Anamorphic Day-to-Day

[Anamórficos V] Lista de Compras e Alfândega.

September 9, 2012

Considerando que os últimos posts saíram terrivelmente tarde, tô tentando mudar a situação com esse aqui. Mas antes mesmo de começar a falar das coisas velhas, vou aproveitar o ensejo pra trazer coisas novas. Lentes novas, pra ser exato.

Neste momento, em Amsterdã, tá rolando a IBC (sigla cujo significado não consegui encontrar em lugar nenhum), que é uma das maiores conferências mundiais sobre filme, vídeo e mídia em geral. E, assim como na NAB (que acontece em Las Vegas), muitas grandes companhias aproveitam essas ocasiões para anunciar novos produtos e apresentá-los ao público na forma de protótipos, mas já funcionais. Em Dezembro do ano passado, a Zeiss anunciou que estava voltando a desenvolver lentes anamórficas, e durante a IBC, ela colocou as preciosidades à mostra, já para o mercado.

Ok, são lentes de cinema, PL, ridiculamente caras e luminosas, mas vale a pena prestar atenção em alguns detalhes, como o squeeze, de 2x e o mecanismo de foco, que é um projeto totalmente novo, visando economizar tempo no set. Não temos como ter uma em casa, mas é sempre bom saber que elas não vão parar de existir, não é?

Além delas, atualmente as anamórficas de cinema profissional são as Hawks, lentes alemãs, com squeeze de 1.33x. Nesse vídeo, um dos engenheiros apresentar melhor a série V.Lite. Em São Paulo, você pode encontrar Hawks para locação na RentalCine, se não me engano. Tô pensando em dar uma passada lá, pra matar a curiosidade e fazer uns testes, se alguém se interessar.

Em paralelo, voltando às coisas velhas, os tais de Alan e Tony Wilson, conhecidos pelo RedStan – o das Clamps – têm trabalhado em um projeto peculiar, de reestruturação de Iscoramas a partir de elementos de diversos Iscos em housings – qual a tradução disso? – totalmente novas. Isso não é tão novo quanto o anúncio da Zeiss, e não tivemos muitas novidades de seus avanços desde julho do ano passado, com esse post do Andrew Reid sobre os Cine-Iscoramas.


Cine-Iscorama, o bicho é bonitinho, vai.

Por fim, pra fechar esse assunto e irmos ao tema real do post, uma última curiosidade. Dia 31 de Março, apareceu em muitos lugares um anúncio de uma empresa chamada Robinson Hope Creative, sobre uma nova lente anamórfica, super-grande-angular, desenvolvida especialmente para as DSLR Canon. Era a RH-1. Saca só.

Tipo um sonho né? Por US$600 ainda por cima. Mas não passava de uma pegadinha de primeiro de Abril, que pegou muita gente – inclusive gente atrasada, como eu, que só comecei a investigar o assunto em Julho!

Bom, agora vamos para as prateleiras do eBay, ver o que dá pra encontrar por lá – em variados graus de dificuldade – e quanto se paga por cada coisa, além de suas particularidades.

Abaixo temos os nomes e modelos de lentes mais comuns e adequadas ao trabalho, e suas vantagens e desvantagens que considerei mais importantes, sim? As dimensões frontais e traseiras de cada lente são levadas em conta para a escolha de Clamps, e a distância focal indicada no aspecto “Vignette-Free” é sempre relativa a uma câmera Full Frame. Para calcular a situação numa APS-C ou MFT – Micro Four-Thirds, famoso pela Panasonic GH2 – é só dividir essa distância focal por 1.6 e 1.8, respectivamente

Kowa 8-Z (ou 16-H)
Stretch: 2x
Elemento traseiro: 50mm ou 52mm
Elemento frontal: 84mm
Foco mínimo: 1.5m
Peso: 530g
Vignette-free: >85mm
Preço médio: US$350-400 nos leilões, US$600-900 em buy-it-now

O Kowa 8-Z é tido como uma das melhores lentes anamórficas, depois dos Iscoramas, por ter um foco mínimo bem próximo para esses padrões e ter excelente definição até mesmo com grandes aberturas. Deve ser focada em conjunto com a lente base. Para que a imagem no sensor esteja em foco, é preciso que tanto a lente base como o Kowa estejam com o foco na mesma distãncia.

A Kowa era uma fábrica japonesa que fabricava adaptadores para diversas marcas – isso também acontece com a Sankor, abaixo, que atende por muitos nomes – e diversas faixas de preço. Em meio a seus clientes, havia uma empresa americana de equipamentos de ponta para projeção de cinema, chamada Bell & Howell. A Bell & Howell exigia a maior qualidade óptica possível possível, mesmo que isso significasse um aumento de preço. A Kowa obedecia, e, atualmente, as lentes nascidas dessa parceria são um tanto superiores às Kowa tradicionais, além de um pouco maiores, e totalmente pretas, ao invés do visual zebrado. É uma dessas que eu tenho por aqui.

