Memórias não me deixam dormir. Tem tanta coisa viva, ardendo em minha mente, que simplesmente não consigo desligar. Preciso escrevê-las, tirá-las do éter e convertê-las em palavras.
Preciso dormir. Nunca tive olheiras tão profundas!
Memórias não me deixam dormir. Tem tanta coisa viva, ardendo em minha mente, que simplesmente não consigo desligar. Preciso escrevê-las, tirá-las do éter e convertê-las em palavras.
Preciso dormir. Nunca tive olheiras tão profundas!
Fugimos para a fazenda de Deígo, em Imbassaí. No carro, eu, Donk, Diego e Cogo. Conosco, muito mais equipamento do que comida, como manda a tradição. A breve viagem me lembrou o quão divertido é dirigir por aí, sem muita obrigação com horários ou direções.
Viemos conversando e ouvindo música até praticamente metade do caminho, depois todo mundo ficou meio quieto, imerso em pensamentos, até chegarmos na estrada de terra que desvia da estrada principal e chega na fazenda. Aí foi uma loucura só. Chuva + buracos + lama + escuridão total garantiram nossas emoções e palavrões. Cogo, no banco de trás com uma Sony D30 no colo foi o campeão de xingamentos. A cada buraco, era um. Não podemos culpá-lo, a câmera pesa quinze quilos.
Chegamos na fazenda pontualmente à meia noite. Descarregamos só o básico e ficou a dúvida se realmente conseguiríamos fazer alguma coisa. Já tava meio chuvoso, e de noite ainda tivemos mais chuva. Dentro do grande vão que é a casa (só tem portas para os quartos e o banheiro, e uma leve divisão para a cozinha), ficamos conversando, comendo, bebendo e dando risada até as 3h da manhã.
O dia amanheceu chuvoso e lamacento. As idéias principais de filmagem caíram por terra, e ficamos na varanda, nas cadeiras e rede, tomando água de côco e descansando. Em um dado momento, tivemos a brilhante idéia de… brincar com facões. Entramos todos no meio do mato, com dois facões e saímos abrindo trilhas. Yeah! Grande erro: não ter ido vestindo calças. Minhas pernas estão com o dobro do tamanho, só picadas de mosquitos. Muitos mosquitos.
Almoçamos uma deliciosa (e salgada) feijoada, e ficamos processando isso o resto do dia inteiro, o que não foi algo muito agradável para narinas de maneira geral. No finzinho da tarde, quando já tava literalmente ficando escuro, eu e Diego descemos até a barragem para catar madeiras e fazer uma fogueira. Podia não ter rolado filmagem, mas fogueira TINHA que ter!
Depois de carregar muitos quilos de galhos (todos molhados) até a casa, o cansaço se abateu sobre mim e apaguei por uma hora, na rede. Depois disso, resolvemos que era hora de acender a bagaça. Vamos lá! Quase um litro de querosene, e uma explosão flamejante depois, descobrimos que o método não ia funcionar. Fizemos tochas, e enfiamos pelo meio dos galhos. Não tava dando, pegamos tampas de panela e começamos a abanar.
Eu e Donk literalmente promovemos uma reorganização da fogueira, enquanto ela tentava pegar, e conseguimos fazer o fogo estabilizar e criar brasas. Nada que signos de fogo (como se eu acreditasse em horóscopo) e larga experiência em São João de verdade não resolvam. Nossa fogueirinha ardeu das 19h à quase meia noite, e, enquanto Diego e Cogo se batiam dentro de casa posicionando luzes pra filmar UMA cena, eu e Donk ficamos tostando à beira das chamas, conversando sobre a vida.
(O bom de Salvador é que dá pra conversar sobre a vida com um bocado de gente).
Por fim, fomos dormir não muito depois disso, pra acordar às 5h, arrumar tudo na casa, lavar os pratos e ensacar nossas tralhas, colocar no carro e partir, pra chegar em Salvador perto de 7h. Chegamos 6h40. Foi beeem rápido, só eu, como motorista, e Donk, no banco do carona, vimos a viagem passando. Os outros dois vieram derrubados atrás. Cogo ainda abraçado com a câmera. Ele ama essa porra.
Por fim, deixamos Cogo em casa, com o equipamento, Donk também, sem equipamento, e voltamos pra cá só eu e Diego, pra morrer vendo algum filme ruim. Plano muito bem elaborado, e realizado com primor. Assim acabou nossa temporada de fuga da cidade.
