Day-to-Day

Argumento Único.

June 16, 2010

Desde sexta feira os dias têm sido uma loucura quase completa. Nada como um exercício envolvendo filmagens! A proposta vocês já conhecem, do post anterior, o sujeito que toma chá com a Morte. Olha só que coincidência, é o mesmo sujeito do desenvolvimento de personagem! Ah, a boa e velha interdisciplinaridade (mais conhecida como “reciclando trabalhos de uma matéria para eliminar trabalhos de outras”)! Mas essa loucura toda está sendo o ponto alto de um processo iniciado mais ou menos um mês atrás, quando começamos o tal Argumento Único.

O Argumento Único é um exercício onde, entre várias propostas de histórias curtas são escritas pelas pessoas da turma, e então uma delas é selecionada (por maioria de votos). A partir daí, a sala foi dividida em sete (talvez seis ou oito) grupos de cinco pessoas, e cada grupo deveria escrever seu roteiro, a partir daquele Argumento.

Argumento é o resumo do resumo do resumo da trama. A forma mais sintética. Passamos uma semana pensando nos personagens, elaborando em detalhes, tendo idéias para a trama, rabiscando e rascunhando (até tarot a gente usou como referência para o personagem da Morte). A próxima etapa era apresentar o roteiro. Ok, conseguimos escrever tudo em uma tarde, apresentamos. Uma única ressalva: tá meio longo, vocês correm o risco de não conseguir filmr tudo numa diária [de filmagem]. Tudo bem, vamos adiante assim mesmo. A gente é cabeça-dura pra essas coisas. Eu, particularmente, sou muito teimoso no que é relativo a filmagens e complexidades. Resolvemos filmar no apartamento da Mari, no fim de semana do dia dos namorados. Tenso. Ouvimos muito “o espaço é reduzido, vocês vão encontrar problemas pra colocar as câmeras”.

A próxima etapa era apresentar uma decupagem (divisão do roteiro em planos), storyboard e planta baixa da locação, já com as posições de câmera e dos atores em cada plano. Mais uma tarde de reunião e pronto. Fizemos quase uma história em quadrinhos. Confiram vocês mesmos.

A criatividade foi tanta que não conseguimos seguir o modelo estabelecido, e tivemos que reformatar tudo, no modelo de três colunas onde, numa página, a primeira coluna narra a ação, a segunda é o storyboard e a terceira é a planta. Tá aqui na minha mão agora, vamos entregar no começo da semana que vem.

Fizemos mais uma reunião, na véspera. A tal sexta-feira referida no começo do post. Levamos toneladas de equipamentos de luz e som da USP até o diminuto apartamento. Levamos coisas de casa também. Refletores, câmeras, lâmpadas, relógios, comida, roupas, fita crepe (salva vidas), roteiros e pilhas de papéis. Ah, e um mancebo. Passamos a tarde inteira arrumando luzes, fazendo testes e ouvindo ainda mais vezes “vocês não vão conseguir, tem muitos planos, muitas posições de câmera, e ainda não ensaiaram o texto”. Fizemos a ordem do dia, escolhendo cuidadosamente que planos seriam filmados em que horário. No elenco, Victor (namorado da Mari) e o pai dele, o Zé Roberto (um dos responsáveis pela ressurreição desse computador).

Na véspera, passei parte da noite trabalhando no formulário a ser preenchido pelo Sr. Simões, que analisa sua situação em vida e oferece opções para o pós-vida. É o nosso “Programa de Pontos”. No dia a impressora se rebelou e não imprimiu elementos azuis. Saiu tudo meio magenta. Triste, mas tivemos que seguir assim mesmo.

Retomando… Ao fim da reunião de sexta, estávamos todos meio tensos e doentes (muito doentes, muitos de nós). Ah, e eu nem comentei ainda sobre a expectativa gerada em cima do trabalho do nosso grupo em particular. Todo mundo tá comentando e esperando pra ver o que vem por aí. Não podíamos decepcioná-los não é mesmo? Fomos pra casa (cada um pra sua), e marcamos no dia seguinte (Sábado), às 8h da manhã. Começaríamos a filmar às 9h.

Grande sonho. Começamos com 40 minutos de atraso. É muito. Fomos lutando, plano a plano, contra o relógio, levando a câmera de um lado pro outro. A luz montada no dia anterior funcionou perfeitamente, acelerando nosso trabalho ao extremo. Trabalhamos com um esquema de luzes fixas para o set. Até agora me orgulho do nosso por-do-sol artificial, que durou das 8h da manhã até as 8h da noite. Pra completar a ilusão e dar nó na cabeça de todo mundo, um relógio pregado na parede, como parte do cenário, indicava 17h o tempo todo.





Quando chegamos à hora do almoço, estávamos 15 minutos adiantados. Deu até tempo de fazer uns planos que tínhamos abortado, com medo de faltar tempo. E esses planos foram fundamentais na montagem, feita no Domingo. Terminamos a diária às 20h, exatamente de acordo com nossa previsão. Todo mundo morto. Desproduzimos tudo. Tiramos luzes, guardamos cabos, câmeras, microfones, comidas, relógios, xícaras quebradas, re-montamos a casa (que tinha sido praticamente desmontada na véspera), e por volta das 23h estávamos terminando de passar as coisas pro computador.


Nossas caras ao terminar a diária. Desesperador, não?

Viemos pra cá, eu com uma mochila enorme por baixo do casaco, parecendo uma corcunda, e mancando, só pra fazer graça, até chegar no táxi. Uma vez aqui, começamos a passar as coisas do macbook pro meu computador, via pendrive. Não era a coisa mais rápida ou esperta a se fazer, mas quem liga? Enquanto isso, já íamos verificando as tomadas que deram certo, e renomeando tudo. Fomos dormir às 3h, quando começamos a embolar as palavras dos arquivos de áudio que teríamos que sincronizar. Ah, claro, isso tudo sem comentar o susto ao perceber que faltavam absolutamente todas as imagens de um cartão de memória. Nosso desespero absoluto durou mais ou menos dez minutos, quando uma busca generalizada no mac apontou a localização dos fugitivos.

Comemos uma pizza, rimos pra caramba, todo mundo bêbado de sono, falando de abacaxis (suculentos, deliciosos, e por aí vai), e por fim caímos no sono. O planejado era começar a montar às 8h. Grande sonho, de novo. Começamos às 9h, encerramos o expediente às 22h. Conseguimos (heroicamente) montar o filme todo. Não ficou perfeito, porque o primeiro corte nunca é perfeito. Mas adiantou muito.

Ontem, comecei a trabalhar nas cores e umas correções de pós, como sumir microfones, acertar luz, tempos, e compor o último quadro – de longe, o mais complicado. Agora a parte de imagem do filme já está completa. Tenho uns ajustezinhos a fazer, coisas pequenas. E temos todo o som pela frente. Em breve, por aqui, com mais detalhes sobre sua produção!