Day-to-Day

Do Outro Lado.

January 20, 2010

Quando comecei a vir pro Arraial, em Junho de 2002, eramos, no máximo, trinta acampantes, divididos em dois ou três grupos de idade, poucos monitores, algo num clima bem “familar” mesmo. Hoje são cento e oitenta crianças em seis grupos de idade. Pode-se dizer que o acampamento cresceu um bocado nesses oito anos.

Eu nunca tinha parado pra pensar como seria estar do outro lado. A única idéia constante é que deveria ser divertido do mesmo jeito.

Dá pra afirmar, com muita margem de acerto, que os acampantes fiéis da nossa época foram tão apaixonados pelo espírito do Arraial que todos voltaram, assim que puderam, do outro lado da equipe. Antes, acampantes, hoje, monitores. Era comum falar que queria voltar como monitor, mas não dava pra prever que nossas promessas e vontades seriam tão determinadas assim. Olhando a mesa de reuniões ontem, pude reconhecer todos os rostos que cuidaram de nós quando menores, lado a lado com os nossos, numa mesma família, num mesmo intuito de fazer felizes também muitas crianças como fomos feitos um dia.

O sítio estava silencioso e cada um contava como tinha sido seu dia, suas dificuldades, dúvidas, comentários. Apesar da larga experiência como acampantes, essa era a primeira temporada, para muitos, como monitores. Acreditem, é algo completamente diferente. Eram agora monitores, lado a lado com os monitores que foram seus monitores!

Estar no time do Arraial é mais que um trabalho, é mais que um compromisso, é uma alegria indescritível. É todos os dias acordar e pensar que o dia vai ser mais animado e cansativo que o anterior, e isso ser motivo mais do que suficiente pra levantar e encarar a legião de crianças no café da manhã. É tomar banho frio todos os dias sem nem considerar uma reclamação e usar um shampoo diferente a cada dia, emprestado dos acampantes que nem sequer sabem disso. É dar risada de todas as piadas (sem exceções), sejam elas engraçadas ou não, é sorrir o dia inteiro, é gargalhar nas conversas da madrugada. Ser acampante e depois entrar pra equipe é relembrar os velhos tempos, tentando sempre fazer melhor que nossos mestres que agora são colegas.

Sem sombra de dúvida, o Arraial é minha aldeia, e todos que passam por aqui são irmãos, de sangue e de história (ou seria “de sangue e de selva”, de acordo com Zen – Jan2009). Não abro mão de nenhuma temporada, por mais difícil que ela seja – por motivos internos ou externos. A memória torna impossível cantar a última alvorada, no último dia, sem tremer a voz ou derramar uma lágrima. O Arraial é minha aldeia.

Trilha: Jarbas Bittencourt – Aldeia Arraial (Alvoradas e Outras Canções)

  • fátima January 20, 2010 at 4:15 pm

    o “Arraial”, mais que sua aldeia, é também sua Tribo (uma delas!). Tito, esse post tem a mesma temática do ‘a meus pais’, parece que esse é o ano de você constatar que está podendo se colocar – concreta e simbolicamente – do ‘outro lado’. Você cresceu, cara!
    Parabéns e beijos