Day-to-Day

Whiplash, Tove Lo, Distância e um receio dos infernos.

June 23, 2015

Esse post era pra ser sobre só um desses temas, já tá nos rascunhos há mil anos, mas tive que mudar. Hoje foi um dia estranho, e fiquei com vontade de escrever, então vamos como diz a canção: “foda-se, foda-se foda-se”.

Não sei se era meu estado de espírito, mas hoje me pareceu o primeiro dia verdadeiramente cinzento desde que cheguei em Salvador, exatamente um mês atrás. O dia meio que passou por mim, e não o contrário, como é normalmente. Ficamos em casa, eu, meu pai e minha mãe, aproveitando um São João em isolamento social, vendo filmes. Começamos por Guardians of the Galaxy, que achei beeeem mais fraco do que quando vi no cinema, e depois fomos pra Whiplash.

A primeira vez que vi Whiplash, alguns meses atrás, eu tinha achado foda. Pelo lado positivo (?), não tinha me identificado com o protagonista, na loucura dele de ser um dos melhores, de dormir do lado da bateria, terminar com a menina porque na cabeça dele ela ia mais atrapalhar do que ajudar no caminho dele, praticar o tempo todo. Dessa vez, fui vendo analogias mil entre o pobre Andrew e atitudes minhas que tanto comentei logo que cheguei de volta por aqui. De não conseguir desligar, de não tirar o trabalho da cabeça, de dedicar todo o meu tempo a desenvolver meus projetos e idéias, de ligar um “foda-se” pra todo e qualquer outro campo da minha vida, sem sequer perceber – eu sei que tenho falado isso pra caralho por aqui, mas é uma coisa que eu ainda não sinto que resolveu. Alguma hora eu vou parar de falar sobre o assunto, mas até lá vocês vão ter que me aguentar. A grande diferença é que pra mim o Terence Fletcher não é uma pessoa externa, um professor, um colega, um ídolo, e sim uma parte de mim mesmo, que insiste que o que tá na tela ainda não é bom o suficiente, e que eu posso fazer melhor, e melhor. Não que eu esteja pensando ou sentindo isso AGORA, mas só perceber essa conexão já é meio assustador.

Moving on… segundo assunto, Tove Lo. Esse era o tema original do post. Descobri essa menina na minha fase de Songza, quando eu já tinha enchido o saco de todas as músicas que moram no meu computador, e queria ouvir coisas novas e aleatórias. Ela apareceu numa playlist de blogged-out pop, com essa música aqui embaixo. Nunca vi o clipe, mas pela letra, imagino que seja pelo menos um pouco gráfico.

Bom, logo depois que eu descobri essa música, eu fiquei viciado nela. Quando eu começo a ouvir uma música em loop, acho que as primeiras cem vezes eu só tô na melodia, na batida, na parte que gruda. Depois é que eu começo a prestar atenção na letra mesmo, eu geralmente pego só uns trechinhos e é isso aí. No meu vício, fui atrás do disco completo (Queen of the Clouds) e ouvi loucamente durante aqueles cinco dias onde trabalhei feito um condenado no pOrtal, porque me dava um pique pra trabalhar surreal, que eu não conseguia entender. Quase no fim do processo, enquanto fazia a rotoscopia da porta – um serviço mecânico e repetitivo, que não exige nenhum raciocínio, só ir passando os frames e ajustando alguns pontos – resolvi começar a prestar atenção nas letras. A produtividade continuava alta, mas as letras falam de relacionamentos muito desajustados/feridos, e pra variar fui me identificando com coisas ali presentes – vamos ressaltar aqui que dependendo do momento, eu me identifico com coisas que muitas vezes não fazem sentido nenhum – de forma que meu pique pra trabalhar continuava alto, mas meu estado de espírito e humor iam afundando vertiginosamente.

Depois fui percebendo que as letras não falavam necessariamente de coisas que eu me sentia parte AGORA, e sim de coisas que eu carrego comigo desde cedo na minha vida amorosa (?), de histórias que ouvi, experiências e situações vividas, crises, términos, começos e complicações diversas, por isso que ecoava tanto dentro de mim, cada uma delas um espinho na estrada de 2005 até hoje. Algumas letras confirmando situações passadas, outras indicando possibilidades por vir, ou apontando em direções que eu definitivamente não quero seguir, mas muitas vezes não vejo saída. Tá confuso pra caralho porque tá vago o suficiente pra ser incompreensível, né? Bom, foda-se! hehe! Abrir meus relacionamentos nesse blog ainda não é algo que eu pretendo fazer, então pulem uns pedaços do texto ou leiam as letras da menina e fiquem teorizando em cima de quê eu tô falando.

Enfim, pra fechar o assunto, agora eu tenho um drama toda vez que cogito ouvir o disco: a euforia da batida e melodia vai superar o deslizamento de estado de espírito? O segundo efeito tende a durar mais, mas se eu começar a desistir de músicas que me dão sensações estranhas, minhas playlists vão ficar muito restritas!

Passando pro terceiro e quarto assuntos, que são um duo.

Estar um mês longe de Vancouver certamente trouxe muita coisa boa. Eu pude ir em médicos, fazer não-sei-quantos tipos de terapia e tratamentos pontuais, comer comida de casa, começar a ganhar peso, pensar PRA CARALHO na vida, esfriar a cabeça, ver os problemas com alguma distância, entender muita coisa sobre mim, trabalhar muito em aspectos da minha personalidade que eu sempre negligenciei – fundamentalmente a minha distância mesmo de quem é próximo, não demonstrar o valor que as pessoas ao meu redor tem, investir nas amizades, essas coisas – e pensar que “amanhã eu também não vou ter que encarar os problemas de frente”.

Aí entramos na última semana de Bahia e a sensação de ter que encarar as coisas de volta em Vancouver é boa e ruim. Na verdade, é animadora e assustadora. Depende puramente de como eu imagino os resultados. Animadora porque agora parece que dá pra começar a mudar, pra melhor, e conseguir tudo – ou pelo menos boa parte – do que eu sonhava quando fomos pro Canadá, ano passado. Assustadora porque as mudanças podem não ser no caminho que eu realmente desejo que elas sejam. Sempre tem uma solução que funciona, mas é foda. O lado pessimista anda ganhando. É difícil se acostumar com a idéia de voltar pra um cenário onde a vida tava complicada ao ponto de eu ter que fugir, literalmente, por um mês. Mesmo sentindo as mudanças desse tempo no meu dia-a-dia aqui, não é fácil me convencer que toda a melhora vai se manter, ao invés de descer pelo ralo de volta ao cenário anterior – uma merda – e acreditar que a gente vai conseguir resolver tudo. Eu tô disposto a lutar, meu receio é estar lutando uma guerra sozinho.

Sei lá, acho que esse post nem seria escrito se eu não tivesse visto Whiplash, ou não tivesse voltado pra casa cantando/gritando a plenos pulmões até arranhar a garganta porque não achei outro jeito de botar pra fora a sensação cretina que tava me arrastando. Funcionou, um pouco. Agora vou ver se escrevo um post menos deprimente.