Day-to-Day

Nicko, Jeni e May!

August 23, 2014

Agosto foi o mês das chegadas. Bom, na prática começou em Julho, mas quando o Nicko chegou já era dia 28, então vamos arredondar pra cima. O Nicko veio pra fazer o mesmo curso que eu, só que começando dois meses depois. Salvo engano, dia 28 era Domingo, e o Paul tinha vindo pra cá no Sábado. Peguei um colchão inflável gigante emprestado com o Fernão, e quando já estávamos capengas de sono depois de ver House of Cards, cada um foi pra seu colchão dormir. Aí a gente começou a conversar os assuntos mais aleatórios, e de repente já eram 5 da manhã e tava ficando claro.

O vôo do Nicko ia chegar às 8h e estávamos deprimidos pelas poucas horas de sono que teríamos. Comemoramos ao receber uma mensagem dizendo que ele tinha se confundido com os horários, e que na verdade chegava às 11h. Na ausência absoluta de sono, resolvemos então que era melhor parar de conversar e tentar ver algo mais psicodélico no Netflix, pra apagar. Resultado: Twin Peaks derrubou nós dois em menos de vinte minutos.

Poucas horas depois, acordamos e saímos às pressas pro aeroporto, explorando pela primeira vez o caminho via transporte público. Achei que ia ser demoradíssimo. Da hora que a gente fechou a porta do apartamento até o saguão do aeroporto foram exatamente 50 minutos. Nada mau para uma caminhada de 8 quadras e mais umas dez estações de metrô. Ficamos lá esperando, não muito tempo, até o Nicko aparecer. Aí já sabíamos o caminho de volta pra casa, e fomos contando histórias de coisas drasticamente diferentes entre o dia a dia no Brasil e no Canadá. Em casa, o drama: sair pra almoçar, ou esquentar uma pizza? Óbvio que a pizza ganhou, por três votos a zero.

Como a gente tava completamente sem noção depois de dormir umas poucas horas, achamos que seria uma boa idéia fazer um passeio de boas vindas que envolvesse tudo que há de radical no cotidiano de Vancouver: andar, comprar computador, pegar metrô, pegar seabus, ir no walmart, fazer compras pra semana, comer na praça, voltar pra casa de noite e morrer. No fim da jornada, tava todo mundo quebrado. O Paul ficou em casa, lá pras bandas de North Van mesmo, e nós voltamos o pedaço restante do caminho, quase arrastando os pés de cansaço. Pelo lado positivo, agora o Nicko já tava preparado pra todos os tipos de deslocamento necessários na cidade.

No dia seguinte eu só tinha aula às 4pm, então saímos pra resolver rolês de banco, telefone e tudo mais. Rapidinho, tranquilo. Saindo do banco, achamos que seria uma boa ir até a Ride On Again pra ver se achávamos uma boa bike pro Nicko, afinal, uma bike é sempre uma boa. Andamos mais um bilhão de quilômetros, sob um Sol escaldante, fomos pro lado errado, voltamos, achamos a loja, andamos mais, não tinha bikes interessantes, voltamos às pressas, cheguei em casa em cima da hora, subi na bike e fui pra VFS. Tive minha única aula do dia lutando contra o cansaço e desenhando um monte de frames de animação 2D. Nesse mesmo dia eu perdi meu caderninho de anotações e minha lapiseira. Uma tristeza. Ainda não fui nos Achados e Perdidos investigar se tá lá, ou se perdi na rua mesmo. Preciso lembrar de fazer isso. Era uma ótima lapiseira, e anotações em caderninhos são sempre uma boa de se ter por perto (tava na PENÚLTIMA página).

