

Como prometido, opinião e experiências pessoas sobre o Arco Íris, rodado nessa Sexta, Sábado e Domingo. Dos três Cines que participei, é o que mais me envolvi com a trama narrada, onde temos duas amigas que passeiam pela floresta em busca de uma cachoeira, até que uma delas passa por baixo do arco íris e muda de sexo. “Éééé! Homem, menina! Com o negócio e tudo!”, a partir de então, as duas (duas?) fazem de tudo para reencontrar o maldito arco íris, para reverter a transformação, e passando por situações bizarras envolvendo uma recém-conversão para o lado masculino da força.
O fim da empreitada tá explicado numa das fotos acima, sem muita dificuldade pra entender, se você lembrar de todas as lendas relacionadas a arco íris.
Mais uma vez, foi a Catarina que me colocou na jogada. A equipe de foto (da qual fiz parte) era basicamente a mesma do Raposa (Ricardo e André), mas com a adição de Patsy (diretor do Raposa) e Henrique (teoricamente ele nem tava nesse Cine, entrou como “Suporte Metafórico” e acabou pendendo pra Foto). Nós cinco (muito machos, como evidenciamos durante as filmagens, e a foto abaixo confirma) sofremos muito e improvisamos muito mais para atender os desejos dos diretores Pato e Lucas.

Farda de fotógrafo é camisa por dentro da calça!
Da esquerda para a direita, Tito, Patsy, André, Ricardo e Henrique
No primeiro dia, levei Diego comigo. Acordamos às 4h30 da manhã para chegar na Vila Madalena, de metrô, às 5h40, para pegar carona com Ricardo (e os outros fotógrafos supracitados) até o set, compensando a absoluta ausência de caronas no Raposa – essa coisa de acordar de madrugada para pegar carona se repetiu nos outros dois dias, mas sem Diego. Nesse dia, rodamos o começo e o fim da trama. Teve muito trilho montado no meio do mato, carregamento de peso pra lá e pra cá dentro do Clube dos Professores, atrasos monstruosos e o cancelamento do Fusca que seria utilizado nos dois dias subseqüentes. Eu e Diego saímos antes do fim da diária, devido ao cansaço do rapaz, e demora para rodar os planos internos, as únicas cenas internas do filme todo.
No segundo dia, tivemos o pior trilho duplo de todos os tempos, tendo que nivelar a bagaça numa ladeira com uma variação de uns quarenta centímetros de altura entre o começo e o fim. E eu fiz esse treco sozinho, enquanto o resto do povo rodava outros planos. Pelo menos o trilho foi aprovado com louvor! No primeiro dia eu tinha levado a 7D, mas esqueci o cartão de memória em casa, e a bateria tava nas últimas, não tirei a monstrinha da mochila, mas nesse segundo dia, fucei a sacola da câmera oficial e fiquei o dia todo usando lentes milionárias – ambas da série L da Canon, f/2.8, uma 16-35mm e outra 70-200mm com estabilizador de imagem -, enquanto as mesmas não eram usadas na 7D de Ricardo, que era usada para filmar a trama.
Com uma lente dessas, é difícil não se sentir muito macho!
A única pessoa do meu ano na equipe era o Felipe (vulgarmente conhecido como Audácia), que assumiu o papel de continuísta, numa coincidência incrível. Até agora todos os cines de 2010 tiveram continuístas do AVX. O Prazer teve André na função, no Raposa era a May e aqui era o Felipe, esse aí da esquerda na foto. À direita, a Catarina, como Assistente de Direção e, portanto, a figura mais estressada do set.

Em adição à série de novas experiências únicas do Arco Íris, tivemos uma máquina de chuva operando! Sim, por “operando” vocês também podem entender “gastando milhares de litros de água durante um único plano”, mas o resultado era sempre lindo. Devido à luz inadequada, tivemos que improvisar uma parca iluminação artificial para fazer brilhar as gotinhas de água contra o fundo azul da casa. Já tinha visto fotos e lido umas coisas sobre como fazer uma máquina dessas, mas sempre achei que daria errado. Aqui vi que o errado era eu, e que o negócio funciona mesmo.


Tivemos também takes únicos obrigatórios, com testes, todos envolvendo água e roupas sem substituição, como na foto acima, em que o Nelson (nosso querido ator, vestido de camisa rosa) jogava água com a mangueira na Mari (ou Bianca, se vocês preferirem chamar pelo nome da personagem), encharcando sua camisa branca, e delirando com uma dança sensual que só existia na cabeça dele. “Gatinha molhadaaa!”. A mangueira soltou da pia no meio da tomada, e Mari ficou só meio molhada, mas de uma forma tão torta que deu pra fazer um segundo take e enganar, como se nada tivesse acontecido antes.
No fim de todos os dias, recarregar o caminhão com todo o equipamento era quase um suplício. A gente sempre começava certinho, mas depois a fúria carregadora do povo assumia o controle e o compartimento de carga acabava virando um castelinho com muralha, que devia ser desmontada por quem estivesse lá dentro, para permitir a saída. Ah, nem comentei, mas todos os almoços e cafés da manhã foram fenomenais, com direito a sobremesa e tudo. Continuava a perseguição pelo Fusca amarelo. Ao fim do dia, decidiu-se usar o Crossfox da Piera (AV2009) em substituição ao pobre clássico da Volkswagen.
No terceiro e derradeiro dia, muitos atrasos e complicações fizeram com que muitos planos caíssem – fossem cancelados – e a gente rodou tudo que envolvia o carro.
Nesse momento eu paro e me pergunto: “Qual o limite da confiança? Você arriscaria duas câmeras e lentes, cada uma totalizando (bem) mais de R$4000, simultaneamente, confiando puramente num apetrecho/ventosa de menos de cem reais?”. Nós confiamos. Filmamos um diálogo e outras coisinhas, com câmeras cruzadas (a minha e a do Ricardo), presas nas janelas do tal Crossfox por aquele grip (ventosa gigante) que trouxe de Los Angeles, e um outro grip, alugado pela própria Produção – ou Ana Bia, para os íntimos.
Depois de as câmeras estarem presas e rodando, o carro era arrastado pelo carro da Bia, puxado por um cabo de aço, para o motor não fazer barulho e esculhambar o som da cena. Os microfones estavam escondidos no teto do carro, e a Gabi (uma das duas meninas do som) escondida no porta-malas monitorava o andamento da coisa.
Sempre, sem exceção, alguém da equipe de foto não confiava o suficiente naqueles grips loucos, e saía correndo atrás do carro, mesmo sabendo que, se o troço soltasse, não adiantaria nada estar ali correndo por perto. Na primeira tomada, corremos todos – os cinco -, depois fomos escasseando até que sobramos apenas eu e o Henrique, e por fim eu sozinho, numa cena de dancinha que teoricamente já tinha caído, mas ainda assim teve três takes. Acabada essa seqüência, perto das 18h, já sem luz nenhuma para qualquer imagem de qualidade, nos reunimos para a foto de equipe antes de recarregar o caminhão rumo à ECA.

Nesse momento de despedida, a Bia me falou que o fotógrafo do Comando – Cine da semana que vem -, Pedro “Mosca”, poderia precisar de uma ajudinha, e perguntou se eu não estava interessado. Isso caiu como uma luva. Consegui vaga no único Cine que faltava, agora estou escalado para os cinco que vem por aí! Mais aventuras cinematográficas por aí para vocês.
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