Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos IV] O Arsenal.

September 9, 2012

O post de hoje tardou mas chegou. Vou dar uma passada por toda a tralha que andei comprando no eBay para conseguir transformar essas belezinhas em lentes operacionais. Não foi pouca coisa, mas grande parte foi muito barata – viva China! Dá uma olhada aí no quadro geral.

Tirando as duas câmeras no canto inferior esquerdo – T2i e 5D3 – todo o resto chegou por aqui ao longo de Agosto. Vamos começar pelo mais barato e ir subindo pras coisas mais sofisticadas. E os primeiros da lista são os anéis adaptadores.

Essa pilhazinha da foto é só metade de todos os anéis que estão no armário. E já dá quase a altura da 24-70. Ok, posso ter exagerado um pouco na quantidade, mas são raros os anéis duplicados. Nessa brincadeira de a a rosca da lente base ser de um tamanho e o encaixe da anamórfica ser de outro, comprei anéis para cobrir de uma vez TODAS as possibilidades de combinação entre todas as lentes e todas as Clamps. Eles são chamados de step-up, quando você vai de um diâmetro menor para um maior (72-77mm, por exemplo), e step down quando é o contrário. No nome do anel, o número que vem na frente é sempre o da rosca macho, que encaixa na lente base. No caso, um 49-62mm é um anel que permite encaixar um filtro de 62mm numa lente com rosca 49mm. Não tem muito o que explicar na verdade, só tinha que justificar a quantidade imensa. Foi um desses que eu usei para adaptar uma rosca de filtro na Hypergonar Hi-Fi 2, e até colei o anel de foco da lente. Aí arranquei e colei um maior, que deu até mais versatilidade pra menina.

Além dos step ups e downs, peguei também uns filtros UV vagabundos – para desmontar mesmo, e encaixar na Panasonic, e uns Circular Polarizers (CPLs), para facilitar o alinhamento das anamórficas, como é o caso da LOMO – temporariamente. Meu critério de escolha aqui foi: qual o mais barato que eu consigo encontrar? Porque o vidro não tinha nenhuma importância. Quando eles chegaram, com uma chave de fenda fina, desparafusei a rosca que segura o filtro no lugar – os filtros de qualidade não são desrosqueáveis dessa maneira – e arranquei fora o vidro, para usar só o anel. 72mm, 77mm e 86mm foram os tamanhos usados.

Ah, não tá nessa foto dos anéis, mas comprei também um bocadinho de lens caps, de tamanhos variados, tanto para tampar as anamórficas com clamps, como para as M42, que tem caps bem estranhos. Além dos tradicionais caps de pressão – esses que estamos acostumados – como muitas anamórficas tem um encaixe traseiro de rosca, descobri a existência de caps screw-on, rosqueáveis, para proteção desses casos. Originalmente, são vendidos como protetores para filtros. Nunca nem soube que existia, até precisar procurar.

Em seguida, temos os encaixes dos filtros Series 9. Originalmente, tinha comprado só um, 86mm, seguindo a linha de raciocínio de adaptar todas as lentes para o maior diâmetro possível, mas aí percebi que o acumulo de adaptadores atrapalhava o manuseio, e cacei encaixes usados de 72mm e 77mm, que também permitem usar os dióptros em quase todas as minhas outras lentes que não as anamórficas. Portabilidade é tudo. O único detalhe aqui é que o anel que segura o filtro no lugar – retaining ring – é vendido separadamente, e por enquanto só tenho um. Tá difícil de achar eles à venda, usados. Os novos custam os olhos da cara.


Anéis para filtros Series 9.

Nosso próximo item, na verdade são dois, e são um treco meio nebuloso ainda, porque não consegui usar a combinação direito. Um é um lens collar, esse breguetinho que segura lentes muito pesadas, como a 70-200mm, e o outro é um sistema de suporte para lentes longas, chamado SPT-1, de marca Velbon.


Velbon SPT-1, Lens Support.

Mas, pra que diabos você quer um suporte para lentes, se você já tem o tal do lens collar? E se a minha lente for muito pesada, e a câmera for muito pesada, e entre elas, a conexão for frágil? Ahá! Esse é o esquema para usar a Hypergonar Hi-Fi 2, a maior e mais pesada lente que tá aqui, e claro, a mais difícil de trabalhar. Na parte vertical, você prende a câmera. Aquele parafuso ali deixa você variar a altura que ela vai ficar. Na parte horizontal, você prende a base do collar, sustentando a lente mais distante, e isso tudo você prende num tripé, ou shoulder, ou grip, ou qualquer que seja seu esquema de sustentação principal.

Tava vendo também que esse SPT-1 é útil para trabalhar com as LOMOs, porque o suporte delas é maior que o habitual, então ele prende nas laterais dessa estrutura, impedindo assim a lente de ir pra frente e para trás. Dá pra entender direito nesse vídeo do Edwin Lee. Mas como a minha LOMO ainda não tem nem essa base – estamos projetando! -, ainda vai demorar um pouquinho para colocar em prática.