Sankor (ou Singer) 16-D
Stretch: 2x
Elemento traseiro: 49mm
Elemento frontal: 80mm
Foco mínimo: 1.5m
Peso: 700g
Vignette-free: >85mm
Preço médio: US$300-350 em leilões e buy-it-now.

Depois do Kowa 8-Z, é a melhor opção. Mais barato, um pouco menor, não tem uma imagem com tanta definição, mas também tem um foco mínimo relativamente próximo. Também precisa que as duas lentes estejam focadas no mesmo ponto para formar uma imagem em foco no sensor. Uma alternativa menor (e mais barata), é o 16-C, que sai por volta dos US$250.

Você deve estar se perguntando porque os números 16 e 8 são tão recorrentes nos nomes dessas lentes. O motivo é que elas eram lentes de projeção, de 8mm e 16mm, e daí a numeração! As letras indicam o tamanho da lente, mas isso não segue um padrão, porque algumas letras maiores são lentes menores, e vice versa. Depende do fabricante. O fato de serem lentes de projeção também explica as dificuldades com foco próximo, não é mesmo? Afinal, pra que diabos você vai projetar algo a 1m de distância?

Hypergonar Hi-Fi 2
Stretch: 2x
Elemento traseiro: 74mm
Elemento frontal: 81mm
Foco mínimo: 4.5m
Peso: 1.8kg
Vignette-free: >135mm
Preço médio: US$200-350 em leilões.

Não tão comum de ser encontrada, a Hypergonar Hi-Fi 2 ficou famosa entre as anamórficas por conta do teste-curta “Lost in Hong Kong”, feito por Edwin Lee, que eu coloquei por aqui, no primeiro post a série. O foco mínimo dela é muito longe, e close-ups são fundamentais. O problema é que a rosca de filtro tem um tamanho bizarro, como 81mm, e nada gruda nela, só personalizados. Já expliquei como resolvi, e vou repetir uma última vez, porque achei bem esperto da minha parte – a modéstia manda lembrança. Colei um step down 95-86mm, permitindo assim usar aqueles dióptros Series 9 que eu tanto falo.

Como o elemento traseiro também é gigante, você precisa de uma Clamp maior que o comum. O grande problema é que essa Clamp não é lá das melhores coisas. Ainda tô elaborando um jeito de tornar ela mais firme, e ao mesmo tempo, maleável para arrumar o alinhamento sem deixar a lente tombar. Pra deixar ela firme, sem arrancar sua lente do mount da câmera, a idéia é usar aquele SPT-1, e um lens collar. O da 70-200mm Canon é do tamanho exato de uma parte fixa da lente, então, vale a pena pegar uma versão chinesa dele no eBay, por menos de US$15. Aí a estrutura fica firme. Aqui um exemplo, do próprio Edwin Lee.

Iscoramas 36, 42 e 54
Stretch: 1.5x
Elemento traseiro: 36mm (rosca 49mm), 42mm (62mm) e 54mm (77mm)
Elemento frontal: 72mm, 82mm e 95mm
Foco mínimo: 2m
Peso: 400g, 650g e 1000g
Vignette-free: >70mm
Preço médio: US$2500-3500 em leilões.

As pedras preciosas da coleção anamórfica, existem em várias versões. Essas três são as mais famosas, e dentre elas, o Isco36, porque é leve, rosca de 72mm para filtros, single-coated, e seus flares são absurdamente bonitos. Existem versões do Isco54 também single-coated, mas são bem raras. Já o Isco42 é sempre multi-coated.

Além dessas versões que são só o bloco anamórfico, existem outras, anteriores, com diversos mounts (Nikon F, M42, Exakta e Minolta SR) e duas partes separáveis. Depois, no começo da década de 1990, foram lançados os Iscos série 2000 (2001-2005), cada um com um encaixe diferente de câmera, e lentes unidas num único bloco, impossível de separar a base do elemento anamórfico. Não são muito populares, mas ainda atingem altos preços – abaixo dos Iscos tradicionais, entretanto, ficando na média dos US$2000.

A diferença principal dos Iscoramas pras outras anamórficas é que eles já foram projetados para sua função de encaixar numa câmera fotográfica. Um único anel de foco, a lente base focada no infinito, algo muito mais fácil de trabalhar que as lentes de projeção adaptadas.

