Day-to-Day

Sobre Permissões de Filmagem.

January 15, 2015

Filmei na rua muitas vezes no Brasil. A maioria delas era guerrilha total, sem autorização, se ninguém reclamar, tá valendo, escondendo a câmera, com medo de ladrão, de polícia, de segurança, de gente olhando torto, muitas vezes abrindo mão de planos importantes ou com planos caindo porque a gente tinha sido expulso dos lugares. Esse era meu maior medo durante a produção do Zona SSP.

Às vezes – muito raramente – a gente conseguia autorização pra filmar, e mesmo assim era uma zona, não podia atrapalhar o trânsito, tinha que lidar com gente escrota na rua, gente que passa gritando no carro, dando tchau pra câmera, ter que explicar pra polícia que a gente tem autorização pra filmar – isso aconteceu mais de uma vez -, se proteger de caminhão pegando fogo, essas coisas. Quando não era isso, a autorização era negada e aí já era até os métodos de guerrilha, a saída era arrumar outra locação mesmo, o que quase sempre era prejuízo.

Aí cheguei aqui em Vancouver com o mesmo pensamento sobre filmagens pro demo reel. Ser discreto, entrar e sair rápido, equipe pequena, se ninguém reclamar tá valendo, e por aí vai. A escola recomenda que a gente peça autorização pra filmar em qualquer lugar. Se a gente não fornecer as autorizações e contratos, eles não podem divulgar nosso projeto final e ajudar a conseguir trabalho. Fui me preparando pra ter que mudar de locação, pra ter que abrir mão da divulgação da escola, pra passar stress com burocracia, ligar pra fulano, encontrar sicrano, explicar dez vezes o filme, garantir que não ia importunar ninguém enquanto filmava, essas coisas que a gente sempre promete quando tá pedindo autorização pra qualquer coisa.

Pra filmar aqui no apartamento, precisava da autorização da administração do prédio. Menos mal, a garagem ia precisar também, então pelo menos é um papel só. Esperava que fossem me encher o saco, pedi ajuda pro Wyll, que tem os contatos com a mulher da administração. Deixei o papel preenchido com ele na Quinta passada, à noite. Explicava o que eram as cenas que eu ia rodar, a data, e o tempo que eu ia levar. Sexta de manhã o Wyll me fala que o papel já tá com ele, assinado, e a manager ainda ofereceu ajuda, se algo der errado. Uau, impressionante, por essa eu não esperava.

Passo 2, tenho uma sequência que se passa num beco entre duas ruas movimentadas. Precisava da autorização do film office – órgão da prefeitura. O formulário tem quatro páginas pra você detalhar uma pá de coisas que – claro – podem estar erradas também e alguém vai implicar no processo. Mandei o pedido na Sexta feira, 9 da manhã. Não era uma da tarde quando chega a autorização, uma mensagem super meiga e um sonoro “boa sorte!” com smilezinho no final e tudo.

Tem certas coisas que a diferença entre Vancouver e Brasil é grande (porque tive esses problemas filmando em várias cidades e estados), mas essa foi DE LONGE a que mais me surpreendeu até agora. Só me resta torcer pra não ter neblina no Domingo, e aí vai ser tudo lindo e maravilhoso. Torçam aí também!