Day-to-Day

The Wanderer.

June 18, 2014

Vou dar uma animada por aqui, porque pelos últimos posts parece que eu só tô em casa, jogando loucamente, e escrevendo sobre isso, ou sobre coisas da internet. Bom, não é EXATAMENTE assim, na verdade, no Domingo eu terminei o último dos jogos de PS4 e agora o próximo que me interessa só sai 29 de Julho, então, nada de muita jogatina no futuro próximo.

Minhas programações de rua estavam reduzidas porque tivemos alguns problemas – demorados, mas já resolvidos! – com o banco, no Brasil, na hora de mandar qualquer dinheiro pra cá. Então, passei os últimos dez dias com US$300, pra tudo. Sobrou, claro, mas não dava pra ficar inventando moda, ou providenciar as outras coisinhas que estão faltando na vida. Como na quinta feira esse rolê da transferência já estava garantidamente resolvido, decidi que ia pegar um tempo da Sexta pra explorar, e adiantar as buscas de itens faltantes na lista de sobrevivência (tênis, bike e catan, resumidamente). Lembram daquele dia que eu andei pra caralho, passeando pela Cambie?

Pois então, a ÚNICA loja de sapato que tinha o sapato que eu queria era pras bandas de lá. Fazer o quê? Saí de downtown de novo, dessa vez pela Burrard Bridge (que está passando por reformas, e todas as plaquinhas informativas são muito meigas, de verdade). Os avisos de “cuidado, operários trabalhando” tem fotos de bebês, e os dizeres de “Drive carefully, my daddy works here!”. Achei muito mais empático que o padrão “Atenção! Obras a 500m”. Enfim, atravessei a ponte, e andei até a loja de sapatos. Claro que me perdi no processo, e andei umas quatro quadras na direção errada, mas nada muito grave.

Na loja, achei o sapato, mas tava tão cheia que acabei nem ficando pra experimentar. De lá, parti para uma loja de discos (que não era nada perto), pra ver se tava rolando um sorteio que a May queria participar. Aí eu caminhei. Putamerda, como caminhei. Logo no começo dessa etapa, resolvi comer uma das maçãs que tô carregando sempre na mochila. Delícia, sucesso. Agora preciso jogar fora esse miolo de maçã. E nada de aparecer uma lata de lixo. Andei QUILÔMETROS, e não achei uma porra de uma lata de lixo! E também não achei nenhum lixo na rua! Como não ia me render, embrulhei o bagaço num papel e coloquei no bolso mesmo. Já tinha virado uma questão pessoal, e eu ia jogar aquela porcaria no lixo nem que fosse EM CASA!

Bom, aí eu andei. Andei quase uma hora e vinte sem parar. Cheguei numa pracinha na Main Street, achei um lixo!!, e sentei para descansar. Pensei “Céus, tô mal, nunca precisei sentar pra descansar!”. Fiquei lá, bebendo água e pensando na vida por uns quinze minutos. Depois tomei coragem e me arrastei até a loja, 500m mais à frente. Lá, não achei a urna pro sorteio. Fui perguntar pro bróder da loja, e emperrei no inglês, porque não tinha a MENOR IDÉIA de como é “sorteio” em inglês, mas depois de uma ajuda do google – é “raffle”, fica a dica -, consegui terminar a pergunta. Preenchi um papelzinho sem vergonha e joguei numa urna muito escondida pro meu gosto. Respirei fundo, bebi mais uma água, e pensei em qual seria o melhor caminho pra voltar pra casa, com minhas pernas moídas. Ônibus? Nenhum por perto. A pé? Nem fodendo. Táxi? Se eu não tinha dinheiro, qual o propósito de pegar um táxi? Só sobrou mesmo o SkyTrain, a 1km de distância.

Mandei um Infected Mushroom nos fones de ouvido e ativei o piloto automático mental. Quando percebi, já tava na estação King Edwards, embarcando para casa. Só de sair aqui em downtown de novo já me deu um resto de energia pra conseguir chegar em casa. Fiquei preocupado, porque nunca tinha cansado tanto andando. Será que eu tô me alimentando mal? Aí fui fazer uma gracinha pra May, e calcular quantos quilômetros tinha percorrido. Fui marcando no google maps o caminho exato que fiz e… DEU DEZ QUILÔMETROS (tirando o pedaço de metrô, CLARO). Nessa hora o cansaço fez sentido, e fiquei bem menos preocupado com minha alimentação.