LOMOs Squarefront
Stretch: 2x
Elemento traseiro: 62mm ou inexistente.
Elemento frontal: É quadrado, muito diferente!
Foco mínimo: 2m
Peso: Variável
Vignette-free: >85mm (variável)
Preço médio: US$600-2500 por lente, em leilões e vendas fora do eBay.

LOMOs são as nossas amigas russas. Nessa primeira parte, vou falar das Squarefronts, primeira geração de anamórficas. Originalmente feitas com o encaixe OCT-18, e em dois blocos separáveis (unidos pelo sistema de foco), você só precisa focar o elemento anamórfico, que a lente base segue o giro, funcionam bem como um bloco só em câmeras mirrorless com o uso de adaptadores, mas até agora não foram adaptados com sucesso para Canon EF, então, deixamos de lado a lente base e usamos só o bloco anamórfico. Como sempre foram lentes de cinema, têm uma textura diferente das demais e foco confiável. Dessa primeira geração, é difícil achar lentes em bom estado de conservação.

Mais ou menos na mesma época que a alemã Arri lançou seu bocal PL, a LOMO lançou seu novo encaixe, o OCT-19, que é terrivelmente parecido com o da Arri. As conversões entre os dois são bastante comuns atualmente, e as lentes funcionam como um bloco só, sem o elemento anamórfico destacável. Esse encaixe pode ser adaptado para Canon de duas formas, uma delas, permanente, trocando o encaixe da câmera e arrancando fora o espelho, pelo Cinemods, um grupo australiano que faz diversas alterações de mounts em diversas câmeras, entre elas as nossas EOS, ou então através do uso de um adaptador EF-OCT-19.

Devido a essa simplicidade de conversão entre OCT-19 e PL, essas LOMOs são muito mais valorizadas no mercado, porque podem ser usadas diretamente em câmeras mais profissionais – RED, Alexa, a lista segue – sem a necessidade de tantas adaptações como venho descrevendo aqui, para DSLRs. Cada uma delas tem sua distância focal, seu anel de abertura e um único anel de foco, como uma lente normal. Como as Zeiss e Hawks que falei lá no começo do post.

LOMOs Roundfront
Stretch: 2x
Elemento traseiro: OCT-19
Elemento frontal: É quadrado, muito diferente!
Foco mínimo: 2m
Peso: Variável
Vignette-free: Lente completa, não vinheta!
Preço médio: US$3500-6000 por lente, em leilões e vendas fora do eBay.

Com as Squarefronts sendo o projeto inicial, a LOMO avançou na tecnologia e passou a produzir as Roundfronts, com qualidade muito superior, também lentes completas, sem elemento destacável, de encaixe OCT-19

A única diferença entre essas meninas e as Zeiss e Hawks é que elas pararam de ser fabricadas há mais de 20 anos. Mas continuam por aí, funcionando com uma lente bem projetada deve funcionar: para sempre. Só pra esse pedaço não ficar muito curto, e eu reforçar esse aspecto profissional das Roundfronts, tem aqui um videozinho misturando elas com Hawks. Se você tem uma dessas e tá usando com DSLR, é por opção, e não por falta de grana. Vira e mexe você vê alguém vendendo um lote delas num fórum como o DVXuser, ou REDuser por US$30.000,

Panasonic AG LA7200
Stretch: 1.33x
Elemento traseiro: 105mm
Elemento frontal: 72mm
Foco mínimo: Focus-through
Peso: 450g
Vignette-free: >28mm
Preço médio: US$850-900 em leilões, US$1150-1350 em buy-it-now.

Maior e mais famoso dos focus-through, não dá nem para dizer que teve uma queda de preço considerável, porque a DVX100 é relativamente próxima da 5D, e o adaptador foi lançado em 2007, por aproximadamente US$1000. A maior dificuldade é encontrar um dióptro grande o suficiente para torná-lo mais trabalhável, uma vez que close ups de 105mm são bem raros e caros, saindo na faixa dos US$300.

Descobri por acaso que esse adaptador existe em duas versões, uma com uma espécie de mini-parasol, e outra sem. A versão com parasol pode ser usada com filtros de 105mm sem dificuldade através dessa técnica de “emperrar” os filtros lá dentro. Já a versão sem parasol requer algumas modificações. Estamos trabalhando nisso.

Century Optics (ou Optex, Soligor, Cambron, etc) Anamorphic Adapter
Stretch: 1.33x
Elemento traseiro: 52mm ou 58mm
Elemento frontal: 62mm (sem rosca)
Foco mínimo: Focus-through
Peso: 200g
Vignette-free: >35mm
Preço médio: US$700-1000 em leilões e buy-it-now.

