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Pai.

August 11, 2010

Tem muito mais de um ano que eu tento escrever esse texto. Me deparei com a foto acima, da última vez que nos encontramos em Salvador, e resolvi que ia escrever hoje.

Já li em muitos lugares e ouvi de muitas pessoas que, para um sujeito assumir uma identidade propriamente sua, tem que romper completamente com os pais. Discordo disso, em parte. Ou eu sou muito estranho, ou eu tenho pais ainda mais estranhos. Ou as duas coisas ao mesmo tempo. É bem fácil reconhecer que grande parte do que sou hoje, aprendi com esses dois, ainda que o post seja especificamente sobre Pai – mãe, o seu fica para outra ocasião. Hahahaha.

Não é fácil seguir os passos de um cara bem sucedido como esse. Dá pra ficar a noite inteira escrevendo situações tão incríveis envolvendo o sujeito que parecem mesmo ficção.

Apesar de não conversar com meu pai o mesmo tanto que converso com minha mãe, e de ter admitido em terapia que tinha um “medo irracional” do comandante da casa, essa fase passou. Quando paro pra ver minha forma de ser e encarar a vida, noto muito mais traços do senhor Luiz do que qualquer outra pessoa. Tenho a loucura de dona Fátima, mas a calma, planejamento e silêncio de meu pai se inflamam mais fortes e muito mais marcantes.

Já levei broncas muito sérias – e bem merecidas – por parte dele, mas também foi assim que aprendi a conversar e argumentar para defender meus próprios interesses. Ele não é o tipo que toma uma posição exclusiva e se fecha para o diálogo. Quando numa conversa envolvendo decisões, ele ouve sempre até a última palavra, para depois passar um tempo em silêncio e, por fim, falar o que pensa sobre aquilo tudo. Aprendi que as decisões não têm que ser tomadas às pressas, e que são muito melhores quando pensadas por algum tempo.

Aprendi também que, se você tem um sonho, corra atrás dele. Não fique esperando que te carreguem. Meu pai é bem dessa filosofia, porque passou a vida toda assim. Ninguém nunca carregou ele nas costas, e ele teve que ir ao encontro de tudo que quis até agora. O metodismo é fantástico, e eficiente. Primeiro, ver onde quer chegar. Depois, os caminhos, prós e contras de cada um, pensar um pouco mais sobre eles, decidir um e sair derrubando os obstáculos a todo custo.

Acho que dá pra falar bem dessa “situação” em relação ao ano passado. Ano de cursinho. Meu pai também fez cursinho. Abriu mão de todo o resto da vida, pra poder entrar onde queria (Geo-USP), seguiu sozinho o sonho. Quando eu vim pra cá, ele sempre ligava. Toda semana, perguntava como iam os estudos, se tava dando pra acompanhar, se eu achava que tava valendo a pena, se ia dar pra passar. Eu podia encarar isso de duas formas. Primeira: ele não acreditava que ia dar certo. Segunda: na verdade, essas perguntas todas me faziam perceber que nada daquilo era em vão, e que tinha que ser assim pra chegar ao fim com sucesso. Preferi encarar da segunda forma, quando sei que muitos outros parariam na primeira interpretação. Estudava duro todos os dias, pra sempre poder dizer que as coisas iam bem (ainda que isso matasse uma boa parte de qualquer conversa), e provava isso com notas. O resultado não podia ser diferente.

Não sei bem ao certo, acho que a gente tem tanto em comum, que as palavras muitas vezes são desnecessárias. Entretanto, quero deixar absolutamente claro que não dava pra ser melhor do que é, pai. Como se fosse aquela coisa de menino pequeno, de provar pro outro que um pai é melhor que o outro. Eu não tenho que provar nada pra ninguém, você simplesmente É o melhor que eu podia sonhar em ter.

  • Tito Ferradans August 11, 2010 at 10:10 pm

    Participação especial de Lila em todas as fotos, e de mamãe Fátima na terceira imagem. :D

  • fatima August 12, 2010 at 9:09 am

    Tito! Lindo texto e um belo depoimento/reflexão desse encontro. Tem gente que vai chorar. Eu abri a fila das lágrimas…

  • Getro Guimaraes August 12, 2010 at 10:53 pm

    Eu estou logo atrás nesta fila…

  • Lilia August 13, 2010 at 8:05 am

    Tito,

    seu depoimento é poético, verdadeiro e lindo. Imposível não chorar. Impossível não me orgulhar de conhecer vcs de tão pertinho…
    Ai, como é bom ter amigos como esses!!!!!