Day-to-Day

Review: Adaptador 35mm.

December 16, 2009

Afinal, o que é um adaptador 35mm? Como vocês podem ver na foto, há um, não tão discreto, prolongamento anexado à câmera. O prolongamento é constituído por uma lente 35mm – de máquina fotográfica mesmo – e, tcharam, um adaptador, para que nossas humildes câmeras miniDV consigam enxergar o que a lente fotográfica enxerga.

Com essa nova “visão”, é possível diminuir drasticamente a Profundidade de Campo (Depth of Field, ou DOF) nas nossas imagens. Profundidade de campo é o quanto da imagem se encontra precisamente focado, e é definida pela abertura da lente naquele momento. Quanto maior a profundidade de campo, mais planos estão focados. Com um campo mais raso você consegue dar destaques específicos em cada quadro. Ilustrando a explicação, as imagens abaixo são idênticas, exceto que a primeira tem maior profundidade de campo em relação à segunda, que por sua vez, tem um foco mais específico em algumas folhas, e parece mais com o famoso “film look”.


Existem motivos técnicos suficientes pra que nossas filmagens com miniDVs tenham tão pouca semelhança com uma 35mm. Fatores relacionados ao tamanho do CCD e sua distância em relação à lente. Pensei em entrar nos detalhes e minúcias da coisa, mas acho que o Sigma Rumors explica tudo muito bem, com desenhos e números comparativos que eu jamais seria capaz de fazer. Ah, e nesse mesmo link há um guia de como fazer seu próprio adaptador.

O adaptador utiliza um vidro fosco, situado na distância focal da lente fotográfica (agora você se arrepende de ter faltado todas aquelas aulas de física), dentro de uma câmara escura. A câmera miniDV, por sua vez, pega foco nesse vidro (Ground Glass, como chamam os gringos). Fazendo uma analogia pitoresca, usar o adaptador é o mesmo que tirar foto de uma fotografia impressa, ou filmar um vídeo que está sendo exibido na TV.

Agora você pára e pensa na infinidade de marcas, encaixes e tipos de lentes fotográficas. Já está babando com seu mar de novas opções. Me sinto no dever de sabotar seus sonhos. Você PODE, de fato, usar vários tipos de lentes, mas, em poucas situações vai alcançar um bom resultado. Cruel, não? Eu também acho. Pense nas lentes como devoradoras de luz. O que para nossas câmeras pode ser suficiente, em termos de iluminação, é uma mixaria para qualquer lente dessas. Então, o que acontece? Surge vignette, mais popularmente conhecido como “aquelas bordas escuras nos frames”.

Esse problema tem uma solução que, por sua vez, é a combinação de alguns fatores e informações.

Primeiro: Você tem que aproveitar o máximo de luz disponível. Para tal, é preciso que a lente escolhida tenha grandes aberturas (f-stops com valores baixos). Em fotografia, lentes com zoom não têm tanta abertura e, ao usar o zoom, você diminui ainda mais a dita cuja. Desta forma, sobram para nossos propósitos apenas as lentes Prime (nome particular para lentes sem zoom), geralmente as 50mm (essa é outra medida, que não tem relação com os 35mm) com f-stops entre 1.8 e 1.2, permitindo a entrada de bastante luz e, por consequência, pequenas profundidades de campo. Lembrando: f-stops menores absorvem MAIS luz, e PEQUENAS profundidades de campo garantem um foco mais específico e delicado.

Segundo: Mesmo com bastante luz entrando, esse não é um sistema ideal, então seu quadro não fica totalmente iluminado. Nada que aquele pouquinho de zoom não resolva quase completamente (parte do zoom natural da filmadora ainda funciona com o adaptador – no meu caso, vai até 3x antes de perder abruptamente o foco), eliminando as bordas mais escuras. Para resultados ainda melhor trabalhados, recomendo tratar a imagem no After, com uma Adjustment Layer, máscara elíptica, feather e o efeito Exposure, usado com cuidado.

Definida a lente, ainda faltam alguns detalhes a serem definidos. Para encaixar o adaptador em sua câmera, é preciso que você conheça o Thread Size da mesma. É aquele numerozinho, indicado em milímetros, ao lado do símbolo Φ(Phi, do alfabeto grego).

