Outro dia estava eu pensando na minha filosofia de comida. Eu não gosto de comer arroz, só pra encher o prato – salvo raríssimas exceções – eu considero o arroz uma parte dispensável de um almoço. Sejamos radicais e falemos de feijoada. Feijoada é uma comida foda. Quando eu tenho feijoada para comer, no máximo, eu vou colocar um pouco de farinha, pra dar liga, mas nunca vou colocar arroz, nem salada, nem qualquer outra coisa que não seja feijoada, por um motivo simples: quanto mais acompanhamentos eu colocar, menos feijoada eu vou ter pra comer, afinal, meu estômago tem um limite.
Analisemos a função básica e composição de um acompanhamento: é uma parada que não é tão gostosa quanto o prato principal, mas que serve pra te encher e comer menos prato principal. Dá pra expandir o exemplo pra quase tudo, como o caso de um rodízio numa churrascaria. Juro que não entendo porque as pessoas vão naquele buffetzinho que fica lá no meio. Galera, você tá pagando uma fortuna pela carne, essa comidinha normal dá pra achar em qualquer lugar, então, COMA CARNE! Só carne, oras! Ninguém vai na churrascaria porque tem ótimos acompanhamentos, a gente vai pra comer carne!
E agora, chegamos na parte do post que vai disseminar a discórdia e o ódio – se é que essa falação toda de “coma carne” já não fez o serviço – mas, vamos em frente. Por que aplicar esse conceito só para a comida, e não para tudo na vida? O que seria um acompanhamento na vida? São aquelas coisas que não te animam, mas no fim, te deixam satisfeito – como um trabalho muito chato, com um pagamento muito bom, um ótimo argumento e um desenvolvimento fraco, etc. A gente aceita porque acha que precisa, mas não quer de verdade. Ocasionalmente, os acompanhamentos são importantes pra sustentar os pratos principais, mas, depois de achar o prato principal, dá pra sustentar tudo só com ele.
Outra boa saída é descobrir como transformar o acompanhamento em prato principal. Dei o exemplo do arroz no começo e vou retomá-lo aqui. Numa paella, o arroz é o prato principal, tornando-se então algo maravilhoso. Vamos para exemplos pessoais: pra mim, trabalhos em motion e After Effects eram um acompanhamento, uma coisa que eu sei fazer e usava pra financiar meu prato principal, de fotografia. Aí fui me deparando com trabalhos de motion que deram gosto de fazer, foram verdadeiros desafios e se promoveram a pratos principais. Ao mesmo tempo, caí numas roubadas de fotografia que me fizeram repensar várias coisas.
No fim das contas, cheguei à conclusão de que meu prato principal, em relação a trabalhos, nesse momento, é liberdade de criação. Pode até pagar mal – se esse for o caso, é melhor que seja de graça – mas se eu puder inventar o que eu quiser, tem prioridade na minha lista.
Acabei restringindo um pouco o texto a trabalho porque é um assunto que me sinto entendido de mim mesmo para discutir, mas dá pra abrir também para relacionamentos, estudos, filmes (odeio quando alguém fala “você PRECISA assistir esse filme”, mas isso é assunto pra mais tarde). Ou a parada é TODA prato principal, ou ela pode ser melhorada/descartada.
” – Eu odeio ARROOZZZ!”
Te disse isso no ano novo… hahahahaha