Ah, claro, esqueci de falar, o Nicko tava ficando aqui em casa, no bendito colchão inflável que eu tinha pego emprestado. Ia ficar por aqui até dia 14, com a chegada da May e da Jeni. Nessas duas semanas, tivemos muitas noites de modelagem, com diversos desafios, explicações e debates ao redor do Maya vs Lightwave, programação para iPads, livros infantis e coisas do gênero. Nos finais de semana o Paul veio pra cá, e a gente (leia-se: o Nicko) fazia coisinhas (leia-se: salmão assado) pra almoço, trabalhava em assignments, projetos e idéias por um tempo, depois começava a jogar computador em rede. Na primeira noite, fomos de 8pm às 3am numa única fase de Left4Dead 2, trabalhando nosso espírito de teamwork e xingando as burradas feitas pelo único personagem controlado pelo computador. Na semana seguinte, não fomos madrugada adentro, mas ainda jogamos um monte, e passamos de bem mais missões. Nosso lanche/sobremesa era o quitute do sorvete com Nutella, numa técnica exclusiva e patenteada que ainda não posso postar por aqui pois posso ser processado por furto de propriedade intelectual.

Não sei se foram as aulas, se o tempo é assim mesmo, ou qualquer coisa, mas essas duas semanas passaram voando.

Dia 14, por milagre ou coincidência, foi o ÚNICO dia no Term inteiro que não tivemos nenhuma aula na VFS, apesar de ser um dia de semana. Então lá estava eu no aeroporto de novo, pra resgatar a May e a Jeni. Elas tinham vindo a primeira parte da viagem – até Toronto – no mesmo vôo, mas depois se separavam – a Jeni pegava um vôo mais cedo, e a May vinha no seguinte. Cheguei no horário exato do desembarque do vôo da Jeni (Air Canada 103), e vi todo mundo sair, MENOS a Jeni. Achei que ela podia estar lá dentro, esperando a May, e fiquei ali por perto, sempre visível e atento, mas não a encontrei. Alguns minutos depois, chega o vôo da May, vinte minutos antes do horário previsto, e assim que ela percebe que a Jeni ainda não apareceu, começa a surtar de preocupação. Pior ainda foi quando encontramos a mala dela girando na esteira de bagagem, sozinha. A última mala do vôo anterior, que ninguém tinha pegado. Bom, pelo menos a mala tava lá, né?

Pra completar a cena, lembrei que tinha perdido uma ligação de madrugada, de um número de Ontário. Fomos questionar um funcionário da Air Canada, que falou que era super comum essa conexão São Paulo > Toronto > Vancouver dar merda, porque o tempo é muito apertado, mas que colocariam ela no vôo seguinte sem falta, e que logo mais ela estaria chegando. Fomos olhar então o horário do próximo vôo, e vimos que tava adiantado também. Nem saímos de perto da esteira de bagagem. Botamos as malas da May num carrinho, sentamos no chão perto dele, e ficamos comendo bolachinhas, bebendo água e suando de preocupação, sem notícias da menina desaparecida.

Tentamos ligar de volta pro número que tinha me ligado de madrugada, e nada. O telefone dizia que esse número não podia receber chamadas. Estranho. Deveras estranho. Depois de mais uns minutos, ó o diabo do mesmo número ligando de novo! Atendi, já pensando que a Jeni estaria em Toronto, embarcando àquela hora, mas felizmente ela já tava em Vancouver, e aquele número era de um cartão telefônico (?!) que uma funcionária da Air Canada tinha dado pra ela usar.

No caminho pra casa ela contou dos tormentos vividos no aeroporto de Toronto, e sobre como ela conseguiu ser premiada e encontrar todos os canadenses grosseiros do país em uma única madrugada. O caminho do metrô até em casa também foi um sofrimento, porque as malas eram enormes e pesadas, e tava todo mundo cansado e com fome – ansioso pela chegada das meninas, não tinha conseguido nem comer nada de café da manhã e a fome só foi voltando lentamente ao longo do dia. O plano era sair de tarde para resolver banco, telefone, essas coisas básicas. Não rolou, todo mundo dormiu a tarde inteira – inclusive eu -, depois do nosso almoço de macarrão ao molho branco. Por conta disso, contratei o Nicko pra acompanhá-las e ajudar nessas empreitadas no dia seguinte, quando eu estivesse na aula.

