Day-to-Day

Sete Dias.

July 6, 2014

Uma semana de aula, com um feriado no meio (dia primeiro foi Canada Day), e só agora tive tempo pra contar historinhas, começando pela mudança, do apartamento do Wyll para o meu próprio!

Era pra ter sido no domingo (passado), mas não tinha ninguém da administração do prédio por aqui, então ficou pra segunda feira. Por sorte não tive a última aula, e deu pra voltar pra casa perto de 2:30pm. No domingo eu rodei o mundo inteiro pra providenciar as coisas que faltavam (roupa de cama, toalhas, pano de prato, papel higiênico, produtos de limpeza, uma poltrona, e TUDO mais que vocês imaginarem). Foi só aí que percebi que montar uma casa é FODA! E toda hora você descobre que tá faltando alguma coisa fundamental!

Eu e May queríamos uma poltrona colorida pra dar vida na casa, e então fomos procurar no site mais útil quando novo em Vancouver: craigslist. Tem TUDO. Coisas de segunda mão, coisas novas, muita coisa de graça – é só passar e pegar! E foi lá que achamos uma poltrona bonita. Nova, custava $180. Essa tava por $50. Falei com o pessoal que tava se desfazendo dela (estavam se mudando para Alberta), e combinei um horário (no mesmo domingo!) para resgatá-la. Precisava providenciar uma bike também, então saí com duas horas de antecedência, para passar em várias lojas de bicicletas novas, usadas, caras e baratas.

Assim que saí do metrô, tava começando a chover. A cadeira e UMA loja eram na direção oeste, e SEIS lojas de bike eram pra leste. Pensei em começar primeiro rumo leste, achar uma bike boa no processo e acelerar a volta me deslocando sobre duas rodas. ÓBVIO que não achei uma bike decente nessa lojas, né? Andei de loja em loja, e nenhuma tinha nada interessante. Algumas tinham bikes boas, mas caras, outras tinham bons preços, mas bikes muito pequenas pra mim. Resultado, tive que andar quase cinco quilômetros da loja mais extrema a leste até o loja do lado oeste. Se quando eu saí do metrô tava choviscando, agora já tava um toró desgraçado, e como eu tava com horário marcado com o povo da poltrona, não dava pra esperar a chuva passar. Depois de cinquenta minutos empenhado nessa volta, caminhei tanto que cheguei no fim da nuvem de chuva. E aí era Sol. Muito Sol.

Cheguei na última loja de bicicletas – que era a mais perto de casa, e por isso deixei por último, e também perto de onde eu ia pegar a poltrona – e lá estava ela, me esperando. Paguei menos da metade do preço de uma nova ($150, quando as novas custam quase sempre muito mais de $300). Fui de bike da loja até o pessoal da poltrona, e de lá peguei um táxi pra deixar tudo em casa. Na portaria do prédio encontrei coleguinhas de sound design, que estavam indo comprar tupperwares. Vancouver é uma cidade é pequena! Desde que comprei a bike, estou andando muito com ela pela cidade. Estar no trânsito é que me fez perceber como as ruas são vazias de carros. É muito tranquilo, e seguro, andar de bicicleta em Vancouver. Fiz o trajeto casa-escola em 10 minutos. A pé, levo meia hora. Durante a semana, só andei com ela. Ontem saí pra almoçar aqui perto e só então percebi que não passava pelo Lobby há sete dias.

No Sábado (passado) eu já tinha ido aqui na esquina de casa, pegar um colchão de casal, DE GRAÇA, de um casal de irlandeses que estava voltando pra sua terra natal, depois de 2 anos e meio no Canadá. COLCHÃO DE GRAÇA! E excelente, em termos de qualidade, conforto e conservação! O Wyll tem um box pra colocar embaixo dele, e deixar com cara de cama, mas, por enquanto, é só um colchão no canto da casa mesmo.

Nessa jornada de compras e missões de Domingo eu andei 17.5km a pé (como referido no post anterior!). Imagina como minhas pernas não tavam adorando isso no fim do dia. Deitei e morri, pra acordar quarenta minutos antes do despertador, na segunda, para o primeiro dia de aula.

Continuando de segunda feira, depois da aula. Cheguei no apartamento e a reforma tinha trocado o piso, de carpete pra madeira (YEEEAAH!!), repintado tudo, turbinado uns armários, trocado tudo no banheiro, cortinas da sala/quarto, e tudo mais. Claro, tava tudo cheio de sobras de obra, poeira pra todo lado, uns armários ainda tinham sujeira do dono anterior, a louça toda eu tinha pego de graça com um casal de brasileiros que tava voltando pro Brasil, então também precisava lavar.

Peguei uma vassoura emprestada com o Wyll e comecei a brincadeira. Fui de três da tarde a dez da noite até terminar de arrumar tudo, colocar as coisas nos armários, esvaziar a mala, guardar comidas, limpar o banheiro, tirar umas coisas perdidas do fundo dos armários, comer três vezes durante o processo, sair pra comprar detergente (de bike, claro!), porque não tinha ainda, carregar móveis prum lado, carregar móveis pro outro, varrer a casa toda de novo, levar o lixo pra garagem, levar mais lixo pra garagem, levar MAIS lixo pra garagem – numa dessas idas, achei duas almofadas da cor do piso, que já carreguei pra casa -, devolver as coisas do Wyll e, afinal, dormir, totalmente exausto, mas muito feliz por estar na minha casinha, em ordem, e ainda sem internet.

