Day-to-Day

Seu Roberto.

August 9, 2013

Como contei no post abaixo, tava providenciando uma tampa pra lente. Como a parada é quadrada, achar algo adequado que não seja uma tosqueira de papelão exige algum esforço. Levei primeiro na Sapataria do Futuro, onde fiz a tampinha da outra lomo, em Fevereiro, por R$70. Achei caro, mas como não tinha mais idéia de onde procurar, foi lá mesmo. E ficou pronta em dois dias.

Aí ontem eu fui lá com a lente nova. Cheguei umas 11h, expliquei a situação e a menina que me atendeu disse que quem ia fazer era uma tal de Rosângela, que só ia chegar ao meio dia. Ela disse para eu deixar a lente e voltar outro dia para resolver os detalhes do projeto. Ela claramente não sabia o quanto eu ainda tô apaixinado pela lente, e o quanto quero o kit afinal completo, protegido na segurança do lar. Pois bem, falei que voltaria mais tarde. Aí fui pro centro da cidade, resolvi uma pá de coisas e voltei. 12h30.

Entrei, e a primeira coisa que a menina me disse foi: “Ih, ela ainda não chegou. Tem como você vir outro dia?”. “Não, moça, não posso vir outro dia. Minha agenda é complicadíssima, preciso resolver isso HOJE. Façamos assim: quando ela chegar, você dá um toque no meu celular e eu retorno a ligação pra falar com a Rosângela, ok?”. E assim ficou combinado. 17h e nada de ligação. Pensando que o lugar ia fechar a qualquer momento, resolvi ligar. Falei com OUTRA moça, que não tinha a menor idéia do assunto. Quando ela começou a entender, disse que a Rosângela AINDA não tinha chegado. Sinceramente, putaquepariu, hein? Ela então se ofereceu pra me mandar uma mensagem no celular com o orçamento assim que infeliz chegasse. Concordei, e esperei.

19h30, fui ver no celular se tinha alguma novidade de orçamento e nada. Sabendo que a sapataria fechava às 20h, liguei novamente. Quem atendeu foi a tal Rosângela. Expliquei detalhadamente o que eu precisava, e ela disse que eu tinha que ir lá hoje – novamente! – pra explicar mostrando na lente. Ela disse também que só chegaria ao meio dia. Esse truque eu já tinha aprendido. Perguntei então, despretensiosamente, quanto ela achava que isso ia me custar. A resposta já praticamente resolveu a questão: “Ah, vai ser barato, uns R$150.”. Não deu nem tempo de conter as palavras. “Iiih! Então acho que amanhã eu vou passar só pra buscar! HAHAHA! Fiz uma aí um tempo atrás e custou R$70.”. “Ah, meu filho, mas isso tem muitos anos!”, “Não, não! Foi em Fevereiro mesmo!”. “Ah, então eu acho que não tô entendendo o que você quer fazer”. Beleza, fiquei de voltar lá hoje – Sexta – pra explicar a parada, e ver se fazia ou não.

Hoje não foi surpresa. Vacinado, só cheguei depois das 13h, e já encontrei de cara a infeliz. Expliquei DE NOVO o que eu queria, e ela disse “é, isso vai ser uns 150 mesmo”. “Bom, então eu vou levar de volta, e achar outra pessoa que faça, pelo preço certo”. Peguei a lente e me piquei. Subindo a Augusta, passei de volta na sapataria onde deixei a mala desinfetando, para resgatá-la. Não tá totalmente resolvida, mas deu uma melhorada. O conselho foi deixar no Sol, O MÁXIMO DE TEMPO POSSÍVEL. Providenciei um canto no térreo, atrás da garagem, que pega Sol quase o dia todo e vou deixar a mala por lá todos os dias, e recolher à noite.

