Day-to-Day

Battlefield 4

June 16, 2014

Battlefield 4 NÃO é o quarto volume da franquia First Person Shooter Battlefield, é o décimo. Iniciada em 2002 e mantida pela EA Games e Digital Illusions CE (DICE), as primeiras versões eram apenas multi-player. O jogo saiu em meio à toda febre em torno das lan-houses, no início dos anos 2000, e competia com outros shooters populares como Counter Strike, e, em ambientação, com as séries Medal of Honor e Call of Duty, também baseadas em cenários da segunda guerra mundial. O grande diferencial de Battlefield para seus concorrentes era o tamanho dos mapas, e a enorme variedade de veículos e opções de estratégia. Não era uma correria alucinada como Counter Strike, nem tão perto de tanta violência e sangue voando para todos os lados.

A primeira engine usada no jogo foi a Refractor (Battlefield 1942 e Battlefield 2), que acabou substituída pela engine “da casa”, Frostbite, desenvolvida pela DICE, e que a cada nova versão traz inovações na interação e física do jogo. Essa é uma das partes mais divertidas – e dignas de destaque – em Battlefield 4: TUDO pode ser destruído. Um inimigo está escondido dentro de uma casa, atirando pela janela? E por que não mandar a parede pelos ares? Ou melhor, por que não mandar a casa toda pelos ares? Se na maioria dos jogos existe um limite para o estrago que balas podem fazer, Battlefield se esforça para não seguir esses limites.

Essa “ausência” de limites, combinada com mapas de até 64 jogadores, objetivos variados, muitos veículos e arsenal praticamente infinito fez surgir na internet a gíria dos Battlefield Moments, que são situações possíveis apenas NESSE jogo e que nenhum outro é capaz de proporcionar (“an unbelievable, intense moment of action involving daring feats, wicked stunts and, of course, lots of explosions”). E é comum as pessoas gravarem suas partidas, para fazer edições de seus melhores Battlefield Moments.

Mas, como coloquei nos outros posts, não vou falar de multi-player, porque não é minha praia. Só fiz um pouco de propaganda porque é realmente muito absurdo, e tenho acompanhado o jogo desde a primeira versão, sem nunca me decepcionar. As primeiras versões, jogava nas lan-houses, depois, jogava sozinho contra milhões de bots (que solitário!), e ainda assim me divertia muito.

A partir de 2010, com a versão Bad Company, a série começou a introduzir campanhas single-player, mas não cheguei a jogar essa. O primeiro single-player de Battlefield que joguei foi em BF3, e é avaliado por muitos como uma das piores campanhas de shooters recentes. Gostei bastante, ainda assim, impressionado com a acuidade visual, o clima de cinema, e ação fazendo sentido, em missões ao redor de todo o globo, numa corrida contra terroristas nucleares que tem seu ponto de partida no Iraque, passa por Paris, com agentes russos disfarçados e termina em New York.


Isso é um screenshot, não uma animação!

O jogador entra na pele de Daniel Recker, um soldado da marinha americana, esquadrão Tombstone, a bordo do navio de guerra USS Valkyrie. Saímos então dos clichês de terroristas islâmicos do oriente médio e agora temos uma China super militarizada, comandada pelo Almirante Chang, que pretende afundar toda a tropa americana ao seu alcance, provocando assim uma nova guerra mundial. A chave para impedir essa crise é Jin-Jié, um homem resgatado logo no começo da história, mas que não sabemos ainda ao certo o seu papel. Diferente de seus predecessores, em Battlefield 4 não temos combates de grande escala. Temos combates menores, cujo objetivo é evitar o começo da provável guerra. Você não vai encontrar hordas infinitas de inimigos em nenhuma missão, mas passa por alguns lugares mais bem protegidos do que outros. Os cenários são Baku, no Ajerbaizão, Xangai, uma prisão secreta nas montanhas do Himalaia, Singapura, uma fuga cruzando o pequeno vilarejo de Tashgar e mais duas a bordo de barcos – uma no USS Titan e outra pela sobrevivência do USS Valkyrie.

Battlefield 4 ainda não tem uma campanha incrível, são apenas 7 missões, onde cada uma dura aproximadamente 30-40 minutos, jogando no Hard e apanhando dos controles do PS4. Ou seja, é uma coisa curtinha, e meio desencontrada, as missões não são muito amarradas, e os personagens secundários são realmente rasos. Os personagens que participam ativamente das missões (Hannah, Irish, PAC, Dunn e Recker – o jogador) são mais profundos e você consegue se identificar com eles em vários momentos, trazendo uma característica de relacionamento, questões de confiança e contato humano em meio a toda camada base de tiroteios e ação, e muitas vezes com discussões acaloradas em meio aos combates – geralmente os personagens de shooters são retratados como máquinas de matar, que não pensam muito sobre o contexto geral da história, ou sobre as coisas que fazem. Então, é um grande ponto positivo.

