Day-to-Day

Branco de Neve, sem Neve.

June 7, 2014

Hoje foi dia de mais turismos, e caminhadas intensas. Comecei passando pela English Bay, que é a parte de praia aqui do lado, que não tinha explorado ainda. Na verdade, nesses dias todos, só tinha ido para leste, a partir da casa do Wyll. Hoje foi dia de ir para Oeste. Então, caminhei margeando a praia por uns 40 minutos e vou fazer duas listinhas sobre isso.

1 – O que você ENCONTRA nas praias de Vancouver: patos, gansos, corvos, gaivotas, pedras, troncos de madeira, GARÇAS, barcos e mexilhões.

2 – O que você NÃO encontra nas praias de Vancouver: banhistas.

Sério, vi um monte de pássaros se divertindo a valer na água, e nem um ser humano sequer. Sério, tinham até garças pescando, de boa. Nos arredores da praia tem uma galera tomando Sol deitada na grama, crianças correm loucamente, muitas mães e pais perambulam com seus bebês, pessoas passeiam com seus cachorros, e por aí vai. Mas é tudo muito silencioso, sem gritaria, um contraste ridículo com as praias de Salvador, por exemplo. E olha que tava um Solzão!

Depois dessa margeada de praia, entrei pelo Stanley Park. A península oeste de downtown, que chega na Lionsgate Bridge, levando a North Vancouver. Eram umas 11h da manhã, e tinha bem pouca gente – ou eu só escolhi os caminhos desabitados, não sei ainda. Enfim, saí andando ao lado da pista, até encontrar a primeira entrada de trilha. Nem quis saber de nada, já pulei nela e saí trilhando, com árvores ENORMES de ambos os lados, e ninguém em vista. Comecei percorrendo uma trilha Rawlings. Quando cruzei com a Lovers, encontrei uma placa indicando distâncias para Beaver’s Lake e Prospect’s Point. Como o lago era mais perto, resolvi ir pra lar. A placa indica 1.3km, então tinha que ser moleza, né?

Claro que não. A próxima placa, NA MESMA TRILHA, indicava 1.9km, e a terceira dizia 0.3km. Confuso, mas definitivamente na direção certa. O parque tem essas trilhas principais, “pavimentadas” com brita e areia, e umas trilhas menores, que entram pelo meio da selva, e tem chão batido. No começo, fiquei na dúvida se era permitido entrar nessas trilhas ou não. Decidi por não entrar, com medo de me perder. Aí eu consegui me perder nas trilhas grandes mesmo, porque as plaquetinhas que indicavam os nomes começaram a ficar escondidas em meio à vegetação. Em dado momento, fiquei emocionado, achando que estava ouvindo os sons de água corrente, uma cachoeira, céus, que coisa maravilhosa! Aí segui na direção do som e… descobri que era só o trânsito. O parque é cortado por uma via principal, onde passam todos os carros que vão (e voltam) de North Vancouver para Downtown.

Depois de uns 40 minutos andando no mato, a última plaquinha dizia que o maldito lago tava a 200m, foi aí que encontrei uma pontezinha por sobre o trânsito, com indicações inusitadas. Parei pra consultar meu fiel mapa, e descobri onde estava (no meio de uma mancha verde, tava lá a bendita ponte)! Pelo mapa, ainda tinha um pedaço de chão pela frente.

Descendo do outro lado, encontro um casal de turistas, que pergunta se sei pra que lado fica o lago. Bom saber que não sou o único perdido nessa história, né? Seguimos meio lado a lado, sem conversar muito. Aí fiquei pra trás, observando umas frutinhas que crescem no parque todo. Parece uma mistura de morango, amora e framboesa, em termos de tamanho, cor e vegetação, mas não arrisquei comer, porque ainda não estava completamente louco – acabei de pesquisar aqui na internet, e parece que são Salmon Berries, e são comestíveis, e deliciosas. Como não vi ninguém comendo, não vou comer também. Enfim, depois das berries, me apareceu um picapau e fiquei tão hipnotizado que nem consegui pegar a câmera. Quando voltei a prestar atenção na trilha, o casal de turistas já tinha sumido, e segui na mesma direção. Passei por mais algumas placas loucas indicando a distância do lago, e finalmente cheguei!

Spoilers: a água do lago não é visível. Tem tanta vegetação aquática que ela fica completamente escondida. Sentei pra descansar um pouco, enquanto trocava mensagens com o Paul, que tava vindo pra gente passear em outras partes do parque. Nessa hora, tô comendo minha barrinha de cereais quando vejo um passarinho de asas vermelhas voando sobre o lago. Penso “Uau, que pássaro bonito, queria vê-lo mais perto!”. Aí o diabo do pássaro continua vindo na minha direção, e pousa no banco, do meu lado. Ok, estranho, mas aceitável. Ele me encara, eu encaro ele de volta. Aí a criatura pula pro meu pé e fica me encarando. Mal deu tempo de tirar uma foto com o celular antes de ele voar embora. Desconfiei que ele só queria minha comida, mas foi algo muito bonitinho. Fiquei me sentido a Branca de Neve, amiguinho de todos os animais da floresta.

