Day-to-Day

Batismo de Tinta.

February 13, 2010

2009 foi um ano caótico, com direito a muitas idas e vindas entre Sudeste e Nordeste. Também foi um ano de estudo, porra, foi muito estudo, mais ainda do que as idas e vindas entre Sudeste e Nordeste.

Depois de tanto estudo e tantas “idas e vindas” (tô ficando cansado de repetir isso), finalmente se alcança o que se almeja: uma vaga na USP. AÊ! Aê! aê! A Muito pulo, muita gritaria, palavrões a dar e vender, comemorações célebres, telefonemas de todas as partes.

Massa, agora, quando é a matrícula? Segunda, massa. De manhã, massa! Como vai pra USP?

“Ôô, Lucas, que ônibus eu pego pra USP?”
“Ah, tem vários! Aqui na frente você pode pegar o 7181, um laranja, ou então o azul, que diz Cidade Universitária”
“Massa, obrigadão.”

Documentos em mãos, logo cedo já estou no ponto de ônibus. A memória é ótima pra pregar peças na gente, não é mesmo? De algum lugar obscuro da minha mente, tive CERTEZA que Lucas falou pra NÃO pegar o azul. Passaram três, seguidos. SEGUIDOS. Fiquei lá, plantado, passaram outros vários ônibus. Quando eu já tava desanimando (desacostumado dessa vida imprevisível de pegar ônibus), eis que surge ele, brilhando com todo o seu laranja berrante, vindo da Paulista e descendo (subindo?) a Augusta. 7181.

Entrei, paguei, sentei. Cochilei. Acordei quando o envelope de documentos escorregou da minha mão, caindo direto no pé do sujeito que tava sentado ao lado. Lutei pra ficar acordado. Fui dormir muito tarde e acordei muito cedo. Chegamos aos portões da Universidade de São Paulo. Uaaaau, é aqui que eu vou estudar! Muito ânimo e euforia espantam o sono.

Vou observando todas as paisagens, rótulas, carros, pessoas, cachorros, plantas, arbustos, árvores, placas, pontos, bicicletas e escolas lá dentro. Quase um animalzinho preso numa jaula, atônito, movendo a cabeça de um lado pro outro e absorvendo cada detalhe do mundo que passa do lado de fora das grades enquanto ele se move.

“Dúvida mortal… Pra que lado fica a ECA aqui dentro? Putaquepariu, devia ter perguntado isso pra Lucas também.”

Num dado momento de sagacidade, tive certeza que a ECA era do lado da Poli. Depois de o ônibus ter parado em uns três pontos diferentes na Poli, concluí que isso era um sinal e desci. Caminhei cegamente numa direção, com toda a certeza do mundo, sabem? Cheguei num portão de saída da USP. Confusão. “E agora? Ahá, guardinhas de azul!”. Fui até eles, me reorientei. Bem, parece que eu andei tudo na direção errada.

Voltei o diabo do caminho TODO, e mais um pedaço que andei de ônibus quando já deveria ter saltado. Achei a ECA. Já mais orientado, achei o local de matrícula. Eu estava de branco (grande erro), fui andando, todo contente e serelepe em meio àqueles banhos de tinta, com cabelo comprido, camisa branca RELUZINDO e sorriso maroto no rosto.

Duas garotas se aproximaram, perguntando se eu era bixo. “Sou!”, respondi com todo o orgulho que pude. Logo de cara tomei uma ducha de tinta azul na cabeça, e várias mãos de verde na camisa. Imediatamente surgiram vários outros veteranos. Um sujeito com uma tesoura pergunta meio sério, meio brincando “E esse cabelo, pode cortar?”. “Vim aqui pra isso, né?” respondo, e o sujeito começa a libertar sua criatividade. “Posso fazer um Van Gogh?”. Risos. “Não, obrigado”. “Só um pedacinho da orelha! Por favoooor!”.

Vou andando em meio a pinceladas e mãozadas de tinta até a banca de senhas. Pego a minha e começo a encontrar meus futuros colegas de aulas. Nesse meio intervalo entre pegar a senha e fazer a matrícula, fui assolado por uma tempestade de tinta vermelha, além de ganhar uma máscara, facilmente confundível com Zorro, mas que na verdade representa o Robin. Ah, a camisa, não sei o nome, e Vick já dormiu, então não dá pra perguntar, enfim, ficou um negócio que é aberto atrás e fechado na frente, típico de mulheres. Tão típico ao ponto de um veterano virar pra mim e falar “Tito, toda vez que eu te vejo de costas, acho que é uma menina, aí olho pra sua cabeça e vejo que o cabelo tá muito destruído, que nenhuma menina permitiria isso. Aí que eu lembro: porra, é o Tito!”

