Day-to-Day

Reminiscências II.

June 17, 2009

Eu menti no post anterior. Acho meio injusto falar de um lado todo da família, pra depois falar do outro. Intercalemos, pois.

Enquanto na casa dos avós baianos, a vida era agitada, calorenta e sempre com muita coisa para fazer, então, pode-se dizer que havia uma grande diferença em relação à casa dos avós paulistas.

Esse lugar sim, fica num limbo mágico. Não faço a menor idéia de onde fica nessa cidade (mentira, eu sei sim, perguntei para meu pai, já faz algum tempo), e os momentos tinham um clima muito diferente. A casa em si era pequena, mas tínhamos um grande quintal como extensão, um jardim protegido pelos muros, além de a rua toda na frente da casa. Uma ruazinha praticamente sem carros, só com casas pequenas e algumas árvores.

Não são tantas as coisas que lembro, porque éramos bem menores quando moramos em Campinas (outra fase), mas lembro de algumas, sim.

Lembro de Morgana, a doberman do Mané, pela qual ele pulou em pelo Tietê (para resgatá-la depois de uma fuga apressada pelo portão), e também o mesmo bicho que escondia a cabeça dentro da privada ao som de fogos de artifício. Lembro de uma oficinazinha no quintal, mantida pelo Mané.

Foi por aqui que aprendi a brincar com ímãs e lentes de aumento. Ficava a manhã inteira queimando formigas (o sádico) e folhas mortas.  Ah, no fundo da casa também tinha um canteiro com grandes girassóis, e outro habitante ilustre da casa: o Lôro! Papagaio falante e muito esperto, que dava ordens para a cachorra!

Depois de uma manhã brincando na rua com os vizinhos, ou caçando tatuzinhos-bola no jardim, a Carmen chamava a gente para o almoço, um gnocchi ao molho bolonhesa, com muito queijo ralado e que até hoje não encontrei igual, nem sequer parecido. À tarde ia esfriando conforme o Sol se escondia, e a gente se agasalhava bastante porque fazia frio de noite.

Aí as atividades eram mais calmas, dentro de casa. Ver um filme (o clássico “A Ilha Mágica”, com tubarões que vivem debaixo da areia, e piratas, e chiclete), ou ouvir histórias dos avós, ou só ir deitar mesmo, até a cama ficar quentinha e dormir. Minhas breves experiências com gude e subir em árvores se derão nessa época.

Pela manhã, bem cedo, ia com o Mané ao longo de alguns quarteirões, até uma banquinha que vendia miniaturas de carros, em plástico colorido. Aí ele me deixava escolher um, e a gente voltava pra casa. Tinha uma verdadeira frota. Era um momento de grande alegria. Eu ficava com um sorriso radiante pelo resto do dia. hahaha!

Ahh, e as longas jornadas no Gurgel. Sim, um Gurgel, meus caros. Aquele carrinho nacional, de fibra de vidro. Eu e Lila acreditávamos que o Mané conseguia levantá-lo numa mão só! Não sei de onde nasceu a lenda, mas, até bem pouco tempo atrás eu acreditava piamente nisso! Tinha um buraco no chão, no banco de trás, que era nosso “banheiro emergencial para xixi” ao longo das viagens! Era emocionante ver o asfalto passando rápido lá embaixo.

Os natais eram ocasiões à parte. Um pinheiro ocupava um canto bem considerável da sala. Luzes piscavam, presentes se amontoavam e toda a família se reunia numa sala pequena a noite era guiada por conversas, risadas e comidas natalinas. Estranho isso de falar de xixi e logo depois de natal, né? Enfim…

Era bem boa aquela casa com sotaque galego. Bem boa mesmo.

  • Donk June 19, 2009 at 9:56 pm

    Esses dois últimos posts me deixaram com uma pontinha de inveja… Não da sua infancia, pois acho que tem que ser cada um na sua história – e estórias. A pontinha se refere a querer o dom de escrever sobre uma fase tão “filosofavel” como essa.

    Beijo, meu velho!

  • Tito Ferradans June 20, 2009 at 7:30 am

    Puxa vida! Obrigado, Donk!
    Beijo!