Temos então as Clamps. No momento, tô com três aqui, duas RedStan – uma frontal e uma traseira – pro Kowa, e uma XL, da Vid-Atlantic, para a Hypergonar. O grande propósito dela é que ela prende lentes grandes, com elemento traseiro de até 76mm, e tem um encaixe de 72mm. Essa XL é bem fuleira, na verdade, e estou procurando soluções para tornar o trabalho dela mais eficiente, porque como a Hypergonar é absurdamente pesada, a sustentação fica prejudicada e o alinhamento é um verdadeiro desafio. Já na RedStan, alinhar é a coisa mais fácil do mundo, porque ela tem um anel do diâmetro exato da rosca do Kowa, fazendo com que a Clamp não solte a lente, mas ao mesmo tempo permita que você a gire para alinhar adequadamente.

Já falei antes, mas só pra garantir que tá todo mundo na mesma página, alinhar a anamórfica significa posicionar a lente de forma que o squeeze ocorra na direção correta, não deformando a imagem.

Enquanto isso, tô esperando chegar mais uma RedStan pro Iscorama M42 – que também vai chegar – e considero comprar uma Front Clamp para o Optex.

Dióptros! Tenho a impressão que não passo um parágrafo sem falar deles. Não tem nem muito o que explicar, temos três, um gigante, de 105mm +0.3, e dois “menores”, Series 9, aproximadamente 86mm, Schneider, +0.5 e +1, que não foram exatamente baratos, mas como peguei várias coisas com o vendedor, acabei conseguindo um desconto legal. Considero comprar um +2, mais adiante. Um lembrete sobre close-ups, que esqueci de falar antes, é que todos esses são compostos por um único elemento. Existem, por sua vez, os compostos por dois elementos, chamados achromatics, que melhoram consideravelmente a definição da imagem e diminuem aberrações cromáticas. Mas, assim como são melhores, são estratosfericamente caros, e raros. Até agora só me deparei com um desses, Tokina, 72mm, +0.4, incrivelmente caro.

Tô querendo testar também, especialmente em termos de qualidade, esses close ups vagabundos feitos na China, que são vendidos em kits +1, +2, +4 e +10. Vi uns testes, pra fotos macro, há muito tempo, usando esses, e tinha bastante aberração cromática, mas o conjunto tá em média US$20, então, mesmo que tenha seus problemas, não é um prejuíííízo gigante. Se alguém tiver um desses em casa, me avisa, que eu quero dar uma olhada, por favor! Juro que devolvo inteiro e intacto!

Estamos chegando ao topo da lista, e aqui vêm as M42 russas. Pesquisei um bocado antes de escolher cada modelo e dei bastante sorte de conseguir tudo com um vendedor só. Por que M42? Porque é facilmente adaptável para o encaixe EF da Canon, com um adaptador que não custa nem R$5 (US$1.45). Curioso procurar esses adaptadores no MercadoLivre e ver que não tem nenhum que saia por menos de R$40. É a facada brasileira, aplicada indiscriminadamente a tudo que tem relação com fotografia!

Para escolher as lentes, meu principal critério foi: single-coating. Quero ver flares e personalidade nessas coisas. Se eu quiser uma imagem limpa, clínica, pego as Canon que estão sobrando por aqui, oras. Foram as escolhidas: Mir-1B 37mm f/2.8, Helios 44-2 58mm f/2, Jupiter 9 85mm f/2, Tair-11 135mm f/2.8 e Orestegor 200mm f/4. Nesse processo, descobri que a Helios e a Jupiter têm várias versões, e muitas delas multi-coated. O truque para identificar quais são single e quais são multi, sem ter a lente na mão, comprando pela net, é prestar atenção no anel de foco. As versões multi-coated têm anéis redondos, lisos, enquanto as versões single-coated têm indentações para os dedos. Convenhamos que, além de tudo, é muito mais bonito que um anel liso!

Só ressaltando, M42 não é o único encaixe adaptável, mas foi minha escolha porque tem a maior diversidade de lentes de qualidade, com o menor preço – cada tanto a Helios 44-2 como a Mir-1B saíram por menos de US$60, e a mais cara foi a Tair-11, que é uma exceLENTE, e custou US$200. Futuramente pretendo experimentar outros encaixes, como o Kiev-60 e o Pentax-K, mas só quando me recapitalizar.

