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December 2010

Day-to-Day

[SET] Descarte.

December 16, 2010

Começando de trás pra frente, do mais recente pros mais antigos… Rodamos Descartes ontem. Roteiro e direção do Jota. Ele já tinha mostrado o roteiro pra gente há bastante tempo – logo no começo do semestre – e a idéia tinha ficado parada. Nas palavras dele mesmo: “o fim do ano foi chegando e eu olhei o que eu tinha feito ao longo do ano… bateu o desespero, e decidi que tinha que fazer isso!”.

Pois bem, há exatamente uma semana, batemos na porta da sala do Douglas, pra saber disponibilidade de equipamento e estúdios. As férias se aproximavam, todo mundo ia viajar, inclusive os funcionários do CTR. O desespero bateu dobrado, especialmente porque precisávamos de umas coisinhas bem complexas, para nossas condições normais.

Subtítulo provisório para irritar o diretor!

Por email, dividimos o que cada um queria fazer, e acabamos com uma equipe incrível, onde todo mundo entrou na função que queria. Jota dirigindo, Luke e Yugo produzindo, Mari na arte, eu na foto, May e Válter no som, Plínio como montador e Luciana como assistente de direção.

O roteiro é uma rodada de poker entre quatro caras. Coisa breve, só diálogo mesmo. Praticamente um exercício de eixo. Seis páginas, e cinquenta e cinco planos. Elementos de arte: fichas, baralho, mesa, toalha e figurino.

Como eu era o responsável pela fotografia, pensei em algo bem simples – e elegante -, mas que mesmo assim são muito, quando comparadas ao que usamos durante o resto do ano. Quatro fresnéis (1000w) e dois softs, (também de 1000w). Lá fomos nós, perguntar se o equipamento estaria disponível. Era quase certo que não estaria, porque estão sendo rodados os TCCs. Demos sorte, o equipamento estava lá, porque no Fim do Filme, estavam usando equipamento de luz da O2 – Quico Meirelles como fotógrafo, já comentei.

Yugo, Jota e Vi começaram a correr atrás de atores. Terminamos com um elenco bem divertido, com Murilo, Bruno, Vi e Luke (meio de emergência). Na segunda – a mesma segunda em que rodaríamos o Starlight, marcamos de retirar o equipamento de luz e montar o estúdio, para gravar na quarta. Fizemos isso em uma hora e meia, no máximo. Marcute – responsável pelo equipamento – ajudou pra caramba e ficou admirado com os resultados.

Na terça o Jota passou no CTR e pegou a chave do estúdio com o Douglas – enquanto eu morria em casa, de exaustão -, porque começaríamos muito cedo (encontro marcado para as 6h da manhã). Por email, o Yugo falou que tinha comprado comida pra todo mundo (quatorze pessoas no total) com R$25. Ficamos incrédulos, e tivemos que admitir: tinha comida pra caramba! Toneladas de macarrão!

Começamos a rodar perto de 8h, com quase uma hora de atraso. No cronograma, cada plano tinha dez minutos para ser feito. Chegamos na hora do almoço com quase uma hora adiante da previsão. Terminamos às 16h, quando a previsão era para as 18h, com possibilidade de extender até 20h. Desmontamos tudo rapidamente, logamos os cartões no computador do Plínio e cada um foi tomando seu rumo, feliz.

Esse set deu muito certo, e pretendemos repetir a experiência muitas vezes mais no ano que vem. O filme em si deve ficar pronto, finalizado lá pro começo de fevereiro. Depois de sair da USP, peguei uma carona com o Jota pra devolver as lentes que pegamos emprestadas, uma 16-35mm e outra 100mm, ambas f/2.8 (sonhos de consumo), e cheguei em casa perto das 18h. A gente se perdeu muito no trânsito!

Day-to-Day

Quick (Dead) Notes.

