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March 2013

Day-to-Day

New York – Day Four.

March 21, 2013

Se no segundo dia parecia que eu tinha andado muito, só tenho a declarar: estávamos apenas esquentando. Hoje saí de casa às 8h00. Não tinha ninguém acordado em casa e na rua tava fazendo -1 grau. Ontem de noite eu tomei consciência de que faltava pouco tempo pra viagem acabar, então folheei o guia inteiro, selecionando tudo que me interessava. Com essa lista, passei pro mapa e fui marcando as posições de cada coisa. Por fim, saí juntando tudo em sequência, numa rota confusa, que ia de um metrô pro outro, e chegava no próximo ponto.

Pra começar, desci até o fim da linha E, pra ver o memorial do World Trade Center. Acho que a catástrofe foi marcante pra todo mundo, mas eu lembro de estar em casa, assistindo ao vivo – enquanto faltava uma aula – então, nunca mais esqueci disso e queria ver como é que tá a cidade ao redor, mais de dez anos depois. A foto aí embaixo é do segundo dia, mas o prédio novo é esse, em construção. Tem um outro, menos avançado, escondido atrás dele. A previsão é de inaugurar o primeiro nesse ano.


World Trade Center

Hoje encontrei muita gente na rua, à lá Avenida Paulista, aos trancos e barrancos pra atravessar. Do WTC, fui pra Wall Street, que é praticamente uma fortaleza, com trocentas barreiras onde costumava ser uma pista, grades, polícia e seguranças ao redor da New York Stock Exchange. Tem uma igreja incrível de frente para a rua, mas tava em reforma – na verdade, tem muita coisa em reforma, acho que por consequência do furacão Sandy. Caminhei a rua toda, passei por vários prédios legais, mas nada fotografável. Muita gente e muito turista. Eu, que estava me disfarçando tanto de americano, me senti até um pouco deslocado. Segui rua acima até chegar de volta no metrô, e parti pro Pier 17, que o guia descrevia como um lugar de boas experiências gastronômicas, e lojas de lembrancinhas, além de ser na beira de um braço de mar.


Wall Street, de baixo pra cima

Fui chegando e passando por mais obras, e o povo ao redor diminuindo. Quando percebi, estava no terceiro andar, subindo pelas escadas externas, e tava tudo fechado. Fiquei por lá um pouco, apreciando a vista da Brooklyn Bridge e o frio escroto, até que resolvi voltar. Deve ser interessante com pessoas também, mas ainda era muito cedo, e não conseguia conceber a idéia de comer algo derivado de peixe àquela hora.



Brooklyn Bridge e Pier 17

Voltei pro metrô, e agora parti pra uma aventura mais comercial. No guia, achei três lojas de interesse, uma chamada Quark Spy, com vários artigos incríveis à lá filmes de espionagem, outra chamada Forbidden Planet, com quadrinhos, bonecos raros e esses brinquedos mais nerds, e a Barnes and Noble da 5th Avenue, que é a maior livraria do mundo – fui procurar um livro pra mim e um pra May. TCC tá aí, batendo na porta! Saí do metrô e meu pé já começou a doer de novo, fui meio mancando por várias quadras até chegar na Quark Spy. Fechada. Falida, na verdade. Xinguei um pouco e comecei a voltar. No endereço da Forbidden Planet também tinha outra coisa construída. Por sorte, avistei a loja, alguns metros mais à frente, do outro lado da rua. É bem diferente de uma livraria normal, e até mais radical que lojas só de quadrinhos. Arrisquei um quadrinho pós-apocalíptico que vou ler na volta, e parti. Na Barnes and Noble encontrei o meu livro, mas não o da May. Terminei que não levei nada, mas fiquei abismado com o tamanho do lugar. Quando você acha que tá chegando no fundo, tem uma outra portinha, que leva pra outra seção. Surreal.

No caminho de lá, passei pela Madison Square e parei uns minutinhos pra tomar uma água, comer um croissant e uns donuts – massa de donut é muito bom! Por que não deu certo no Brasil? Saindo da livraria, fui ver como era o maior clichê novaiorquino, e caminhei 5th Avenue acima, até chegar na Times Square – já tinha passado no subsolo umas duas vezes, mas a superfície é outra realidade. Era mais ou menos o que eu esperava encontrar pela cidade inteira. Grandes telas de led, luminosos, neons, cartazes gigantes, muita gente na rua, bueiros soltando vapor, trânsito (quase) caótico, teatros com peças famosas, e por aí vai. Fiquei vários minutos observando o fluxo, os lugares, e já tava quase entrando no metrô quando vi no mapa que o Rockefeller Center era ali perto.