Vivi sem internet em casa de segunda até sexta, quando o técnico da Shaw veio aqui e instalou tudo. Eu tava na escola, então deixei uma chave com o Wyll e ele me fez a gentileza de acompanhar o técnico durante a instalação. Agora já estou internetado, e tudo é muito mais fácil, especialmente escrever nesse blog!


Apartamento, uma sala vazia sem mesa, mas com bike!

Agora, a parte interessante: a VFS é sensacional. É tipo a estrutura do CTR, com mais bom gosto e MUITO mais dinheiro. O prédio onde tenho aulas é um grande corredor circular, com salas de aula concentradas no centro e nas laterais. Tem mais uns quatro ou cinco prédios pra outros cursos, mas não tive a chance de conhecê-los ainda. A turma tem 28 pessoas, só dois canadenses, e só UM de Vancouver. Graças à última semana eu já conhecia muitos dos meus coleguinhas, porque fizemos várias coisas pela cidade, então a integração já tá meio caminho andado. Eles recomendam muito que a gente se una e forme um time, porque isso afeta bastante a performance geral da turma.

O ritmo é bem puxado. Conhecemos os supervisors do curso, e de cada área de especialização (Animation, Modeling e VFX). Todos muito gente boa, e com muita experiência de mercado. Conhecemos também a administradora geral do curso, e vimos muitos demo-reels (que são vídeos mostrando coisas feitas pelos alunos). Num dia normal, a gente tem três aulas de três horas. Começando às 9am, intervalo de uma hora para almoço ao meio dia, e retorno de aulas à 1pm. A última aula começa às 4pm. Nessa primeira semana tivemos aulas teóricas e práticas, mas tudo muito interessante e bem planejado. A escola é bem séria, não pode faltar mais do que 3 aulas a cada term (2 meses), e a média tem que ficar sempre acima de 65% pra passar, senão eles consideram que você não tá absorvendo o conteúdo, e tem que repetir a matéria, como dependência (enquanto cursa o term seguinte ao mesmo tempo). Por enquanto tô tranquilo, mas sei que logo mais vão começar a chover tarefas.

Temos duas aulas de História dos Efeitos Visuais e Animação por semana, e essas têm forte semelhança com as aulas de História do Audiovisual, na USP. Só que o professor é um brincalhão, que fica mostrando as coisas mais pitorescas antes e depois da aula, tanto que a galera fica assistindo, mesmo depois que acaba. Semana passada a gente viu um reel (em um projetor 16mm) daquelas homenagens feitas na cerimônia do Oscar, de 1986. Como a aula acabou bem depois do horário, deixamos um curta de Chaplin para uma futura ocasião. A segunda aula ele abriu com várias aberturas de cinemas da década de 1950 (sabe aquelas coisinhas de “seguro allianz” e similares? Era beeeem diferente, e hilário. Fechou então com “Dumb Ways to Die”, e ainda cantou junto com o vídeo, encorajando uma galera a cantar também. Surreal e maravilhosamente upbeat.

Durante as aulas, vimos MUITA coisa foda sobre a Disney, as inovações que eles trouxeram, assim como os irmãos Fleischer (criadores de Popeye, Betty Boop e outros), inventores que nas décadas de 1920 e 1930 projetaram e aplicaram conceitos que continuam sendo usados até hoje, em todas as produções e softwares. Essas aulas, combinadas com o que vemos nas outras matérias, realmente fortalecem nosso background, porque a gente passa a entender COMO aquela função específica foi criada, como funcionaria (no mundo real, fora do computador) e REALMENTE abre os olhos para como as animações do passado eram incrivelmente absurdas de se desenhar (um ser humano ficava assistindo água cair nas folhas, por horas, tomando notas e rabiscando coisas, pra poder replicar a realidade nas animações, por exemplo! O mesmo vale pra fogo, vento, lava, coisas quebrando, anatomia e o escambau).

Tivemos uma introdução muito hardcore ao Maya (programa de modelagem, animação e o caralho, em 3D), e tô estudando um bocado por conta própria, pra não ficar pra trás. Depois que você começa a entender o que tá acontecendo na tela, até que tudo parece fazer sentido. Ele só não é muito amigável com desconhecidos. Tivemos também uma aula envolvendo os controles de animação do programa, durante a qual tivemos que fazer um exercício ao mesmo tempo que rolava o jogo do Brasil vs Colômbia. Mais da metade da sala tava assistindo a partida em seus monitores secundários, e o clima tava tenso porque temos três colombianas e dois brasileiros na turma. Felizmente, levamos a melhor.

Bom, chega de escrever. Vou voltar aqui pro Maya, que há muito a estudar!

  • Allysson Queiroz Rodrigues July 7, 2014 at 3:36 am

    Bah Guri admirável a forma como escreve. Olha que eu não sou muito de ler!

  • Luiz July 7, 2014 at 7:00 pm

    Essa música dumb ways to die é bom demais! Música, letra e a animation!!