December 14, 2010

Depois de 32 horas acordado, finalmente consegui cochilar, por 2h. Agora tô esperando o Gu aparecer por aqui com um computador – e literalmente salvar minha vida -, para começar a montagem do filme. Para os desavisados que por aqui passam, alguns lembretes que podem te render uns anos extras de vida:

1 – 220V é 220V, 110V é 110V.
2 – Se quiser mudar o clima da cidade, planeje filmagens
3 – Na sua lista básica de itens de sobrevivência, inclua sempre: transformador.
4 – NUNCA junte: noturna + externa + locação + crianças + animais.
5 – Depois de 32 horas, qualquer coisa é motivo pra rir, então ria.
6 – Se deixar seu computador no conserto, lembre-se de dizer a SENHA.

Depois faço um comentário mais detalhado sobre os acontecimentos de ontem/hoje. É que tenho outro set amanhã, então PRECISO adiantar mais coisas na vida.

Aaaah, acabei de pensar no nome da próxima temporada desse blog! Yeah! Tava meio receoso quanto a isso. Ok, encerrado o devaneio do dia.

Day-to-Day

[TCC] O Fim do Filme.

December 12, 2010

Caí meio de paraquedas nesse projeto e não fui tão útil, então nem tenho muito o que escrever, mas como faz parte do dia-a-dia…

Quem me chamou foi o André (AV2008), meio desesperado, na Sexta, quando eu apareci aqui na USP com a May para gravar a trilha sonora do Starlight (aguardem). Ele disse que a diária começava às 11h DA NOITE e terminava às 11h DA MANHÃ. Não podia ir na Sexta, mas me comprometi a ajudá-los no Sábado. Sério, foi impossível de dizer “não” quando o Quico (Meirelles) veio aqui no laboratório perguntando se eu topava.

Continuei minha vida, tranquilo e feliz, gravamos as coisas e no Sábado, cometi o grave erro de acordar cedo. Eu tinha planejado dormir no fim da tarde até a hora de ir pro set (a locadora de vídeo 2001 Sumaré), e com esse intuito, me dediquei à leitura. O sono só veio às 22h, quando cochilei por 40 minutos. Logo estava de pé novamente e a caminho do metrô Sumaré, onde ia encontrar com o André e ganhar carona até o set. Avisei logo que poderia não aguentar a noite inteira, porque nessa hora ainda tava com bastante sono. Eram 23h15.

Chegamos na 2001, descarregamos os carros com todas as (milhares de) partes da câmera, ua Aaton, 16mm, incrivelmente silenciosa (diferente da Arri usada nos Cines). O Pedro, assistente de câmera, tava montando a dita cuja, quando foi testar o controle remoto do follow focus e a câmera apagou. Não ligava de jeito nenhum. Eles não surtaram tanto porque, na primeira diária, isso tinha acontecido DUAS vezes. Um fusível tinha queimado. A solução: ir até a JKL para trocar a câmera, ou pegar um fusível novo. Tempo necessário: 45 minutos. Embarcamos todos (Quico, Pedro, André e eu) da equipe de foto no Fox azul do Quico e partimos voando. André ia ditando os caminhos e Quico seguia as coordenadas enquanto Pedro ligava incessantemente para a JKL. Chegamos lá rapidinho. Entramos e Dadá, funcionário da locadora de equipamento, falou que a única solução era um tal de Márcio, que só chegava às 4h da manhã, porque ele – Dadá – não tinha a chave de onde ficavam guardados esses fusíveis. Saímos de lá ligando loucamente para a Produção, dizendo para eles ligarem para outras locadoras, e ver se o povo vendia ou dava o fusível. Enquanto isso, todos no carro ligavam pro celular de Márcio – incomunicável. Outra opção era procurar fusíveis no próprio carro, ou em lojas de auto-elétricas.

Chega a primeira encruzilhada: além da JKL, existem outras duas principais locadoras de equipamento em SP. A Central de Locações e a CinePro. Cada uma em uma zona da cidade. Pegando a marginal num sentido, você chega na Central, no sentido oposto, a CinePro. E a gente bem no meio das duas. O que fazer? Pra qual arriscar? Qual seria o discurso, se encontrássemos alguém em alguma das duas? “Oi, a gente é da ECA e tá rodando um TCC agora de madrugada. Alugamos uma câmera na concorrente de vocês, mas o fusível queimou. Será que você podia me ajudar?”. Não parece algo muito promissor. Na marginal, o sentido “Central” tava absurdamente engarrafado (à 1h da manhã!), então decidimos pela CinePro. Quando estacionamos na frente do portão, a Produção liga, dizendo que só tem um guardinha lá, e ele não sabe o que fazer. Lá vamos nós de volta para a JKL. E tome-lhe mais telefonemas pro Márcio. No meio do caminho, ele atende, e diz que vai passar pra Dadá as coordenadas da chave escondida que abre a porta dos equipamentos.