Chegamos enfim às anamórficas. Pretendo fazer um post dedicado a cada uma delas, mas vamos aproveitar a ocasião para um breve resumo de cada, começando pela Hypergonar Hi-Fi 2. É tão complicado de lidar com ela que não tenho nem fotos decentes para ilustrar ela montada na câmera…

Essa lente é monstruosa. Gigante, pesada que só a desgraça, vinheta em qualquer coisa mais curta que 135mm numa Full Frame e tem um foco mínimo que se não muito me engano, é algo entre 3 e 6 metros. Bem difícil de trabalhar. Pra melhorar, não tinha lens caps na frente nem atrás, e a rosca de filtro era de algo em torno de 83mm, então nada encaixava direito. Fui adaptar um daqueles UVs desmontados, que falei lá atrás, com superbonder, nesse encaixe de 83mm e não percebi que para focar, a lente girava o elemento frontal, mas não as suas laterais de metal. Qual não foi o meu susto ao tentar fazer foco e a lente não girar? E eu forçar, e ela ainda assim não girar? Levei vários minutos até concluir que tinha sido a adaptação, e arrancar o filtro com uma chave de fenda. Então, parti para uma abordagem mais violenta e colei um step down 95-86mm, evitando dessa vez o anel de foco. Rolou superbem e agora consigo colocar os dióptros e até um lens cap para proteção.

A próxima lente é o Kowa, que já cansou de aparecer nas fotos aqui – é aquele com a Clamp vermelha. Atualmente ele é o meu anamórfico favorito, porque tem excelente definição até mesmo em grandes aberturas. As Clamps tornam fácil encaixar ele em qualquer coisa, alinhar e colocar filtros. O problema mesmo é o foco duplo, porque, já que não é um Iscorama, é preciso focar a lente base e o Kowa à mesma distância para se obter uma imagem decente. Vinheta abaixo de 70mm.

Se você achava que a Hypergonar era a mais complicada, é porque não enfatizei o suficiente a situação da LOMO. Foi a primeira anamórfica a chegar, e vai ser a última que vou conseguir trabalhar. Até pouco tempo – duas semanas? – o único jeito de usá-la era simplesmente segurá-la na frente da lente base, e fazer algum malabarismo para focar, não bater o elemento traseiro da LOMO no elemento frontal da lente base, e apertar o botão de disparo, mais ou menos ao mesmo tempo que todo o resto.




Ela é uma lente completa, que dispensaria uma lente base, porque já veio com uma. É uma 50mm f/2, de encaixe OCT-18. O grande problema é que esse encaixe é incompatível com o encaixe EF, porque a distância entre o elemento traseiro da lente e o sensor é menor do que a distância possível de ser obtida, devido ao espelho dentro da câmera. Vou me encontrar com o Scavone – “cientista louco”, diriam alguns, “gênio” diriam outros, “chato” diriam mais outros – pra ver se encontramos uma solução para isso, afinal, seria MUITO mais legal usar essa anamórfica completinha, ao invés de só o elemento frontal em combinação com outras lentes, como tenho feito.



T2i + Jupiter 9 f/2 + LOMO 35NAS4-1 2x

A Clamp dessa aqui também ainda está em fase pré-projeto, porque preciso tirar medidas para fazê-la. Antes que alguém pergunte “por que não usar uma Clamp convencional?”, explico: essa lente é malandra, e em seu design, o anel de foco gira toda a parte traseira do elemento anamórfico, então uma Clamp tradicional teria que girar também. Para contornar temporariamente esse problema, tenho usado um daqueles CPLs desmontados. Mas, no projeto original, esse giro é transmitido à lente base, que gira DENTRO DO MOUNT DA CÂMERA (!!!), se aproximando/afastando da película, e dessa forma as duas são focadas simultâneamente. É um rascunho do que os Iscoramas iam fazer.

Pra fechar o post, temos o Panasonic AG LA7200, que é único focus-through por aqui, e funciona muito bem com grandes-angulares devido a seu tamanho desproporcional. Dá até uma cara mais profissional para a câmera! Não vou falar mais nada dele porque já estaria – estou – me repetindo, e isso não é algo que curto muito.

Acabou que não consegui fazer o vídeo-tutorial pra postar hoje – na verdade até fiz o vídeo, mas como foi com a GoPro, o som ficou IMPOSSÍVEL, então eu vou refazer esse som de forma decente antes de postar. Acho que amanhã mesmo consigo colocar ele no ar e atualizo o post. Para o próximo post, um guia de compras, médias de preço, peso, detalhes das melhores lentes para se trabalhar e como funciona o eBay – acredite, não é tão simples quanto parece, ainda mais quando temos a alfândega, e sua operação Maré Vermelha, para levar em conta.

Pra ser elegante, fecho o post com uma das fotos mais legais que fiz nesse processo de testes, durante a Rave do Render – evento a ser explicado em outro post, quem sabe – com o Murilo.


5D3 + Canon 85mm f/3.5 + Kowa Bell & Howell 2X + +0.5 Close-up

  • fatima September 9, 2012 at 10:20 am

    “Véi, na boa… tô entendendo nada….” Só entendo uma coisa: seu entusiasmo! beijo

  • May September 9, 2012 at 10:38 am

    é nóis, fafá.