É uma versão menor do LA7200, voltado para câmeras menores. De menor qualidade também. Juro que não entendo o preço descaradamente alto, mas têm vendido bastante, e rápido. O Optex que comprei, só comprei porque de vez em quando aparecem uns perdidos que não olham o mercado e anunciam muito barato. Paguei US$300. Como não possui rosca para filtro no elemento frontal, é necessária uma Front Clamp para trabalhar com dióptros, aberturas maiores e foco mais próximo.

Como muitos desses foram fabricados para câmeras Sony como a VX2000, e a Sony sendo do jeito que é, utilizava uma baioneta especial e não filtros de rosca. Esses modelos ainda precisam dessa adaptação para encaixar numa lente base de DSLR. Alguns anos atrás, um sujeito chamado Amit Sitapara projetou e vendeu grande quantidade de adaptadores conversores de Sony Bayo – nome da baioneta, bastante criativo, devo admitir – para filtros 52mm e 58mm. Mas o sujeito sumiu e é praticamente impossível encontrar esses adaptadores à venda. Se eu acabar comprando um anamórfico desses de baioneta, vou projetar um novo e executá-lo, mas, enquanto isso, já temos adaptações suficientes acontecendo, e essa vai esperar um pouco.


Amit Bayo rings

Um pequeno aviso sobre que tipo de lente evitar, porque pode ser útil, né? Quando você busca “anamorphic lens” no eBay, aparece um bocado de coisa. E especialmente umas lentes coloridas, vermelhas, douradas, e incrivelmente grandes. Tudo que tiver no nome “projection” ou “projector”, evite. A maioria delas tem um foco mínimo ridiculamente grande – 8m, 10m – e vinheta com muita facilidade. Sem falar na complexidade de anexar um trambolho pesado e enorme desses na frente de uma lente tão frágil como as nossas queridas lentes base. O preço de algumas pode parecer tentador, mas fique esperto: é roubada!

Saindo agora do campo das lentes, temos os anéis adaptadores, que você consegue por preços muito baixos, além de frete grátis e definitiva isenção da alfândega comprando com vendedores chineses. Escolha sempre os que tem maior pontuação, e encomendas registradas – geralmente eles têm um produto à venda chamado Registered Mail, ou similar – porque você pode acompanhar o progresso da entrega, e garantir que os Correios não vão surrupiar seu pacote. Nunca aconteceu comigo, mas já ouvi diversas histórias do tipo, e acredito completamente nelas.

Clamps, já falei um bocado, serei breve, temos dois fabricantes de qualidade – RedStan e Vid-Atlantic -, e outras coisas bem vagabundas. Recomendo evitar o eBay, e lidar diretamente com esses dois. Na verdade, eles também possuem conta no eBay, e anunciam muitos dos produtos por lá. Na minha experiência, as Clamps do RedStan são de maior qualidade, mas a Vid-Atlantic tem versões específicas – e beeem mais baratas – para os Sankor, por exemplo, e uma Clamp gigante para lentes desproporcionais, como a Hypergonar Hi-Fi 2.


RedStan clamps!

Agora os close ups são verdadeiras caçadas. O ideal é ter valores baixos, menores que +1, para você ter um maior campo de foco e não ter que fazer praticamente só macro-shots. Já me bati com dióptros +0.3, +0.4, +0.5 e +0.67, que são valores bem interessantes para foco-próximo-mas-não-tão-próximo. Dando uma olhada nas Front Clamps é possível ver uma tendência para a rosca de 72mm, o que é bom. Não são muitas as lentes maiores que 72mm (LOMOs, Isco42 e Isco54, LA7200), mas encontrar algo maior que isso é um desafio. De vez em quando aparece, mas os preços são sempre salgados. Um tal de woodchukwood tem aparecido com vários nas últimas semanas. Comprei o meu 105mm com ele, e foi um rolê pra conseguir mandar desviando da alfândega.

Os próprios filtros Series 9 são bem raros, mas algo aconteceu, e um vendedor aleatório começou a vendê-los zerados, por preços bem mais em conta que os usados. Não deixemos de aproveitar essa chance, não é? E eles são 86mm. Com os anéis certos, dá pra se virar no Isco54 e até no LA7200.

Se o seu objetivo é usar sempre achromatics, com duas camadas de vidro para maior qualidade de imagem, se prepare pra gastar mais uma grana, porque eles são ainda mais raros. Sei que os close-ups da Canon (500D e 250D) são achromatics, mas eles são bastante fortinhos. Os números no nome indicam a distância máxima de foco para cada um, o que resulta que o 500D é um dióptro +2 e o 250D é um +4.

