Day-to-Day

[DOC] Jogo de Cena.

October 28, 2011

Eduardo Coutinho, facilmente pode ser considerado o melhor documentarista brasileiro. Ao longo de toda a sua filmografia, ele sempre levantou a questão de que um documentário ser um filme no qual nos dispomos a acreditar. Em Jogo de Cena, Coutinho acaba com essa relação, colocando uma série de mulheres para contarem histórias que marcaram suas vidas, e entre elas, atrizes, que também contam histórias.

A princípio, é bem clara a diferença entre quem é a real “dona” da história, e quem está interpretando, conforme ele alterna a montagem de uma mesma narrativa entre as duas mulheres – a real e a atriz conhecida. No entanto, conforme o  filme avança, ele não mais se utiliza desse recurso e nós não conseguimos diferenciar a quem a história pertence, pois ela é tão real e palpável independente de quem a conta.

Em termos de estrutura, o filme é composto por uma série de entrevistas, conduzidas pelo diretor, no palco de um teatro, onde a câmera está virada para as cadeiras vazias da platéia, o que coloca o espectador em cima do palco, também no papel de um personagem. E a regra fundamental do teatro é “comprar a idéia que seu colega começa”, regra que acabamos absorvendo inconscientemente conforme deixamos de nos importar se quem conta a história é uma pessoa ou um personagem.

Todas as histórias tratam de relações de perda, e tem como tangente a maternidade. Todas aquelas mulheres são mães, e grande parte do que elas dizem gira em torno desse fato. De com perderam seus filhos, o que fizeram quando eles se afastaram, como se sentiram – ou se sentem até hoje.

O mais curioso é quando Coutinho decide deixar momentos em que as atrizes não estão nos seus personagens, e levantam pontos sobre seu trabalho, como quando Marília Pêra explica o que faria se ele quisesse muito que ela chorasse enquanto dava o texto – o que é uma situação um tanto ridícula -, e a crise que Fernanda Torres passa, porque por melhor que ela esteja interpretando sua personagem, ela está “disputando” com uma pessoa de verdade, e nunca será tão boa ou convincente. “Quando você lida com uma personagem real, a própria realidade esfrega na sua cara onde você poderia ter chegado e não chegou”, ela diz.

O objetivo do diretor é de mostrar como atores se apropriam de textos alheios. Com Jogo de Cena, Coutinho questiona a definição atual de documentário, colocando muito mais assunto na discussão, e continua com essa linha em seu novo filme, As Canções, também num palco, mas dessa vez a câmera assume o lugar da platéia, e não temos mais as participações de atores ou atrizes.