Lá vamos nós, VOANDO de volta. André sempre ditando os caminhos miraculosamente intrincados e vazios. Chegamos, Dadá já tava com os fusíveis na mão. Trocamos, a câmera funcionou. Levamos um de garantia pro set. Chegamos umas 2h30, e começamos a rodar quase imediatamente. A luz já tava montada pelo pessoal de elétrica da O2, de onde veio todo o (MUITO) equipamento. Até 5h da manhã fiquei fazendo video-assist, levando um trequinho gravador/reprodutor para todo lado, seguindo o Dib (diretor, AV2007), Pedro e Quico. Depois disso, tivemos um ‘almoço’ (era esse o nome, na Ordem do Dia), pela mesma equipe de catering do Final Feliz, e que acabou com minhas energias. Só fiquei para ver o próximo plano, que tinha uma grua de quatro metros, DENTRO DA LOCADORA, mais uma vez cortesia da O2.

Quando esse acabou -umas 7h30 -, acabou também minha pífia reserva de energia. Me despedi do povo e tomei o rumo de casa – a pé até o metrô -, subindo ladeiras cruéis e cheguei de volta ao lar por volta das 8h. Morri e ressuscitei às 13h40. Valeu a pena. Foi um aquecimento para o Starlight, que rodamos amanhã!

Day-to-Day

Foto de Equipe!

December 12, 2010

Já tem mais de uma semana que a Taka mandou as fotos do Final Feliz para a gente, mas com essa loucura de computadores que não funcionam, só hoje consegui lembrar de postar por aqui!

Day-to-Day

No-Net.

December 11, 2010

Putaquepariu, estar sem computador é foda, cada dia mais. Hoje tinha assuntos urgentes para resolver internet, mas não imaginava que isso desencadearia uma longa epopéia. Pensei primeiro em ir até a USP, mas depois de ponderar o tempo necessário na jornada (ônibus + caminhada) e o pouco tempo que usaria de computador, resolvi ficar pelas redondezas. Saí de casa em direção a uma lan-house, pouco mais abaixo na rua. Chego na porta e fico olhando… “era aqui”… Entro e pergunto. De fato ERA lá, mas faliu, e virou uma loja de roupas infantis.

Maravilha, depois de descer cinco quadras, subi tudo de volta até a Paulista e entrei pelo Center 3, subi as escadas até o último andar e dei vivas quando vi a junção de computadores aberta e as máquinas ligadas. Me aproximei e pedi meia hora de crédito (era a lan mais cara que já vi na vida! R$15 por UMA HORA!). O cara olha pra mim com expressão máxima de tédio e lança: “estamos sem internet. O roteador queimou”. AAAAAH! Começo a surtar e reflito. “Já tô longe de casa, e lembro de uma lan no caminho do cursinho”.

Pego rumo, ando, ando, ando. Tô chegando e vejo uma senhorinha fechando a porta metálica de correr.

– Fechou?
– Sim, sim, moço. Agora, só na segunda-feira de manhã!
– Ahh, tá… obrigado.

E agora? Já tô beeem longe de casa, mando tudo à merda e vou andando até um shopping. Já tô há mais de dez quadras de casa (isso dá uns 2km) quando consigo uma lan funcionando, e nem tão cara assim! Finalmente! Já tava começando a achar que teria sido mais rápido ir na USP e voltar…

Pelo menos valeu a pena: descobri que ganhamos DE NOVO o Festival do Minuto, com a Novela Mexicana. Não foi o prêmio do patrocinador, mas da curadoria (ou seja: não é tanta grana, mas já é um bocado)! Yeah!

