravelmente menores sem vignette. No meu caso, uso os Schneider Series 9, que tem mais ou menos 86mm. Ainda estou elaborando – em parceria com o Nicko – uns adaptadores de filtro para rosquear essas coisas na frente do anamórfico com segurança.




Comparação de tamanho, e LA7200 com dióptros 105mm e Series 9, respectivamente.

Segurando o close-up +1, grosseiramente, com a mão, consegui fazer foco no nosso modelo – Woody – a 80cm de distância, com o Panasonic, o que já é uma melhoria considerável. E não era o foco mínimo. Por isso, close-ups de diferentes forças são úteis, para ganhar essas distâncias entre 50cm e 3m com foco aceitável.


T2i + Helios 44-2 f/4 + Panasonic AG LA7200, a 80cm de distância.

Só mais um pedacinho de história, que diz respeito a esse trecho em particular do assunto, depois do início da febre anamórfica em DSLR, o LA7200 não era benquisto por todos. Foi um post de Andrew Reid no EOSHD que mudou essa situação, e causou mais um rush por equipamentos velhos. Ele descobriu que usando um close-up russo, chamado LOMO Foton-A, capaz de cobrir todo o elemento frontal da lente, sua performance melhorava consideravelmente. Recomendo bastante a leitura do referido post. Esse adaptador então desapareceu completamente do mercado – nesses três meses de buscas, não vi sequer um no eBay, e tudo indica que eles não são vendidos por menos que US$900.

Já que o post do Andrew tem vídeo, eu que não sou besta, tenho um só pra ilustrar meu caso também – em Cinemascope! – do dióptro +1 Series 9 em combinação com o LA7200.

Além dessa solução dos dióptros, focus-through possuem uma vantagem que nenhuma outra anamórfica consegue bater: você pode fazer quadros usando grandes-angulares. No LA7200, consigo abrir até 28mm sem vignette, na 5D. Numa T2i, 18mm rola com tranquilidade.

Puxando uma ponta que deixei solta lá atrás, nem todos os focus-through são o LA7200. Existem outras variações, desenvolvidas pela Century Optics, Soligor e Optex – e outros genéricos -, todos com squeeze de 1.33x, voltados para o mercado mini-dv. Também de fabricação encerrada, e raros na internet. O que eu comprei hoje é um Optex, com bocal de filtro para encaixe na lente base de 52mm. Eles também não foram projetados para aceitar um filtro close-up na frente, então, precisam de front-clamps. As características são bem parecidas com o Panasonic – só vou poder fazer melhores colocações sobre eles quando o Optex chegar – tanto nas vantagens como nas desvantagens.

Chegamos enfim ao último tópico do dia – e também o mais curto: pós-produção anamórfica!

Filmar anamórfico exige uma certa imaginação. A imagem aparece espremida no visor. Existem soluções para isso, como o EVF da Zacuto, que adequa o formato da tela através de configurações no menu, mas convenhamos que não é algo estritamente necessário, além de custar uma grana. Então, depois de filmar tudo apertadinho na tela, os atores e modelos te xingarem porque não dá pra avaliar as fotos/clips, o diretor dizer que aquilo ali é uma bosta, você pega seu cartão e loga o material no computador. Aí, temos dois caminhos possíveis, um pra vídeo, e um para foto. Vamos falar das fotos primeiro, que é mais fácil.

Se você fez suas fotos em RAW, infelizmente o Lightroom não é capaz de esticá-las pra você, e você vai ter que fazer as correções de cor e exposição com a imagem apertada ainda. Aí, você exporta seu JPG e abre no Photoshop, abre a opção de tamanho (ctrl+alt+I no Windows), desativa “Manter Proporções”, e, para facilitar sua vida, altera a medida de Pixels para Porcento. Então, é só colocar o fator de squeeze na horizontal. 133% se você filmou com um focus-through, 150% com um Iscorama, ou 200% se usou um Kowa, Sankor, LOMO, etc. Outra opção é diminuir a porção vertical da imagem (50% para 2x de squeeze, 67% para 1.5x e 75% para 1.33x), o que é uma opção para melhorar a qualidade da imagem – afinal, ao invés de ampliar, você encolhe.

Aí sim, suas fotos vão estar na proporção correta em relação à realidade, e todo e qualquer ser humano deve ser capaz de entendê-las! Você já pode postar no facebook pros seus amigos, no blog, pros seus leitores, enfim. Vale um extra de atenção aqui, porque é bem comum encontrar material na net que não foi adequadamente redimensionado, e ainda tá um tanto espremido.

Para vídeo, no Premiere, importe seus clipes, e clique neles com o botão direito, selecionando então a opção “Interpret Footage”, uma vez nessa janela, você vai no menu indicado abaixo, e escolhe a sua proporção adequada à sua captação – acabei de descobrir que esses dois formatos já existiam por padrão, nunca tinha procurado.


Corrigindo a proporção da tela no Premiere.

Então, usando os clips já reinterpretados, você cria sua seqüência, que vai ficar uma belezura.

No After, esse caminho de alterar o aspect ratio também é possível, acessado pelo mesmo menu. Outra opção é criar uma composition já com o tamanho horizontal final correto – coloquei uma imagem com as dimensões, lá no Vendendo o Peixe, e um link para ela aqui também – 2550px, 2880px ou 3840px, e então ir em Scale dos clips (hotkey S), para alterar a proporção, usando também a porcentagem do fator de stretch, da mesma forma que no Photoshop. Nesse cálculo, você sempre aumenta a imagem, o que nos leva a um dilema: nenhum site de compartilhamento de vídeos toca clips com resolução lateral maior que 1920px. Então, esse ganho de resolução não será perceptível para web.

Como tirar vantagem desse problema? Redimensionar os vídeos verticalmente ao invés de horizontalmente. Você define a largura máxima como 1920px e varia a altura, na mesma proporção do stretch (50% para 2x de squeeze, 67% para 1.5x e 75% para 1.33x), ganhando assim, maior qualidade de imagem.

Pronto! Taí, terminei a terceira parte, demorando muito mais do que esperava, mas também com muito mais clareza que o que veio antes – espero. No próximo capítulo, vou apresentar toda a tralha que tá aqui em casa, e um vídeo-tutorial de como montar/encaixar sua anamórfica na câmera. Até breve!

Só pra dar um preview dessas montagens, dá uma olhada em como a câmera fica com as anamórficas.


T2i + Helios 44-2 f/2 + Kowa Bell & Howell 2x


T2i + Helios 44-2 f/2 + Panasonic AG LA7200 1.33x

  • Tito Ferradans September 8, 2012 at 12:00 am

    Queria deixar registrado que comecei a escrever esse post às 19h30 e só terminei agora. E isso só foi possível devido ao embalo dessa música, indicada pela Carol.

  • Peagafernandes September 8, 2012 at 12:25 am

    Gente empolgadíssima pra ver isso tudo funcionando: Eu!