Times Square

Pra quem tá com o pé doendo, e já andou pra caralho, que diferença fazem algumas quadras? Fui até lá me arrastando e entrei na loja da NBC. Me entupi de coisas de Community (duas camisas, uma pra May), fiquei rindo da criatividade dos produtos e chorando com os preços. Por fim, sentei num banquinho lá pelo centro, perto de uma pista de patinação no gelo, e detonei o resto dos meus lanchinhos e aguinha. Minha programação já tinha sido quase toda concluída e ainda não era nem 1h00pm. Percebi a proximidade com o Chrysler Building e dei no pé. Sempre tive grande curiosidade pra ver esse prédio, desde que assisti Os Produtores (a refilmagem, que gosto muito) e um personagem fala que tá parecendo o Chrysler Building. Depois de vê-lo na realidade, de fato são parecidos.


Chrysler Building

Agora sim, voltei pro metrô, fiz várias baldeações e saí perto da B&H de novo. Agora, já com uma listinha definida do que comprar – só coisinhas pequenas mesmo, parafusinhos, fitas, LEITOR DE CARTÃO – saí rápido com tudo na mão e voltei pro metrô, agora com destino: casa!

Era perto de 2h00pm quando cheguei em casa. Soquei as coisas na mala e fui ver o quê mais dava pra fazer hoje. Procurei saber da Estátua da Liberdade, ou Ellis Island, e descobri que ambas estão fechadas por conta dos danos do furacão. Ou seja, o que eu mais queria ver de perto, não vou conseguir. Foda-se. Resolvi então ir no American Museum of Natural History, que é relativamente perto daqui. No caminho, comprei uma pizza pequena (havaiana, de novo! tô começando a achar que gosto dela). Queimei a boca toda – sério – e guardei uns pedaços na mochila. Na fila do museu, a moça do caixa disse que como o museu fechava dali a pouco (faltavam duas horas), eu podia pagar quanto quisesse. O ingresso era vinte doletas. Sugeri quinze, a mulher falou que era muito, e não valia a pena – eu não ia conseguir ver tudo. Paguei dez. De fato, não deu tempo de ver tudo.


Bichinhos do Museu de História Natural

Esse museu é aquele do filme “Uma Noite no Museu”, com o Ben Stiller. Acho que nunca entrei num prédio tão grande com o objetivo de percorrê-lo inteiro. São trocentas galerias, temas, bichos, maquetes, esqueletos, textos, vídeos, janelas, aquários, plantas, índios, instrumentos, e por aí vai. Fiquei um bom tempo na seção dos meteoritos, mais um bocado nas pedras e gemas preciosas – tem cada coisa linda. Aí subi e fui ficando abismado com a qualidade das coisas. Os bichos, tem uns que até agora não sei se eram empalhados ou modelos feitos do zero. Os ambientes são todos perfeitos, a água é totalmente convincente, tudo incrível e congelado para toda a eternidade. O nível de detalhe de tudo é absurdo, e pensar que a maioria dessas coisas já tá lá há bem mais de cinquenta anos!

Quando o museu tava fechando e eles começaram a botar a galera pra fora, voltei pro metrô, com destino final em casa mesmo. Sem brincadeira, acho que peguei uns dezesseis ou dezoito trens hoje, entre idas, vindas e baldeações. Não é moleza andar sem parar das 8am às 6pm, com uma mochila nas costas! Por aqui, programei o dia de amanhã, bem mais light que o de hoje, e tracei as linhas gerais do fim de semana. Nova York é infinita, e amanhã vou para o norte, bem fora do centro, que os programas são de mato!

Como vocês podem ver, esse post já tá cheio de fotos bonitinhas, e aproveitei pra ilustrar os anteriores também. Dêem uma olhada e se divirtam. Por uma questão ideológica anamórfica, a maioria delas vai estar em 2.4:1, cinemascope! Amanhã estou de volta por aqui com mais aventuras!

Day-to-Day

New York – Day Three.

March 21, 2013

A programação de hoje foi bem diferente da de ontem, assim como o clima! Saí mais cedo, direto pra Grand Central Station, carregando minha mala vazia na mão. O destino da vez era Poughkeepsie, pra encontrar com a Kimi, que recebeu trocentas coisas pra mim aqui ao longo de vários meses – eBay spree. O trem para Poughkeepsie saía às 9h45, me programei pra chegar na estação com folga. Qual não foi minha surpresa desagradável ao desembarcar e descobrir que só tinha dez minutos para achar onde comprava os tickets, achar a plataforma do trem, entrar e sentar? Saí correndo, de mala na mão, tentando me orientar e cumprir os horários.