O Paul ainda tá longe, tentando pegar ônibus, então resolvo continuar minhas explorações, em direção a Prospect’s Point. Passo por baixo de umas duas pontes pequenas e saio margeando a água. Que bonito, mar de um lado, paredão de pedra lisa do outro, e uma pista para pedestres e ciclistas! “Prospect’s Point deve ser naquela direção!”. E aí vou andando. E andando, e andando. Depois de 2.5km de caminhada, sem alteração de cenário (nenhuma saída lateral para dentro da floresta!) começa a me bater o desespero. De acordo com o mapa, se eu seguir por mais 6km (SEIS QUILOMETROS!) naquela direção, vou chegar no lugar que entrei no parque. Definitivamente uma má opção. Não pelo lugar, mas pelos seis quilômetros. Fico mais atento, vejo uma reentrância na pedra, penso que pode ser um túnel, uma trilha… não, é só um buraco mesmo. Uns 800m mais à frente avisto umas raízes e um pouco de terra escalável à esquerda. Ok, é uma ribanceira. Mas pelo menos lá em cima eu vou ter opções de caminho, e aqui a coisa tá difícil!

Com pés e mãos, escalo ribanceira acima, furtiva e agilmente, de forma a não tomar bronca, se estivesse fazendo algo errado. Acho que não era errado, porque ninguém falou nada. Saí numa outra daquelas trilhas maiores lá em cima. Ufa! Sombra! Ventinho fresco! Caminho só de subida… Desvio de uns dois pontos turísticos porque são ladeira abaixo, e depois teria que subir tudo de volta. Já era mais de uma hora da tarde. Paul manda uma mensagem dizendo que o ônibus não para de jeito nenhum, e que ele só vai conseguir descer lááá do outro lado do parque (em relação ao ponto onde estou). Marcamos de nos encontrar, claro, no Beaver’s Lake.

Sigo por mais trilhas. Nesse pedaço acho que passei uma meia hora sem encontrar um ser humano sequer. Passei por uma árvore caída com mais de 600 anos (era o que a plaquinha do lado dela dizia. Aliás, esse parque tem plaquinhas informativas MUITO interessantes mesmo!), e o diâmetro da monstra era quase a minha altura! Em dado momento, descubro onde estou – novamente, uma grande coincidência de mapas – e que caminho devo seguir. Chego na pontezinha de pedestes e equestres, atravesso, e sigo EXATAMENTE PELO MESMO CAMINHO DE ANTES, mas por motivos desconhecidos, cheguei ao lago pelo lado oposto ao que tinha chegado antes. Realmente não entendi como isso aconteceu, mas aceitei. Já tava com as pernas meio cansadas nessa hora.

Sentei pra esperar o rapaz, e fiquei pensando na vida. Esse parque é um dos lugares mais bonitos que já vi, e que não tem que pagar pra entrar. Se eu quiser ir lá e ficar o dia todo no meio do mato, ninguém vai me impedir, ninguém vem ficar enchendo o saco, não é perigoso, é lindo demais, as árvores são gigantes, e fazem a gente se sentir muito pequeno e jovem. Volto lá outro dia com uma lente mais adequada e filmo umas coisas pra ver se dá pra converter a sensação em imagens.

Depois que o Paul chegou, ficamos uns minutos comendo amendoim quando aparece um esquilo (oh! que bicho fofinho que é um esquilo!). Depois, um pássaro muito pequeno fica interagindo com a gente, pousando perto, piando. Resolvi arriscar e botar o dedo pra ver se ele subia. Quase! Quebrei um amendoim em pedaços menores e coloquei na mão. Ó o resultado!

Bonitinho demais. O bicho pegou um pedaço de amendoim quase do tamanho da cabeça dele, e pousou num galho próximo, pra ficar bicando pedaços menores. Em seguida, apareceu mais um daqueles mini-corvos de asa vermelha. Dei um pedaço de amendoim pra ele também. Aí foi o apocalipse. Em menos de cinco segundos apareceram umas dez aves de espécies diferentes querendo comida – até um PATO! – e começaram a cercar a gente. Como já vimos “Os Pássaros”, jogamos uns amendoins pro outro lado e saímos correndo, fugindo de um bando de passarinhos. Foi inusitado, e impressionante como os bichos apareceram rápido!

Depois, nas partes mais urbanas do parque, encontramos algumas placas dizendo “não alimente os animais”, mas lá no meio do mato não tinha nenhuma dessas!

Outra curiosidade de hoje é que vi várias daquelas bikes para duas pessoas. Até hoje só tinha visto em filme, e nunca achei algo prático. Hoje, vi na vida real, e continuo não achando prático.

Retomando. Fugindo dos pássaros, ficamos perambulando um pouco pelas trilhas, passamos perto do Aquarium, Lost Lagoon e margeamos a praia do outro lado do parque – mesma situação aqui, vários pássaros curtindo e poucos humanos. Aí a fome bateu e fomos capengando por muitas e muitas quadras ao longo da West Georgia Street até chegar ao Pacific Centre, e conseguirmos encontrar a praça de alimentação. O almoço hoje foi às 16h40 (depois de quase seis horas de caminhada intensa), um cachorro quente com fritas bastante oleosas. Daí o Paul voltou pra North Van e eu peguei o caminho de casa. Fiquei por aqui, descansando e tentando dormir desde então. Sem sucesso.

Amanhã temos mais atividades, acho que vamos no Capilano, que é um parque MUITO maior, e mais longe. Aguardem!