Há uma enorme gama de aspectos que envolvem a sétima arte. Suprimindo todo o processo de criação e indo direto ao produto, podemos destacar três desses aspectos que são bastante considerados no nosso dia a dia em relação aos filmes. Seu papel como ferramenta educativa; como fonte de lazer; e a como criador de mitos ao redor, principalmente, do elenco principal ou, menos freqüentemente, de diretores e outros cargos.
Quando se fala do relacionamento entre educação e cinema, logo pensamos em filmes que retratam momentos históricos, vidas de grandes personalidades ou até mesmo documentários. Pensar nesses filmes não é errado, mas, não é só esse o tipo de educação que pode ser oferecida pelo cinema. Na verdade, a real educação oferecida pelos filmes é encontrada, muito mais, nos que retratam o dia a dia das pessoas, ou como determinado personagem passa por uma situação difícil em sua vida. “A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como idéia, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida” (BRANDÃO, 2006, p. 10). Praticamente todos os filmes passam uma lição do que é “certo” e o que é “errado”, lições de moral, de retidão ou ética. Segundo Camargo, a educação pode, sim, estar incluída no tempo de lazer, mas apenas quando utiliza uma abordagem diferente da tradicional, autoritária.
Sempre existirão aqueles que interpretam um filme somente por seu caráter como peça de entretenimento, esteja, ou não, a película associada a qualquer tipo de lição. É por esse motivo que Hollywood vende tanto. De lá saem obras que, muitas vezes, não contém nenhum elemento de destaque em particular, porém, quando todos esses atributos medianos (clichês, para uns) são combinados, obtém-se um produto capaz de divertir, por algumas horas, pessoas grande variedade de estilos, idades, pensamentos ou condições sociais. “Mas, como imaginar que alguma pessoa consiga algum equilíbrio na vida cotidiana, sem seu espaço de sonho, de aventura, de encantamento, de beleza?” (CAMARGO, 1986, p. 23). A habilidade e permissão de esquecer a realidade, por um breve tempo é, de longe, o maior trunfo da indústria do cinema.
Combinado a essa ampla abrangência, temos a equipe de produção valorizando o resultado. Muitas vezes um filme tem grande público somente pelo fato de ter no elenco uma grande estrela, ou um diretor de renome. Não que isso não mereça destaque, mas, atualmente há uma supervalorização das estrelas, dos mitos envolvidos.
O mito faz parte daquele conjunto de fenômenos cujo sentido é difuso, pouco nítido, múltiplo, Serve para significar muitas coisas, representar várias idéias, ser usado em diversos contextos. (…) O mito é uma palavra que está em moda. Um conceito amplo e complexo, por trás de uma palavra chique. (ROCHA, 1985, p. 7-8).
Supervalorização esta que se prolonga muito além do campo de trabalho, passando para a vida pessoal dos astros e criando uma verdadeira mitologia em torno do que esses famosos fazem no seu dia a dia e como encaram suas dificuldades fora das telas.
É preciso conseguir, na criação de um curta, ou longa metragem, embutir a educação de forma discreta e até imperceptível quando procurada diretamente. Encaixá-la abertamente estraga tanto o momento de lazer do cinema, quanto à lição, tornando o filme apenas mais um “produto educativo” que ninguém consome por livre vontade. A questão dos mitos se dá muito mais em meio ao público que, com o tempo, vai associando fortemente o ator aos personagens, desgastando a relação entre ambos (público e atores), seja o fã em busca de notícias de seu personagem favorito ou do ator, fugindo constantemente de fotógrafos e jornalistas.
REFERÊNCIAS
CAMARGO, Luiz O. Lima. O que é lazer. São Paulo: Brasiliense, 1986. (Coleção Primeiros Passos).
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção Primeiros Passos).
ROCHA, Everardo, P. G.. O que é mito. São Paulo: Brasiliense, 1985. (Coleção Primeiros Passos).