Como turista, você tem duas opções, e cada uma dela vai ter um resultado diferente. A minha preferida é me disfarçar de local, prestar atenção em tudo e ir me orientando sem precisar perguntar nada pra ninguém. A outra é o extremo oposto, se passar por perdido completo e já chegar nas pessoas com “Hi, can you help me?”. E aí é mais jogo você fingir que não sabe nada, nem em que cidade você tá, porque a explicação vai ser detalhada e clara – nada pior que uma explicação pela metade. Tava quase apelando pra essa tática quando achei as placas que guiavam pro guichê da Metro-North Railway. Já nessa tacada descobri o preço da passagem e a plataforma de embarque.

Na fila mesmo, já fui caçando indicações de onde ficava a track 23, pra sair correndo assim que tivesse o ticket de embarque na mão. Achei, era bem atrás de mim. Entrei no trem, coloquei a mala na prateleira superior e sentei. Em menos de dois minutos, estávamos andando. O subsolo de Nova York é assustador. É infinito, literalmente uma cidade por baixo da outra. São trocentos trilhos, paredes e caminhos, num vão imenso, onde parece que é sempre noite. Faz qualquer coisa de metrô que eu já vi na vida parecer brincadeira. Ficamos pouco tempo no subsolo, porém. Logo o trem cortava as margens do rio Hudson, percorrendo os vários quilômetros que faltavam até a última parada, onde eu desceria. Foi bem tranquilo, e bem bonito, até tirei umas fotos, mas ainda tô sem leitor de cartão!


Acho que é minha foto favorita da viagem

A viagem durou 1h40, exatamente como indicado na tabela com os horários – de trilha sonora, fui ouvindo o EP do Walk Off the Earth, que é show. Na estação, já encontrei a Kimi, e fomos conversando até Vassar. Pegamos um táxi – sem taxímetro – que levou a gente pra lá. Vassar é uma faculdade daqui, onde a Kimi tá fazendo intercâmbio. De acordo com ela, Poughkeepsie é a cidade mais low-budget das redondezas. Não tem transporte público, mal tem ônibus, não tem metrô, os táxis não tem taxímetro e chegam no horário que querem, enfim. Deixamos a mala no quarto de Kyndra – por conta do Spring Break, todo mundo foi deslocado de seus dormitórios originais, e a Kimi foi parar no quarto dessa tal Kyndra.


Kimi! e eu

Descemos até o salão de convivência do dormitório e encontramos o Ricardo – também brasileiro, do Rio, que tá fazendo intercâmbio por lá também. Fomos almoçar numa pizzaria e eles foram contando as histórias do lugar enquanto caminhávamos. Na pizzaria encontramos o Otávio, também brasileiro, e logo mais chegou o Nicolas, todos muito amigos. O almoço foi ótimo – ainda não sei porque pedi uma pizza havaiana, mas levei metade para viagem, o que foi bem útil na volta – e conversamos um bocado. Depois, o Nicolas e o Otávio nos abandonaram para resolver suas vidas, e a Kimi e o Ricardo foram me apresentar o campus.

Passamos pelo prédio central, biblioteca, film and drama, vimos o prédio da Música, as quadras de squash… O lugar é imenso – boa parte dele estava coberta de neve – e muito bem cuidado. Todos os ambientes são agradáveis, aquecidos, com paredes em tons quentinhos, chão acolchoado, tudo que faz falta na USP. Não sei porque em SP a gente não assume que vai fazer frio de verdade, e programa as coisas pra isso, instala aquecedores, sei lá. Porque todo ano faz frio. A gente sabe que faz frio, e é isso aí, a gente só tenta sobreviver, ao invés de encarar a realidade. Nesse aspecto, NY tá anos luz à frente, mas depois discorro sobre o assunto.

Depois do tour, voltamos pro dormitório, soquei tudo dentro da mala – tem uns brinquedos bem legais, EVF, monitor, mattebox, uma pá de filtros – e ficamos conversando sobre a vida, sobre o Brasil, CTR, TCC, intercâmbio… Quando percebi a hora, já eram 4h10pm, e o meu trem saía às 4h40pm. Chamamos um táxi correndo e já descemos com a mala. A despedida foi meio às pressas, mas o taxista também correu até a estação, e lá estava eu, correndo de novo contra o tempo pra comprar o ticket e entrar no trem! Foi exatamente igual à vinda. Assim que entrei no trem, as portas fecharam.