Pensa uma noite bem dormida. Foi essa. Dormi cedo, acordei tarde, descansei tanto que até me senti bem.

Tinha reservado o Sábado e Domingo para caçar móveis e coisas pra casa nova, mas Vancouver deu uma de São Paulo, e já que tinha feito sol a semana toda, caiu uma tempestade pavorosa nos dois dias, com direito a trovões com quase um minuto de duração – 46 segundos cronometrados. No fim não deu pra procurar móvel nenhum. Só deu pra ir num mercado que fica longe de casa (3km, ida e volta), mas é mais barato, pra comprar a comida congelada, e mais umas outras paradinhas alimentícias. Isso quando a chuva deu uma trégua, e fui tomando garoa no juízo. Domingo o Paul veio pra cá, contar da primeira semana de aula, e ficamos conversando muitas e muitas horas, animados com a vida. Domingo também foi o dia que escrevi um monte de posts por aqui, e terminei o último jogo (Call of Duty: Ghosts). Tava chovendo, que mais eu podia fazer?

Segunda também foi um dia light, consegui assistir um filme inteiro sem dormir – “Oculus” (“O Espelho”, em português), que é bem legal, e tem muitas sacadas boas de montagem e desenvolvimento, mas o final mais previsível do MUNDO, o que enterra bastante tudo que eu tinha gostado antes. Segunda eu só caminhei DUAS quadras, pra resgatar uma mesinha na casa de outros brasileiros, pra mobiliar nosso futuro apartamento. Ô mesinha pesada dos infernos! Meus braços estão doendo até agora! E só carreguei ela por uma quadra, parando de dez em dez passos. Foi mais cansativo que andar os 10km… Mas vai ficar bonita no apê, e é isso que importa.

Aí chegou hoje. Hoje o dia começou bem, com a confirmação do banco dizendo que a transferência tinha entrado. Pronto, já posso continuar a resolver minha vida! Fui no Amazon, e tava rolando uma MEGA promoção nos Catans. Comprei o bendito e já temos jogos marcados, pra começar a forçar o juízo de forma mais social do que no Playstation. Saí, fui no banco sacar um dinheiro, e voltei pra casa pra ver o jogo. Essa parte já tá contada. Não sei por que diabos fiquei achando que o dia já ia estar acabando quando o jogo chegasse ao fim. Como fui tolo…

O dia estava acabando, de fato. Acabando de começar! Tava caçando um telefone amarelo pra May, e mandando mensagens pra um povo da craigslist (preciso escrever um post sobre a craigslist, é tipo um “MercadoLivre da cidade”, uma invenção divina). Uma boa opção de compra era, adivinhem pra que lado? Aeee, exatamente, pro lado da Cambie! Aproveitei que tinha que comprar meu tênis – e devolver o do Wyll, que já tava emprestado há três semanas – e calculei uma nova rota.

De novo fiz a besteira de comer uma maçã sem achar o lixo primeiro, e fiquei carregando o miolo por muitos quilômetros. Tem coisas que a gente não aprende, né? Cheguei na loja, pedi pra experimentar o sapato. Achei que era tamanho 9 e meio. Não tinha. Só 9. Experimentei, e ficou bom. Parecendo um pouco folgado, na verdade. Aí o vendedor me convenceu a experimentar o 8 e meio. Ficou certinho, e decidi levar. Já saí calçado, que era pra ter conforto máximo na caminhada.

Depois de muitos quarteirões, comecei a sentir o sapato apertado. Não na ponta, como é normal, mas sim nas laterais. “Vamos ver se acostuma”. Continuei andando, passei pela Best Buy, parei no mercado porque já tinha almoçado, comido duas maçãs e ainda tava com fome. Comprei uns cookies (yummy!), e sentei lá por perto, pra folgar os cadarços. Não deu muito jeito, e acho que vou voltar na loja amanhã pra trocar pelo tamanho 9 mesmo.

Do mercado, é claro que eu podia pegar o metrô pra casa. Mas, qual seria a graça, não é mesmo? Qual seria a graça de chegar em casa com tranquilidade, conforto e segurança? Resolvi voltar andando – por outro caminho. Dessa vez não me perdi. Só escolhi uma rota um pouco não-otimizada, e vaguei mais que o necessário. Nesse tempo todo, fiquei checando o celular, esperando a bróder do telefone da May me responder. Nada. Cheguei em casa, e vi que um dos Iscos tinha chegado aqui, mas não tinha ninguém em casa pra receber na hora, e o cara deixou um aviso.