Mais cedo, parei para pensar em como meu currículo está turbinado por conta da existência do ano de 2010. Sério, tenho que escrever isso tudo, pra não esquecer de todas as experiências!

Day-to-Day

Shop Vac

December 9, 2010

Melhor tipografia que eu já vi, bate fácil aquela de Lions Roar. Tá, não bate tão fácil, mas bate.

Dormi incrivelmente mal, achando que o render na USP ia dar errado e eu ia ter que me estressar pra conseguir terminar a tempo. Atormentei-me a toa, cheguei aqui cedo e tava tudo pronto! Só fechei detalhezinhos e acho que ainda hoje posto na net, apesar de ter que ficar meio escondido, pois levantaria a ira alheia. Ah, e aquele lance do Vimeo deu certo. Já re-upei tudo e em breve começo a substituir os links!

Day-to-Day

Representação da Cidade.

December 6, 2010

FILMES ESCOLHIDOS: Noite Vazia (1964) e As Melhores Coisas do Mundo (2010)

“A cidade moderna é delimitadora de uma fronteira a partir da qual reconhecemos o rural, separamos o centro da periferia, o público do privado, a cena da obscena. Nela reconhecemos o cidadão, aquele que tem história e faz história, ou seja, quem realmente importa se tomarmos a perspectiva da modernidade excludente. Fora do centro, importa narrar a fim de mostrar o exotismo do excluído.” (COUTINHO, Angélica, pag. 390).

A cidade é representada de diversas maneiras no cinema brasileiro. Neste texto, farei uma comparação de elementos estilísticos e narrativos entre os filmes Noite Vazia (Walter Hugo Khouri) e As Melhores Coisas do Mundo (Laís Bodanzky). Apesar das grandes diferenças, é possível traçar diversos paralelos entre eles, e sua representação da cidade, sendo esta um conjunto de espaços e personagens.

“Nesse seu primeiro filme realmente urbano, Khouri demonstra sensibilidade em relação ao ambiente da cidade. As personagens existem nas ruas de S. Paulo: o vazio com que se depara o homem de negócios depois de fechar o escritório leva-o a preferir, à companhia da esposa, a daquelas meninas que ainda não são prostitutas e esperam encontrar na Galeria Califórnia um alívio para o orçamento mensal. (…) Também é verdadeiro o papel do dinheiro em Noite Vazia. Para afirmar-se, Mario Benvenuti precisa tanto do exibicionismo sexual quanto do monetário. Tem dinheiro, compra seu amigo e sua amante, que, para ele, se tornam objetos. É com um maço de notas jogado na cama, entre Norma Benguel e Gabriele Tinti, que ele pretende destruir a harmonia momentânea dos dois namorados.” (BERNARDET, 1967, p. 98)

No filme de Khouri, temos uma trama que envolve dois rapazes e duas garotas, em um apartamento, tentando se divertir através da noite. Luís tem esposa e filho, mas mesmo assim, precisa de afirmação para si mesmo. Convida Nelson – que está abatido pelo recente término de um relacionamento – e ambos rodam por São Paulo, nas mais diversas casas noturnas, à procura de “alguém diferente”. Por fim, encontram Norma Benguel e Odete Lara e vão, os quatro, para um apartamento de Luís, onde passam a noite, regada a sexo, tentando se divertir.

Em contrapartida, o filme de Laís Bodanzky apresenta Mano, um adolescente em fase de descoberta da sexualidade e todos os mitos que circundam essa iniciação. Fora isso, ele enfrenta problemas na família, mudanças no colégio e em seu relacionamento com os amigos.

“Mas são principalmente as mulheres os objetos do inventário: Odete Lara é a 368º na vida de Mario Benvenuti”, com essa afirmativa, Bernardet coloca a cidade como uma grande lista de itens à disponibilidade dos personagens, e isso pode ser confirmado simplesmente observando o comportamento de Mario Benvenuti para com as prostitutas. Em As Melhores Coisas do Mundo, somos apresentados aos personagens num bordel, onde eles pretendem perder a virgindade. Mano escolhe não transar com a garota de programa, e esperar pela oportunidade certa. Quando eles saem, Deco – um dos amigos – é acusado de ter pago com vales falsificados, e a solução para ele é sair correndo, ignorando o trabalho daquelas mulheres, de forma similar à mencionada por Odete Lara, quando ela diz que os homens mais novos tentam sempre dar golpe e não pagar pela noite, achando que estão fazendo um favor para as garotas.