Acabei de ver também que os personagens têm A MESMA cara dos atores (o que é algo bem comum em animações para cinema, mas bem menos frequente na indústria de jogos. Vejo com bons olhos, uma vez que não cria “personagens ideais”, impossíveis de existirem no mundo real.

Bom, voltemos ao que interessa: uma das missões conta com a participação de um personagem da campanha de Battlefield 3, Dima Mayakovsky, em uma intrincada fuga da prisão. Dima, assim como Garrison, Kovic, Jin-Jié e o Almirante Chang compõem o time de personagens secundários, e são clichês ambulantes. Chang é um supervilão, que só aparece em uma cena curta, mas todas as tropas chinesas obedecem ao seu comando. Jin-Jié é uma versão de Ghandi chinês, Garrison é o comandante do USS Valkyrie, e representa a lógica militar, sem emoção. Todos bem fuleiros, e felizmente nenhum fica muito tempo presente.

Como tinha falado de Killzone, que faltavam momentos mais emocionantes, Battlefield tem de sobra. O jogador participa de perseguições terra-ar, tem explosões em câmera lenta, barcos partindo no meio, explodir uma represa, cruzar uma cidade inimiga abrindo o caminho na base da bala, aviões explodindo e turbinas voando em direção à câmera, tudo com um nível de realismo e imersão que te fazem rir e curtir cada situação de forma mais intensa do que num filme, afinal, você não tá acompanhando alguém se meter naquelas enrascadas, você tá participando ativamente em tudo que acontece, e se a missão dá certo ou não, isso tem relação direta com escolhas que você fez – mas isso já é tema pra outro post.

Agora, chegamos à parte que mais colabora para minha imersão em Battlefield: o visual. O nível gráfico é fantástico, e o jogo conta com várias escolhas estéticas muito bem sucedidas, especialmente no que diz respeito a luz e câmera. Temos muito contraste, backlights lindíssimos, flares anamórficos e partículas desfocadas para dar e vender – nesse ponto, do alto da minha nerdice, percebi a maior diferença entre a versão para PC e para PS4: o bokeh produzido pela “lente” que vê o jogo. No PC, tudo é desfocado como se fosse uma lente catadióptrica, em círculos ocos, enquanto o PS4, por questões de processamento, não é capaz dessa opção, além de apresentar menos profundidade de campo, para lidar melhor com margens duras e esconder um pouco das – poucas – imperfeições gráficas do jogo.

A inteligência artificial dos adversários é bem eficiente no Hard, e eles usam cobertura, suppressing fire para dificultar seu avanço, se escondem para recarregar, tem boa pontaria, apelam para granadas e mísseis, e em muitos momentos você vai se esconder atrás de uma pedra, preparado para sair correndo para outra, enquanto recupera um pouco de vida, e foge de tiros inimigos. Battlefield 4 não é aquele jogo que você vai avançando a todo custo, e os inimigos vão caindo a seus pés. É preciso ter um pouco de estratégia antes de cada investida, mesmo que seja “inventando enquanto corre”, e ficar sempre de olho em cobertura, porque qualquer mureta pode salvar sua vida, e também pode ser mandada pro espaço pelas balas adversárias. Não há lugar 100% seguro num tiroteio de BF4.

Nota: 9.5/10

Tô elaborando (mais) um post mais detalhado sobre jogos e filmes, mas enquanto isso, não tem como negar que essa primeira missão é MUITO cinematográfica. Não só em termos visuais e sonoros, que são absurdos, mas em termos de eventos, viradas e surpresas, como tá difícil achar em um único filme de ação. E olha que dura menos de vinte minutos! A coisa é rápida: apresenta os personagens, apresenta a situação, tem clima, tem adrenalina, escolhas difíceis, boa trilha musical, e uma dose de interatividade pra mandar tudo goela abaixo. O desenvolvimento do arco longo pode até ter seus problemas, mas esse começo é imbatível.

  • TFerradans. · Disrupting Shooters. June 21, 2014 at 2:35 am

    […] Edge, por sua vez, foi lançado entre os dois jogos, em 2009, pela DICE (mesma desenvolvedora de Battlefield), aproveitando o boom que o movimento do Parkour (ou free-running) teve no fim da década de 2000. […]