Day-to-Day

Associação de Memória.

February 11, 2011

Levanta a mão quem não tem memórias associadas a coisas! Que coisas? No meu caso, músicas são exemplos bem fáceis. Tenho várias coisas associadas a músicas. Por exemplo, AC/DC – You Shook Me All Night Long me lembra “noites viradas jogando Neverwinter Nights em 2005”.

Beirut (as músicas, não o sanduíche!) me lembram “a mudança pra São Paulo”, Weird ‘Al Yankovic – Pancreas me lembra “Daniel, professor de biologia do Etapa”, mais uma do Weird Al’ – Drive Thru me lembra “Juliana Riccio, a bróder que foi morar fora”, enfim, eu podia ficar citando exemplos a noite inteira. Agora que o conceito tá explicado, você também já tá lembrando de várias das suas? Mas músicas não são um caso único. Tenho memórias associadas a imagens, sons, nomes e, o que pretendo abordar, comidas e cheiros!

Primeiro a parte boa da história. Nunca fui muito saladístico. Desde sempre, dispenso as plantas na minha alimentação, abrindo exceção apenas para couve-flor e, depois de um tempo, brócolis. O brócolis faz parte da história. Essa incorporação começou quando vim pra São Paulo. Na falta de coisas decentes pra comer em casa, encontramos um brócolis congelado que é sucesso. Minha mãe começou a tradição, e Lila é adepta forte do brócolis entupido de azeite.

A memória associada ao brócolis se dá no Reveillon de 2009 pra 2010. Como a segunda fase da FUVEST era logo no comecinho de Janeiro, e São Paulo e Salvador são cidades muito distantes, preferimos não arriscar, e virar o ano por aqui mesmo. Estávamos eu, meu pai e minha mãe, olhando a noite pela varanda, depois de uma incursão até a Paulista só para descobrir que preferíamos ficar em casa, em nossa própria companhia. A fome bate, e lá fomos nós até a cozinha. Na falta de alimento mais relacionado à virada de ano, acabamos apelando pro brócolis. Foi o melhor brócolis que eu já comi na vida, e desde então, sempre que vejo ou como brócolis, me lembro desse dia.

Primeira parte já explicada! Faço aqui um breve interlúdio para ambientar esse post no dia de hoje. Estava indo almoçar, hoje, claro, quando – pela primeira vez em muito tempo almoçando no mesmo restaurante – decidi colocar brócolis no prato. Logo vi uma garrafa com um líquido amarelo e não tive dúvidas: “Azeite!”. Grande erro. Vinagre. O elemento chave para a segunda parte da trama do post!

Aposto que vocês estão achando que tenho alguma memória culinária associada a vinagre – a menos que você seja minha mãe, ou Lila, que sabem EXATAMENTE a memória que tenho de vinagre -, mas, provarei que vocês estão errados! Enquanto muita gente pensa em “vinho”, “química”, ou “salada” quando vê, ou sente cheiro de vinagre, eu só tenho uma coisa em mente: piolhos! Oh yeah, avisei que era surpreendente, não?

“Mas por que vinagre, Tito?” – Motivo simples! Minha mãe, sempre muito radical, não acreditava nos shampoos tradicionais de matar essas pragas de cabelo, que toda criança pega na escola. Nem confiava tanto no scan de pente fino diário. Saído de algum lugar remoto da medicina não-tradicional, chegou a seus ouvidos que VINAGRE matava piolhos. Como fazer pra manter o vinagre na cabeça dos moleques, entretanto? Toucas plásticas, oras bolas! Tão simples!

Então, lá estávamos nós, todos os dias, por longas semanas, ou meses, já não lembro mais, com toucas de banho na cabeça por inúmeras horas por dia, em casa, com o cabelo entupido de vinagre. Sei que vocês são criativos e conseguem imaginar o cheiro que saía quando a gente tirava a touca. O pior é que essa desgraça funcionava, e os piolhos não voltavam, por um bom tempo. Mas quando voltavam, tome-lhe mais vinagre, porque essa segunda geração já era mais forte, e acostumada aos remédios da medicina traidicional…

Retomando a história, agora vocês já sabem que brócolis me lembra ano-novo e vinagre me lembra piolhos. Na hora que eu joguei o suposto azeite no prato, ainda tive uma breve esperança de que fosse qualquer molho bizarro na face da Terra, e não vinagre, mas quando sentei, e o cheiro subiu, foi foda. Tive que sair catando grãozinhos pra comer/não comer e, a todo instante, esperava ver pequenas pragas saindo das arvorinhas de brócolis, soltando fogos de artifício… Foda.

  • Tito Ferradans February 11, 2011 at 8:34 pm

    Acho que esse post se encaixa como exceção absoluta do modelo atual do blog. Ele não fala de cinema, nem de AV, nem tem fotos, nem links… Só memória mesmo!

  • May February 11, 2011 at 9:30 pm

    Meu avô também usava vinagre para essa mesma finalidade! Há!

  • May February 11, 2011 at 9:34 pm

    Ah, e quando eu tava estudando pra fuvest, minha mãe sempre procurava na internet maneiras de você se lembrar do que estudou na hora da prova. Um dia, faltando uma semana pra primeira fase, ela falou pra eu estudar o que faltava na revisão com um limão do lado e, no dia da prova, levar o limão num saquinho. Daí, o cheiro forte da fruta faria também uma associação de memórias, me ajudando a lembrar do que estudei. Acabei não fazendo isso, mas achei deveras interessante.

  • fátima February 11, 2011 at 10:25 pm

    Tito! Ontem, no Encontro de Compositores, uma dupla contou que eles usavam os cheiros para inspirar suas criações. Começavam dizendo: vamos fazer música com cheiro de quê? E um dia fizeram uma música com “cheiro de saudade”… Que cheiro será esse? Será que é irmão do cheiro de música que tem dentro de nossos carros?… Belo post! (emociona e diverte)

  • fátima February 11, 2011 at 10:27 pm

    May, você me contou essa história do limão aqui, dentro do carro, enquanto a gente esperava Tito na farmácia. Lembra?

  • May February 11, 2011 at 10:47 pm

    Lembro! Sabia que você se recordaria! Saudades muitas.

    Quero Encontro de Compositores de novo, aaaaaaa!

  • fiuza February 12, 2011 at 12:17 pm

    Cara,

    Ri demais aqui! hahahaha!!!
    Pois bem, não só Lila, e seus pais sabem de suas aventuras com vinagre.
    Ainda lembro de um moleque franzino, com o cabelo mel cacheado (e com um rabicho na parte de trás do cabelo) cheirando a vinagre no CSP.
    Há!
    EU LEMBRO!
    =D