As LOMOs Squarefront têm uma cara completamente diferente de uma lente normal, e a menos que você adapte algo nela com rosca – como estou planejando -, os dióptros disponíveis são muuuito difíceis de achar. E quando aparecem no eBay, os preços vão lá em cima, passando facilmente dos US$500. Além de não terem indicação clara de sua potência…

Comprar no eBay tem suas vantagens, como preços baixos, PayPal, diversidade e vendedores do mundo todo. Mas também tem um grande problema: vendedores do mundo todo. Como isso pode ser uma vantagem e uma desvantagem ao mesmo tempo? A vantagem é clara, porque você não precisa visitar trocentos mil sites de vendas em idiomas completamente nebulosos atrás de alguma coisa, basta ir num só, em inglês, e tá tudo certo. A desvantagem é a importação, ainda mais nesse momento político de protecionismo.

Algumas notas sobre a alfândega brasileira. Quando você viaja para fora do país e volta trazendo equipamento, você deve declarar seu valor. Cada um tem uma cota de US$500, sobre os quais não são aplicados impostos. Quando sua conta ultrapassa esse valor, o excesso é taxado em 50%. Sobre um produto de US$800, você paga 50% de imposto em US$300, o que dá aproximadamente R$600. Só pra entrar com ele no país. Se você estiver corajoso e resolver passar sem declarar, pode entrar sem pagar nada. Mas se for parado, e exceder a cota, paga 100% de multa sobre o valor. Eu acho isso tudo um roubo, mas não vou entrar nessa discussão.

Quando seu produto vem por serviço postal, o esquema é diferente. O sujeito que envia a encomenda coloca na embalagem uma declaração de valor do produto, que ao entrar no país, é avaliada pela fiscalização alfandegária, que pode acreditar ou não naquela declaração. Geralmente eles acreditam, mas existem exceções. Compras abaixo de US$50 não são taxadas, e são entregues direto na sua casa. Compras entre US$50 e US$500 são taxadas com 60% de impostos, aplicados inclusive sobre o valor da postagem. Você então recebe um aviso na sua casa, dizendo que tem que ir numa determinada agência dos Correios – geralmente próxima – pagar a taxa para retirar a encomenda. Ah, esse processo tende a levar de 20 a 30 dias.

Sobre esse aviso: antes era bem comum receber encomendas acima de US$50 sem impostos, mas de Março para cá a Receita Federal começou a operação Maré Vermelha, com objetivo de tributar tudo o que puder. Para melhor precisão sobre os impostos, quando a encomenda vinha com um nome diferente do seu nome completo (no caso, sou Tito Guimarães Ferradans, e todas as minhas encomendas vieram como Tito Ferradans), você tinha que, além de pagar a taxa nos Correios, levar também uma cópia de RG e CPF, comprovante de residência e um documento que comprovasse a venda/seu valor. Esse esquema das cópias foi implantado no meio de Agosto e deu tanta dor de cabeça que em menos de duas semanas eles cancelaram tudo isso, e só exigem mesmo a cópia do RG e CPF

Agora a parte realmente salgada: encomendas acima de US$500. Essas devem passar pelo Importa Fácil, serviço dos Correios que custa R$150 por encomenda, ou por um Despachante Aduaneiro, que custa os olhos da cara. Além dos 60% de imposto, você paga 60% sobre o valor total (encomenda + impostos), de ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – uma vez que os Correios entregam o pacote direto na sua casa. Convenhamos: não é um bom negócio. Não precisa nem parar pra fazer as contas pra perceber que 60% de ICMS em cima de 60% de imposto de importação dá 96% de impostos sobre o valor original. Se isso não é roubo, eu não sei como é o nome. Colaborando à sensação de prejuízo, essas encomendas levam em média 60 dias para passar por todo esse rolê.

Bom, alguém pode até tentar justificar que é para defender a produção interna. Mas, produção interna de lentes e equipamento fotográfico? Qual mesmo? Pois é, e deixar a situação ainda mais engraçada, você pára e pensa: “ok, vou comprar um produto usado, que já pagou seus impostos, e pronto!”, mas não. Porque a importação de produtos usados é PROIBIDA. Qual o sentido disso? Se alguém tiver uma explicação, por favor, deixa nos comentários, porque eu quero muito saber.