Desci pra tentar pegar o aviso, pra ir buscar no correio, e nada. Minha chave não funciona na porrinha da caixa de correio! Peguei a chave do Wyll e voltei, todo vitorioso. Nada de aviso. Ô inferno. Peguei o código do pacote e paletei até o correio. Lá fui muito bem atendido, e a moça disse que não tinha nada no meu nome. Dei o endereço e ela disse que tinha um pacote, mas que eu precisaria de um documento original e um comprovante de residência. Voltei pra resgatar o passaporte, e dei graças aos céus por já ter uma conta de telefone pra pagar. No correio, a mulher me entregou um pacote maior que minha mala de viagem. Eu esperava uma embalagem bem feita, mas não TÃO bem feita!

Em casa, gastei uns quinze minutos cortando fita adesiva e plástico bolha usando uma chave, até conseguir chegar à caixa, no centro de tudo. A lente tá perfeita, linda e maravilhosa, mas ainda não deu pra testar porque faltam anéis adaptadores. Estou trabalhando nisso. Ela é tãããão bonita! Aí deitei um pouco, pra descansar.

Foi só encostar na cama que a infeliz do telefone responde. Pediu pra ir encontrá-la… Do lado da CAMBIE! AAAAAAHHHH! NÃÃÃÃÃO!

Bom, queria resolver tudo hoje, então calcei o sapato – apertado – de novo e saí. Quando tava na metade do caminho, ela me liga, perguntando se eu já tava no SkyTrain, e se tinha como ser um pouco mais tarde, porque ela tinha que apagar as coisas dela do celular, e resgatar fotos, etc. Disse que vinha me encontrar em Downtown. Comemorei o fim das caminhadas. Claro, fui tolo novamente.

Dali a 40 minutos ela liga de novo, dizendo que conseguiu resolver tudo em casa, e não teve que vir pra Downtown. Pediu pra eu encontrá-la lá mesmo. Pelo menos era mais perto do SkyTrain do que o endereço anterior que tínhamos combinado. Já fui pro skytrain quase me arrastando, ouvindo tudo que é música alucinante pra criar forças. Cheguei na casa dela às 20h. Nessas horas que a gente vê como o mundo é foda, e é preciso estar atento às coincidências.

A mulher trabalha com cinema, tem uma empreitada em LA, e tá abrindo uma filial aqui. Tava vendendo o telefone porque não tinha conseguido se acostumar, preferia um outro, maior, que facilitava as tarefas dela como produtora. Comentei que vim pra Vancouver trabalhar com cinema, que me formei na USP, e tava indo pra VFS. Ela disse que conhece quase todos os professores de VFX de lá, e que é uma ótima escola. No fim, ainda disse assim: “salva meu número, e quando quiser trabalhar, me dá um toque, que eu te apresento pra um monte de gente aqui. A gente tá sempre precisando de alguém pra VFX e motion”. Contou que a namorada do sócio dela é brasileira, e que ela é super amiga de várias pessoas da américa latina aqui em Vancouver também.

Aparentemente, todo mundo aqui trabalha em cinema! O Paul também já encontrou um cara da indústria no SeaBus, quando ele tava absolutamente perdido, nos primeiros dias. Essa conversa de menos de dez minutos com a Jen me fez ter certeza que é aqui mesmo que o circo vai pegar fogo e que eu só volto pra São Paulo se for obrigado! Quando percebi, já tava em casa, muito mais animado do que nunca para as aulas começarem, e muito menos cansado do que quando saí. Menos cansado, mas morrendo de fome though. Aí descobri que os DEZESSEIS iogurtes que comprei na semana passada só eram válidos até o dia 12. Fiquei puto. Abri um. Não tinha virado sabor umbu ainda – como dizia minha bisavó. Mandei pra dentro, sem culpa. Depois dele, ainda mandei mais dois. O objetivo é, quando (se?) esse negócio estragar, ter o menor prejuízo possível!

Ah, no total do dia, hoje andei 16km. Ainda queria ir ao cinema, mas não vou obrigar minhas pernas. Vai ficar pra amanhã.

Post sem fotos. Tá difícil andar isso tudo e ainda carregar a câmera nas costas. Mas estou trabalhando nisso, aguardem.