Day-to-Day

UP10 – Lentes Catadióptricas

October 12, 2013

Super-teles são lentes que trazem para pertinho coisas que estão acontecendo a uma distância consideravelmente grande. Fotografar buracos na Lua ou animais em seu habitat natural são a especialidade dessas lentes a partir de 300mm. Imagine você na selva, camuflado, acompanhado da sua humilde 800mm, 4.5kg e uns 50cm de comprimento – com ela, seus olhos estão cinquenta vezes mais perto de objetos distantes. Chuva incessante por três dias e você ali, encharcado até os ossos, à espera de uma chance para fotografar o raríssimo Columbina talpacoti – não existe pressa usando uma super-tele. Finalmente, o pássaro pousa à sua frente. Você faz o enquadramento e se prepara para o clique, nisso a criatura resolve se aproximar. Saltitando chega mais perto. E mais perto. Está a três metros. Girando lentamente o anel de foco para ter a imagem perfeita, você se desespera e percebe que perdeu a foto: o foco mínimo dessa lente é a partir de seis metros. Não adianta perder a paciência e querer quebrar a lente porque ela é mais cara que um carro popular!

Por conta do longo alcance, é fácil traçar similaridades entre essas lentes e… telescópios! Na verdade, elas têm semelhança com os primeiros telescópios baseados no princípio da refração da luz. Ambos, lentes e telescópios, utilizam uma série de elementos ópticos especiais internos que acarretam grande tamanho e peso, além de um alto custo de produção – convenhamos, é um desafio.

Em meados de 1810, os problemas chegam ao fim com W. F. Hamilton e sua patente de uma geringonça que combina espelhos e lentes corretivas numa estrutura incrivelmente mais leve e precisa que os telescópios da época. Surgia ali o que viria a ser chamado de “sistema catadióptrico”, um telescópio baseado não na refração da luz, como os convencionais, mas na reflexão da mesma, com espelhos curvos e reflexos internos. E já que um telescópio nada mais é que uma super-tele, não tardaram a aparecer lentes catadióptricas para câmeras convencionais.

Sua produção é incrivelmente barata – uma 800mm catadióptrica custa, literalmente, um centésimo do valor de uma 800mm convencional – e repleta de vantagens. A lente fica mais curtinha, com 15cm, e pesa menos de um quilo. Graças ao seu sistema de espelhos, aqui são quase nulas as aberrações comuns às fotos feitas com super-teles tradicionais.

O visual de uma catadióptrica é inconfundível: ela é mais gordinha que uma lente normal e tem um círculo preto, saltado pra fora, no meio do elemento frontal. A luz entra e bate no espelho localizado no fundo da lente. De lá, ela é refletida para um espelho menor, que fica atrás da bolinha preta do elemento frontal. Desse segundo espelho ela é lançada para dentro da câmera fotográfica, passando enfim pelos elementos corretivos convencionais, para que a imagem seja projetada sobre o sensor.

Note que pulei um elemento essencial às lentes: a íris, ou abertura. Nas catadióptricas a abertura é fixa. A quantidade de luz que chega ao sensor, é regulada pela relação entre seu diâmetro dianteiro e traseiro. Diferente de uma super-tele tradicional, onde é ajustável a abertura da íris.

Como reconhecer uma foto feita com uma lente catadióptrica? Seria inacreditável se aquele ponto preto no MEIO da lente não mudasse nada, certo? Certo: ele influencia nas áreas de desfoque. Diferente das lentes convencionais, onde o desfoque é redondinho, nessas lentes as luzes desfocadas assumem a forma de “O”, com um espaço “vazio” no centro. Viu isso numa foto? Não tenha dúvida, foi feita usando uma lente dessas! Atente para o o desfoque do céu e das árvores na imagem ao lado.

Agora vamos a uma característica comum entre super-teles tradicionais e catadióptricas. Seu ângulo de visão é bem estreito (menor que dez graus), portanto, é preciso muita estabilidade na hora de fazer a foto. Prender a respiração pode até adiantar num dia muito ensolarado, mas, se não for esse o caso, melhor colocar a câmera num tripé e fazer as coisas devagar.

Ah, quase esqueci de falar: as catadióptricas conseguem fazer foco em objetos bem próximos do fotógrafo. Lembra do Columbina talpacoti? Com uma catadióptrica você teria sua foto.


Coluna Ultrapassagem, Publicada originalmente na Revista OLD #24, em Agosto/2013

  • TFerradans. · Battlefield 4 June 16, 2014 at 2:13 am

    […] bokeh produzido pela “lente” que vê o jogo. No PC, tudo é desfocado como se fosse uma lente catadióptrica, em círculos ocos, enquanto o PS4, por questões de processamento, não é capaz dessa opção, […]