Na volta, detonei os pedaços de pizza que tinham sobrado e fiquei olhando a paisagem passar do lado de fora, me controlando pra não descer do trem e sair explorando tudo a pé. Tenho esse treco por natureza fechada. Se eu acho um lugar onde pouca gente vai, me dá uma vontade louca de caminhar por lá, olhar pra tudo, sentir o lugar. Sabe quando você pega um gato que fica muito tempo em casa, e solta? O bicho sai correndo pra uma árvore e sobe, depois sai correndo pra comer uns matos, cheirar flores, rolar na grama. É tipo o que eu sinto, só que menos radical. Tenho isso desde muito tempo já, e tô percebendo direito agora. Enfim, fiquei com vontade de explorar a floresta coberta de neve – é tudo marrom ou branco.

Cheguei em casa, fiquei um tempo brincando de quebra-cabeça pra encaixar tudo na mala e não ter que jogar roupas fora, mas deu certo. Aí já era tarde e fiquei por aqui mesmo, programando os próximos dias. Temos muita caminhada pela frente. Amanhã vou ver se providencio o leitor de cartão também!

Day-to-Day

New York – Day Two.

March 20, 2013

O dia de ontem foi bem tranquilo, em termos de aventuras, afinal, era “só” a viagem e a chegada. Hoje já tivemos um tanto mais de ação. Vamos começar. Começo bom é cedo, então acordei uma hora antes do pretendido. Richard já tava se aprontando pra sair pro hospital, então fiquei aqui no meu quartinho, respondendo trocentos emails e confirmando tudo que ia rolar hoje, consultando mapas e fazendo anotações. Comi uns pães, tomei um banho quente e aproveitei a ocasião pra estudar as linhas do metrô (o plástico protetor do chuveiro tem um mapa). Saí às 9h30.

O dia estava lindo. Chovendo que só a desgraça, frio pior que a desgraça, neve e gelo pra todo lado na rua. Achei que seria uma excelente idéia passear pelo Central Park e pegar o metrô um pouco mais pra baixo. Segui para lá e entrei no parque. Juro que achei estranho não encontrar com ninguém, mas, deixei pra lá. Pensei que todo mundo já tava trabalhando, essas coisas. Todas as árvores estão sem folhas, todos os gramados estão cobertos de neve. As trilhazinhas mal estão visíveis, com bastante gelo – escorregadio – em cima. Já fui achando incrível e tirando várias fotos – quando o sujeito nunca viu neve, é bem fácil ficar encantado. Depois de uns cinco minutos lá dentro, fui percebendo porque não tinha ninguém mais por aquelas bandas. O frio era assassino. Nas partes mais altas, batia um vento daqueles de chegar nos ossos, nas partes mais baixas a neve alagava os sapatos.



Central Park, congelado

Nessa situação, o que fiz? Liguei o foda-se. “Tô no Central Park, e vou ficar pelo menos meia hora nessa bagaça, e me divertir no processo. O conceito de diversão aqui era “manter a circulação nos dedos e fazer caretas pra descongelar o rosto” (eu tava falando em slow-mo por causa do frio). Lá pras tantas, percebi que não sabia mais se tava indo pro norte ou pro sul, pra leste ou pra oeste, e resolvi sair. Descobri que tinha dado uma volta imensa, e saído do outro lado do parque, como se tivesse ido reto. A essa altura, meu sapato já tava encharcado, as luvas também, o gorro e a mochila também. As calças, blusa e casaco ainda resistiam. Olhei no relógio e vi que minha “diversão” tinha durado uma hora e meia. Tava na hora de ir pro centro da cidade, entregar a primeira lente.


Grand Central Station

Alguns poucos minutos dentro do metrô são mais que suficientes pra descongelar uma pessoa. Já fui voltando a sentir os dedos, nariz e pés, enquanto continuava fazendo caretas e abrindo e fechando as mãos. Dei uma de curioso e saí na Grand Central Station, que seria o equivalente da Sé em São Paulo, tirando a parte do caos e acrescentando a parte de que lá passam TODAS as linhas de metrô de NYC. O visual tem um quê da estação da Luz, mas mais refinado – tudo em mármore, ou granito, enfim, pedra bege, colunas, lustres, e um salão central gigantesco – fiz umas fotos por lá também. Depois de ficar abismado, me orientei um pouco e procurei saber onde é que sai o trem que vou pegar amanhã. Voltei então pro frio e chuva da rua, agora já com mais pedestres, rumando para o Starbucks onde vi o vídeo do post abaixo.