Vale ressaltar que existem diversos anéis que podem aumentar ou diminuir seu Thread Size, de acordo com a necessidade (comprados separadamente, como era de se esperar).

Se você for um bravo guerreiro, existem inúmeros tutoriais de como construir seu próprio adaptador. Este aqui é apenas um exemplo deles. Caso algum de vocês, corajosos leitores tentar criar o seu próprio, entre em contato para debatermos o assunto! Fazer um troço desses vai muito além dos meus limites pessoais, portanto, eu simplesmente comprei o meu (ou “paguei para um corajoso fazê-lo”, em outras palavras). Depois de muito pesquisar e fuçar no eBay, me decidi pelo Jag35, modelo Static, pois o Vibrating extrapolava o orçamento.

A justificativa para tal diferença de preço é bastante aceitável. O static é o adaptador, e só. O Vibrating inclui um motorzinho e baterias que provocam suaves trepidações no Ground Glass, escondendo maravilhosamente bem aquelas pequenas sujeiras na lente e deixando a imagem ainda mais macia e mais film look. Eu não preciso de tudo isso, não a esse preço!

Algumas opções são oferecidas ao longo da confecção do produto, como Thread Size (37mm ou 43mm) e o encaixe das lentes (Canon FD ou Nikon), ambos obsoletos em relação às lentes produzidas atualmente, então você só poderá conseguir lentes usadas, o que é um ponto negativo, pois se fosse um encaixe moderno (Canon EFS, por exemplo), você poderia utilizar a mesma lente, tanto na filmadora como numa fotográfica SLR.

Mais uma vez, fica claro o atraso do mercado nacional em relação a essas tecnologias. Depois de muita pesquisa e algumas dicas, encontrei o único provedor desse equipamento nas terras tupiniquins. Apefos. Não me levem a mal, mas eu não compraria por uma série de razões. Em primeiríssimo lugar, o preço exorbitante (R$700, o modelo mais barato), além da aparência amadora das fotos e do site mal trabalhado.

Comparando preços – todas essas contas e cáculos foram feitas utilizando o dólar a R$1,74 – gastei exatamente US$193 (US$98 do adaptador, mais US$20 de despesas com postagem e US$75 na lente com frete grátis). Todos foram entregues nos EUA, e uma amiga trouxe os equipamentos para o Brasil. Mesmo que fossem despachados internacionalmente, isso elevaria os gastos em aproximadamente US$30 e o prazo de entrega para algo em torno de 20 ou 30 dias. Tanto a lente como o adaptador não são passíveis de impostos porque são, respectivamente, um produto usado e um manufaturado. Por mais demorado e dispendioso que seja esse outro caminho, ainda é muito mais em conta que a opção nacional.

Por fim, ainda sobra um problema que não comentei: as imagens ficam de cabeça para baixo na hora de filmar. Isso é até compreensível. Nossos olhos também vêem de cabeça pra baixo e é o cérebro que inverte a imagem. Ser compreensível não significa ser fácil de lidar. Na verdade, é uma das maiores complicações da coisa, filmar com todas as direções invertidas. Ou você pratica MUITO, ou faz uma adaptaçãozinha com um espelho, ou, por fim, compra um monitorzinho LCD, desses de carro mesmo, televisão portátil – com suas sete, oito polegadas – e acopla à câmera usando as saídas de imagem (RCA) da mesma. Ainda não providenciei um, mas estou de olho nos que têm bateria interna ou funcionam à base de pilhas. A maioria desses aparelhinhos também tem entrada para fones de ouvido, permitindo monitoração do som ao longo do processo de gravação. Assim que tiver testado a combinação, dou um upgrade no post.

  • Ferradans. · [Anamórficos XXV] Letus35 e SLR Magic. September 14, 2013 at 12:36 pm

    […] a empresa foi uma daquelas que fazia adaptadores de lentes SLR para câmeras mini-dv – que nem isso aqui – e depois ficou fabricando rigs, peças de alumínio e outros brinquedos menos específicos. […]