Day-to-Day

Fuckin’ Filters.

April 16, 2013

Há algum tempo eu já tinha uma idéia de filtros estranhos para fazer. Majoritariamente, todos dependem de luz incidindo sobre eles para funcionar e produzir efeitos interessantes. O problema era cortar redondinho, com a milimetragem exata e encaixar numa rosca de outro filtro, e por aí vai. Uma gambiarra atrás da outra.

Não sei se vocês já pararam pra reparar, dentro de um carro, quando chove, a gente sempre fica olhando pra rua e o que acontece lá fora, ignorando o vidro. Quando é de noite, a coisa fica uma beleza. Cada gotinha tem o reflexo de tudo que tá na rua. Todos os pedestres, carros, prédios e, mais importante nesse caso, faróis acesos. São muitos micropontos refletidos de fontes de luz direta. Pelos olhos da câmera, poderiam ser comparados a luzes de natal, em menor escala, mas mais numerosos.

Nesse fim de semana, não por um acaso do destino, estava a filmar com as anamórficas, na chuva, operando foco de uma 50mm numa grua, com aquele controlador de foco Okii. Ele funciona a partir do mecanismo de auto-foco da lente, então era uma Canon f/1.8, e conforme você gira o controle, o autofoco vai dando passos para perto ou para longe, mudando o foco da cena. A gente ensaiou por umas quatro horas, e era um plano complicadíssimo, com três momentos principais. Começava com um carro chegando da rua e parando com o farol apontado para a câmera, bem próximo. Depois, saíam pessoas do carro, e uma dessas pessoas ia tocar numa banda. A grua pegava esse movimento, e o camarada passava por baixo da grua. Depois da banda, tínhamos a multidão de pessoas assistindo e terminava num letreiro luminoso com o nome do bar: Alberta #3.

O primeiro take não deu certo. O segundo, tinha muitas gotinhas na lente, e o terceiro ficou maravilhoso. Todo mundo acertou tudo, e era nossa última tentativa. Ou dava certo, ou já era. Nesse, a lente estava enxuta. Assistindo o material depois, fiquei impressionado com a personalidade daquelas gotinhas na lente, refletindo a luz do farol que batia diretamente sobre tudo.

Aí resolvi juntar tudo. Queria fazer os filtros, tinha a teoria dos vidros de carro na chuva, e agora o resultado de gotículas na lente: era o visual desejado para sujar ainda mais as imagens de forma orgânica e relativamente aleatória. Aproveitando que o mattebox tem gavetinhas para filtros, peguei as medidas que precisava e fui numa loja de molduras aqui do lado. Em cinco minutos eu tava saindo com três pedacinhos de vidro cortados (140mm por 100mm) e quinze reais mais pobre. Sério, 15 reais por três filtros 4×5.65″ tava bem barato. Tudo bem que eles não tinham nenhum efeito ainda, mas ô!

Cheguei em casa com os três, e fui testar no porta-filtro. Como eu imaginei, o vidro usado era fininho, e ficava com uma folga substancial. Cacei umas tirinhas de gaffer e fiz calços para os três. Agora tá rolando bonitinho. Hoje tô ensandecido aqui com umas aulas virtuais, mas amanhã já faço testes e posto por aqui, com essa experiência de desfoques luminosos propositais, estrategicamente posicionados usando um contagotas!


A foto é meramente ilustrativa!

  • Ferradans. · Alberta #3. August 18, 2013 at 5:11 pm

    […] alguns de vocês devem se lembrar dessa empreitada com filtros, trabalhei num projetinho de promo para um bar aqui no centro de São Paulo, chamado Alberta #3. […]