Nos últimos parágrafos, apresentei uma série de formas de transformar suas compras salgadas em verdadeiras bombas de hipertensão. Como aliviar os encargos? É só conversar com os vendedores antes de despachar a mercadoria. Na China eles fazem isso sem você pedir, mas com os americanos é preciso um pouco de conversa. A idéia é pedir para o valor declarado ser sempre inferior a US$50. Como eu disse antes, geralmente funciona. Mas a Receita encrenca com QUALQUER coisa que venha dos EUA, e tributa independente do valor. Quem me falou isso foi uma atendente dos Correios, quando fui buscar um filtro que custou US$30, e foi tributado como US$50. Quando a encomenda vem de partes mais estranhas do mundo, o golpe funciona. As M42 russas custaram US$400. Não paguei um centavo de imposto, porque além de não-declaradas, vieram numa caixa de laranjas, enroladas em tanto jornal que cheguei a considerar que não estivessem lá!

Se você for como eu, que faz trocentas compras ao mesmo tempo, pode ser bem desesperador tentar acompanhar todas elas em sites de correios diferentes do mundo todo. Para isso, brasileiro que é brasileiro já tem até um esquema. É o Muambator. Sim, isso é sério, e tem até App para iPhone! Você cadastra nele todos os seus números de rastreio, e ele vai acompanhando, indicando o status da encomenda a cada atualização. Ele inclusive te avisa quando seu produto foi taxado pela alfândega! Recomendo infinitamente, porque funciona mesmo.

Falei de muitas lentes, e mesmo assim, ainda ficou uma porrada de fora. Não consegui fontes suficientes, testes e comentários para escrever algo por minha conta, então vou ficar devendo até ter algo palpável, ou uma delas vir parar na minha mão!

Acho que esse post ficou excessivamente grande, e passei a tarde inteira escrevendo, mas tem MUITA dica aí, tanto pras anamórficas, como de compras no exterior de maneira geral. Espero que ajude alguém. A partir do próximo post, vou começar a testar mais a fundo cada uma das lentes que estão aqui, e explicar as modificações/adaptações feitas a elas, para o trabalho ser mais possível.

  • Adonai October 24, 2012 at 7:51 am

    Olá, excelente matéria!! Estou iniciando um projeto pra filmar com anamórfica, adquiri uma Sankor 16C R$ 270,00 + uma lente Helios 44-2 R$ 160,00 e tenho uma T4i. Estou tentando gastar o menos possível :) Eu queria saber de vc o que significa no seu post a referência a Sankor, “Vignette-free: >85mm”?

  • Tito Ferradans October 24, 2012 at 4:48 pm

    Olá Adonai. Obrigado pelo elogio!

    Gastar o menos possível é essencial! hahahaha.
    O que o vignette-free quer dizer é que com lentes mais curtas que 85mm, numa câmera full frame, provavelmente você vai ter vinhetas – bordas pretas, do interior da lente anamórfica – nas laterais do quadro. Inclusive na Helios, que é 58mm.

    Quando coloco o Sankor 16D na frente de uma Helios 44, numa T2i, tenho quinas pretas conforme fecho a iris da Helios. Quando ela tá completamente aberta, essas quinas desaparecem, mas a qualidade de imagem nos cantos é bastante prejudicada.

    Além disso, a distorção (anamorphic mumps) fica mais clara em lentes mais abertas do que nas mais longas. Ainda vou escrever melhor sobre isso, descobri há pouco tempo.

    Sobre o conjunto, para ele ficar completamente operacional – pelo menor preço – indicaria um filtro frontal e clamp da VidAtlantic, que são bem mais em conta que os Redstan. :D

    Boa sorte no projeto, e caso tenha qualquer dúvida, é só aparecer por aqui, que ajudo como puder!
    Abraço!

  • Adonai October 27, 2012 at 12:18 pm

    Blz amigo!!Qual seria o tipo de filtro frontal? U$ 55,00 no clamp pra prender a anamórfica, que caro!! rsrs

  • Tito Ferradans October 28, 2012 at 8:16 am

    O último item dessa página, tem opção para o Sankor 16C (US$20). Se você comprar a Clamp com o Eddie (responsável pelo site), e pedir um desconto, ele provavelmente tira uns 10% – ele fez isso pra mim duas vezes já.

    Para a clamp, se você quiser um diâmetro só de anel (ao invés dos três descritos no site), tem essa alternativa no eBay, também com o Eddie, já US$10 mais barata. Manda uns emails pra conversar com ele! :D

  • Adonai October 28, 2012 at 10:42 am

    Blz!! Não quero perturbar muito vc, mas aquele filtro Cinemorph da Vid Atlantic tem bons resultados? É mais versátil? A tela com a Sankor fica mais esticada, ou dá no mesmo? :)

  • Tito Ferradans October 29, 2012 at 3:59 pm

    Hahaha, relaxa! O filtro Cinemorph não altera a proporção da imagem, só torna os desfoques ovalados e faz alguns flares compridos (nem todos), mas só dá pra usar em lentes mais fechadas que 70mm também, e perde 2 stops de luz. Tem um post só sobre ele, com várias comparações.