Só consegui tirar fotos em casa, depois de cruzar a cidade de volta no PRIMEIRO ônibus que apareceu depois que eu saí do fuzuê. A única foto do trote que eu apareço… tcharam! Estou de costas. Ridículo. Quem sabe numa outra vida eu sirvo pra modelo de fotos trotescas.

Agora, só alegria de novo, porque tenho que aproveitar as férias. Aulas começam dia 22 e o pique tá no máximo!

Obrigado por me acompanharem nessa jornada (isso vale tanto para a jornada que foi o email, como a jornada que foi um ano e meio de cursinho e um ano e meio de São Paulo, até a conquista suada da vaga) e por todas as mensagens e conversas encorajadoras (isso não faltou, obrigado mesmo, pessoal).

Particularmente, quero agradecer a meu pai, que em algum momento de 2008, afirmou categoricamente “Se é isso que você quer fazer, faça numa faculdade DECENTE!”. Pronto, agora sim, obrigado pelo empurrão inicial e pelo grandioso apoio nesse caminho, pai!

Chega de mensagem!
Beijos para todos e todas.

Tito Ferradans – ALUNO USP.

  • Mila February 13, 2010 at 1:29 am

    feliz feliz feliz, muito feliz por você!
    quero todas as manhas depois :) :) :)

  • fátima February 13, 2010 at 8:20 am

    no parto/nascimento, mãe e filho ultrapassam os umbrais da vida e da morte. E, quando ele nasce, as lágrimas ungem a pele dos dois e a mãe se torna a guardiã da vida do filho bebê. O pai, por perto, encoraja e observa. Cresce o bebê que se torna um menino, que cresce e se torna um adolescente que sonha. O pai observa. O menino quer ir rumo ao sonho e o pai o desafia – “Se é isso que você quer fazer, faça numa faculdade DECENTE!”-. Lança-o no estreito caminho da solidão. Pra nascer dali, só o próprio esforço. Não há salvação vinda de fora. Agora é sem mãe, que apenas reza e observa. O pai lança o filho no caminho da morte. Morte do menino. Se não morre o menino, não nasce o homem, o guerreiro. O pai sabe disso porque ele próprio já passou e sobreviveu. Não é só a entrada numa universidade, é plantar o destino com os próprios passos. É regar o destino com as próprias lágrimas. É colher o destino com as próprias mãos. É construir o destino com a força do próprio coração e das próprias escolhas e atitudes. Esse é um grande passo que você deu no caminho da sua vida. Atravessou esse umbral. E, aí, recém-nascido, foi ungido com tinta!. Não mais com lágrimas. Palavrões – coisa de homem – foi o que saiu da sua boca, não choro. Eu, mãe, agradeço a minha parte: eu sou a ‘putaquetepariu’! e que te admira muito.

  • Vick February 13, 2010 at 3:31 pm

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!
    Eu sempre soube que você conseguiria!:D
    E ah, não me conformo de estar na faculdade quando você chegou assim. Eu não teria deixado você cortar o resto dos cachos! Ia ficar um cabelo styyyyyyle, pô.
    Te amo, gordo!

  • fátima February 14, 2010 at 6:56 am

    lembrei-me do batismo de sangue, na chegada em sampa.

  • Tito Ferradans February 14, 2010 at 7:29 am

    A idéia era justamente estabelecer esse paralelo! Haahahah

  • julia February 15, 2010 at 1:51 am

    fiquei muito feliz com essas coisas que eu li! feliz por vc, feliz por nós, feliz pelo ano ter sido tao doloroso e no fim ter dado tudo certo!
    quer dizer que cortou o cabelo? uowwwwwwwwwwwwww. Hasta dia 22.. dizem que o esquema é tenso! hauahauh

  • Lila February 15, 2010 at 6:23 pm

    ficou gatão, hein, CARA?!

  • FiuzaLima February 22, 2010 at 5:12 pm

    Só pra deixar claro: VOCÊ BROCA!

  • Tito Ferradans February 23, 2010 at 11:05 pm

    Obrigado, povo! :D