Day-to-Day

UP03 – Invertendo Lentes

August 24, 2013

Fotos que fogem à natureza dos olhos nos fascinam. Nesta categoria estão as macros e as grande-angulares extremas, ambas recheadas de detalhes, cada qual com sua escala. Ocorre que lentes macro são caras e raras. Seu projeto atende à necessidade específica de reprodução do assunto, em tamanho real, sobre o filme. Uma macro atua quase como um microscópio e pode obter imagens numa escala de 1:1, caminho oposto do que acontece na fotografia normal onde o assunto, no mundo real, é muito maior que sua imagem no filme – medindo poucos milímetros. A capacidade de encolher as coisas é uma característica das lentes grande-angulares.

Nos primórdios, todos os projetos de lentes eram simétricos. Elas precisavam ficar metade dentro e metade fora das câmeras, pois seu centro ótico coincidia com seu centro físico. A única forma de alterar o foco era aproximar ou distanciar a lente do plano do filme. Anos de pesquisa tornaram possível o deslocamento do centro ótico para mais perto do filme e longe do centro físico da lente: os projetos assimétricos. Aí surgiram as grande-angulares, que encolhem o mundo real e o fazem caber sobre o filme.

Aqui, vamos convocar a magia dos anéis reversores, compostos de uma rosca de filtro e uma baioneta. É só rosquear o adaptador na frente da lente e encaixá-la invertida na câmera: forma rápida e barata de se ter uma lente macro, justamente por conta do deslocamento do centro ótico, agora para longe do filme e para perto do assunto. Encaixada dessa forma, a lente funciona com características opostas, quanto mais grande-angular, maior a proporção de ampliação, ultrapassando facilmente a escala de 1:1.

Ao fotografar com essa configuração, esqueça o anel de foco, a variação causada por ele é micrométrica. Aproxime ou afaste a câmera do assunto até conseguir focá-lo: a distância máxima de foco é bem perto do vidro. Melhor se a lente tiver controle manual da íris, permitindo controle sobre a – já estreita – profundidade de campo.

Assim como uma macro, usar lentes invertidas requer prática, estabilidade e bastante luz. Exigências ínfimas, se levarmos em conta que elas criam um ponto de vista inédito para nossos olhos grande-angulares.


Coluna Ultrapassagem, Publicada originalmente na Revista OLD #17, em Janeiro/2013