    Com a Sankor, você teria uma imagem duas vezes maior que a do filtro, que é idêntica, em tamanho, à captada naturalmente pela câmera. Eu acho a Sankor mais emocionante, se você quiser anamórfico de verdade. Se for só pelo visual, vai no filtro, e corta fora na pós produção as barras superiores e inferiores da imagem.

    Ajudei?

  • Adonai October 29, 2012 at 9:10 pm

    Com ctz!!! Ajudou muito! A Sankor acabou de chegar, a Helios foi semana que vem, agora só falta a chegar a camera Vou comprar logo o clamp. Suas dicas foram muito importantes. Quando preparar alguma coisa apresento a você. :)

  • Tito Ferradans October 30, 2012 at 7:04 am

    Valeu Adonai! Boa sorte com o equipamento novo! Aguardo pra ver qualquer material! :D

  • Adonai November 17, 2012 at 11:01 am

    Blz? Ainda estão pra chegar os adaptadores, mas já to fazendo uns testes com a lente do kit mesmo. Eu baixei um programa pra canon chamado Cinestyle e uma curva chamada Lut, na minha experiência inicial eu gostei do resultado. Vc recomenda algum plugin pra eu usar no after/premiere? eu consegui comprar uma jupiter 85mm no ebay por U$ 58,00 com ela não vou ter vinheta na sankor 16C né? Abraço

  • Tito Ferradans November 18, 2012 at 8:01 pm

    Adonai, o Cinestyle é um picture style muito interessante para se trabalhar na pós-produção. Atualmente uso o VisionLog, que também tem essa curva diferente dos padrões, mas estou achando mais fiel às cores que o Cinestyle.

    Bom preço pela Jupiter! Certamente uma boa aquisição. Adoro a minha, e ela não vinheta com anamórficos 2x.

    No Premiere ou no After só é preciso ficar esperto para o “esticamento” dos vídeos pra proporção correta, de resto, é só uma questão de gosto. Trabalho bastante com o Colorista II, da Red Giant.

    Abraço!

  • Adonai November 22, 2012 at 10:06 am

    Blz amigo, poderia me ajudar num problema? É o seguinte: Gravei na T4i alguns videos com o preset CINEMA, gostei bastante do resultado, só que quando vou colocar no Premiere ou After e exportar em H.264 o video perde a cor do preset e também o arquivo fica um pouco menor, enquanto o original tem 125mb, depois de exportado fica com 90mb. E como gravei em 1920 30p não consigo exportar no mesmo tamanho sem ficar dando uns pulinhos na imagem, o que vc acha? Tô fzd muita coisa errada? Abraço

  • Tito Ferradans November 23, 2012 at 9:51 am

    Adonai, isso é muito estranho. A cor tem que se manter, porque isso já vai direto na imagem. Se fosse em RAW, era compreensível o visual customizado sumir, mas como é vídeo, não tem explicação. :(

    Sobre a diminuição do tamanho, cada programa tem uma configuração de exportação própria, que você pode alterar. Geralmente, os H264 gerados por eles são menores (mais comprimidos) que os da câmera. Inclusive é possível alterar a taxa de quadros nessa hora de exportar. Dá uma fuçada aí. :D

    Abraço

  • adonaifc December 24, 2012 at 5:35 pm

    E ae amigo blz? Desejar um feliz natal e agradecer as dicas dos anamórficos. :) Em breve vou estar produzindo um video, por enquanto pode conferir uma foto que eu fiz com uma jupiter 9 e a Sankor. Abraço

    http://adonaifc.wordpress.com/2012/12/24/anamorfica/

  • Tito Ferradans December 27, 2012 at 11:01 am

    Olá Adonai! Feliz natal para você também e boa sorte com as produções! Essa combinação (Jupiter e Sankor) é bem legal, né? Na 5D rola um tanto de vinheta, mas na T4i fica totalmente de fora. :D

    Abraço!

