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September 2009

Day-to-Day

I'm Not There.

September 4, 2009

Eu não sou mais o mesmo do banner. Reflexão de sexta-feira. Preciso de um banner novo.

Day-to-Day

Nome: Desobjeto.

September 3, 2009

O menino que era esquerdo viu no meio do quintal um pente. O pente estava próximo de não ser mais um pente. Estaria mais perto de ser uma folha dentada. Dentada um tanto que já se havia incluído no chão que nem uma pedra um caramujo um sapo. Era alguma coisa nova o pente. O chão teria comido logo um pouco de seus dentes. Camadas de areia e formigas roeram seu organismo. Se é que um pente tem organismo.

O fato é que o pente estava sem costela. Não se poderia mais dizer se aquela coisa fora um pente ou um leque. As cores a chifre de que fora feito o pente deram lugar a um esverdeado musgo. Acho que os bichos do lugar mijavam muito naquele desobjeto. O fato é que o pente perdera sua personalidade. Estava encostado às raízes de uma árvore e não servia mais nem pra pentear macaco. O menino que era esquerdo e tinha cacoete pra poeta, justamente ele enxergara o pente naquele estado terminal. E o menino deu pra imaginar que o pente, naquele estado, já estaria incorporado à natureza como um rio, um osso, um lagarto. Eu acho que as árvores colaboravam na solidão daquele pente.

Manoel De Barros.

Day-to-Day

Inscrito, se Deus quiser!

September 2, 2009

Paguei UFF e FUVEST ontem. A mocinha do banco me desejou um “boa sorte” tão verdadeiro que meu dia mudou de rumo! Como já disse antes, são as coisas simples e inesperadas que fazem a graça da vida.

Quase travei um debate ideológico com a zeladora sobre a necessidade de um “Deus” na vida das pessoas… Tudo começou com a pergunta: “Tito, você é muito religioso?”. Felizmente consegui me controlar e enrolar até o elevador chegar. O papo terminou com “Mas você sabe que sem Deus, a gente não é nada, não é?”. A resposta: “Ô!”.

Specials

Co-Respondentes – Parte VII

September 1, 2009

Co-Respondentes

Ele atende.

— Rafa, eu já vi muita coisa estranha nessa empresa, mas uma estagiária sair correndo e chorando pela porta da frente, em menos de cinco minutos é bem inédito. Algum comentário a fazer?
— Nina, não me amola agora. Você tem como me passar o celular dela?
— Da Luísa? É pra já.
— Obrigado.

Nervoso e inquieto, Rafael dá voltas ao redor da mesa na sua pequena sala enquanto disca o número de Luísa. O telefone chama pelo que parece ser uma eternidade. Ela atende com a voz ainda um tanto receosa.

— Alô?
— Luísa?
— É ela, quem gostaria?
— É o Rafael, aqui da agência.
— O que é que você quer?
— Olha, desculpa, a gente precisa conversar. Onde é que você tá?
— Não sei –
ela hesita – não sei se é uma boa hora.
— Se não for agora, não vai ser depois.
— Tá… Eu tô aqui fora. Saindo da agência, atravessa a rua, na pracinha.
— Tô indo praí
– ele completa, já apressado, abrindo a porta para o corredor que agora é completamente silencioso, quase fúnebre.

Saindo da agência, ele atravessa a rua em meio ao escasso trânsito e, atrás do ponto de ônibus que ele chega no trabalho, realmente existe uma praça. “Nunca reparei nesse lugar… Cadê a garota?“. Sentada num banco próximo a uma velha fonte de águas esverdeadas está Luísa, ainda com rastros das lágrimas no rosto corado. Rafael se aproxima lentamente, organizando na cabeça as coisas que pretende falar. Ela, escondendo o rosto com as mãos, chega um pouco para o lado, dando espaço para ele sentar-se no banco.

— Oi – ele tenta.
Ela não responde.
— Só eu que vou falar, não é?
Nada de resposta. Ele continua, mas olhando para frente, em direção à fonte.
— Tudo bem, que fez a besteira fui eu, nada mais justo. A situação é mais ou menos o seguinte: em primeiro lugar, peço desculpa, porque minhas atitudes foram qualquer coisa, menos “educadas” ou “profissionais”. E tem mais isso… Durante a faculdade, muitos dos meus professores favoritos diziam que estagiários são atrasos na vida de um publicitário. Indiretamente, eu absorvi isso pelo visto, mas pra falar a verdade, nunca passei pela experiência, e admito que é puro preconceito da minha parte. – mudando de postura, ele passa a olhar na direção da garota, esperando que ela fale algo, ou pelo menos tire as mãos do rosto – Acho que o jeito é tentar e ver se vamos conseguir funcionar juntos. Quem sabe, por esse caminho, a gente não consegue um contrato que preste pra assinar embaixo? Pode ser esse o nosso acordo?

Vários instantes se passam em silêncio enquanto Rafael continua olhando em direção a ela, ao passo que a jovem revela seu rosto ainda choroso mas um tanto menos carregado.

— T… tá… Acho que pode ser esse…
— Tem mais. Já que é pra tocar o barco a sério, eu não quero uma estagiária que faça coisas corriqueiras. É pra entrar com a mão na massa, estudar conceitos, dar sugestão, ir a reuniões. Apesar de, no papel, você ser minha subordinada, quero que seja algo mais como uma parceria. Não te tratarei nunca mais como tal, e você não me trata como chefe. Ok?

Luísa esboça um sorriso de canto de boca que rapidamente se expande por todo o rosto da garota. Rafael levanta.

— Por um novo começo? – ele estende a mão para ela, que aceita a gentileza para levantar-se.

Ela sorri e concorda com a cabeça. É a primeira vez que se tocam.