Dois anos depois, com uma lembrança vaga presa nos lábios e na garganta, o sonho retoma movimento.
Primeiro, a espera. Como manda a tradição, ele tenso de ansiedade, estômago revirando. Ela, calma, sabe – e dita – as regras do jogo. Nos minutos iniciais, a expectativa. Uma conversa sem muito sentido.
– Sua mão é gelada! Que nem a minha!
– Sério? Uau! – de fato, a mão dela é gelada.
– Mas meus braços são quentes. A mesma coisa com os pés.
– Quer dizer então que sua perna é quente?
– É – ela faz um meneio de cabeça.
Tensão. Ele toca na perna dela, na altura do joelho. O escuro do cinema é testemunha. Ela empurra o rosto dele para longe, brincalhona. Seus olhos são perdição. O sorriso maroto, é quase um convite. A boca reluz no escuro, mas ele ainda não faz nada. Aperta os próprios lábios, em dúvida e desejo.
“Foda-se”.
– Oi – ele chama, ela se vira em sua direção e é surpreendida por um beijo. Não exatamente “surpreendida”, afinal, havia um acordo velado que estavam ali justamente para isso. É um beijo longo, com muitas lembranças e expectativas associadas. Não decepciona, muito pelo contrário.
Ela se reclina com a cabeça sobre o peito dele e o coração do rapaz parece que sobe para a garganta. Parece que é a milésima vez que estão juntos vendo aquele filme. É estranhamente agradável.