Day-to-Day

É Difícil de Explicar.

March 8, 2015

Ontem eu tava rabiscando umas teorias de como terminar um assignment, planejando meu curso de ação assim que o computador terminasse de renderizar uns frames, quando me ocorreu um pensamento peculiar: “se eu tivesse que explicar esse assignment pra meus pais, o que eu diria?”, e foi aí que me toquei que é difícil (quase impossível) conversar sobre as coisas que eu tô estudando aqui com qualquer pessoa que não tenha passado pelo mesmo processo ou trabalhe na mesma área. O resto do mundo que se foda, mas fiquei um pouco incomodado com o fato de meus pais não terem muita noção do que eu faço, e o motivo principal é: tudo que eu faço aqui tem como objetivo parecer o mais real possível, quando na verdade não é. O problema é que quando o resultado funciona, não dá pra ter idéia do caminho percorrido. Tem os breakdowns, onde a gente mostra umas partes do processo, mas é algo mais técnico, e menos “olha só o que eu fiz!!”. Bem diferente de uma profissão mais “tradicional”, digamos, onde as coisas que você faz são visíveis e palpáveis.

Espero que esse post não se enrole muito, porque vou tentar definir o que é que fica me apertando o juízo nessa história.

Quando fui fazer audiovisual, não tinha comparação. Você começa com nada, e acaba com um filme, você fez aquele filme, provavelmente não todas as funções, mas dá pra descrever. Trabalhando como câmera, todo mundo sabe o que é uma câmera, lentes, trilhos, se pendurar nas coisas, fazer gambiarra com luz, porque isso tudo faz parte do dia-a-dia da vida, não só do set. No set a gente só “reutiliza” as coisas da vida. Até no processo do TCC, a revisão passava por minha mãe, porque se ela conseguisse acompanhar a leitura, era algo acessível pra quem tivesse interesse, mesmo que pouco ou nenhum conhecimento prévio. Esse era o objetivo do TCC, disseminar um conhecimento que me tomou um puta tempo, de uma forma simples, pra possibilitar o acesso a mais pessoas que não tinham o tempo ou os recursos que tive durante a pesquisa. Em várias ocasiões eu falei, e continuo repetindo, se dá pra colocar na internet, de graça, esse é meu caminho preferido. Por que? Porque assim você não limita o acesso, e sim expande, é de graça, qualquer um pode ter, tá na internet, qualquer um pode acessar, não dá pra ser muito mais livre que isso.

Agora voltando pra VFS e traçando um paralelo com AV. Em AV eu tava por trás das câmeras. Em VFX, eu tô por trás de quem tá atrás das câmeras. São mais camadas de “ficção disfarçada de realidade” pra chegar no meu trabalho. É fácil saber que as pessoas no filme são atores e não os personagens em si, é fácil saber que a luz é manipulada por alguém, assim como o som e todos os ambientes que aparecem na tela. Já é mais difícil saber se em determinado plano o jardim do lado de fora da casa – desfocado e sem objetivo narrativo óbvio – é real ou foi colocado ali digitalmente. É difícil saber quando uma tatuagem sumiu, um microfone foi apagado, uma PESSOA INTEIRA foi apagada do plano, se X e Y objetos são reais ou digitais. E um dos problemas nessa história é: se o público consegue perceber, é porque o trabalho devia ter sido feito com mais cuidado.

Ok, espaçonaves no céu, algumas explosões, prédios futuristas e essas coisas são mais fáceis de dizer “Ah! Digital!”, porque a gente sabe que isso não existe nos dias atuais, mas é tudo tão baseado na realidade que mesmo os maiores absurdos se costuram com a realidade e ninguém fica reparando na textura-do-vidro-daquele-arranha-céu-que-não-existe-no-mundo-real-mas-existe-no-filme, porque não é esse o objetivo mesmo. E pior, algumas delas podem ser de verdade, construídas para o filme, no mundo real.

Argh, tô sentindo que tô perdendo o ponto da discussão.

Tenho certeza que todo trabalho tem suas coisas mais técnicas e complicadas, que só dá pra conversar de verdade com outras pessoas da sua profissão, mas também tem elementos simples, que dá pra explicar pra qualquer um em cinco ou dez minutos. O que eu tô procurando agora é esse elemento no meu trabalho. De forma objetiva, a pergunta é “Como montar uma frase compreensível, mas não supérflua, sobre o que faço, sem termos técnicos ou glamour exacerbado?”. Porque eu posso virar e falar “ah, eu faço ilusões”, mas, pelo amor de deus, né? Não vamos forçar a barra – mesmo porque isso é tema pra outro post.

Bom, vou terminar esse por aqui, e se alguém pensar na frase, por favor, poste nos comentários. Enquanto isso, vou pensando por aqui, e tocando o demo reel pra frente.
– Acho que o fato de aprender tudo em outra língua colabora com a dificuldade desse quebra-cabeças.