Insight Specials

“Resolve na Pós!”

June 30, 2010

Logo de cara, apresentemos as cartas que guiam esse texto, e a proposta por trás dele. O que é pós-produção? Na interpretação direta, é tudo que acontece depois da… isso aí, Produção!

Consideremos que a produção é o momento da captação de seu material. Filmagens, sets, e toda aquela situação estressante que se prolonga por um, dois (ou váááários) dias e que todos os envolvidos saem arrasados, física e psicologicamente.

A partir do exato momento em que todos vão para suas queridas casas, e passam todo aquele material para dentro de um computador, aí começa a pós-produção. Montagem faz parte da pós-produção, tratamento de som também, e mais uma meia dúzia de outras coisas, mas o foco aqui é a Pós (vamos encurtar “pós-produção”, ok?) de Imagem. É quando você vai aprimorar o que você já tem, ou até mesmo consertar alguns errinhos. E por que tamanha polêmica em algo tão vantajoso?

Quem dera que fosse assim fácil de resolver tudo na Pós! Já aqui, nos deparamos com as três frases do cineasta fracassado:

1 – Decupa na hora! (ou seja, “vamos para o set sabendo a história que queremos contar, mas sem a seqüência de imagens elaborada e planejada”)
2 – Falas? Os atores improvisam! (que também quer dizer “não quero escrever diálogos, isso é chato, deixa a galera inventar que vai ficar ótimo”)
3 – Resolve na Pós. (mais conhecido como “o plano deu errado, mas eu não tenho mais tempo pra perder, aposto que aquele meu primo do photoshop sabe resolver isso pra mim. Em Hollywood é tão fácil!”)

“Existe a ilusão de achar que tudo se resolve na pós-produção. Desde gravar errado até a má interpretação dos atores, ou ainda problemas com o texto. Não é assim que funciona e cabe a vocês, da nova geração, mudar este pensamento. É verdade que com as ferramentas disponíveis atualmente a pós-produção pode resolver muitas coisas, mas nunca vai excluir o planejamento” (Roberto Barreira, 19/06/2007)

Quem diria que eu um dia usaria um link da Globo pra sustentar uma tese, não é? Enfim…Vamos deixar de fora as duas primeiras frases fracassadas e focar na terceira, que é o tema do momento. Realmente, Hollywood faz mágica com sua Pós. Um exemplo bastante bom para ilustrar isso é o filme mais recente dos nossos amigos mutantes. X-Men Origins: Wolverine.

Por algum acaso do destino, vazou na internet uma cópia não finalizada do filme. Sorte nossa. Hoje em dia já é bem complicadinho de encontrá-la por aí, mas na época foi fácil, e até agora não apaguei a minha (nem pretendo), é uma aula! Ao longo dessa cópia em particular (ou Workprint, que é o título hollywoodiano para um filme não finalizado), temos a oportunidade de ver várias cenas numa versão de rascunho, onde a filmagem original se mistura com uma Pós parcial, dando várias idéias de como repetir/recriar tudo aquilo.

Tá, não posso postar uma cópia de X-Men aqui, mas posso ilustrar a Pós de outra forma. Bloody Omaha, aí vamos nós.

E o que eles têm que nós não temos? Isso aí, jovem. Eles têm dinheiro. MUITO dinheiro. E por isso estamos fadados a ter péssimos artistas digitais, certo? Errado! Você não precisa de milhões de dólares pra montar uma seqüência impressionante e visualmente (leia-se: aparentemente) cara.

Fuck, I’ve done it MYSELF! E, pra ser mais um pouco exibicionista, aí vai o teaser de Insight. (o conto, original, pode ser lido aqui, em inglês).

Bonitinho? Engana, pelo menos. E parece caro. Muito caro. Não foi fácil, mas ao longo de um ano, tendo aulas de cursinho (pré-vestibular) e outras coisas, eu consegui fazer essa presepada toda. Sozinho! E sem gastar mais do que R$20, das fitinhas. Esse é o principal motivo de defender tão ferrenhamente a Pós digital. Agora já sabemos mais ou menos do que ela é capaz com muito – e com pouco – dinheiro, o que nos leva a um novo problema: o que é que vai ser resolvido com pouca – ou nenhuma – grana? Que tipo de erros eu posso admitir, durante a gravação, acelerando o processo e o cronograma, para depois resolver na pós, em menos tempo do que levaria para se regravar outro plano, perfeito?

Sombras de microfone, por exemplo, são coisas muito facilmente consertáveis. Detalhes de canto de enquadramento também, algumas coisas de exposição, e leves ajustes de cor fazem parte do kit básico de reparos. Errinhos que podem ser admitidos durante a captação para acelerar as filmagens. No fim das contas, todas essas coisas dependem de uma coisa mágica chamada Máscara.

Acho que a melhor ferramenta do After Effects são as máscaras. Sem elas, nada disso seria possível. Máscaras são seleções de determinadas áreas de determinada imagem, ou seleções para aplicação de efeitos. Por exemplo, com uma máscara você pode pegar aquele plano em que o rosto do personagem não está claro como você queria, e jogar um pouco mais de exposição pra destacá-lo e deixar o fundo menos chamativo. Você também pode sobrepor imagens, criando todo tipo de efeito visual (no meu caso, principalmente tiros, explosões e coisas mirabolantes). Não é FÁCIL. Nada é fácil, senão não teria graça e qualquer um poderia fazer. Máscaras são trabalhosas, mas dão resultados lindos.

