Day-to-Day

Be Prepared.

June 15, 2014

Relendo esse post, achei que ele tá um pouquinho arrogante, acho que não sei falar de mim mesmo. Enfim, se o tom estiver assim, não era esse o objetivo, e o aviso tá aqui no começo!

Hoodwinked! é uma animação bem pobrinha, de 2005 (que teve uma continuação em 2011, acabei de descobrir), um dos primeiros filmes a subverter contos de fadas no cinema – tendência cada vez mais forte nos tempos recentes – mas não muito marcante nem relevante. Tem seus pontos altos, e entre eles, a coisa mais divertida do filme, o bode Japeth, interpretado por um desconhecido, Benjy Gaither, que por conta de uma maldição, só pode falar cantando.

O videozinho tem a cena do filme, mas tá com a imagem espremida. Não consegui achar nenhum normal, e como pirataria é crime por aqui, resolvi não baixar e refazer o upload correto na minha conta. Sei lá, não quero ser deportado!

Mas, e o que diabos esse vídeo, filme, personagem e música tem a ver com esse post? Qual a relevância disso?

Bom, pra começar, ela se alinha muito com muitas coisas que penso, especialmente vivendo 18+ anos junto com meus pais. Uma breve explicação em duas partes. Primeira parte: meu pai vai ao shopping procurar uma armção para um óculos novo. Antes disso, ele já pesquisou preços e marcas na internet, e já definiu mais ou menos o que ele tá procurando, por quanto e pra quando. Visita TODAS as óticas do shopping, algumas mais de uma vez, em mais de um dia. Pergunta preços de tudo, todas as informações possíveis e imagináveis. Depois de tudo isso, não compra nenhuma. Passa alguns dias pensando, e avaliando com base em todos os dados coletados, compara com o que achou na internet, depois volta para a loja escolhida. Se ela já atendeu todos os pré-requisitos, ótimo. Senão, ele ainda vai negociar. E se não for do jeito que ele tá procurando, ele não compra, mas só porque ele tem o embasamento de saber o que procura, e que não é uma emergência.

Segunda parte: sempre que algo incerto está para acontecere, minha mãe costuma dizer “torça para acontecer o melhor, mas esteja preparado para o pior”. E isso foi algo que ela martelou muito pra mim. “Meu filho, na sua cabeça você vive num mundo perfeito, onde tudo vai dar certo como você tá pensando!”. E a gente discutia às vezes, ou eu ignorava o que ela tava falando, e eventualmente ela acertava. Eu tava preparado pra dar tudo certo, e chovia merda em todos os planos. Fazer audiovisual e trabalhar em muitos sets me fez valorizar cada vez mais essa linha de raciocínio de minha mãe. Ela envolve alguns preparativos que podem acabar não sendo usados (principalmente no sentido de carregar peso a mais), e um tanto de auto-conhecimento (como “quanto tempo eu consigo ficar sem beber água e continuar bem humorado” e coisas do tipo), mas no fim das contas, o esforço, comparado com os resultados, definitivamente vale a pena.

Morando sozinho, e beeeem distante de quem eu sei que pode me ajudar em QUALQUER emergência, é fundamental eu estar preparado. Planejando para um cenário onde a chegada no Canadá fosse a pior possível, sem ter onde ficar, sem ter como sacar dinheiro, num frio desgraçado, sem sinal de celular, sem pessoas conhecidas – o que, felizmente, não aconteceu -, fiz uma mala de mudança que pra muitos seria uma mala de fim de semana (60 x 25 x 45 cm, com menos de 15kg). Soquei lá dentro todas as segundas-peles que tinha em casa, que são fininhas, confortáveis e esquentam razoavelmente, meias e cuecas pra pelo menos duas semanas sem acesso a máquina de lavar, uma toalhinha de super-absorção (sério, isso é uma das coisas mais incríveis que já vi, em termos de portabilidade e praticidade), e algumas (três) opções de roupa para calor. Na parte de me conhecer, já sei que prefiro suar até desidratar do que passar frio, então, se tivesse calor e as roupas frescas acabassem, eu ia começar a usar as de segunda pele mesmo! E preferi socar tudo numa mala só do que duas para ter sempre uma mão livre. Em NY, ano passado, já foi difícil sobreviver no metrô com uma mala grande. Imagina se fossem duas…