No meio do caminho, percebi que estava adiantado e aproveitei pra passar no correio. Trouxe uma lente problemática pra mandar prum bróder consertar. Fiquei uns dez minutos lá dentro, andando de um lado pro outro sem saber o que fazer, até que me retei e fui embora. Depois eu descobriria como despachar.

Tinha marcado de encontrar um camarada no referido Starbucks. Camarada esse que estava interessado em comprar uma das anamórficas que eu tava vendendo. Ele chegou bem na hora, e a gente ficou lá analisando a lente e tomando chocolate quente. No fim das contas, fechamos negócio. Enquanto eu lutava pra fazer a monstra caber de volta no plástico bolha, uma senhora se aproximou, perguntando o que era aquilo, e explicando que também era fotógrafa. Pediu pra ver a lente, perguntou como funcionava, ficou impressionada com o efeito, e ainda mais impressionada com a capacidade de usar aquilo numa câmera moderna. Por fim, desejou sorte a nós dois e saiu. Ivan – o bróder que comprou – saiu em seguida. Eu fiquei mais uns instantes respondendo emails e tentando ver o vídeo, mas saí rápido também.

De lá, tinha que cruzar umas quinze quadras pra chegar no próximo endereço, o Broadway Dance Center, onde tinha uma moça que ia ficar com a segunda lente do dia – eu trouxe três. Conversamos um pouco, ela me deu indicações de onde comprar um sapato decente que não ia encharcar meu pé, e luvas. Agradeci e tomei o rumo da loja. Por – uma boa – coincidência, o caminho passava pela B&H, aquela famigerada loja de equipamentos-e-tudo-mais-que-você-puder-imaginar. Parei por lá.

Sobre a B&H: não posso morar numa mesma cidade que essa loja. Vou falir em uma semana. Fiquei babando com tudo, inclusive com os preços – que são bem mais possíveis que no Brasil, mas ainda fora do alcance atual. Fiz uma listinha de acessórios a comprar e volto por lá em breve pra buscar. A loja tem dois andares, e no teto do primeiro corre um labirinto de esteiras com cestas de compras identificadas, para facilitar a vida dos clientes. Uma coisa louca, digna de Harry Potter – a referência deles pra pensar aquilo TEM que ter sido Gringotes. Consegui sobreviver a mais esse desafio, e saí sem comprar nada.

Acabei não comprando nem luvas nem sapato porque estavam bem caros. Nessa parte do dia já não tava mais chovendo – tinha até um rascunho de Sol – e era mais vantagem ficar sem luvas do que com elas, por causa da água gelada. Fui então pra uma outra loja – menor – de fotografia, e passei mais um tempinho por lá. Não era tão interessante, mas deu pra divertir. De lá, caminhei mais um pouco e peguei o metrô de volta pra casa.

Em casa, respondi mais emails, descansei um pouco – tava andando praticamente sem parar, desde as 9h30, e já eram 4h30pm. Tirei o sapato encharcado, as luvas e o gorro e pendurei tudo perto do aquecedor do quarto pra secar. Pedi indicações pro Richard de onde encontrar sapatos impermeáveis e ele gentilmente me emprestou um. Nada supera um anfitrião gente boa! Pedi indicações também de como proceder nos correios. Joguei no Google e achei uns mercadinhos próximos, e uma loja da UPS (United? Postal Service).

Com o maravilhoso novo sapato impermeável, fui primeiro no mercadinho e comprei iogurtes, pão, manteiga, leite e achocolatado, afinal, não quero ficar explorando a comida do dono da casa! Deixei tudo por aqui. Já eram 7h30pm, então saí correndo pro UPS com a lente na mochila. Cheguei lá e não tinha ninguém além do atendente. Entrei já sendo honesto, e perguntando se ele podia me ajudar, porque eu não era dos Estados Unidos. Ele disse que sim, e perguntou de onde eu era. Respondi que do Brasil, e ele começou a falar em português. Tomei um susto do caramba, e perguntei se ele também era brasileiro. Descobri que se chama Israel, e é da República Dominicana, mas tá aprendendo português na marra, com os clientes mesmo. Fomos conversando em português, e falei que se eu dissesse algo que ele não entendesse, pra ele perguntar.