Ao longo dessa semana que a Jeni ficou aqui – agora era a vez dela de habitar o colchão inflável da sala -, só consegui sair com elas em um dia, quando fomos ao Stanley Park, a pé. Aí foi um passeio daqueles que eu adoro aprontar sem saber. Andamos 10km até chegar de volta em casa. Resultado: o Nicko deitou no chão da varanda pra descansar, a May desligou em cima da cama, a Jeni capotou assistindo A Nova Onda do Imperador, e eu fiquei sentado, meio tentando fazer assignments, meio dando risada do filme, meio pensando nos meus pés e pernas exaustos. A gente chegou até o Aquarium, alegres e serelepes, e ficamos absolutamente arrasados ao ver que o preço de entrada era $34 por pessoa. Desistimos na hora, e foi aí que começou nossa jornada de volta.

Acho que o ponto alto do passeio foi quando encontramos um guaxinim perto do Beaver Lake, e ficamos discutindo a fofura da criatura por vários dias que estavam por vir. Sério, guaxinins são muito fofinhos e tem uma cara muito expressiva!

Depois desse dia, só encontrava as meninas em casa depois da aula, quando elas geralmente já tinham voltado de seus passeios diários, e tinha trocentas histórias pra contar. No fim das contas, só consegui sair com elas de novo no último dia da Jeni aqui, quando fomos ao Denny’s, comer frango e peixe, pra conhecer o lugar.


No Denny’s, comendo frango e peixe

Ainda assim, essa semana foi muito engraçada porque as duas ficavam fazendo piada o tempo todo em casa, e a gente fez um bocado de coisas legais por aqui – como cozinhar, ouvir música, conversar da vida e ver Parks and Recreation, pra não me alongar em exemplos. Ah, teve um dia de noite também que a May tava falando que sentia falta do violão, e que tocaria violão agora, e que ia ser muito triste viver sem violão, e a Jeni disse que ia dar um violão pra ela, de até $100. Fomos então todos à Craigslist (célebre!) e caçamos um aqui perto, por $80. Mandamos mensagem e o carinha respondeu na hora. Eram umas quatro quadras de distância. Fomos lá imediatamente, e já voltamos com o violão nas mãos, comprado de um mexicano que tinha vindo pra Vancouver passar o verão, e levava a viola pra tocar na praia. Que tal? Coincidentemente, passamos pelo mesmo sujeito na quinta feira, quando fomos levar a Jeni no aeroporto.

UPDATE, CORREÇÃO, ATUALIZAÇÃO!

Não sei como, mas consegui esquecer de uma puta aventura que a gente fez nessa semana, aquele tal passeio introdutório a Vancouver, de ir no Walmart! Era o meio da tarde, eu só tive aula de manhã e eestávamos os três em casa, listando coisas que precisávamos providenciar para a casa (mais roupas de cama, panelas, panos de chão, panos de prato, travesseiro, etc). Aí partimos para o metrô, cada um com sua mochilinha nas costas, pra transportar as coisas de volta pra casa. Mandei mensagens pro Paul, e ele foi encontrar a gente na saída do Seabus. De lá, fomos percorrendo os vários quilômetros até o walmart a pé, conversando. Chegando lá, no centro de delírios consumistas (duas vezes eu já comprei pretzels de chocolate, só porque pareciam ok e tava barato), fomos investigando os corredores à procura dos itens da lista. Vários deles foram muito complexos, como um forro pra cama, a cor dos lençóis novos, que travessa seria ideal para o bolo de batata (considerando tamanho vs preço vs confiabilidade da marca), chaleiras super caras, e por aí vai. No fim, conseguimos achar praticamente tudo que precisávamos e partimos pra fila, não sem antes comprar umas guloseimas pra reforçar a tradição do lanche pós-walmart. Na fila, ficamos vários minutos praticando tetris até conseguir dividir todas as nossas compras de forma adequada entre as três mochilas.


