Day-to-Day

Expectativas.

August 25, 2010

Se tem uma coisa no dia a dia que eu dou valor é “bom humor”. Não consigo ser mau-humorado, e a mudança é tão radical que rapidamente qualquer um percebe que há algo errado comigo. Conscientemente ou não, acabei desenvolvendo técnicas e teorias sobre como manter esse estado de espírito.

Um dos segredos é ignorar o que apontam.

Ao tentar traduzir esses pensamentos em texto, cheguei numa única palavra que pode resumir tudo: “expectativa”. Quantas vezes você não já foi ao cinema assistir um filme, que muita gente já tinha falado bem, você tinha lido críticas, notas, enfim, tudo indicava que você ia curtir até o limite suas próximas duas horas, e o filme nem é tudo isso que você esperava? Exatamente. Inúmeras vezes. Mas, quando dizem que o filme é ruim, ou fraco, e você já vai esperando encontrar uma desgraça, a chance de você se divertir é muito maior. Claro, existem exceções pros dois casos (tanto filmes que superam até as maiores expectativas – posso citar, pra mim, recentemente, Avatar e Inception – e filmes que, mesmo com baixas esperanças, são uma desgraça completa), mas, como o próprio nome diz, são EXCEÇÕES.

Agora, vamos extender esse pensamento para outras situações. Shows, programas, jogos, viagens, clima, relacionamentos, TUDO! Se você parar pra analisar, vai ver que cria expectativas para todas as situações do seu dia. E se analisar ainda melhor, vai ver que a maioria delas não se realiza. Geralmente as coisas vão pior do que você espera – quem escreve esse texto é um otimista. Isso acaba decepcionando um bocado.

This is soooo boooooring…

Aqui entra a parte do truque: não crie expectativas. Tente, pelo menos. Ou crie baixas expectativas. Espere o pior, e tudo vai parecer um bocado mais divertido e surpreendente. Não sei quanto a vocês, mas é sempre bom, para alguém que trabalha contando mentiras, ter novas visões sobre as coisas. Aquele olhar de “primeira vez que vejo isso”, quase infantil, livre de preconceitos e pensamentos elaborados. É quase mágica. Você vai perceber que as pessoas se tornam mais espontâneas (tá, na verdade é só sua visão que fica um pouco mais inocente), os dias menos previsíveis, e a rotina menos entediante.

Cara, isso é incrível!

Anteontem, tava indo pro ponto de ônibus, na USP, com a May. Atravessamos a pista e ficamos ouvindo música por ali. Depois de breves instantes, um beija-flor pousou num galho do outro lado da rua. Aquilo chamou minha atenção para o emaranhado de árvores por ali. Olhando com um pouco mais de atenção, encontrei movimentos. Outro pássaro, em outra árvore, pulando sobre os galhos. Olhei melhor e vi que ele atacava a madeira furiosamente. Sim, um Pica-Pau! Nunca tinha visto um em toda a minha vida.

O bicho era bem sem graça, visualmente falando. Todo cinza, meio amarronzado, com um penacho despenteado no alto da cabeça. Ficamos ali no ponto, assistindo a ave que dava voltas no galho, bicando aqui e ali, derrubando pedaços de casca lá embaixo, na grama. Depois de muito encarar o pássaro, concluímos que os ônibus NÃO IAM chegar naquela hora, e atravessamos a pista de volta, só pra olhar mais de perto. Quase fomos atingidos por galhos que caiam do trabalho do bicho. Passamos alguns minutinhos assistindo ele trabalhar, absorvendo todo aquele espírito “picapalesco” presente.

Voltamos pro ponto e foi aí que reparamos que boa parte das pessoas ali olhava em nossa direção com interrogações no rosto. É mais uma vez a frase de um post antigo. A cidade é bonita, você só precisa ter olhos pra ver. Continuamos assistindo ele, de longe, até os ônibus chegarem.

Ontem, procuramos, com aquela esperança vazia, pra ver se ele tava lá de novo. Não tava. Tristeza? Não. Escolhemos umas músicas estranhas e ficamos cantando. Pra variar, as pessoas começaram a olhar em nossa direção. No fim das contas, a inocência, no olhar e no pensar, acaba chamando atenção sempre.

  • Tito Ferradans August 25, 2010 at 11:21 pm

    Esse post não ficou nada como eu queria, mas, deixa aí.
    Agradecimentos especiais a Cogo e Hakuna, pelas imagens maravilhosas. Há!