Israel já me arranjou uma caixa bonitinha – falou o preço da dita cuja – e arranjou também uns plásticos bolha a mais pra acolchoar o Iscorama. Na hora de preencher os dados do envio, ele disse que precisava de um telefone meu. Fudeu, não tenho. Vou colocar o número do Richard. Fuck! O papel com os telefones – QUE EU SEMPRE CARREGO – ficou no apartamento. Perguntei se podia ir buscar e voltar. Não levei cinco minutos. Enquanto isso, deixei lá a minha lente tão preciosa pra ser embalada. Voltei, e já tinha um camarada na fila. Israel explicou que já tava me atendendo e o sujeito deixou eu passar na frente dele. Fomos preenchendo tudo certinho, e a loja foi enchendo. No fim das contas, ele disse que a caixa era um presente pro amigo brasileiro, e que eu só precisava pagar o envio. Agradeci infinitamente – não é todo dia que se ganha um presente de R$20 de um desconhecido! E assim acabou a saga das lentes. Me livrei das três num mesmo dia. Acho que essa só volta pra mim daqui a uns três ou quatro meses, consertada, de preferência.

No caminho de casa, saquei o meu mapa da cidade – não desgrudo dele, ainda mais tendo herdado de meu pai a capacidade de interpretar um mapa muito rápido, e de minha mãe a capacidade de não me perder, mesmo estando perdido – e resolvi ir pra ponta extrema ao sul da ilha de Manhattan. Segui pela linha #1 até a última estação e saí pra rua. Já tava tudo quase escuro, começando a chover de novo, e bem vazio. Não consegui chegar na ponta da ilha por conta de umas obras, mas entrei no Battery Park, que cobre uma parte da margem do rio Hudson, frequentado por corredores e ciclistas. Tirei umas fotos escuras por lá, e meu pé começou a doer terrivelmente. Acho que o coitado sofreu hoje, porque fazia MUITO tempo que eu não andava tanto – e em condições tão adversas como meias molhadas e frio. Voltei quase mancando pro metrô e sofri pra chegar de volta em casa, mas sobrevivi.





Battery Park e redondezas

Por aqui, jantei coisinhas leves e desfiz minha mala toda. Vou levar ela amanhã pra Poughkeepsie pra resgatar meus artigos usados que andam por lá, com a Kimi. Ainda não sei se ela tá tendo aula, mas se tiver, vou aproveitar e ver umas aulas em Vassar College, que não pode fazer mal! Agora, é hora de dormir!

Ah, esqueci de falar das fotos! Tô com algumas que já eram pra ilustrar esse post, mas descobri que estou sem leitor de cartões, cabo usb e coisa que desempenhe essa função, então, tá tudo preso na câmera por enquanto, mas já estou trabalhando numa solução!

Day-to-Day

Bad Motherfucker.

March 19, 2013

Taí uma coisa que me pegou totalmente de surpresa. Hoje, estava a testar a conexão wifi no Starbucks quando abro o facebook e vejo que a May e o Jota me marcaram num mesmo vídeo, em momentos diferentes do dia. Fui assistir, e o diabo do vídeo só carregava até a metade, mas era tão absurdamente insano, que fiquei me contorcendo o resto do dia até chegar em casa e assistir tudo.

É um clipe de uma música, na verdade, mas a música que me perdoe, a imagem tá tão foda, que não presto muita atenção no que acompanha. Só percebo que encaixa bem, e a montagem também. É violento, é em primeira pessoa, e é absurdo – já falei isso, né? – ou seja, tudo que eu queria fazer. Tá competindo bonito com Validation, como “filme que eu gostaria de ter feito na minha vida para estar satisfeito”. Bom, chega de falação, fiquem com Biting Elbows – Bad Motherfucker.

Day-to-Day

New York – Day One.

March 19, 2013

Acordei às 3h20 de hoje, já pronto para a partida. O vôo da American Airlines saía às 7h45 de Guarulhos, e eu tinha que estar lá com trocentas horas de antecedência. Fui de táxi, conversando com o motorista, que também era baiano. Convenhamos, São Paulo não anda lá tão fria, então, a temperatura estava bem tranquila, mesmo àquela hora da manhã. No aeroporto, despachei a mala – uma só, tamanho ok – e fiquei por ali, ainda antes de entrar pros portões de embarque, lendo. Na verdade, relendo Ponto de Impacto (Dan Brown). Eram 4:30 da manhã, e ainda faltavam duas horas pra embarcar.

