Day-to-Day

UP07 – RAW

September 21, 2013

Ultimamente tem se falado muito em RAW no âmbito do vídeo digital. “Ah, eu quero uma câmera que filme em RAW”, “Essa câmera é cara porque filma em RAW”, “Olha essa, é barata, e filma em RAW!”. Afinal, o que é RAW, como isso se relaciona com a fotografia, e por que todo mundo tanto o deseja? Essas são boas perguntas pra começar.

Um dos fatores de resistência na migração de fotógrafos profissionais, do analógico para o digital, é que as câmeras digitais não armazenavam tanta informação luminosa quanto o filme, impedindo ajustes e correções que eram feitas manualmente durante o processo de revelação da película. A maioria das câmeras digitais é projetada para simplificar a vida do usuário e automatizar todas as escolhas entre o momento do clique e a geração da imagem final, mas câmeras profissionais permitem que o fotógrafo tenha total controle sobre o seu trabalho, e isso se dá através dos arquivos RAW, trazendo de volta, digitalmente, a liberdade do laboratório de revelação.

A nível microscópico, o sensor digital é um tabuleiro de chips fotossensíveis. Cada um deles é a menor área de captura de luz da câmera e são organizados em blocos de quatro unidades sensíveis às cores primárias. Um vermelho, um azul e dois verdes – nossa visão é desequilibrada para o verde, portanto, a proporção deve ser mantida no sensor da câmera, ou teríamos um registro diferente daquele feito pelos nossos olhos. Cada um dos chips captura a intensidade luminosa daquela cor em sua minúscula parte do sensor, transformando a medida analógica em digital, na forma de intensidade elétrica.

É difícil de imaginar quão minúsculos e numerosos são esses circuitos. A base de cálculo é de um milhão deles para cada megapixel de resolução. Uma câmera com 20 megapixels tem, portanto, 20 milhões de chips fotossensíveis distribuídos em menos que 1cm², que é a área do sensor.

De forma simples, um arquivo RAW é aquele que armazena essa matriz de informação de intensidade elétrica sem qualquer processamento. Do jeito que estão, esses dados nem sequer formam uma imagem. Quando o usuário escolhe NÃO fotografar em RAW, a câmera fica responsável por todo o processo entre o clique a “revelação” da imagem. Em detalhe, toda a informação capturada pelo sensor passa por um processo onde será convertida em pixels – a menor unidade de medida da imagem. O pixel tem três valores: um para cada das três cores primárias, variando de 0 a 255. Combinados, criam cerca de 17 milhões de cores, e lado a lado, formam a foto.

O problema é quando se quer fazer alterações ou correções nas imagens depois do clique. Conforme você vai mexendo com as informações de cor nessa imagem já pré-processada, as fotos, que pareciam ótimas quando saíram da câmera, apresentam perda considerável de qualidade. O que acontece então se, logo após o clique, a captura for salva como arquivo sem passar por qualquer processamento da câmera, e as manipulações forem feitas diretamente sobre a informação crua, vinda do sensor?

Existem vários programas capazes de interpretar essa informação (crua), traduzi-la como imagem e abrir para correções. Aí você vai perceber o quanto o RAW faz diferença: cada cor – vermelho, verde e azul – tem cerca de 16 mil variações, totalizando mais de 4 trilhões de cores. É possível fazer grandes ajustes sem causar perdas de qualidade e com muito mais liberdade, além de recuperar partes perdidas, ressaltar detalhes que pareciam totalmente ocultos, e por aí vai.

O formato RAW e essa liberdade não são novidades na área da fotografia, mas em vídeo esse tópico é novo. Até recentemente, apenas câmeras de cinema profissional eram capazes de atender a essa demanda, a preços altíssimo$. As vantagens do formato para vídeo são potencializadas em relação às fotos, afinal vídeos são seqüências de muitas fotos por segundo.

É preciso lembrar que o objetivo do vídeo RAW é armazenar o máximo possível de informação no quadro, para permitir o trabalho em cima dele na pós produção. A visualização imediata é uma imagem sem graça, chapada, muitas vezes suave e totalmente sem personalidade. A partir daí, o fotógrafo pode utilizar toda a informação de cor e luz nela armazenada para estilizá-la de acordo com o produto final desejado. O RAW permite o encontro entre o potencial latente da imagem capturada e a criatividade do profissional que vai trabalhar sobre ela. E haja revelação!


Coluna Ultrapassagem, Publicada originalmente na Revista OLD #21, em Maio/2013