Day-to-Day

Adios, São Paulo.

May 31, 2014

Do mesmo jeito que esse blog começou, quando me mudei de Salvador para São Paulo, sozinho, chegou a hora de dar um reboot na história, com outra mega-mudança!

Esse post “começa” quase um ano atrás, quando eu e a May fomos no escritório da Vancouver Film School, em São Paulo. De lá, saímos absolutamente encantados e determinados a tentar. Depois de preencher trocentos formulários e chorar em emails e telefonemas para conseguir descontos mais consideráveis, nos inscrevemos para os programas de 3D Animation & VFX e Sound Design (não vou dizer quem se inscreveu em que programa, porque acho que a escolha é óbvia!). Meu curso começa agora no final de Junho e o da May no fim de Agosto. Nesse meio tempo, convencemos o Nicko a vir também, e ele começa em Agosto, no mesmo curso que eu.

Desde que tudo se confirmou, comecei a correr com as matérias na USP, pra me formar no fim de 2013, nem que tivesse que me acabar no processo. Felizmente, não foi necessário. Meu TCC já tá uns posts aí pra trás, e tudo deu muito certinho. A colação de grau foi no dia 27 de Abril, e a cerimônia não foi lá grandes coisas, mas definitivamente marcou o fim da minha passagem pela USP, onde conheci praticamente todos os amigos de São Paulo, e fiz trocentas coisas legais.

Pouco depois da colação de grau, corri para Salvador, que era aniversário de 60 anos de meu pai, e quando voltei, já tinha perdido a primeira diária de filmagem do Zona S.SP! Entrei na segunda diária, assumindo minha posição de fotógrafo e produtor nas horas vagas, e rodamos loucamente durante o mês de Maio, com pausas às segundas e quintas feiras, para a equipe continuar feliz.

Na última dessas quintas feiras antes da partida, graças a um esforço da May, conseguimos fazer uma despedida com a galera do AV2010, numa noite repleta de jogos de tabuleiro (até hoje não sei as regras do último que a gente jogou!), comidinhas gostosas feitas em casa, quase um terço da turma reunido e assuntos variados que não o CTR (o que é uma grande evolução, tendo em vista que a gente sempre fala mal do departamento, quando se encontra). Foi deveras divertido, e devo muito dessa noite à May!


Fake selfie, tirada com um iMac!

Retomando a série, foi um set muito diferente de todos os sets que participei. A equipe tava muito unida, e todo mundo dando o melhor de si para o bem do projeto. Quando precisávamos fazer concessões, todo mundo cedia um pouquinho, e ninguém ficava muito triste. As diárias eram animadas e cansativas, mas não exaustivas – nunca estouramos as 12h limite. Os elencos principal (Gui Conceição, Nadia Berriel, Roberto Lacava e Carla Zanetti) e secundário (Santiago, Henrique, Sílvio, Tadeu, entre outros), também foram incríveis, e espero que eles tenham se divertido tanto quanto a gente, nesse processo.

Filmamos em um posto de gasolina abandonado, sufocamos numa salinha queimada do chão ao teto, conseguimos autorização – E SEGURANÇAS PARTICULARES! – para filmar no prédio abandonado do Paço (onde rodamos o episódio piloto), fizemos um esconderijo num estacionamento do Jaguaré, quebramos a cabeça com a direção tripla (dos oito episódios, o Lucas Barão dirigiu quatro, o Leo Praça pegou dois e a Dani Li pegou mais dois), quase um técnico de som diferente por dia (que fez um mal danado para os equipamentos), e experimentações fotográficas usando a Blackmagic Pocket Cinema Camera, e lentes relativamente simples (duas zooms FD – 35-105mm f/3.5 e 70-210mm f/4 – além da 14mm MFT, Canon 50mm f/1.4 e Nikon 35mm f/1.8, quase todas com seus respectivos SpeedBoosters).


Rig para a Blackmagic, com bateria de fabricação própria!

Tava usando o rig acima, montado a partir das peças de Redrock Micro que tinha lá em casa, com upgrades e improvisações do Leo de forma que pudéssemos trocar cartões e baterias da Blackmagic sem ter que desparafusar a câmera do rig toda vez que esgotássemos algo. As primeiras diárias foram bem caóticas nesse sentido, e por quase duas horas, achamos que tínhamos perdido um cartão nessa brincadeira. No fim das contas, ele só tava escondido na mochila. Rodamos tudo em RAW, usando – no começo – dois cartões de 8gb e um de 32gb. Tava tenso, mas logo chegaram dois de 64gb que estavam presos no Correio e a vida ficou consideravelmente mais fácil. Via os planos pelo Zacuto, e dele, com um cabo HDMI, jogava para o monitorzinho que estava na mão do diretor do episódio. Tirando dois cabos HDMI destruídos no processo, não tivemos maiores danos ou riscos. As baterias davam e sobravam para cada diária.


Dani Li, eu e o Leo Praça, atrás da Adelaide, Kombi de produção!

A situação de som foi tão crítica, que por meia diária, EU fui o responsável pela gravação, enquanto operava a câmera. Felizmente, estávamos usando só dois lapelas, e o Lucas, que dirigiu o episódio em questão, monitorava tudo pelo fone, para poder ouvir melhor as falas do elenco.



Se até eu fiz som, é claro que o Nicko não ia escapar.