Quando reparei que já estava perto da página 100, olhei pro relógio e guardei o livro. Fui brincar de raio-x e sentar no portão de embarque. Às 7h15, começamos a embarcar. Da vez que fui pra Los Angeles foi meio espantoso, e hoje a cena se repetiu: muitas poltronas vazias no vôo. Por que os preços são tão altos, então? Enfim, tava com tanto sono que apaguei antes da decolagem e só acordei quando o café da manhã estava sendo servido. Juro que até agora não descobri o que era aquele troço. Parecia um quarto de queijo, quente, mas era uma massa, com uns cubinhos de batata no meio… Resolvi não apostar muito nela e comi um pão mesmo. E tome-lhe mais Dan Brown. Quando a leitura cansava, dormia, quando dormir cansava, lia, e assim foi por nove horas, quando aterrisamos no JFK International Airport, fora de NYC propriamente dita.

O tempo estava nublado, e o termômetro do avião indicava a temperatura de 2 graus celsius. Bem mais friozinho que São Paulo. Pra sair do aeroporto, a fila de imigração demorou um bocado. Quando finalmente saí, as malas já tinham sido todas retiradas da esteira e enfileiradas no chão, para os donos encontrarem. Peguei a minha e parti. Richard, que é o camarada que está me hospedando por aqui, me deu as instruções de como sair do JFK e chegar na casa dele pelo metrô. Primeiro, Airtrain, saindo do terminal do aeroporto mesmo. Já comecei entrando no lugar errado, mas consegui sair antes de as portas fecharem. Aí, peguei outro, que tava 50% certo, e desci na metade do caminho. Na terceira tentativa, acertei, e cheguei até Jamaica Station. Aí comprei cartões pra semana inteira – viagens ilimitadas! – umas amêndoas para comer, e fui pegar o segundo trem, agora na linha E, em direção ao Brooklyn.

O metrô de Nova York é surreal. É ainda mais surreal do que parece nos filmes. O metrô de São Paulo é um passeio de luxo mal organizado, quando comparado com o daqui. Tem uma parada por minuto, mas o trem nunca fica insuportavelmente lotado (e olha que eu peguei horários de pico, com uma mala enorme na mão). As placas não são tão claras, porque não é no padrão “uma lado da plataforma vai, o outro volta”, cada lado vai pra um lugar totalmente diferente e não necessariamente relacionado. Linhas diferentes passam nas mesmas plataformas!


MTA #1, 103rd Street

Quando saí desse trem e passei pro seguinte (linha D), percorri uma parte aberta da plataforma, onde o frio tava cruel. Começavam a cair flocos de neve, e o vento castigava tudo, esfriando boa parte da estação. Dei sorte que o trem passou logo. Já comecei a me arrepender de não ter colocado luvas na bagagem de mão. Mas vamos em frente. A cada trem que eu entrava, ou estação que parava, dava uma conferida no caderninho com as anotações de rota. Não tava muito a fim de me perder no primeiro dia, e a estratégia ia dando certo.

Só tive um pouco de problema na hora de passar pro último trem, linha #1, porque as placas da estação eram realmente confusas. Subi e desci escadas pelo menos duas vezes mais do que o necessário, com a mala na mão. Por fim, desci na plataforma indicada pelo Richard, e saí na rua. Aí, minha gente, já tava nevando de verdade. Neve é uma parada muito louca – nunca tinha visto. Segui andando na direção indicada, maravilhado com aquela coisa branca e gelada, leve, mágica, até que percebi que meus dedos estavam congelando. Normalmente eu sinto muito frio nas mãos, mas aqui elas estavam parando de funcionar. Uma segurava firme a alça da mala, a outra travava os papéis com o endereço.

Depois de andar cem metros pro lado errado, deixar o papel com o endereço sair voando e correr pra buscar, enquanto a mala ficava sozinha na rua, achei o prédio. Ainda era cedo, 7pm, e Richard só chegaria depois das 9pm. Segui as instruções dele e fui pegar a chave com sua mãe, dois prédios mais adiante. Kathy era uma figura. Baixinha e muito simpática, me contou várias histórias só no tempo que a gente descia três andares de escada. Me entregou uma chave e foi pra casa da filha – logo ali no meio também – assistir Dancing With the Stars. Não consegui abrir a porta do prédio, e tive que recorrer mais uma vez a meus novos amigos, que vieram com uma chave nova – o breguetinho de autorização magnético tava dando muito problema, e o pessoal do prédio resolveu colocar uma fechadura normal como alternativa. Por fim, cheguei no apartamento vazio.

