Day-to-Day

“Não Acredito Que Não Tem Estúdio!”

October 21, 2014

Tem várias conversas minhas com a May que eu lembro de cor. Acho que a maioria delas, ela lembra também. Tem uma porém, que acho que ela não deu muita importância, mas pra mim foi, definitivamente, um ponto de virada sobre como encaro pepinos no trabalho. Estávamos no começo/meio de 2012, terceiro ano de Audiovisual, todo mundo se preparando pra filmar os Cines, que são curtas bem mais elaborados que os jobs, exercícios do ano anterior, onde as pessoas podem exercer suas funções específicas no set com mais conhecimento e cuidado. A grande diversão de fotografar um Cine, pra mim, era usar os “incríveis” estúdios do CTR, com luzes penduradas no teto, controles pra tudo, cabos por cima de tapadeira, nada de luz natural, controle total, essas coisas de fotógrafo/pós, sabe, essa pessoa que sou eu.

Aí o CTR aprontou mais uma das suas, e da noite para o dia nos foi informado que não poderíamos mais usar os estúdios. Puta que pariu, eu fiquei possesso. Obcecado, diria. Metade das minhas conversas com qualquer pessoa eram sobre esse assunto. Mais da metade das minhas conversas com a May eram sobre esse assunto. “Não acredito que não tem estúdio”, “Vai ficar uma porcaria, não dá pra fazer sem estúdio”, “Quero filmar em estúdio, a gente já tá no terceiro ano”, blá blá blá, mimimi – que pra mim parecia incrivelmente pertinente.

Um dia de noite, conversando antes de dormir, eu tava falando disso de novo e a May respondeu, com uma super naturalidade que me pegou desprevenido. “Meu bem, porque você não pára de reclamar disso, aceita que não tem estúdio e arranja um jeito de fazer o que você quer em locação mesmo? O tempo que você tá gastando nessa reclamação você podia estar melhorando sua fotografia”. O sono foi o coveiro dos estúdios, e quando o outro dia começou, eu já tava me dedicando a novos assuntos. A equipe toda do filme era legal, a equipe de foto era incrível e eu tava sendo um ignorante me preocupando com uma questão perfeitamente contornável.

O set foi divertidíssimo e com esse projeto deu pra ticar na minha lista de objetivos de vida “fotografar um noir, com direito a todos os extras” – muita coisa acabou não entrando no corte final, mas a gente usou. Tinha fumaça, tinha sombras, tinha mistério, tinha morte, suspense, luz e sombra contrastadas, pouca cor, um policial, uma femme fatale, tudo que se pode querer. Só não foi anamórfico porque eu não tava nessa pira ainda.

Mas, mais importante que o set, foi esse comentário da May, antes de dormir. De lá pra cá, sempre que alguma coisa explode no meio do caminho, se eu considero que é muito importante, eu insisto um pouco, se não tem jeito mesmo, vamos deixar pra trás e trabalhar numa nova solução. Acho que essa linha de pensamento vai voltar a ter muito valor ao longo da produção do demo reel. Continuem sintonizados para os próximos capítulos.