Tô devendo fotos, eu sei. É que acho que esse computador não aguenta abrir as imagens da 7D. Se der, passo na casa de Cogo e posto algumas por aqui. Se não, só em São Paulo mesmo. Triste.
UPDATE: Consegui mexer numas fotos aqui nesse PC carroça mesmo, e elas agora ilustram o post!
Em seu recém-lançado livro “Quem Pensas Tu que Eu Sou?”, o psicanalista Abrão Slavutsky reflete sobre a necessidade de conquistar o reconhecimento alheio para que possamos desenvolver nossa autoestima. Mas como sermos percebidos generosamente pelo olhar dos outros? Os ensaios que compõem o livro percorrem vários caminhos para encontrar essa resposta, em capítulos com títulos instigantes como “Se o Cigarro de García Márquez Falasse”, “Somos Todos Estranhos” ou “A Crueldade é Humana”. Mas já no prólogo o autor oferece a primeira pílula de sabedoria. Ele reproduz uma questão levantada e respondida pelo filósofo Sêneca: “Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo”.
Como sempre, nosso bem-estar emocional é alcançado com soluções simples, mas poucos levam isso em conta, já que a simplicidade nunca teve muito cartaz entre os que apreciam uma complicaçãozinha. Acreditando que a vida é mais rica no conflito, acabam dispensando esse pó de pirilimpimpim.
Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade. Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível. Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é o que bons amigos fazem: perdoam.
Ser amigo de si mesmo passa também pelo bom humor. Como ainda há quem não entenda que sem humor não existe chance de sobrevivência? Já martelei muito nesse assunto, então vou usar as palavras de Abrão Slavutsky: “Para atingir a verdade, é preciso superar a seriedade da certeza”. É uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da vida e a tolerar suas dificuldades.
Amigar-se consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente fazendo mal para os outros? Ora. Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se chatear com isso. Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto “ser amigo de si mesmo”.
Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus traumas de infância.
Quem não consegue sozinho, deve acudir-se com um terapeuta. Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2.000 anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada menos que seu pior inimigo.
Martha Medeiros
Sobre este que vos fala, algumas atualizações dignas de muita nota. Sobrevivi ao primeiro semestre, a todo vapor. Faltam algumas (quatro) notas, mas acho que não preciso me preocupar com nenhuma matéria. Até amanhã todas as notas tem que sair.
Pois pois, o ponto número um é: estou em Salvador. Até o dia 20 de Julho. Tô querendo filmar coisas, vamos à fazenda de Diego (de onde saiu essa foto-pérola do banner) amanhã de noite, e voltamos pra casa na quarta de manhã. Algo meio pós-apocalíptico pode rolar por aí.
Ponto número dois: a moda agora é tocar gaita. Comecei tem no máximo duas semanas, aprendendo técnica pelo youtube e outros sites mesmo, e pegando tablaturas espalhadas pela internet, desde “Oh Susana” “Kum Bah Yah” até “Yellow” e “The Godfather”. Diversidade total. É engraçado, porque parece ser mais complicado do que de fato é, mas também não é tão simples assim!
Ponto número três: se não deu pra sacar ainda, a partir do post “Roberto Carlos”, estou solteiro, depois de quase dois anos de namoro. É outra coisa estranha e quase engraçada. Tinha desacostumado dessa vida e sensação.
Ponto número quatro: É sempre bom enfatizar que, quando faz frio por aqui, a temperatura mínima é 21 graus. E a umidade do ar é altíssima sempre.
Pra variar, eu tinha mais um monte de coisa pra comentar, mas acabei esquecendo tudo em função do sono. Agora me deixem dormir. Eu vim pra descansar, e isso é o que menos tenho feito!
Descobri a resposta para uma pergunta que me atormentava desde que me mudei para São Paulo. “Como pegar um bronzeado sem dedicar o dia exclusivamente a ficar sob o Sol sem fazer mais nada?”. Well, a conclusão saudável: “É só participar de um set com tomadas externas!”
Seguindo a tradição começada com o Prazer Extremo, estava eu, ao longo da semana, participando do segundo Cine do ano, Raposa, como já diz o título do post. Em teoria, eu era assistente de produção, mas acabei caindo muito mais para a equipe de fotografia que tava precisando de mãos.
