Day-to-Day

UP15 – Lightfield

July 14, 2014

Com todos os benefícios oferecidos pelo formato raw, não é difícil afirmar que, depois de feita a foto, praticamente tudo pode ser ajustado e modificado. Exceto o foco. Uma foto desfocada, ou com o foco no lugar errado está irremediavelmente perdida.

E como funciona o foco, numa câmera fotográfica? Resgatando alguns princípios de física, quando os raios luminosos entram pela lente em suas diversas direções, a curvatura do vidro faz com que eles se reencontrem do lado de dentro, sobre o sensor. A parte mais importante desse funcionamento é que assuntos posicionados a diferentes distâncias da câmera, resultam em imagens diferentemente afastadas uma da outra. Por isso que existe o mecanismo de foco. Uma vez que a imagem formada é menor que o objeto real, o ajuste na posição do foco – dos elementos internos da lente – é pequena, e consegue alterar a distância de formação da imagem sobre o sensor. Por esse motivo que temos partes em foco, e partes fora de foco. Existem diversos fatores que influenciam essa percepção, como a abertura da lente, distância focal e tamanho do sensor, mas eles não serão levados em conta dessa vez.

E porque o foco é inalterável? Porque há apenas uma lente, e um sensor quando a imagem é registrada. Existe uma técnica chamada focus-stacking, que combina múltiplas fotos, com diferentes posições focais e produz imagens de foco inicialmente impossível. O tema da coluna desse mês contorna essas limitações. Light field é uma tecnologia ainda pouco comum, onde o sensor da câmera é revestido de pequeníssimas lentes, resultando numa imagem que armazena informação suficiente para permitir drásticas alterações de foco sem qualquer perda de qualidade na imagem. Claro, essas microlentes trazem consequências e aumentam muito o custo de produção do equipamento.

Há uma lente principal, que define o quão aberto ou fechado será o enquadramento, mas essa lente já não possui anel de foco. A empresa Lytro é a pioneira em trazer esse tipo de câmera para o mercado digital popular, mas o equipamento ainda tem sérias limitações, como um design estranho, uma lente fixa, usos limitados e baixíssima resolução. Os arquivos resultantes devem ser processados por um programa especial, capaz de interpretar os dados relativos às diferentes posições focais registradas, e exibir apenas uma delas para o usuário. O foco da imagem é alterado com um simples clique sobre a área onde se deseja ter foco.

Apesar de seus primeiros conceitos terem surgido em 1902, é só agora que essa tecnologia começa de fato a se expandir e ser pesquisada mais a fundo, em termos práticos. Ao longo dos próximos anos devemos ver mais produtos e técnicas capazes de resultados similares ou superiores, criando um novo mercado – a princípio amador, devido à baixa resolução.

Ainda vai passar algum tempo até que surjam câmeras, a nível profissional, que apresentem soluções similares e permitam que nós, fotógrafos, tenhamos mais liberdade e agilidade na hora de produzir uma imagem. Uma câmera plenóptica (nome mais charmoso para light field) seria excelente opção para fotógrafos em situações onde grande velocidade e precisão são exigidas, ou atenção aos arredores – como zonas de conflito, grandes festas populares, entre outros exemplos –, pois permite que o fotógrafo se concentre em outros pontos além da recorrente neurose de “conseguir uma imagem em foco”, e muitas vezes ter que descartar o que seria a melhor imagem de uma série, se não fosse o foco, levemente fora de lugar.


Coluna Ultrapassagem, Publicada originalmente na Revista OLD #29, em Janeiro/2014