Day-to-Day

Resolvendo na Pós – O Retorno.

April 4, 2013

Ok, escrever sobre o que torna o atual método de montagem ultrapassado foi interessante, vamos então para a maior muleta do cinema universitário! Resolver coisas na pós. No fim do primeiro semestre de curso, escrevi um post longo sobre o assunto, entrando em detalhes e já começando a arriscar a linha que quero seguir nesse aqui: como o conhecimento de pós-produção pode acelerar o rendimento no set e facilitar o trabalho de várias equipes, inclusive performance dos atores, qualidade do som, erros de continuidade, refletores em quadro, e por aí vai. Vale ressaltar que o primeiro texto foi escrito no primeiro ano, quando eu ainda não tava tão contaminado pelos vícios do CTR, e o segundo texto está aqui, no último ano, quando estou criando consciência desses vícios (e retomando parte da criatividade original para beneficiar os resultados) para não seguir os processos à risca.

Se você se deu ao trabalho de clicar no link e ler o post original, vai perceber que eu falo bastante de máscaras. Elas são o grande truque, onde você utiliza um trecho positivo de informação para substituir um trecho ruim.

Vou começar pela utilização mais comum, que também é citada no outro post: tirar microfone de quadro. Do fim desse primeiro semestre, até hoje, já vi muitos takes excelentes serem descartados porque uma pontinha de microfone entrou. Não é preciso muito raciocínio pra entender que com o microfone mais próximo, a qualidade da captação de som melhora. E daí que entrou? Se não passou na frente de ninguém, ou foi uma parte parada do plano, tirar o microfone fora é a coisa mais fácil do mundo. Já perdi a conta de quantos planos rodei com o microfonista totalmente em quadro, pra melhorar a qualidade de captação, e em seguida gravamos um plano vazio, sem ninguém, pra usar na pós e sumir com o/a camarada.

No Cândido Carmim, que fotografei com o Luke, a seqüência final se passava no breu quase total, com iluminação feita por uma lanterna e iPhones no rosto dos personagens. Um desses planos era mais aberto, e tinha uma fala bem importante. O que a gente fez foi indicar pra May e Stefan, que faziam o som, colocarem o boom NO MEIO do plano mesmo, pra cobrir aquela fala. Com a correção de cor, e um plate (nome oficial do plano vazio, só de cobertura) vagabundo, ele sumiu e ninguém nem lembra que ele tava lá. Antes disso, mostrando o material bruto em aula – tanto de foto, como som e montagem – os professores disseram que tinha sido um erro grave e que aquele plano NUNCA entraria no filme. Senhores, vamos nos atualizar, por gentileza!


Plano original, com o microfone em quadro.

Desafio alguém a enxergar o microfone.

No mesmo esquema de sumir com coisas, dá pra beneficiar os atores, colocando alguém que não deveria aparecer em quadro para facilitar a interpretação de quem está aparecendo de fato e, posteriormente (nada como um jogo de palavras), apagar o “intruso” com uma máscara. Dá pra mudar as cores de uma locação que não era exatamente o que se tinha pensado, mas foi tudo que conseguimos arranjar, dá pra colocar informação numa janela que antes era ruim, dá pra combinar a exposição de áreas com luminosidades muito diferentes, e por aí vai.


Hmm, tá meio colorido demais pro clima do filme.

Se as cortinas forem menos azuis, já melhora muito!

Nenhum desses ajustes é complexo quando levado em consideração desde a concepção do filme. Na verdade, a maioria deles não leva nem cinco minutos no After Effects. No tal do Luz Violácea, que falei no post de montagem, tive que inverter a ordem de dois planos em relação à sequência que eles foram elaborados, então a lanterna na cabeça da protagonista aparecia primeiro acesa, depois apagada, depois acesa de novo. Botei uns vinte minutinhos de trabalho porque ela se movia bastante e “acendi” a lanterna digitalmente, criando halos de luz imaginária e flares pra esse errinho de continuidade desaparecer do mapa. Mesmo que você preste atenção, e veja o plano PROCURANDO o ajuste, ele é totalmente imperceptível.


Plano original, lanterna apagada.

Plano final, lanterna acesa!

Essa pós em questão é a mais simples, de planos fixos, mas o processo ainda vale bastante para planos com pouco movimento/câmera na mão, ou até para coisas mais agitadas, desde que tenhamos alguma paciência com os keyframes (como o caso do Luz Violácea). Quando isso é pensado desde o começo do projeto, evitam-se takes desnecessários, cansaço dos atores e da equipe, e o processo de captação fica menos repetitivo e mais dinâmico. Nessa pegada de incorporar a pós às filmagens, já fizemos três filminhos de mais de quarenta planos em uma diária (ou menos!) cada, e os resultados são bem acima dos exercícios curriculares onde tá todo mundo surtando com sua função, e seguindo o sistema que enfiaram na nossa cabeça, gastando uma grana.

  • Felipe Abanit April 5, 2013 at 1:02 am

    AMÉM, JESUS
    Diária 18h atrasada e take 9 por causa de boom em um cantinho fixo do quadro: minando a vontade de viver da equipe since tempos imemoriáveis.

  • Ferradans. · Luz Violácea. September 5, 2013 at 8:43 am

    […] de falar desse projeto nos meus desentendimentos com a montagem e numa grande teoria envolvendo pós-produção feita do jeito certo, ficamos enrolando pra finalizar o filme. Enrolando MUITO. Não sei porque a gente sempre faz isso, […]