Apresentei o problema da tampinha da lente e as duas mulheres de lá disseram que não daria pra fazer direito com a máquina que elas usam pra fazer os sapatos, mas que – afinal, o título do post – o Seu Roberto, aquele que me cobrou um cafezinho para arrumar a mala, poderia ter uma boa solução. Nessa hora eu já tinha subido muito a rua e tava carregando a lente, cinco quilos de arroz (almoço, oras) e a mala de novo. Tava meio pesado, resolvi vir em casa antes de sair novamente. Deixei a mala no Sol, o arroz na cozinha, e peguei a lente.

Para liberar a consciência, passei numa oficina de costura que fica aqui na esquina. Conforme eu ia explicando o que queria, a mulher do balcão ia ficando mais e mais aterrorizada, e quase chorou quando disse que não tinha a menor idéia de como fazer aquilo, que aquele serviço eles não faziam ali. Saí pensando que ela era um pouco dramática, e rumei para a oficina do Seu Roberto.

Ao mesmo tempo que reclamava do Sol, porque tá fazendo um calor infernal, pensava que era uma coisa boa na recuperação da mala. Cheguei, novamente à loja oculta, e encontrei Seu Roberto na mesmíssima posição que da última vez: sentado em seu banquinho, fumando um cigarro e olhando para o Sol do lado de fora. Cumprimentei-o, falei da mala, e disse que tinha ali uma parte do que viera DENTRO da mala. Quando coloquei a lente na mesa, ele foi arregalando os olhos, e juro que se tivesse orelhas de gato, elas estariam de pé, analisando com muita curiosidade e gosto aquele objeto.

Ele perguntou pra que servia, o ano que tinha sido fabricada – disse que adora antiguidades, e que as coisas de hoje em dia não são mais feitas com a qualidade de antigamente – e, por fim, o que eu queria fazer. Expliquei a idéia da tampinha que tinha, e ele rebateu com algumas sugestões. Aí ele já emendou, com brilho nos olhos, falando de uma época que a Canon fazia capas decentes para as câmeras, que usava um couro muito duro e especial, que você precisava cortar num dia, depois molhar e aí deixar exposto ao tempo durante uma noite inteira. No dia seguinte, o diabo do couro parecia uma massa, incrivelmente maleável, e ficava na posição que fosse colocado.

Com isso você usava um molde de câmera, fornecido pela Canon, e fazia a costura nos pontos necessários. “Era uma superproteção, naqueles tempos as coisas eram de outro jeito! Hoje em dia… hoje em dia o pessoal só quer o óbvio, ninguém tem mais curiosidade pra fazer sobre as coisas…”. Contei pra ele minha saga da Sapataria do Futuro. Assim que falei o nome da loja, ele fechou a cara e disse que “lá eles não tem gente competente pra fazer isso! Eu vejo sempre os serviços de mala que eles fazem lá, uma porcaria, uma porcaria, mas acho bom porque sempre vem pra cá depois, pra arrumar de verdade”.

Já encerrando a conversa, perguntei se dava pra fazer, ele disse que sim, que adora inventar essas coisas, mas que quase nunca aparecem pedidos desafiadores, ou interessantes por lá. Comentei que fazer coisas estranhas é minha especialidade, e que ele podia ficar tranquilo que logo mais eu certamente teria algo pra azucrinar a cabeça dele. Seu Roberto riu e balançou a cabeça em aprovação. Disse para eu voltar mais tarde – “Ah, umas quatro horas já deve estar pronto, só não digo pra você esperar aí mesmo porque se eu errar vou ter que desfazer tudo e arrumar de volta”.

Saí rindo e já pensando em qual vai ser o próximo desafio que vou levar para Seu Roberto. Esse ano eu tô sendo premiado com os velhinhos que dominam suas áreas. Depois escrevo sobre o Clóvis, que tá no topo da lista dos gênios.

  • fatima August 9, 2013 at 6:13 pm

    quando eu for aí, vou querer conhecer Seu Roberto!!

  • FiuzaLima August 28, 2013 at 3:01 pm

    Bater um papo com um tio desses deve ser show!