Na bagagem de mão, todo o – mais reduzido possível – equipamento de câmera, dinheiros, passaportes e documentos variados, uma muda de roupa – pro caso de a mala extraviar -, o endereço da casa do Wyll (assim como anotações de caminhos para chegar lá), um mapinha da cidade e endereços e telefones de albergues e hotéis menos caros. Para o possível tédio da viagem, ou longos períodos de espera, gastei um pouco mais e comprei um Kindle (e-reader da Amazon), cuja bateria dura infinitamente, ao invés de carregar livros físicos, que são muito pesados e volumosos. Vim vestido no meu ÚNICO casaco, que é à prova d’água e esquenta como um forno, mas ocuparia muito espaço na mala, e não cabia na mochila. No vôo, usei como cobertor, e depois aguentei o calor um pouquinho. Pro sapato, costumo ter UM único tênis pra tudo, e o que eu tava usando em São Paulo já tava precisando trocar.

Comecei então uma caça a um sapato à prova d’água, seguindo a lógica de meu pai. Primeiro internet, pra encontrar marcas, ler reviews de pessoas, e fugir de coisas que só são pop, mas não funcionam de verdade. Na mesma lógica de estar preparado, queria um sapato à prova d’água, quente, confortável, que pudesse usar em longas caminhadas, se fosse preciso. Essa busca durou quase uma semana, e não achei o dito cujo em nenhuma loja de sapatos convencional, e sim numa loja de artigos para trilhas, aventuras no mato e tudo mais. Bom, se a parada aguenta a selva, uma cidade deve ser moleza, certo? Agora já dá pra afundar o pé quase todo na água e continuar sequinho por dentro (eu testei)! É uma bota/tênis Salomon que, felizmente, tava em promoção e saiu pela metade do preço, mas ainda assim foi carinho. Pelo lado positivo, ontem andei 10km com ela (literalmente), e não tava com o pé destruído ao chegar em casa.

Felizmente a viagem foi tranquila, e chegando aqui o Wyll tava esperando no aeroporto – ele fez uma cara de choque quando viu que aquela malinha era TODA a minha bagagem.

Nos primeiros dias, enquanto ainda não sabia – ao amanhecer – se ia fazer frio ou calor, saía com duas calças e duas camisas. Passei um bocado de calor, mas nunca frio (e isso é o que importa, porque passar calor não te faz pegar uma gripe)!

Uma das primeiras coisas que comprei por aqui foi uma mochila, um bocado mais discreta que a da Canon, para poder carregar o notebook, câmera, água e comida se necessário. Sempre saio com ela abastecida para pelo menos um dia inteiro fora de casa, duas garrafinhas de água e coisinhas comestíveis. É muito mais barato (e saudável!) carregar umas frutinhas e barras de cereais na saída de casa do que ficar comprando comidas loucas pela rua, não é mesmo? Os eletrônicos geralmente ficam em casa porque as aulas não começaram e não tô turistando muito. Tô mais explorando a cidade pra aprender as manhas da vida por aqui, afinal, tenho pelo menos mais um ano pela frente, e considero mais importante saber qual mercado é mais barato do que as obras em exposição na galeria de arte de Vancouver! Falando em mercado, uma das vantagens de carregar a mochila quase sempre vazia, é que dá pra entupí-la com as compras e continuar explorando a cidade sem um monte de sacolas e sem precisar voltar pra casa imediatamente.

Anyway, eu não sei porque queria escrever esse post, mas tá aí, e é isso aí. Dei uma reduzida no ritmo de escrita nesses dias, tava pesquisando coisas do apê definitivo – e logo mais temos novidades sobre esse assunto, em um post mais aventuresco e cheio de trapalhadas – espero que não muitas, na verdade!

Pra você que chegou ao fim do post e não achou nada legal, fica essa tipografia muitíssimo velha, mas muitíssimo divertida – tanto pelo clipe em si quanto pela música.

PS – CÉUS, A CADEIRA QUE EU TÔ USANDO AQUI É MUITO DURA! E tem uns parafusos que ficam apertando o pé quando tento cruzar as pernas! Preciso de algo mais confortável na minha casa!