Day-to-Day

UP02 – Adaptando Lentes

August 17, 2013

Alemanha, 1890. O ambiente: um misto de laboratório e oficina mecânica bem iluminada. Paul Rudolph faz cálculos infinitos para verificar o trajeto da luz que percorre o interior do seu projeto de objetiva. As contas batem. Ele inicia a confecção dos vidros, corte e polimento, num processo totalmente manual. Algo como lapidar uma pedra preciosa. Nascia a Zeiss-Protar, primeira lente anastigmat, que deu uma guinada na história da fotografia ao corrigir a maior parte das graves distorções de imagem que afetavam projetos anteriores.

Artesanalmente produzidas, cada lente era única. E cara. Só em meados de 1950, começou o uso de computadores para fazer os cálculos e, pouco depois, para executar as misturas, cortes e polimento do vidro.

Uma tabela de reciclagem de materiais nos informa que uma garrafa de vidro jogada na natureza nunca se decompõe. Lentes operam na mesma linha. Se bem cuidada, sua ótica vai funcionar pra sempre. Analogamente, seu preço se mantém através dos anos. Algumas sobem de preço: não são mais fabricadas e sua qualidade excede as concorrentes atuais. Através do uso de adaptadores, podemos trazer de volta essas pedras preciosa de décadas atrás.

Com essas lentes é consegue-se um visual diferente com um menor custo. Um cuidado é fundamental: checar se os encaixes são compatíveis. Cada encaixe tem uma distância em relação ao plano do sensor, determinada pelo fabricante. Este espaço é ocupado pelo mecanismo do espelho. Se a lente precisa de uma distância maior ou igual à que a câmera oferece, a adaptação é possível.

Existem também câmeras que não possuem esse mecanismo de espelho, como a EOS-M e a NEX, que podem ser combinadas com quaisquer lentes, desde que com o adaptador adequado. Os encaixes mais simples, como o M42, têm adaptadores mais baratos, mas lentes de cinema, por exemplo, são mais complexas, e seus adaptadores chegam a custar pequenas fortunas.

O encontro de lentes antigas e câmeras atuais traz opções de “olhar” que não ficam restritas à escolha da distância focal, mas se expandem para a imensa variedade de características individuais de cada lente (e cada fotógrafo!). Escolher a lente é como escolher “os olhos” que vão testemunhar a cena.


Coluna Ultrapassagem, Publicada originalmente na Revista OLD #16, em Novembro/2012