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Co-Respondentes – Prólogo

September 5, 2009

Co-Respondentes

Rafael está confortavelmente acomodado na sua poltrona do vôo TAM 3272, de Belo Horizonte rumo a São Paulo, decolando às 23h50 e aterrisando nas primeiras horas do dia 10 de Julho. Faltam alguns minutos para a decolagem e, apesar de todas os assentos estarem vendidos, alguns deles ainda estão vazios.

— Senhores passageiros, pedimos sua compreensão e paciência. Aos passageiros em conexão, favor dirigirem-se a seus lugares para que possamos decolar sem maiores atrasos – A aeromoça, sempre muito suave, informa no sistema de som da aeronave.

Gradativamente, os assentos vazios vão sendo ocupados. Há um ao lado de Rafa. Uma moça vem apressada pelo corredor, carregando uma grande bolsa no braço esquerdo e com o ticket da passagem na mão direita.

— 7F – ela confirma para si mesma em voz alta, olhando para a cadeira vazia ao lado do rapaz – É esse mesmo. Boa noite, desculpa pelo incômodo.
— Sem problemas – ele responde, educado – Boa noite.

Rafael vira para o lado da janela, distraindo-se com os ônibus e carros que circulam pela zona de embarque do Aeroporto Internacional de Confins. A noite está bonita e o céu, salpicado de estrelas, cintila enquanto o avião acelera para decolar.


O vôo de Carol atrasara e ela entra às pressas, com uma meia dúzia de outros passageiros, no avião que fará a conexão entre Salvador e São Paulo.

Carregando sua bagagem de mão, ela procura seu lugar.

— 7F – ela confirma para si mesma em voz alta, olhando para a cadeira vazia ao lado de um rapaz – É esse mesmo. Boa noite, desculpa pelo incômodo.
— Sem problemas – ele responde, educado – Boa noite.

Sem cara de muitos amigos, ele se vira para observar a janela enquanto o avião decola. Carol, ainda num ritmo apressado, folheia nervosamente as revistas de bordo.

— Sabe que essa é a segunda vez que entro num avião, em toda a minha vida? – ela tenta puxar assunto para relaxar um pouco.
— É mesmo? – o homem responde, ainda olhando pela janela, sem muito ânimo.
— É. A primeira foi algumas horas atrás. Nunca achei que esse negócio de conexão, e voar, e essas coisas todas fossem tão desconfortáveis – ela insiste, apesar de achar que aquela conversa não vai levar a lugar nenhum.
— Ah, tenta relaxar. Se você dormir, a viagem passa mais rápido. Depois de algumas viagens, você acostuma.
— É bom acostumar mesmo, porque segunda-feira eu tô embarcando de novo pra casa.

Sem obter resposta, ela desiste dessa tentativa. Sua cabeça está a mil. Ela tenta fechar os olhos para dormir, mas está muito inquieta. Será que esse será o fim de semana mais incrível de sua vida?


A moça ao lado de Rafael insiste em puxar assunto naquele lotado, mas ainda assim vazio, vôo noturno. “Segunda vez que eu entro num avião“, ele pensa com ironia. “E eu com isso?“.

Pelo reflexo da janela plástica, ele a observa enquanto ela primeiro tenta dormir, depois pega um livro velho na bolsa e começa a ler, ou folhear. Não dá para saber ao certo, dada a velocidade que ela passa as páginas. Forçando um pouco mais a visão, ele identifica o título do livro. “Perto do Coração Selvagem”. Isso só faz o estômago do rapaz dar mais voltas. Não por conta do desconforto do vôo, e sim pela ansiedade em relação ao que está combinado para acontecer nesse fim de semana. “Definitivamente o destino está a fim de brincar comigo“. Sutilmente ele olha no bolso interno do paletó, certificando-se novamente de estar com a gravata vermelha.


Carol folheia nervosamente as páginas do livro que originou toda essa situação. Lê um parágrafo aqui, outro ali. Ocasionalmente lê apenas uma frase ou a página toda. Seu vizinho de vôo já pegou no sono faz alguns minutos e a poltrona dela é uma das únicas iluminadas no avião.

Ela estende o braço e desliga a pequena lâmpada, guardando o livro em seguida. No escuro, de olhos fechados, ela lembra da promessa.

Estarei lá sim. Terei uma grande flor enfeitando meus cabelos.”

  • Tito Ferradans September 5, 2009 at 12:23 am

    Só pra evitar confusão, “Prólogo” é aquilo que vem ANTES do começo. :D

  • fiuzalima September 5, 2009 at 12:34 am

    Vc jura que isso não tava escrito há um tempão? (me refiro ao conto todo, não só ao prólogo)

    hauhauhauhahauahua

    tá muito bom isso aqui!

  • Tito Ferradans September 5, 2009 at 5:29 am

    Obrigado!

    Juro. ahahaha. Senão eu não ficaria tempos sem coisas novas! Mas tá fluindo que é uma beleza!

  • fatima September 5, 2009 at 8:04 am

    ops! a gravata e a flor…hãhã! já vimos isso em outro lugar… gostei!!!

  • fatima September 5, 2009 at 8:06 am

    titoso! o clima está criado e já está todo mundo arrepiado: personagens e leitores. Blz!!

  • Samy September 5, 2009 at 1:22 pm

    Como assim “aquilo que vem ANTES do começo” está vindo depois da história já ter começado??
    Vc é estranho garoto! hahahahah
    Esse prólogo me confundiu toda! acho que vou ter que reler tudo!

  • Tito Ferradans September 5, 2009 at 1:44 pm

    Se oriente pelas datas. Isso aqui é em 10 de Julho, o começo da história é em 14 de Março.

    Num livro, isso viria antes do começo. Mas, como originalmente era um roteiro, eu podia tirar esse truque pra colocar a cena no meio do filme, sem problemas. Se eu fizesse isso com o texto, ia destruir muitas surpresas.

    Assim é bom que cria ansiedade.

  • fiuzalima September 7, 2009 at 10:51 pm

    “tirar esse truque” – cheio de safadagens, vc…