Equipe de Foto, da esquerda pra direita: eu, Ricardo e André
Em termos técnicos, o Raposa era diametralmente oposto em relação ao Prazer. Enquanto o Prazer só teve tomadas internas, todas filmadas digitalmente (uma Canon 7D), com luz artificial, o Raposa era exclusivamente de externas (cenas feitas ao ar livre), rodadas em película, numa Arriflex Super16, e sem um refletor sequer. Só rebatedores e entradas de Sol. A combinação “equipe de foto + rebatedores” é que garantiu meu bronzeado de baixa qualidade, mas ainda assim, bronzeado.
Isso me lembra de mais uma coisa antiga. No post do Prazer, falei que o Raposa seria na semana seguinte. A greve começou, e mangueou tudo. As diárias tinham horários muito bizarros, começando tarde da noite (perto das 22h) e terminando quase ao amanhecer (4h). Tudo isso porque Paulo, o ator principal, tinha horários muito estranhos, e a equipe precisava se adequar. Bem, acabou a greve, chegaram as férias, todos os Cines foram adiados. Agora, o Raposa ia ser rodado nos dias 6, 7 e 8. Mas o Brasil podia jogar no dia 6. Mudou-se a data de novo, para 7, 8 e 11. Uma pena, queria ter participado dos três dias, mas como vinha pra Salvador, só estive presente na quarta e na quinta.
May, como continuísta.
Aliás, “estive” é um pouco egoísta. Contei com a presença/companhia infalível da May (ou Mayara, para os mais próximos). Na quarta a gente acordou às 4h40, pra estar no set perto de 6h. 5h20 estávamos no ponto (porque o Ricardo, que era nossa carona, enganou a gente. Na verdade, foi só um desencontro mesmo. Hahahaha). Tava frio. Muito frio. Tremendo de frio. O maldito do ônibus levou vinte minutos pra passar, e a gente congelando! Por fim, chegamos, umas 6h20. Encontramos Renato (da foto do post anterior) e ficamos enrolando na cozinha por uns vinte minutos, quando achamos tudo muito estranho e ligamos pra Catarina, que era nossa chefe (Produtora, já que todos éramos Assistentes de Produção).
Catarina então foi resgatar a gente lá. Renato foi pro set, ajudar a armar a barraca, e outras coisinhas, e o resto do grupo então reunido (eu, May, Catarina, e a dupla de som: Fabú e Gustavo – que foi um dos produtores do Prazer) ficou a esperar pelo motorista do caminhão na frente da Reitoria. Quando Josué (o motorista) chegou, fomos para o Estúdio B (onde rodamos o Prazer), para carregar o veículo com quilos e mais quilos de equipamento. Trilhos, 3T, carrinho de travelling, butterflies, rebatedores, tripés, mantas de som e mais um pouco de tripés. Tudo passando de mão em mão até entrar no caminhão (que rima infeliz).
Chegando no set, tivemos que tirar TUDO de volta do maldito caminhão. Dessa vez não foi a rima, mas sim o trabalho que era infeliz. A barraca já estava montada. Encontramos o resto dos nossos coleguinhas do AVX (Renato, que já foi citado antes, Mari Vieira e Vanessa. Matheus, o autor da maioria dessas fotos, só chegou quase no fim da diária) e fomos para o nosso ponto de armazenamento de comida, onde estava servido o café da manhã. Não ficamos muito por lá, pois logo fomos chamados para catar gravetos a fim de alimentar a fogueira cenográfica.
André, um dos diretores de foto, estava doente, então Ricardo tava sozinho por lá no começo da diária. Fui logo gritado para ajudar o camarada. Montamos câmera, medimos distâncias. Dessa vez, os itens básicos de carregar no bolso eram trena, fita crepe e fotômetro. As coisas funcionam muito diferentemente na hora de filmar com película. Toda a luz tem que ser medida com precisão, e as distâncias de foco também. Não existe coisa tal como “fazer foco no olho”. Na verdade, essa foi uma das minhas principais tarefas: medir distâncias entre a câmera e os sujeitos.
Ricardo e a Arriflex. Gabi ao fundo.
Ao longo do dia, montamos trilhos, empurramos carrinho, desmontamos trilhos, alternamos tomadas entre película e 7D, almoçamos cachorro quente duplo, descansamos um pouco deitando nos bancos, cantando musiquinhas dos Beatles. Rodamos quase todas as cenas do acampamento, todas da barraca e umas coisinhas mais complexas, como a mágica feita pela Raposa. No dia seguinte, todas as cenas de trilha e mato.