Enxuguei a neve, agradeci aos céus pelo aquecimento central do prédio, e fiquei lendo e escrevendo no sofá, enquanto esperava pela chegada de meu anfitrião. Perto de 9h30pm ele chegou, congelando também – disse que não tinha previsão de neve pra hoje – e me passou as informações básicas da casa. E agora cá estou eu, terminando de escrever e definir meu roteiro de amanhã. Certamente terei fotos nos próximos posts, mas esse aqui fica só com a história mesmo!

Day-to-Day

Fodam-se os Acompanhamentos.

March 16, 2013

Outro dia estava eu pensando na minha filosofia de comida. Eu não gosto de comer arroz, só pra encher o prato – salvo raríssimas exceções – eu considero o arroz uma parte dispensável de um almoço. Sejamos radicais e falemos de feijoada. Feijoada é uma comida foda. Quando eu tenho feijoada para comer, no máximo, eu vou colocar um pouco de farinha, pra dar liga, mas nunca vou colocar arroz, nem salada, nem qualquer outra coisa que não seja feijoada, por um motivo simples: quanto mais acompanhamentos eu colocar, menos feijoada eu vou ter pra comer, afinal, meu estômago tem um limite.

Analisemos a função básica e composição de um acompanhamento: é uma parada que não é tão gostosa quanto o prato principal, mas que serve pra te encher e comer menos prato principal. Dá pra expandir o exemplo pra quase tudo, como o caso de um rodízio numa churrascaria. Juro que não entendo porque as pessoas vão naquele buffetzinho que fica lá no meio. Galera, você tá pagando uma fortuna pela carne, essa comidinha normal dá pra achar em qualquer lugar, então, COMA CARNE! Só carne, oras! Ninguém vai na churrascaria porque tem ótimos acompanhamentos, a gente vai pra comer carne!

E agora, chegamos na parte do post que vai disseminar a discórdia e o ódio – se é que essa falação toda de “coma carne” já não fez o serviço – mas, vamos em frente. Por que aplicar esse conceito só para a comida, e não para tudo na vida? O que seria um acompanhamento na vida? São aquelas coisas que não te animam, mas no fim, te deixam satisfeito – como um trabalho muito chato, com um pagamento muito bom, um ótimo argumento e um desenvolvimento fraco, etc. A gente aceita porque acha que precisa, mas não quer de verdade. Ocasionalmente, os acompanhamentos são importantes pra sustentar os pratos principais, mas, depois de achar o prato principal, dá pra sustentar tudo só com ele.

Outra boa saída é descobrir como transformar o acompanhamento em prato principal. Dei o exemplo do arroz no começo e vou retomá-lo aqui. Numa paella, o arroz é o prato principal, tornando-se então algo maravilhoso. Vamos para exemplos pessoais: pra mim, trabalhos em motion e After Effects eram um acompanhamento, uma coisa que eu sei fazer e usava pra financiar meu prato principal, de fotografia. Aí fui me deparando com trabalhos de motion que deram gosto de fazer, foram verdadeiros desafios e se promoveram a pratos principais. Ao mesmo tempo, caí numas roubadas de fotografia que me fizeram repensar várias coisas.

No fim das contas, cheguei à conclusão de que meu prato principal, em relação a trabalhos, nesse momento, é liberdade de criação. Pode até pagar mal – se esse for o caso, é melhor que seja de graça – mas se eu puder inventar o que eu quiser, tem prioridade na minha lista.

Acabei restringindo um pouco o texto a trabalho porque é um assunto que me sinto entendido de mim mesmo para discutir, mas dá pra abrir também para relacionamentos, estudos, filmes (odeio quando alguém fala “você PRECISA assistir esse filme”, mas isso é assunto pra mais tarde). Ou a parada é TODA prato principal, ou ela pode ser melhorada/descartada.

Day-to-Day

Ultrapassagem V.

March 15, 2013

Quinta edição da Ultrapassagem, feita MUITO na pressa, falando de HDR. Escrevi na véspera da publicação da revista, porque quando deveria estar escrevendo, na verdade estava no Rio, buscando um gravador de som com a May. Foi surreal, e muito divertido – o camarada que vendeu pra gente já ganhou dois Emmys. Certamente valeu a pena. Espero que vocês não achem o texto tão terrível!