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No Escuro.

August 20, 2015

O mundo acabou à meia noite de Sábado para domingo.

Ok, isso ficou um pouco sensacionalista. O “Mundo” não “acabou”. As leis da física que dizem respeito à eletricidade é que resolveram tirar férias. Nada mais produzia corrente. Nem turbinas, nem painéis solares, hélices, nem aquelas lanterninhas mecânicas que fazem um barulho desgraçado produziam qualquer ampére, volt, watt, nem um mísero joule.

Pilhas e baterias não perderam suas cargas num passe de mágica, mas era impossível recarregá-las. Geradores viraram pesos de papel exageradamente grandes. A única eletricidade que ainda existia eram os raios, mas ainda vamos chegar nesse ponto.

A gente sempre acha que tá preparado pras coisas, quando na verdade a gente tá “mais ou menos” preparado praquilo que podemos imaginar, prever. Te digo que não tve um cientista prevendo data de validade pras teorias dos titios Faraday, Tesla, Franklin e por aí vai. A “Fé na ciência”, haha, prevejo um grande aumento na religiosidade ao redor do mundo depois dessa pegadinha científica que praticamente sustentava a sociedade.

Aquela primeira frase foi tão exagerada que vale a pena colocar mais um aviso: esse não é um conto megalomaníaco. Não tem guerra, zumbis, aliens, nem esses clichês de fim de mundo – Mad Max, Eu Sou A Lenda, Guerra Mundial Z, Walking Dead, The Last Of Us – ou sociedades totalitárias – 1984, Admirável Mundo Novo, Equilibrium. Se você está ok com essas informações, vamos adiante.

Por motivos de exaustão e tédio, Pedro deitou para dormir às 20h30. Desde que chegara em sua cidade natal, três semanas atrás, não tinha conseguido acordar depois das 4 da manhã nem sequer uma vez. Suas olheiras eram profundas. “Melhor dormir cedo pra tentar descansar um pouco mais”. Ele sabia que iria acordar às quatro e estava determinado a continuar dormindo. Essa decisão lhe custou a primeira chance de entender o que estaria acontecendo.

Dito e feito, como máquina, seus olhos se abriram às 4h15. O quarto estava claro, iluminado pela tela do notebook. “Alguma coisa deve ter desativado o descansador de tela”. Ao fundo os apitos do nobreak da casa perdendo carga preenchia o silêncio. Levantou-se, foi até o computador e abaixou a tela. Aí é que percebeu como o mundo estava escuro lá fora, sem os postes para iluminar as ruas do condomínio. “Falta de luz de madrugada? Essa é nova…”

Depois de sucessivas tentativas fracassadas de desligar o nobreak para fazê-lo calar a boca, resolveu que fechar a porta do quarto teria que bastar. Voltou e deitou-se para continuar seu sono. Se tivesse aproveitado aqueles últimos minutos de bateria tanto do notebook como do nobreak, poderia ter descoberto na internet que não era uma mera falta de luz. Pela manhã ambos os aparelhos já estariam sem carga e sua chance escorregou por pouco. Bom, ele teria que descobrir as coisas no caminho. Que história chata seria, se o herói já soubesse tudo de partida, não é mesmo?