A diária acabou no horário previsto, sem atraso, e logo carregamos tudo de volta no caminhão. Todo mundo morrendo de preguiça de descarregar aquilo no estúdio, e depois carregar de novo no dia seguinte… Fomos no caminhão, eu e May. Josué perguntou se a gente não queria deixar tudo já dentro do compartimento de carga. Ligamos pra Catarina, ela quase gritou “SIIIM!” em resposta, mas foi um pouco mais contida que isso. Josué deixou a gente na frente da ECA, encontramos o resto da equipe, falamos das novidades sobre o caminhão e todos ficaram felicíssimos.
Chegamos em casa quase 20h. Lila e Lucas estavam vendo Across the Universe. Nos juntamos a eles, o filme já tava no fim. Emendamos com Lilo e Stitch. Dormimos. Acordamos com os créditos finais. É melhor ir dormir direito. E cadê o sono? No fim das contas, depois de uns vinte minutos tentando achar o tédio pra dormir, fomos pro quarto de Lila (de novo) e dormimos “assistindo” Kill Bill. A chamada da diária de quinta era mais tarde, então, acordamos 5h20. A carona também melou, porque só tinha uma vaga no carro. Dessa vez nem esperamos tanto pelo ônibus, e logo rumamos para o set.
Qual não foi a surpresa ao encontrar com a Mari por lá? Mari Chiaverini, a mesma que fez a maquiagem da nossa Morte em Intervalo. Tava lá pra fazer uma picada de cobra no pé da Gabi. Nem deu pra conversar muito, começamos a montar a aparelhagem na trilha, longinho do acampamento, para as tomadas no mato. Montamos um trilho imenso, de três partes, com três pessoas envolvidas. De acordo com Vanessa, “três trouxas no trilho do travelling”. O take ficou bem bonito. Takes com trilho geralmente ficam bem bonitos… Ricardo ensinou pra gente sobre latitude, spot meter e outras coisinhas de fotografia. Foi deveras útil. Se o ritmo de aprendizado ao longo do Cines se mantiver, até o fim do ano, já dá pra escrever um livro!
Gabi, com o pé picado de cobra
Dessa vez, mal tive tempo de ficar ocioso, ou seja, tive que tocar minha câmera fotográfica adiante, pro Matheus (AVX), que tirou trocentas fotos excelentes, algumas delas ilustram esse post. Passei grande parte do tempo da segunda diária metido no meio do mato, segurando um rebatedor prateado, apelidado de Sonrisal, e jogando luz em cima de Paulo, nosso ator-personagem-fotógrafo-de-seres-mágicos. Essa luz toda que ilumina Ricardo na foto abaixo vem do meu rebatedor. Ele me gritava o dia inteiro, por tudo e por nada! Caçando buracos de luz na floresta, era garantido que eu ia conseguir me queimar, nem que fosse um pouquinho!
Ricardo e a 7D
Fomos nos deslocamos ao longo da trilha, e deixando equipamento em todos os lugares que parávamos para rodar. Por fim, perto das 14h30, terminamos a sequência e carregamos tudo de volta pro acampamento, para almoçar. Ah, esse pedaço foi todo filmado digitalmente. Depois do almoço, rodamos mais coisas no acampamento e o cronograma se encerrou pouco depois da 17h, quando o Sol já tava bem baixo. Acho que o montador vai ter um bocadinho de problema com continuidade de luz, e som de carros que passam durante os takes. Tinha uma rua do lado do nosso querido acampamento.
Hoje eles rodaram as cenas faltantes. Entre os destaques do dia, tinha uma fogueira imensa a ser feita. Queria muito ter visto isso e participado das últimas emoções do Raposa. Espero que tenha dado tudo certo, afinal, não tem nada que se compare a um final de set bem sucedido! Que venham os próximos!
Refilmagem de Lost?
Parece quentinho e agradável, não é? ERRADO! Frio pra caramba. Mais uma da série “Férias”.
Foto por Matheus Rufino, onde Renato Duque pula sobre um monte de pedaços de butterflies. De acordo com Lila, essa foto tá parecendo uma propaganda de sapato. Tenho que concordar.
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