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Criação de Personagem [Reloaded].

June 14, 2010

Simões Buonasera, 45. Nativo da Itália, mudou-se para o Brasil, com os pais, quando tinha cinco anos. Seu pai morreu antes que ele completasse oito anos, num acidente de trabalho. A mãe, morreu também, na noite em que Simões completava 15 anos. Normalmente não tem sotaque na voz, mas consegue forçar um pouco a pronúncia para conquistar o agrado de possíveis clientes.

Simões é um agente funerário. Tem sua própria empresa no ramo funcionando há mais de 15 anos, com uma diminuta equipe de três pessoas. Gosta muito de seu trabalho e definitivamente tem um tato para lidar com pessoas e famílias aflitas, que estão passando por momentos de dificuldade causados pela partida de um ente querido. Teve a idéia de seguir nesse ramo depois de ter que resolver, praticamente sozinho, todos os processos de enterro da mãe quando ainda era jovem, mas levou quase cinco anos entre ter a idéia da agência e sua fundação.

Abandonou o estudo formal assim que concluiu o ensino médio. Nesse tempo, trabalhou como assistente de carpinteiro para um dos mais habilidosos artesãos de móveis do bairro, requisitado por todos os vizinhos. Com a morte de seu mestre, reuniu todas as suas economias, investindo no seu próprio negócio. Durante seu tempo de aprendiz, aprendeu muitas coisas e incorporou tradições italianas, mas, o seu aprendizado mais importante foi como lidar com os clientes. Simões é sempre muito simpático, conquistando facilmente aqueles que conversam com ele por alguns minutos.

Gosta de aproveitar a vida consumindo, sempre que pode, do bom e do melhor, principalmente em termos de alimentos. Tem o hábito de, após o expediente na loja, que termina às 17h, subir para seu pequeno apartamento e tomar uma fumegante xícara de chá ingles que lhe custa uma pequena fortuna. Entretanto, abandona seu prazer se o telefone tocar com um novo serviço. Nunca se aborrece ao ser convocado, seja essa convocação durante a madrugada ou no meio do fim de semana.

Ele mesmo já está acostumado com a imagem da morte e perdeu o medo de morrer. Imagina que passar para o outro lado deve ser uma grande aventura, mas não acha que apressar as coisas seja algo que valha a pena. Costuma filosofar sobre os procedimentos do pós-morte, para os mortos. O que acontece no campo dos vivos ele domina. Se pergunta se a burocracia é parecida, ou se ela sequer existe. Se pergunta sobre a existência de um “céu” ou “inferno”. Se interessa bastante por histórias de pessoas que foram dadas por mortas e depois despertaram (comas prolongados, ou ressuscitação graças a procedimentos médicos).

Faz visitas frequentes à ala de doentes terminais de alguns hospitais do bairro – sempre a pé – e, no começo, era considerado interesseiro, por conta de sua agência. Os médicos, enfermeiras e até mesmo alguns doentes acreditavam que ele só estava ali para conseguir mais clientes. O fato é que ele gosta de estar próximo da morte, e conversa longamente com os enfermos, sobre todos os assuntos, também conversa bastante com os médicos, e atualmente já é até querido no hospital, tendo alguns milagres atribuídos à suas visitas. Apesar de estar constantemente por lá, apresenta saúde de ferro e não foi internado uma vez sequer, ao longo de sua vida.

Mora sozinho no andar de  cima de sua funerária, na Moca, em São Paulo e é conhecido por todos nas redondezas. Passou pela vida sozinho, mas não é triste por isso, vê sua solidão com um certo orgulho, um sentimento de lobo caçador, conhecido e respeitado. Considera que “aproveitou razoavelmente bem o seu tempo no plano dos vivos”, em suas próprias palavras. Nunca se casou, nem teve muitos relacionamentos amorosos ao longo da juventude, ou filhos. É amável à toda e qualquer pessoa que lhe dirija a palavra (exceto àqueles que consideram seu trabalho como mau agouro), mas não se sente realmente próximo de ninguém, no máximo tem orgulho dos dois rapazes e da moça que trabalham tão bem em sua agência funerária.

Acredita que pode controlar o aspecto final de sua existência humana, ou seja, a forma que vai morrer. Seu maior objetivo é descobrir o que acontece do outro lado da vida, antes de chegar lá, por isso a funerária e as frequentes visitas ao hospital.

  • Tito Ferradans June 14, 2010 at 7:02 pm

    Vale ressaltar a maquiagem expressionista do personagem. Hahahaha! :D

  • fatima June 17, 2010 at 11:24 am

    fiquei viajando em como D. Morte vê a relação dos humanos com ela. Afinal, não somos seus únicos clientes, também morrem plantas, animais, estrelas… Amei este post e estou curiosa, doidinha pra ver o filme. beijos