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Co-Respondentes – Parte VII

September 1, 2009

Co-Respondentes

Ele atende.

— Rafa, eu já vi muita coisa estranha nessa empresa, mas uma estagiária sair correndo e chorando pela porta da frente, em menos de cinco minutos é bem inédito. Algum comentário a fazer?
— Nina, não me amola agora. Você tem como me passar o celular dela?
— Da Luísa? É pra já.
— Obrigado.

Nervoso e inquieto, Rafael dá voltas ao redor da mesa na sua pequena sala enquanto disca o número de Luísa. O telefone chama pelo que parece ser uma eternidade. Ela atende com a voz ainda um tanto receosa.

— Alô?
— Luísa?
— É ela, quem gostaria?
— É o Rafael, aqui da agência.
— O que é que você quer?
— Olha, desculpa, a gente precisa conversar. Onde é que você tá?
— Não sei –
ela hesita – não sei se é uma boa hora.
— Se não for agora, não vai ser depois.
— Tá… Eu tô aqui fora. Saindo da agência, atravessa a rua, na pracinha.
— Tô indo praí
– ele completa, já apressado, abrindo a porta para o corredor que agora é completamente silencioso, quase fúnebre.

Saindo da agência, ele atravessa a rua em meio ao escasso trânsito e, atrás do ponto de ônibus que ele chega no trabalho, realmente existe uma praça. “Nunca reparei nesse lugar… Cadê a garota?“. Sentada num banco próximo a uma velha fonte de águas esverdeadas está Luísa, ainda com rastros das lágrimas no rosto corado. Rafael se aproxima lentamente, organizando na cabeça as coisas que pretende falar. Ela, escondendo o rosto com as mãos, chega um pouco para o lado, dando espaço para ele sentar-se no banco.

— Oi – ele tenta.
Ela não responde.
— Só eu que vou falar, não é?
Nada de resposta. Ele continua, mas olhando para frente, em direção à fonte.
— Tudo bem, que fez a besteira fui eu, nada mais justo. A situação é mais ou menos o seguinte: em primeiro lugar, peço desculpa, porque minhas atitudes foram qualquer coisa, menos “educadas” ou “profissionais”. E tem mais isso… Durante a faculdade, muitos dos meus professores favoritos diziam que estagiários são atrasos na vida de um publicitário. Indiretamente, eu absorvi isso pelo visto, mas pra falar a verdade, nunca passei pela experiência, e admito que é puro preconceito da minha parte. – mudando de postura, ele passa a olhar na direção da garota, esperando que ela fale algo, ou pelo menos tire as mãos do rosto – Acho que o jeito é tentar e ver se vamos conseguir funcionar juntos. Quem sabe, por esse caminho, a gente não consegue um contrato que preste pra assinar embaixo? Pode ser esse o nosso acordo?

Vários instantes se passam em silêncio enquanto Rafael continua olhando em direção a ela, ao passo que a jovem revela seu rosto ainda choroso mas um tanto menos carregado.

— T… tá… Acho que pode ser esse…
— Tem mais. Já que é pra tocar o barco a sério, eu não quero uma estagiária que faça coisas corriqueiras. É pra entrar com a mão na massa, estudar conceitos, dar sugestão, ir a reuniões. Apesar de, no papel, você ser minha subordinada, quero que seja algo mais como uma parceria. Não te tratarei nunca mais como tal, e você não me trata como chefe. Ok?

Luísa esboça um sorriso de canto de boca que rapidamente se expande por todo o rosto da garota. Rafael levanta.

— Por um novo começo? – ele estende a mão para ela, que aceita a gentileza para levantar-se.

Ela sorri e concorda com a cabeça. É a primeira vez que se tocam.

  • fiuzalima September 1, 2009 at 11:31 pm

    Cara, você é genial…

  • Samy September 2, 2009 at 8:37 am

    Adoro a sua narrativa… tem um “que” de… não sei o que… mas adoro mesmo assim.. mas continuo afirmando: não suma com a Carol ahhahaaha.. ta paraecendo até que ela me contratou para lutar pelos direitos trabalhistas dela de “atuar” no conto! hahahahaha
    Vi sua mensagem ontem mas preferi deixar pra ler o conto hj.. ontem n foi um dos meus melhores dias…
    Mas mesmo assim, teve um ponto positivo, começei a escrever uma história…. mas precisamente um conto.. e adivinha quem me inspirou??

  • fiuzalima September 2, 2009 at 12:11 pm

    pq isso aqui agora é moderado? o.O

  • Tito Ferradans September 2, 2009 at 1:18 pm

    Sempre foi moderado. Mas, quando eu aceito o primeiro comentário com um nome associado a uma conta de email, os outros ficam desbloqueados. Se mudar o nome, tem que liberar de novo, se mudar o e-mail, a mesma coisa. :D

    Obrigado Samy! Algumas pessoas já falaram desse “que”, mas nunca consegui traduzir. Carol há de reaparecer, não se preocupe. Andei estruturando os próximos capítulos. Hmm, depois quero ler esse tal conto! hahahah! Que seus dias melhorem.