Por exemplo, o último plano de Intervalo, filmamos duas cenas com a mesma posição de câmera. Na primeira, tínhamos a Morte e Simões ao fundo, observando algo que acontecia na cozinha, o foco estava neles. Na segunda, o foco era na cozinha, onde víamos o braço de Simões caindo, morto, e a xícara se espatifando. Como unir isso? Máscaras! Recortei toda a parte da cozinha do take em que o braço caía, e sobrepus ao take dos dois ao fundo. Depois, com as máscaras, fui recortando quadro-a-quadro, o movimento do braço e dos pedacinhos de xícara (esse processo é também conhecido como rotoscopia, famoso por ser o princípio básico para fazer de sabres de luz).

Por fim, tínhamos tudo acontecendo ao mesmo tempo. Eles ao fundo, o braço caindo na cozinha, mas ainda havia uma impossibilidade óptica: os dois planos estavam perfeitamente em foco! Lá vamos nós: combinando um efeito de desfoque, tanto no primeiro plano (xícara e braço) como no segundo (personagens perto da porta), criamos a ilusão de um movimento de foco REAL, feito com a câmera na hora da filmagem, e deixamos tudo muito melhor ilustrado, sem confundir a vista do espectador com muitos detalhes onde sua atenção não deve estar. Para voltar o foco para a mão, depois que eles saem, o mesmo processo foi usado.

Apesar de ser um pouco demorado de fazer isso na Pós, garanto que foi mais rápido do que teria sido pra acertar a ação toda, e os movimentos de foco perfeitos, no set, com um braço que nem seria do personagem de verdade. Ou seja, a Pós acelerou a captação também nesse caso. O mais importante nesses casos de problemas menores, ou composições mais elaboradas, é ter uma noção básica de COMO você pretende resolver isso na Pós. Se não tiver nem idéia, desista, porque não vai dar certo! E isso não é fatalismo. Criatividade ajuda muito nesse aspecto.

Agora, a combinação com a direção de arte da obra. Por isso, logo pensamos em correção de cores. Não pequenos ajustes, e sim o clima geral da coisa. Ter um filme com as cores certinhas, branco exatamente combinado, etc, etc, é legal, mas é um tanto quanto “sem personalidade”. Você pode criar muito mais expressividade com uma simples acentuação dos tons de luzes e sombras. Pense em Matrix. Verde, certo? Agora, Robin Hood, Tróia, ou até O Senhor dos Anéis. Quase dourado, não é? Por fim, Anjos da Noite. Azul! Isso aí! Porém, o mais importante numa correção de cor, por mais que você mude todo o clima do filme, é manter os tons de pele certos. Pele fora do tom é um incômodo e todo mundo percebe isso, e sente – mesmo inconscientemente – que algo ali está errado. Não vou entrar em detalhes porque o Stu Maschwitz já fez um post considerável sobre isso no ProLost (Save Our Skins).

Estamos chegando ao fim, e eu ainda queria falar de um possível relacionamento intrínseco com a montagem, mas vou deixar pra outra ocasião. Só fica a dica que a Pós pode resolver grandes defeitos de timing ou aprimoramento de momentos dramáticos através de Time Remap, um dos recursos mais pesados do After Effects, e dos mais bonitos também.

Para finalizar, os campos que eu pouco me arrisquei até agora, mas que pretendo investir até o fim do ano: 3D e Matte Paint. Com essas duas coisas, quase tudo se torna possível. Matte Paint permite recriar cenários a partir de diversas referências ou até mesmo grandes habilidades com desenho (óbvio, optarei pela primeira forma, sou nulo em termos de desenho), e 3D, ah, isso todo mundo sabe do que é capaz. Esses dois campos porém, são tão amplos que não acho que podem ser considerados como parte da “base” de Pós de Imagem. Mereciam ser citados, entretanto.

Espero que tenham sobrevivido ao post, talvez um tanto técnico demais, e que tenham sido incentivados a brincar mais de Pós, confiar mais em suas capacidades e nas capacidades de resolver probleminhas/melhorar coisas em seus filmes! Vamo aê, povo!

Em caso de dúvidas, deixem comentários! Por que diabos ninguém comenta nisso aqui? Hahahaha.

  • renato July 3, 2010 at 6:36 pm

    não comento porque sempre fico atordoado com o quanto voce sabe.
    post incentivador :)

  • Fiuza July 3, 2010 at 8:06 pm

    Ninguém comenta mais pq vc nos abandonou por um tempão, corno. =D

    Sobre o post e sua seriedade em tratar de assuntos que vi vc começar a se interessar me deixa muito feliz, cara.

    Insight é lindo (às vezes mostro pra alguém e sempre duvidam que conheço o cara que fez aquilo! hahaha).

    vc não é lindo. nem seu atual cabelo.

    “2 – Falas? Os atores improvisam! (que também quer dizer “não quero escrever diálogos, isso é chato, deixa a galera inventar que vai ficar ótimo”)” – inferno

  • Tito Ferradans July 9, 2010 at 7:38 am

    Obrigado, Renato! Posso garantir que vou me esforçar pra continuar incentivando!

    Donk, veja bem, não é assim! hahahahaah! Ok, abandonei mesmo, mas agora estou voltando.

    Adoro saber as reações das pessoas ao verem Insight! Obrigado!
    Quanto ao cabelo, eu realmente não ligo. hahahahaha

    Era tão bom trabalhar dessa forma… Ah, os velhos tempos… hehehe
    :D

  • Ferradans. · Resolvendo na Pós – O Retorno. April 4, 2013 at 9:10 pm

    […] do cinema universitário! Resolver coisas na pós. No fim do primeiro semestre de curso, escrevi um post longo sobre o assunto, entrando em detalhes e já começando a arriscar a linha que quero seguir nesse […]