  • Adonai Fernandes De Carvalho January 2, 2013 at 7:21 pm

    Olá :) Então, tô fotografando e fazendo uns videos com a Sankor. Como vc falou a Júpiter e Sankor não dá vinheta na T4i, muito bom!! rsrs Amigo, eu não sei se vc sabe mas sou produtor musical, compositor, e eu fiz nesses últimos tempo 2 trabalhos de trance, um Psy e outro Dark e minha cabeça funciona meio que musicalmente, então eu crio os programas em um software de nome Cubase e lá mesmo faço a pré e pós produção. O que eu quero saber com vc é o lance do Premiere e do After Effects! Eu to fzd assim:
    1) Filmo alguma coisa
    2) Vou no Premiere e interpreto em 2x e exporto esse pedaço de filme
    3) Tenho vários pedaços filmados e jogo no Premiere pra fazer apenas um
    4) Faço alguns ajustes de luminosidade em cada pedaço com uma curva RGB ou pra mais ou menos
    5) Exporto o arquivo do filme e mando pro After
    6) No After uso algum plugin, tipo vision color ou faço uma coloração geral para o filme inteiro
    7) Exportação final (vimeo, tv de casa e etc)

    O que to fazendo errado amigo? Tô com um trabalho quase pronto, ainda faltam uns 10 pedaços de imagem, gostaria que vc desse uma sacada nele quando pudesse!! rsrs (E a minha linguagem ainda tá muito senso comum ou pior!) Como eu chamo por exemplo “pedaço de filme”?

    Ótimo 2013 :)

  • Tito Ferradans January 3, 2013 at 12:04 pm

    Adonai, fiquei curioso.

    Meu processo é um tanto mais curto e com menos idas e vindas. Eu começo pelo premiere, já emendando tudo na ordem que eu quero que fique, pra música, entrevista, o que quer que seja, depois, seleciono tudo na timeline (com o mouse mesmo), e dou um ctrl+copy, pra colar no After.

    Lá, na propriedade de escala dos clipes, eu desmarco a correntinha, pra não fica proporcional, e diminuo a altura pra 50%. Se você tá fazendo em Full HD, é só abrir as propriedades da composition (ctrl+K) e mudar a altura pra 540px, mas manter a largura de 1920px.

    Aí, os clipes já estão em ordem e esticados. Por cima de cada um eu vou criando uma adjustment layer com a correção de cor (gosto muito do Colorista II, da Red Giant), deixando todos os planos com um mesmo estilo visual. Depois disso, só mando pro render queue (ctrl+m) do After e escolho o formato/compressão.

    Os pedaços, você pode chamar de clips, ou de planos, sei lá. hahahahahaha. :D

    Bom 2013 pra você também!

  • Adonai Fernandes De Carvalho January 4, 2013 at 1:06 pm

    Blz!!! Curti esse seu método de enviar pro After, bem mais prático! Ainda vou continuar primeiramente exportando os clips esticados pra depois ir pegando os que quero usar, minha máquina não roda bem nem o premiere e pior ainda o After. É um Qosmio com um X9100 e a Nvidia mesmo sendo de 1gb não tem os cudas suficientes :( . Essa exportação inicial vou fazer com esse método do Marcelo Ruiz:

    http://olharmultimidiatec.blogspot.com.br/2012/12/premiere-pro-como-exportar-sem-perder.html

    Depois Vou usar sua metodologia, e fazer o tratamento no After.

    Só estou esperando aparecer o sol, tá td nublado aqui, quero colocar uns flares nesse primeiro vídeo.

    Eu também tomei uma decisão, vou pegar uma GH2, andei vendo no ebay e tá na faixa de U$ 500,00. O dinheiro que eu ia usar pra comprar tripé, led, flash, slider e um dolly dá pra comprar essa camera e eu acho melhor pq afinal a GH3 estão vendendo mttttttttt caro!! Tá na faixa de uns U$ 2500,00 acho que ainda nao compensa. E também tiro minhas próprias dúvidas sobre Gh2 x T4i.

    Abraço

  • adonaifc February 14, 2013 at 4:29 pm

    Blz? Vc já ouviu falar no Apefos? Eu dei uma olhada nos videos que o cara fez com esse aparelho que ele fabrica, será que dá pra substituir uma anamorfica com foco? Tá em média 500 e 700 reais me parece. Dá uma sacada qdo puder: http://www.apefos.com/site/popportugues.htm

  • Tito Ferradans February 20, 2013 at 7:55 pm

    Ele desistiu do projeto e tava vendendo os direitos de fabricação e todas as instruções no ebay, por 13 mil dólares. Na real, parece uma gambiarra, e não uma lente decente… É o mesmo sistema de double-focus do seu Sankor, só que sem ser através do anel, e sim travando com um parafusinho e uma borboleta. Stretch de 1.33x.

    Link pro anúncio no ebay

  • Fernando May 1, 2014 at 6:35 pm

    Tito,

    Estou começando a ler sobre lentes anamorficas para canon 7d e ainda tenho muitas dúvidas .

    Não sou profissional, mas adoro o formato anamorfico.

    Poderia me resumir o que comprar ?

    Como disse, tenho apenas uma 7d e queria colocar uma lente anamorfica e brincar .. Abs

    Aguardo seu retorno