Mais adiante no filme, Deco, mostra a Mano um arquivo de computador que lista todas as meninas com quem ele já teve algum tipo de relacionamento, de forma muito similar à contagem de Mario. A grande diferença é que uma dessas garotas da lista é uma amiga de ambos – Carol -, e Mano não concorda com essa forma-objeto de ver as pessoas, então ele começa a tentar fazer com que Carol perceba que André tem outras intenções.

Essa forma de ver as coisas e pessoas – como objetos – pode ser diretamente conectada à solidão das personagens de ambos os filmes. Mario Benvenuti precisa do dinheiro e do sexo para se afirmar, Gabriele Tinti está sempre alheio ao que acontece e aos seus sentimentos, Odete Lara e Norma Benguel se relacionam cada vez com homens diferentes, o que prova claramente sua solidão – enfatizada no momento em que Benguel diz que “gosta muito quando um cliente liga para marcar uma segunda noite”. Mano não tem namorada e passa por diversos problemas dentro de sua família (o pai se tornou homossexual e agora vive com um namorado, a mãe não sabe como lidar com a solidão, o irmão, que fica arrasado e suicida com o fim de um relacionamento), e ao longo do filme, perde a relação com a única pessoa com quem podia contar – Carol. Essa solidão do garoto é evidenciada nas três seqüências em que o mundo se move muito rápido e ele não sai do lugar (uma num ponto de ônibus, outra na escada, em frente ao prédio de seu ex-professor de violão, e a terceira dentro do próprio colégio, que apesar de imenso, para Mano está deserto).

“Reencontramos o pequeno grupo de indivíduos isolados, dividido em personagens definitivamente pervertidas, enrigecidas no vício, corruptas, e em personagens que ainda não foram totalmente conquistadas pela corrupção, cuja pureza, sensibilidade, espontaneidade, representam uma possibilidade de salvação. (…) A água purificadora aparece sob a forma da chuva que, na sacada, cai sobre o corpo nu das personagens no momento da verdade.” (BERNARDET, 1967, p. 97)

É no momento que a chuva cai que confirmamos quem ainda tem salvação, e quem já extrapolou na corrupção. Enquanto Norma Benguel tem memórias de bolinhos sendo fritos e um garoto que olha curioso para ela, quase paralelamente, Odete Lara acorda e comenta com Mario que teve um pesadelo terrível. Ao fim, na despedida entre Nelson e Luís, Nelson fala não ter certeza se quer participar da próxima noite – com a Renata e sua irmã -, mas Luís insiste, e ele parece topar, deixando em aberto se ele tem salvação ou não.

Em Brasil em tempo de cinema, Bernardet diz que “Walter Hugo Khouri indica claramente no fim de Noite Vazia que nada foi solucionado, e que é muito provável que tudo continue como antes“. Esse posicionamento do cineasta é diametralmente diferente daquele proposto por Laís Bodanzky. Khouri acredita que a cidade oprime as pessoas, e que é necessário muito esforço para escapar das garras dos pervertidos. Bodanzky, em seu filme, apresenta diversas situações em que os personagens se colocam contra a corrente, e conseguem provocar mudanças no ambiente que os cerca – como quando Mano reúne todos os discriminados do colégio para criar a chapa Mundo Livre, ou fazendo o abaixo-assinado pelo retorno do professor que se envolvera com a aluna, no qual obtém sucesso. A chapa não é vitoriosa, demonstrando que as mudanças não são tão fáceis assim, mas são possíveis.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BERNARDET, Jean-Claude. Brasil em tempo de cinema. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.

COUTINHO, Angélica. Do Não Lugar ao Lugar Comum: A Cidade no Cinema Brasileiro Contemporâneo. In: in CATANI, Alfredo Mendes [et al] (orgs.). Estudos Socine de Cinema: ano IV. São Paulo, Editora Panorama, 2003.