Na pracinha tradicional do Walmart

Entre os quitutes, tínhamos morangos, donuts, muffins com gotas de chocolate e acho que só. Tava todo mundo meio de barriga cheia pra lanchar dessa vez. Os morangos foram sucesso. Donuts: só o primeiro era bom. Se você começasse a comer o segundo, ia mudar de idéia no meio de uma mordida e desistir. Muito manteigoso, sei lá, estranho mesmo. Na volta pro Seabus, o povo veio cantando músicas clássicas do passado, discutindo versos e coisas assim. Nos separamos na descida para o barco, onde o Paul seguiu pra casa com suas compras, e nós seguimos para atravessar os trilhos do trem.

Esperando o sinal pra atravessar a rua, a Jeni viu uma sorveteria (Marble Slabs?) que elas tinham planejado visitar, e desistido porque era muito longe. Realmente, se era em North Vancouver, era muito longe mesmo! Mas como já estávamos ali do lado, entramos pra tomar um sorvete ao por do sol. Mentira, já tava quase escuro nessa hora. O lugar era MUITO colorido e saturado e tinha enormes fotos de sorvetes e doces na parede. Sério, tive a sensação que a luz era rosa, e as paredes laranjas. Enfim, o sorvete era uma coisa muito louca: você pode podia pedir uma bola só e escolher quantas coberturas quisesse (caldas, m&m’s, farofa de amendoim, minhoquinhas de gelatina, e mais uma porrada de coisa. Acho que o pote tinha mais coberturas do que sorvete em si, mas tava delicioso!


Abraçando os painéis coloridos da sorveteria

FIM DO UPDATE! AGORA SÓ TEM MAIS UMA FOTO MESMO!

Na quinta – também o último dia do Term – fomos levar a Jeni no aeroporto (DE NOVO ESSE AEROPORTO, MEU DEUS, QUE COISA POPULAR NESSE POST!) e, depois que a May quase cancelou a viagem da prima numa daquelas maquininhas de auto-atendimento, clicando numa opção que não faz nenhum sentido de sequer existir numa máquina de auto-atendimento, descobrimos que o vôo dela pra São Paulo tinha sido adiado em UM DIA INTEIRO, e ela ficaria ociosa por mais de 24h no aeroporto de Toronto. Em desespero, apelamos para a atendente da Air Canada responsável pelo check in, e depois de uns quinze minutos batendo no teclado e apertando coisas no telefone, a moça conseguiu trocar toda a viagem da Jeni (que ia primeiro pra Calgary, depois pra Toronto, e depois pra São Paulo), pra ir direto pra Toronto, dali a algumas horas, e em seguida para São Paulo, sem o tempo de espera ridículo que fora introduzido sem aviso prévio.


Despedida, nos corredores do YVR Airport

Felizes com essa solução, e tristes com a partida, nos despedimos nos corredores e nem ficamos esperando a Jeni entrar no portão de embarque porque nossos tickets de metrô só tinham mais alguns minutos de validade, e não estávamos com dinheiro para comprar novos – no aeroporto eles são MUITO mais caros que o normal. Voltamos pra casa e passamos muitas e muitas horas trabalhando numa limpeza geral de todos os ambientes, depois que eu fui voando de bike na VFS entregar meus trabalhinhos finais e voltar. Sério, a gente varreu, lavou, espanou, limpou, esfregou, enxaguou, e todos os outros verbos de limpeza que vocês conseguirem pensar nessa casa.

Finalmente esvaziamos o colchão inflável, liberamos um puta espaço na sala, e a casinha que antes era pequena agora parece uma mansão. Ok, menos. Parece um apartamento não tão atolado de coisas. E assim se encerra o calendário previsto de visitas pra nossa casa. Agora somos só eu e a May por aqui, e o Nicko por perto, sempre dispostos a aprontar alguma coisa pela cidade. Hoje foi uma aventura de caça às bikes, mas conto melhor essa história amanhã. Tô com sono, e não tenho mais trabalhos pra entregar até o começo do próximo term, então vou aproveitar pra dormir e descansar.