Numa das folgas, antes de começarmos a filmar no Jaguaré, precisávamos produzir um esconderijo COMPLETO. Só tínhamos as paredes, e olha lá. Fomos então, para a USP, eu e o Nicko, de carro, com um único objetivoÇ catar todo o lixo limpo e volumoso que conseguíssemos encontrar. Não foi a coisa mais fácil do mundo, mas foi engraçado demais. No fim das contas, conseguimos produzir o esconderijo usando muitas caixas de papelão, alguns cones perdidos, dois pallets pesadíssimos e sujíssimos que pegamos numa obra, calotas perdidas, jornal, garrafas recicladas, tralhas de plástico, um capacete cor de rosa rachado, e uma PLACA GIGANTESCA de trânsito, com cinco furos de bala, indicando o acesso à Castello Branco a 500m. Nesse mesmo dia, enquanto rodávamos de cima para baixo pela USP catando lixo, recebo um email do setor de graduação, informando que meu diploma estava pronto! Ae! Corri pra lá, com o carro abarrotado de tralha, assinei vários papéis, e até fiquei nervoso na hora de assinar o diploma. Na saída, ainda tive a cara-de-pau de perguntar pra Jaqueline – que me atendeu – se umas caixas de arquivo que estavam pelo chão eram lixo e se eu podia levá-las. Saímos da ECA com o porta-malas ainda mais cheio!

Dias depois, durante as filmagens, fomos numa equipe super-mini para o Clube dos Professores – de novo, com autorização e tudo! – para rodar uns planos de correria usando o carro do Leo como travelling. Os planos ficaram incríveis, e vocês vão ver no teaser com certeza, mas o nível de compressão humana no carro foi intenso!

Enquanto filmávamos nas salinhas subterrâneas do posto, tivemos que lidar com muitos vazamentos de luz, e a solução encontrada foi super-segura, onde o Dé e o Leo subiram no teto do posto (!) e cobriram tudo com panos pretos e papelão! Pics or didn’t happen? There you go!

Depois, com tudo escuro lá dentro, precisávamos resolver o problema da luz, indicada no roteiro como uma “tocha”. A gente não pretendia sufocar a equipe, que já tava filmando dentro de uma locação inóspita, então, com muitas horas de programação e solda, o Dé e o Nicko colocaram um arduíno na parada, com uma caixinha para controlar a intensidade do brilho e a frequência das oscilações luminosas do fogo. Ó a cara da nossa tocha digital aqui! No vídeo, é perfeito, e temos um making of explicando o funcionamento. Assim que estiver no ar, aparece aqui, claro! Para contra-luz, usei tudo que aprendi no Cândido Carmim e no piloto, usando luzes de emergência de led, suspensas por tripés e direcionadas/bandeiradas com caixas de papelão. O apelido carinhoso das geringonças era “Lua”.

Nas raríssimas ocasiões que apareceram, saquei a 5D3 equipada com o Iscorama e fiz essas fotos de set! Por uma questão de agilidade de deslocamento e trabalho, acabamos não rodando em anamórfico, mas estou preparando os argumentos para essa briga na segunda temporada! Essas imagens devem ajudar.












Tive que fugir das duas últimas diárias, porque meus pais estavam em São Paulo, e era saudável passar um tempo com eles, mesmo porque ainda tinha um bocadinho de coisas da viagem para resolver. Deu tudo certo, e foi muito divertido, deu pra abastecer as baterias de saudade pra longa duração. E pra matar a saudade, uma foto que tiramos no aeroporto, quando meu pai já tava voltando pra Natal. Quase que não coube todo mundo no quadro!

Nesses dois dias o Nicko ficou no meu lugar, com a direção de fotografia. A equipe inteira se reunião ao fim da última diária, num bar perto da USP para comemorar e, claro, para despedir-me de todos os envolvidos. Aí rimos muito com o Gui, Nádia, Lacava e Carla imitando os integrantes da equipe, discutimos o que esperamos do futuro dos roteiros (com muitas especulações e spoilers), e até traçamos um breve plano do que vem pela frente, na pós-produção, segunda temporada!

No dia seguinte, mal deu tempo de desmontar o computador, deixar na casa do Nicko, para depois parar na casa do Dé, a fim de contribuir com a pós-produção dessa loucura, ao mesmo tempo que liberei um espaço imenso lá em casa, e não tive que trazer o monstro de 20kg comigo. Fechei a mala, conferi tudo muitas vezes, pegamos trânsito e chuva no caminho para o aeroporto, e assim parti!

Preciso muito agradecer a meus pais, que ajudaram – e ainda estão ajudando – tanto nesse processo, pelo apoio, pelas dicas e pela paciência! Na semana anterior, meu pai também tinha ido lá em casa, e não consegui ficar nem seis horas com ele, porque tava filmando!

Agradeço a Lila, minha irmã querida (que me mandou um email lindo de despedida), pelas sugestões e indicações de sobrevivência, companhia durante todos esses anos, e tudo mais, porque ela é foda!

Por fim, agradeço à May, meu bem, que me aguenta há quase quatro anos e nem fez cara feia quando falei que ia filmar o mês todo antecedendo a partida! Acho que se não fosse por ela, eu teria ficado louco nessas últimas semanas, com tantas suposições, teorizações e investigações sobre a cidade de destino, e como resolver os infinitos pepinos que ainda estavam no caminho! Ah, preciso acrescentar que agora ela tá muito mais linda do que sempre foi, com uma mega tatuagem no braço (que tem uma história muito mais longa que esse post inteiro)!


Respondendo a pergunta: não, não tem NENHUMA relação com Rio 2!

Não vou dizer que já tô morrendo de saudades de vocês, mas sei que vão fazer muita falta. Espero ansiosamente pelas visitas, e pela mudança da May, no meio de Agosto!

Stay tuned for more!